Em Êxodo 33 Moisés havia rogado o perdão de Deus
para o pecado dos israelitas relativo ao bezerro de ouro, e mais do que isto,
que Ele não negasse a Sua presença ao povo de Israel.
E tendo obtido o favor do Senhor, rogou que Lhe
mostrasse a Sua glória, e foi atendido no que pediu, conforme vemos em Êxodo 34.
Todavia, o que Moisés veria seria apenas um
vislumbre da glória de Deus, porque Ele lhe declarou que homem nenhum verá a
Sua face e viverá.
O Senhor tomaria então a providência necessária
para que Moisés pudesse vê-lo pelas costas passando adiante dele entre a fenda
de uma rocha no monte Sinai, para onde o convocou para escrever de novo as leis
em duas novas tábuas de pedra, porque no episódio da adoração do bezerro, ele
havia quebrado as duas primeiras.
E o Senhor o cobriria com Sua mão na fenda da rocha
até que tivesse passado.
Tendo ordenado a Moisés que subisse ao cume do
Sinai na manhã do dia seguinte, e quando lá chegou, Deus proclamou as palavras
que estão registradas nos versos 6 e 7 de Êx 34:
“Jeová, Jeová, Deus compassivo, clemente e
longânimo, e grande em misericórdia e fidelidade, que guarda a misericórdia em
mil gerações, que perdoa a iniqüidade, a transgressão e o pecado, ainda que não
inocenta o culpado, e visita a iniqüidade dos pais nos filhos, e nos filhos dos
filhos até a terceira e quarta geração.”.
Deus revelou a Moisés o motivo das penas da lei:
Ele não pode inocentar o culpado, e está obrigado pelo Seu atributo de Justiça
a exercer juízos sobre a iniquidade. Ele não pode portanto declarar que somos
inocentes quando somos culpados, pois Ele é o Deus fiel e verdadeiro que não
pode mentir. Mas como é compassivo, clemente e longânimo, grande em
misericórdia e fidelidade, Ele pode perdoar a iniquidade, a transgressão e o
pecado de todos os pecadores que se arrependam e se convertam dos seus maus
caminhos, com base no sólido fundamento que é o pagamento total de nossa dívida
de pecados por Jesus na cruz.
Assim, a lei manifesta estes dois aspectos do
caráter de Deus: o punitivo e o perdoador.
A lei define o crime e estipula a pena
correspondente.
Define o que é bom e estipula a recompensa.
E definia também quais são as ofensas para as quais
não haveria perdão no período de vigência daquela aliança (de Moisés a João
Batista).
E sendo a igreja uma sociedade dirigida por
princípios diferentes dos que regiam o
povo de Israel na Antiga Aliança, que constituía uma nação debaixo de um
governo teocrático, com leis civis para dirigirem a nação, assim como todas as
nações possuem os seus códigos penais e civis para regularem as relações da
sociedade, não se prescreve portanto na Nova Aliança, para o povo de Deus, o
mesmo processamento previsto na lei de Moisés para os casos de transgressão da
lei.
Entretanto, se aprende por princípio, acerca da
realidade de que o pecado sujeita à morte, e ainda que alguém que permaneça
debaixo da escravidão do pecado não seja punido com uma sentença de morte neste
mundo, é bem certo que esta pessoa além de permanecer morta espiritualmente, há
de ser condenada à morte eterna, depois que partir desta vida. E se aprende
também que Deus detesta o pecado e o punirá caso não haja arrependimento. Do
mesmo modo que se agrada da prática da justiça e a recompensará.
Moisés havia preparado as tábuas de pedra para que
Deus escrevesse a lei naquelas tábuas com o Seu próprio dedo. E como na Nova
Aliança Deus tem prometido escrever a lei em nossas mentes e corações, nós
temos que prepará-los para recebê-la, e isto se faz por arrependimento,
confissão, fé, e por um caminhar na verdade.
O coração de pedra deve ser quebrado pela convicção
e humilhação em relação ao pecado, e como lemos em Tg 1.21: “Pelo que,
despojando-vos de toda sorte de imundícia e de todo vestígio do mal, recebei
com mansidão a palavra em vós implantada, a qual é poderosa para salvar as
vossas almas.”. Assim, deve ser mortificado o pecado e em seu lugar deve ser
recebida a palavra de Deus.
Tendo sido fortalecido pelas palavras que ouviu de
Deus acerca do Seu caráter bondoso e perdoador, Moisés se sentiu encorajado a
reafirmar a sua intercessão para que Deus perdoasse o pecado do povo, e pediu
também o seguinte: “segue em nosso meio conosco.”; apesar de ser o povo de dura
cerviz.
E nisto tudo Moisés se incluiu entre os israelitas
assumindo o pecado deles como se fosse o seu próprio ao dizer: “Perdoa a nossa
iniquidade e o nosso pecado, toma-nos por tua herança.”.
Nisto ele foi um tipo de Cristo que assumiu os
nossos pecados como sendo seus próprios, apesar de não ter pecado, e que se
identificou com os pecadores fazendo intercessão por eles junto ao Pai.
E Deus mostraria que é de fato perdoador, ao ter
respondido à intercessão de Moisés com as palavras que lemos em Ex 34.10-17.
Ele fez uma aliança com eles de fazer maravilhas
através de Israel que nunca se fizeram em toda a terra, de modo que os
israelitas vissem a obra do Senhor, especialmente lançando fora da presença
deles os habitantes de Canaã.
Mas para isto, deveriam se abster de fazer aliança
com aquelas nações pagãs que haviam sido condenadas por Deus, em razão da sua
impiedade e idolatria.
E não somente não deveriam fazer aliança com eles
como deveriam derrubar os seus altares, quebrar suas colunas e cortar seus
postes-ídolos, e também não deveriam dar seus filhos em casamento às mulheres
de Canaã, para que não se prostituíssem com os seus deuses.
O perdão do pecado da adoração do bezerro de ouro
não seria condicional, mas deveriam lembrar que a ruína deles, e o temporário
desfavor que tiveram da parte do Senhor se deveu exatamente à idolatria que
deveriam agora combater em outras nações, devendo se acautelar por si mesmos,
para que não voltassem a incorrer no
mesmo pecado.
Para reafirmar aos israelitas o seu completo
repúdio à idolatria, no final das promessas e advertências feitas a Moisés para
serem ditas a toda a nação de Israel, o Senhor proferiu o seguinte breve
mandamento:
“Não farás para ti deuses fundidos.” (v 17).
Israel deveria revelar às nações que aqueles que
adoram imagens de escultura não conhecem o Deus verdadeiro, ainda que o fato de
simplesmente não adorar tais imagens signifique necessariamente que se tenha
conhecimento de Deus.
Todavia, permanece uma verdade que aqueles que
adoram ídolos ou seguramente não conhecem a Deus, ou então estão provocando a
Sua ira, porque é Deus zeloso, e não divide a Sua adoração com ninguém,
especialmente com falsos deuses criados pela imaginação dos homens.
Daí encontrarmos mesmo no Novo Testamento as
seguintes exortações dos apóstolos aos gentios, que haviam se convertido e que
tinham vindo do mundo pagão, que era dado à idolatria: “Filhinhos, guardai-vos
dos ídolos.” (I Jo 5.21). “que se abstenham das contaminações dos ídolos, da
prostituição, do que é sufocado e do sangue.” (At 15.20).
E a reafirmação das três festas solenes (18-27),
que Israel deveria celebrar anualmente serviria para comprovar que Deus havia
perdoado o povo, e para confirmar que a aliança que Ele havia feito com eles
permanecia de pé apesar de a terem anulado com a idolatria do bezerro de ouro.
E lemos expressamente no verso 27:
“Disse mais o Senhor a Moisés: Escreve estas
palavras: porque segundo o teor destas palavras fiz aliança contigo e com
Israel.”.
No verso 28 nós vemos que a lei que foi escrita por
Deus nas tábuas de pedra foram os dez mandamentos que ele havia proferido
audivelmente a toda a nação de Israel.
E tendo passado quarenta dias e noites no monte com
Deus, em jejum absoluto (v.28) comprovando-se assim que Deus é poderoso para
preservar a vida daqueles que estão a seu serviço, quando estes se encontram em
condições de não poderem se alimentar adequadamente, Moisés desceu com as
tábuas com os dez mandamentos, e não percebeu que a pele do seu rosto estava
resplandecendo de tal forma que o próprio Arão e os israelitas temeram se
aproximar dele, mas ele convocou a Arão e os príncipes de Israel e lhes
declarou os mandamentos e as boas notícias que havia recebido do Senhor em
relação a ter declarado que seria favorável a eles.
E depois disse as mesmas palavras a todo o povo.
Depois de lhes ter falado colocou um véu sobre o
rosto, e só o tirava para falar com o Senhor. (v. 29-35).
A glória de
Deus estampada no rosto de Moisés era um sinal visível do favor de Deus
concedido a eles, e da aceitação da sua intercessão em favor da nação.
De igual modo, quando Jesus foi transfigurado com a
glória celestial no monte e se ouviu uma voz vinda do céu dizendo que Ele
deveria ser ouvido por ser o Filho amado de Deus, isto também confirmava a
aceitação do sacrifício que ele faria em favor dos pecadores em Jerusalém, para
que o pecado deles pudesse ser perdoado, tal como os israelitas haviam
sido perdoados por Deus, por causa da
intercessão de Moisés em favor deles.
É bastante significativo, neste sentido, que Moisés
e Elias tivessem estado com Cristo no monte da transfiguração lhe falando das
coisas que em breve sucederiam em Jerusalém, relativas à Sua morte.
Moisés colocou o véu sobre a sua face para não
fazer uma ostentação carnal da autoridade que lhe fora concedida por Deus, de
modo que ele viesse a ser uma pedra de tropeço para os israelitas que poderiam
se sentir tentados a adorá-lo.
Moisés sabia que era apenas um homem dependente,
como os demais, da graça do Senhor e que somente Deus deve ser adorado.
Mas o Novo Testamento interpreta que aquela atitude
de Moisés acabou servindo para ilustrar que apesar da glória que a dispensação
da Lei, ou Antiga Aliança, possuía, havia nela uma obscuridade não revelada em
suas instituições cerimoniais que apontavam para Cristo e para a graça do
evangelho, porque um véu estava colocado sobre elas, de forma que os filhos de
Israel não podiam ver distintamente aquelas verdades espirituais das quais a
lei era uma sombra e figura.
A beleza do evangelho estava velada, ocultada na
dispensação da lei, e o véu seria removido por Cristo (II Cor 3.13-16).
Baseado em Êxodo 34
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