Como os primogênitos israelitas foram livrados da
destruição no Egito, como se vê em Êxodo 12, então as suas vidas deveriam ser
gastas a serviço do Senhor que os libertou da morte.
Do mesmo modo, os cristãos que são livrados da
morte espiritual e eterna por Cristo, não pertencem mais a si mesmos, mas
Àquele que os livrou da condenação, e portanto, devem viver para lhe servir.
Assim, há no décimo terceiro capítulo de Êxodo uma
grande ilustração em figura desta grande verdade espiritual.
Só que os cristãos não podem ser resgatados como
poderiam ser os primogênitos israelitas, uma vez que ali estava sendo ensinada
em figura que aqueles que são livrados da morte, o são para viverem em novidade
de vida para Deus, atendendo ao propósito eterno do Senhor.
E para o
propósito de ensinar este princípio espiritual, Deus fixou como sendo lei para
Israel também a consagração a Ele dos primogênitos que viessem a nascer no
futuro.
Na prática, isto seria um meio de se prover o
ministério dos levitas, na antiga aliança, com as primícias do rebanho, e foram
escolhidos os machos para tal consagração, para que as fêmeas continuassem
reproduzindo e alimentando suas crias. E os primogênitos humanos poderiam ser
resgatados pelos levitas, no início, e depois pelo valor fixado pela lei de
Moisés (Núm 18.16).
Daí o verbo usado logo no início do 13º capítulo
com referência aos primogênitos é kadesh, santificar,
que significa separar para um uso sagrado pelo Senhor.
Assim está escrito:
“Santifica-me todo primogênito, todo o
que abrir a madre de sua mãe entre os filhos de Israel, assim de homens como de
animais, porque é meu.”.
Estes primogênitos, tanto de homens como de
animais, deveriam ser usados no serviço sagrado do tabernáculo, e posteriormente
no templo. Por isso os primogênitos dos dias de Moisés foram resgatados pelos
levitas, porque o serviço do santuário havia sido designado a eles.
É por isso que lemos em relação aos cristãos, o
seguinte, em Hb 12.22,23: “Mas tendes chegado ao Monte Sião, e à cidade do Deus
vivo, à Jerusalém celestial, a miríades de anjos; à universal assembléia e
igreja dos primogênitos inscritos nos céus, e a Deus, o juiz de todos, e aos
espíritos dos justos aperfeiçoados;”. Note que o autor se refere à igreja dos
primogênitos inscritos nos céus.
A igreja (de eklesia no original grego, que
significa a assembléia, reunião dos que têm fé em Jesus) é chamada de igreja
dos primogênitos porque a lei ensinava em figura que os primogênitos que foram
livrados da morte pelo destruidor, em razão de estarem aliançados com Deus,
pertencem a Ele e devem viver em santidade de vida, porque todos os que são
livrados da morte eterna são santificados por Deus, isto é, são separados e
transformados pela Sua graça, para serem usados por Ele.
Agora se toda a igreja é considerada como a igreja
dos primogênitos, Cristo é o irmão primogênito destes muitos irmãos, como se lê
em Rom 8.29: “Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem
conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre
muitos irmãos;”.
E aquele livramento dos primogênitos israelitas no
Egito, alcançado pelo sangue que foi passado nas portas, e por terem se
alimentado do cordeiro sem defeito, deveria ser relembrado anualmente com uma
celebração de sete dias em que haveria uma proibição rigorosa de se comer pão
levedado.
Eles teriam então que comemorar aquele livramento
do modo que foi designado por Deus.
E assim não somente eles não poderiam comer pão
levedado como deveriam ter o cuidado de não ter nenhum tipo de fermento em suas
casas.
Alguém perguntaria qual seria a razão de tanta
dificuldade para uma comemoração?
A resposta mais viável parece ser que Deus queria
ensinar em figura que a nossa libertação da condenação eterna por Cristo deve
ser vivida com o máximo de critério e rigor, em tirar todo o tipo de pecado de
nossas vidas.
Porque o fermente representa aquilo que corrompe,
que altera o nosso estado, e portanto é uma forte figura na Bíblia para
exemplificar tudo aquilo que impeça ou atrapalhe a nossa consagração a Deus (I
Cor 5.7).
Depois de ter dado instruções quanto à celebração
da páscoa, Deus mesmo guiou o povo pelo caminho que deveria seguir, com uma
coluna de nuvem durante o dia, e uma coluna de fogo durante a noite, e não os
levou na direção de Canaã, pelo caminho mais curto, que seria junto à costa do
Mar Mediterrâneo, na qual habitavam os filisteus, pois Deus sabia que Israel
não estava preparado para a guerra, e em vindo sobre eles os filisteus, eles
seriam tentados a retornarem ao Egito, preferindo estar em escravidão do que
terem que lutar pela sua liberdade.
Com isso Deus demonstrou que conhecia muito bem o
caráter daquela geração que estava saindo do Egito, pois eles viriam a temer os
habitantes de Canaã, e não confiaram que o Senhor lhes daria a vitória, e assim
eles ficaram vagando por quarenta anos no deserto, até que toda aquela geração
morreu, e foram os filhos deles que entraram com Josué em Canaã.
Aqueles israelitas incrédulos da geração anterior
preferiam voltar à escravidão do Egito do que ter que lutar em Canaã, e por
isso o Senhor os fez peregrinar no deserto, poupando-os da luta, e ao mesmo
tempo evitando que voltassem ao Egito.
Contudo,
naqueles dias em que haviam saído do Egito, Deus não somente evitou que eles
recuassem por temerem lutar contra os filisteus, como os conduziu para junto do
Mar Vermelho no deserto.
Além disso, o Senhor havia dito a Moisés que assim
que eles fossem libertados do Egito,
deveriam adorá-lo no monte Sinai (Êx 3.12).
Ali no monte, por quase um ano, eles receberiam
leis e mandamentos de Deus e seriam organizados como nação.
O tabernáculo deveria ser construído, erigido, e
instituída a forma de culto para a nação.
Assim, a ida para Canaã deveria ser precedida por
este tempo de permanência no Sinai.
Deus estava cuidando de Israel e conduzindo o povo
de modo que pudesse responder aos Seus propósitos.
Ele estava ensinando o povo a voar assim como uma
águia faz com os seus filhotes.
Ele não os estava expondo a situações que não
poderiam ainda enfrentar.
O espírito deles, que havia sido quebrado pela
escravidão, deveria receber força e alento, para que pudessem também empunhar a
espada, além da espátula com a qual haviam assentado os tijolos nas cidades que
construíram no Egito.
O Senhor age dessa forma com todas as pessoas do
Seu povo, não permitindo que sofram provações para as quais ainda não tenham
uma fé forte o suficiente para vencê-las. Ele somente o permitirá depois de
ter-lhes aperfeiçoado a fé.
O Senhor conhece a nossa estrutura e considera a
nossa fraqueza e incapacidade, e pelas pequenas provações nos preparará para as
maiores.
Para aumentar a fé dos israelitas estavam sendo
carregados por eles os ossos de José, acerca dos quais ele havia ordenado
enquanto vivia, que certamente deveriam ser levados do Egito para Canaã, quando
Deus tirasse o seu povo da escravidão para conquistar a terra prometida.
O dia havia chegado depois de decorridos mais de
quatrocentos anos, e os ossos de José atestavam portanto a fidelidade de Deus
em cumprir as Suas promessas, e assim os israelitas não deveriam temer a nenhum
de seus inimigos, especialmente porque o maior deles, o mais poderoso, havia
sido humilhado pela poderosa mão do Senhor, a saber os egípcios, que receberiam
o golpe final de Deus, quando tentassem exterminar os israelitas no Mar
Vermelho.
A presença da nuvem durante o dia e da coluna de
fogo durante a noite era um outro grande motivo para fortalecer a fé de Israel,
e nós vemos em Is 4.2-6 esta promessa da presença e manifestação da glória de
Deus na vida daqueles que tivessem os seus pecados perdoados em Cristo:
“Naquele dia o renovo do Senhor será cheio de
beleza e de glória, e o fruto da terra excelente e formoso para os que
escaparem de Israel. E será que aquele que ficar em Sião e permanecer em
Jerusalém, será chamado santo, isto é, todo aquele que estiver inscrito entre
os vivos em Jerusalém; Quando o Senhor tiver lavado a imundícia das filhas de
Sião, e tiver limpado o sangue de Jerusalém do meio dela com o espírito de
justiça, e com o espírito de ardor. E criará o Senhor sobre toda a extensão do
monte Sião, e sobre as assembléias dela, uma nuvem de dia, e uma fumaça, e um
resplendor de fogo flamejante de noite; porque sobre toda a glória se estenderá
um dossel. Também haverá de dia um pavilhão para sombra contra o calor, e para
refúgio e esconderijo contra a tempestade e a chuva.”.
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