Se Deus não tivesse destruído o exército egípcio no
Mar Vermelho, os israelitas seriam sempre perseguidos por eles, pois intentavam
a sua destruição.
Tão logo se recuperaram do temor de serem também
mortos, assim como haviam sido os primogênitos, e certamente foi por este
temor, que haviam permitido que os israelitas se fossem, agora, endurecidos e
cegados pelo ódio cruel e forte desejo de vingança, acrescido da indignação
racial, porque afinal foram humilhados por um povo escravo, os egípcios se determinaram
não simplesmente em tornarem a escravizar os israelitas, mas a exterminar todos
eles, como se vê em Êxodo 14.
Por isso Deus, agindo como um sábio General
estrategista, preparou um modo de pôr fim ao exército egípcio, sem que os israelitas
necessitassem se empenhar numa batalha com eles, e por isso levou o seu povo
para junto do Mar Vermelho, posicionando-o de tal forma, que não teria outro
caminho por onde fugir quando fosse perseguido pelos egípcios, senão atravessar
o próprio mar.
A destruição dos egípcios no Mar Vermelho traria
não somente glória ao nome do Senhor, como traria o terror de Deus às nações de
Canaã.
Os israelitas seriam temidos, não pela sua própria
força militar, mas pelo Deus que pelejava por eles.
A Palavra ensina que Deus apanha o sábio na sua
própria sabedoria.
A sagacidade de faraó como militar o levou a
considerar que o Deus de Israel era um péssimo estrategista em razão de ter
levado o povo para Canaã pelo pior caminho, e ainda por cima lhes havia deixado no deserto defronte ao mar, sem
que tivesse possibilidade de escapar.
Com isto o Senhor o incitou à guerra e à
perseguição de Israel.
A sabedoria de Deus não pode ser julgada pelos
homens, porque Ele opera com o Seu poder além daquilo que possa conceber a
razão humana.
Quem é a criatura para contender com o Criador dos
céus e da terra e de tudo o que neles existe?
É aqui que muitos erram, assim como havia errado
faraó, em seus julgamentos das operações de Deus, que sempre devem ser aceitas
pela fé, e nunca serem submetidas ao julgamento da razão humana.
Porque ainda que Deus leve o seu povo para o
deserto e aumente em extremo as suas dificuldades, Ele estará ainda assim
preparando para ele o melhor caminho, e não o abandonará à própria sorte, ainda
que assim considerem os sábios segundo o mundo.
Por isso, a incredulidade, à face de tal sabedoria
e poder, traz grande desonra ao Senhor, tal como fizeram os filhos de Israel,
que depois de terem visto todos os milagres que ele havia feito no Egito,
fazendo distinção entre eles e os egípcios não permitindo que lhes sobreviesse
qualquer mal, e apesar de terem a companhia diária da coluna de nuvem e de
fogo, nem assim confiaram no livramento do Senhor e ficaram atemorizados com a
visão da perseguição dos carros de faraó, e não somente temeram como também
murmuram contra Moisés, dizendo que teriam preferido permanecer na escravidão
do Egito do que serem libertados para virem a morrer no deserto, pelo exército
de faraó.
Apesar da incredulidade deles, o Senhor os
livrou abrindo o mar de modo que pudessem atravessá-lo a pé enxuto.
Somente uma fé genuína poderia lhes ter
dado a antecipação e a firmeza necessária para confiarem no livramento que Deus
operaria.
Daí a importância de pedirmos ao Senhor que
aumente a nossa fé se acharmos que as tribulações que estamos enfrentando
parecerem que irão nos paralisar e derrotar.
Porque somente com os olhos da fé podemos
ver que maior é o que está em nós do que aquele que está no mundo.
Maior é Deus do que o nosso coração, que
nos acusa de fraqueza e incapacidade.
Assim o que era mais condenável em Israel
do que o seu temor diante da perseguição era a sua falta da busca do Senhor, em
clamor por livramento, e para que lhes aumentasse a fé.
Afinal, eles haviam experimentado antes os
livramentos do Senhor, e a prova da sua completa fidelidade e bondade.
Em vez de clamarem eles murmuraram, mas
aqui o Senhor não lhes visitou o pecado, em razão certamente da aflição de
espírito e da grande pressão que eles estavam sentindo naquela fuga apressada.
A questão ali era mais de luta pela própria
sobrevivência do que falta de confiança em Deus.
Eles estavam com seus espíritos alarmados e
agitados o bastante para poderem fixar a sua atenção em Deus e nas coisas
espirituais.
Isto sucede também com os cristãos na
igreja, que quando se deixam envolver por seus temores e aflições e colocam
seus corações inteiramente nisto, eles se sentem incapazes de elevar seus
pensamentos ao Senhor e se dirigir a Ele, confiando que esteja interessado em
lhes proporcionar livramentos e bênçãos.
Isto não deve servir de justificativa e
desculpa mas de alerta para a necessidade de se exercitar cada vez mais na fé,
na vigilância, e na oração, em toda e qualquer circunstância, de modo que no
dia mal, possamos permanecer inabaláveis, depois de termos vencido tudo,
revestidos pela graça do Senhor e pelo Seu poder.
O livramento de Israel junto ao Mar
Vermelho foi portanto por pura misericórdia do Senhor, e não por causa da fé de
Israel.
Assim também nós, os cristãos, somos muitas
vezes livrados e abençoados por pura misericórdia, para nossa humilhação e
vergonha, porque nos cabia confiar inteiramente no cuidado, bondade e
fidelidade do Senhor para conosco.
É nosso dever, quando não podemos sair de
nossas dificuldades, enfrentar nossos temores de modo que eles possam servir
somente para incentivar nossas orações e esforços, em vez de prevalecerem
silenciando nossa fé e esperança.
Aquele que mantém os seus olhos fixos em
Jesus em vez de mantê-los nas dificuldades, poderá como Moisés ser fortalecido
e ter os olhos da fé abertos para ver o livramento que vem do Senhor, e
proclamá-lo antes mesmo que haja qualquer evidência dele.
Por isso Moisés pôde confortar o povo com
as palavras que lhes disse acerca do livramento de Deus.
E as orações de Moisés prevaleceram com
Deus, e Ele lhe ordenou que dissesse aos filhos de Israel que marchassem. E que
o fizessem em direção ao mar, como se houvesse uma frota de navios esperando
por eles lá, para embarcarem.
Não havia nenhum navio no mar para que eles
embarcassem, mas se foi esta a ordem de Deus, o melhor a fazer era obedecê-la,
ainda que Ele geralmente nunca nos declare antes o que irá fazer, para que a
nossa fé possa ser provada e fortalecida.
Mas, nesta ocasião ele declarou o que
faria, porque toda aquela multidão não havia aprendido a andar pela fé, senão
pela vista.
E por falar em vista, o Senhor preparou um
caminho com a coluna de fogo para os israelitas caminharem no meio do mar,
enquanto manteve a nuvem à retaguarda de Israel, para trazer trevas densas
sobre os egípcios, de forma que não podiam ir ao encontro dos israelitas.
E a abertura do Mar foi feita pelo poder de
Deus, que fez soprar um forte vento, mas não sem antes ter ordenado a Moisés,
que estendesse a sua vara sobre o mar.
Com isto estava confirmando a sua liderança
e ministério sobre os israelitas.
Deus usa líderes entre o seu povo para que
todos se exercitem na obediência. O homem deve aprender a honrar, a ser
submisso, a obedecer, e é especialmente para este propósito que o Senhor os
dirige por uma liderança visível, por Ele constituída.
Poderia dirigir os homens, por uma
revelação direta aos seus espíritos, mas quer que aprendam sobretudo a serem
submissos uns aos outros no temor de Cristo.
Porque a submissão e a obediência é um
princípio na natureza do próprio Deus, assim como nos revelou na pessoa de
Jesus em Seu ministério terreno, que em tudo foi perfeitamente submisso e
obediente ao Pai, deixando-nos o exemplo a ser seguido (Fp 2).
Baseado em Êxodo 14
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