O segundo capítulo de Êxodo começa com a
história de Moisés, para revelar as circunstâncias do seu livramento do
extermínio de crianças ordenado por faraó, e como foi parar pelo desígnio de
Deus no lugar mais seguro para crescer e se desenvolver, a saber, na própria
casa de faraó, e ainda por cima sob os cuidados e educação da sua própria mãe,
que foi colocada pela filha de faraó sobre ele como sua tutora.
O Senhor prepara de fato uma mesa diante de
nós na presença dos nossos inimigos. Ele mostra o Seu infinito poder sobre as
hostes e iniciativas de Satanás, que fica impedido de fazer qualquer coisa
contra aqueles que são assim protegidos por Ele.
Deste modo, Moisés foi adotado pela filha
de faraó e, como se diz em At 7.22, foi educado em toda a sabedoria dos
egípcios e veio a se tornar poderoso em atos e palavras. Para aqueles a quem
Deus projeta para grandes serviços, Ele descobre modos para qualificá-los e
prepará-los anteriormente.
Mas ele não ficou com o seu coração
envolvido na causa do Egito e nos interesses da grandeza do Egito, e lutando
para o estabelecimento da sua própria grandeza pessoal.
Ao contrário, ele trazia no seu coração a
Palavra de Deus, que lhe fora ensinada por sua mãe na infância, e estava
profundamente interessado na causa da justiça, não simplesmente na justiça dos
homens, mas naquela justiça eterna e divina, para a qual ele haveria de
consagrar toda a sua vida.
É por isso que lemos o seguinte a respeito
de Moisés em Heb 11.24-27: “Pela fé Moisés, sendo já homem, recusou ser chamado
filho da filha de Faraó, escolhendo antes ser maltratado com o povo de Deus do
que ter por algum tempo o gozo do pecado, tendo por maiores riquezas o opróbrio
de Cristo do que os tesouros do Egito; porque tinha em vista a recompensa. Pela
fé deixou o Egito, não temendo a ira do rei; porque ficou firme, como quem vê
aquele que é invisível.”.
Moisés era um levita tanto por parte de pai
quanto de mãe. E eles não eram príncipes nem gente influente na tribo de Levi.
E assim, quase como uma regra geral, Deus continua usando as coisas fracas e
desprezíveis para confundir as fortes e as que são.
Nisto há um propósito expresso de
manifestar o Seu grande poder, para nos ensinar que Ele pode levantar um
governador poderoso e sábio de um jovem pastor como José, e um libertador
poderoso, de uma família pobre e de um rapaz tímido e pacato como Moisés.
Isto não significa que Deus não use os
fortes e poderosos, mas que Ele não depende deles para que possa fazer a Sua
obra, pois é nos que não são fortes que se vê melhor a operação poderosa da Sua
graça.
No entanto, nós vemos neste segundo
capítulo a coragem moral de Moisés e o seu caráter, em expor a sua vida em
favor dos fracos e oprimidos, pois é relatado que ele havia matado um egípcio,
que estava ferindo covardemente a um hebreu, e a forma como ele enfrentou os
pastores de Midiã, em defesa das filhas de Reuel.
Seria neste homem destemido que nós veremos
um trabalho da graça, não para remover dele estas virtudes, mas para lhe dar o
equilibro e refinamento necessário para que viesse a ser o grande líder e o
maior profeta que a nação de Israel já tivera ao longo de toda a sua
história.
E o fato de ter que fugir do Egito para
Midiã para não ser morto por faraó, que soube da morte do egípcio por Moisés.
Todavia, tudo isto estava dentro do
controle da providência divina.
Nos quarenta anos que Moisés esteve em
Mídia, a servidão dos hebreus se tornaria mais dura, e a crueldade dos egípcios
em relação a eles se revelaria muito maior, amadurecendo assim aquele povo para
os juízos que viriam da parte do Senhor sobre aquela geração.
Enquanto isto, o próprio povo de Deus
estaria aspirando mais e mais pela libertação, e estava sendo, portanto,
preparado para deixar o Egito rumo a Canaã, quando o Senhor os libertasse do jugo
da escravidão.
A terra prometida de Canaã passaria a ser
um grande objetivo para eles, apesar das muitas lutas que teriam que empreender
para conquistá-la.
Assim, a promessa de Deus feita a Abraão
que a sua descendência herdaria aquela terra viria a ter total cumprimento com
as ações que o Senhor começaria a empreender a partir do momento apropriado.
Afinal, foram quatrocentos anos que eles
estiveram esperando no Egito para saírem para a posse daquilo que lhes fora
dado como herança pelo Senhor, e o que seriam aqueles quarenta anos de Moisés
em Mídiã, sendo preparado pelo Senhor para ser, não o oficial poderoso à frente
do seu exército de homens guerreiros, prontos para a batalha, mas o pastor com
o cajado na mão, através do qual o Senhor traria os Seus poderosos juízos ao
Egito, para que não somente os egípcios, mas todo o mundo conhecido de então,
soubesse que do Senhor é a terra e a sua plenitude e Ele a dá a quem quer, e o
faz com o Seu braço poderoso sem o auxílio de mãos humanas.
É Deus quem tudo faz e governa, mas
geralmente, Ele opera por meios, por instrumentos humanos, mas estes que são
usados por Ele devem ser amoldados ao Seu caráter, devem ser conhecidos como
homens de Deus e não meramente como simples cidadãos deste mundo.
Moisés foi reconhecido pelas filhas de Reul
como um egípcio, e não como um profeta. O profeta seria trabalhado nele pela
graça do Senhor, de modo que fosse nesta condição, aos israelitas para
libertá-los, e não como um egípcio que havia se rebelado contra o poder de faraó.
Aqueles quarenta anos de permanência em
Midiã tinham a ver com o que se diz no final de Êxodo 2: “No decorrer de muitos
dias, morreu o rei do Egito; e os filhos de Israel gemiam debaixo da servidão;
pelo que clamaram, e subiu a Deus o seu clamor por causa dessa servidão.
Então Deus, ouvindo-lhes os gemidos,
lembrou-se do seu pacto com Abraão, com Isaque e com Jacó. E atentou Deus para
os filhos de Israel; e Deus os conheceu.”.
O que estava portanto, sendo descortinado
em relação à vida de Moisés não eram os seus próprios interesses, mas os
interesses de Deus, ainda que isto não estivesse plenamente claro diante de
seus olhos na ocasião.
Não importa o quanto compreendamos dos
propósitos e dos meios usados por Deus para nos transformar pela Sua graça, e nos
preparar para o seu serviço, pois o que importa é o resultado, o fim, e não os
meios que nos conduziram a isto.
E assim Moisés se casou com uma das sete
filhas de Reul, que eram todas pastoras, mulheres empreendedoras e humildes,
educadas no temor do Senhor, pois a Palavra diz de Reul que era sacerdote em
Midiã.
Provavelmente, o próprio Moisés aprendeu
ainda mais acerca das coisas de Deus com ele (Vide Êx 18,9,12).
Os midianitas viriam a se corromper e a se
transformarem num povo idólatra, mas este Reul era um homem temente ao Senhor,
e foi por isso que a providência divina levou Moisés até ele, quando fugiu do
Egito, sem saber para onde iria.
Vale lembrar que Midiã era também filho de
Abraão, que ele tivera com Quetura, e certamente, os seus descendentes haviam
sido ensinados nos caminhos de Deus por Abraão (Gên 25.1,2).
Mas a Bíblia relata que a maioria deles
descambou para a idolatria com o passar das sucessivas gerações.
Isto mostra claramente que a tendência da
natureza terrena é a de se desviar de Deus, e por isso há necessidade de
mortificação da carne, esforço e diligência para se aprender e viver a Palavra
do Senhor; pois esta não nos vem naturalmente para nos influenciar e dirigir
tal como se dá com o pecado.
A cessação de vigilância, de oração e
meditação na Palavra traz como consequência imediata, sermos encontrados
vivendo segundo a carne e não segundo o Espírito.
O
faraó que pretendia matar Moisés havia morrido durante aquele período de
quarenta anos, que Moisés havia permanecido em Midiã, mas a ação do Senhor não
dependia de esperar pela morte do faraó, porque vida e morte estão nas Suas
mãos, somente ele permitiu que toda aquela iniquidade do Egito aumentasse por
meio dele, de modo a que desse ocasião aos juízos que traria sobre toda aquela
terra.
A promessa feita por Deus a Abraão, Isaque
e Jacó deveria ter caído no esquecimento de muitos, durante aqueles longos
quatrocentos anos, mas não no esquecimento de Deus, conforme é afirmado no
final deste capítulo.
Os poucos que em Israel ainda mantinham a
sua confiança nas coisas que lhes haviam sido prometidas, deveriam
provavelmente ser alvo da zombaria dos incrédulos entre eles, em face do grande
tempo que havia decorrido, e continuavam
ainda como escravos no Egito.
É isto o que acontece com muitos na igreja
de Cristo, que não crêem de fato de todo o seu coração que Ele voltará, por
ocasião do arrebatamento da igreja, para resgatar o Seu povo para sempre deste
mundo de trevas, desta escravidão à corrupção a que ficou sujeita a criação.
Mas o cumprimento desta promessa será
liquido e certo assim como ocorreu com a libertação dos israelitas do cativeiro
egípcio, conforme o Senhor havia prometido cerca de seiscentos anos antes a
Abraão.
A hora havia chegado, e Ele faria isto pela
mediação de Moisés.
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