Ninguém pode ser um verdadeiro discípulo de
Cristo se não tomar a sua cruz dia a dia e segui-lO.
A cruz trata com os nossos desejos e nos
leva a renunciar às nossas aspirações e necessidades, quando a vontade de Deus
vai em sentido contrário a elas, e também a ser pacientes na tribulação,
enquanto aguardamos o livramento e a provisão do Senhor, quando estamos
atribulados pela Sua vontade.
Era exatamente esta a condição de Israel na
sua caminhada no deserto.
Eles não poderiam ficar para sempre
acampados em Elim, e na verdade, as provisões daquele lugar não seriam
suficientes para atendê-los por um longo tempo, pois eles somavam cerca de três
milhões de pessoas.
Não era coisa fácil conseguir água e
alimento para tanta gente, numa peregrinação no deserto.
Aquelas circunstâncias difíceis tinham
exatamente o propósito de levá-los a dependerem da provisão de Deus, de forma
que viessem a conhecer o Seu poder e cuidado, de maneira a se consolidar neles
o caráter de povo que confiava exclusivamente no seu Senhor.
Mas mesmo em face dos livramentos e bondade
de Deus, a natureza terrena do homem, corrompida pelo pecado, revela toda a sua
malignidade, e necessita do tratamento da cruz, porque sem a mortificação de
tal natureza, não é possível viver de modo agradável a Ele.
A carne, isto é, a natureza terrena
corrompida pelo pecado, não está sujeita à lei de Deus, e nem mesmo pode estar,
conforme ficou comprovado pela forma como a nação de Israel se comportou como
um todo, para com o Senhor, durante toda a sua longa história, especialmente no
período da dispensação da lei.
Somente nos israelitas que tinham uma
verdadeira e viva fé no Senhor, se poderia ver uma sincera obediência a Ele e
aos Seus mandamentos.
O pecado é pecado em qualquer pessoa, quer
num israelita, quer num gentio.
Todos estão debaixo do pecado, e somente a
fé no Senhor Jesus pode livrar o homem de tal jugo de escravidão.
Muitos perguntam como é que um povo (Israel)
que foi alvo de tantas manifestações da bondade do Senhor e do Seu poder e
graça para com ele, podia se desviar tão facilmente do alvo de fazer a Sua
vontade?
A resposta é universal e válida para
qualquer época: simplesmente por causa do pecado.
Se o Filho não libertar o homem do pecado,
ele continuará seu escravo para sempre, e haverá de manifestar em seus
sentimentos e ações a sua real condição de escravo.
A maioria deles havia saído da escravidão
do Egito, mas permanecia debaixo da escravidão do pecado.
Eles saíram do Egito mas o Egito continuava
em seus corações.
Tal era o endurecimento deles no pecado que
muitos viriam a ser destruídos mais adiante pelos juízos de Deus, e isto tem
sido uma constante em toda a história da nação de Israel.
Eles se recusam a se converterem de fato ao
Senhor, pelo arrependimento de seus pecados e pela fé nEle, e assim têm a mesma
sorte que está reservada aos ímpios, quando partem desta vida.
O Senhor lhes havia libertado do Egito e se
aliançou com eles, para que vivessem para Ele segundo um viver obediente aos
Seus mandamentos, e não para que vivessem para si mesmos fazendo somente o que
fosse da própria vontade deles.
Eles erraram o alvo da sua vocação e na
grande maioria não se converteram ao Senhor, dando-Lhe a direção das suas
vidas.
Sem fé é impossível agradar a Deus.
Sem santificação ninguém verá o Senhor.
E o Dr Owen está com toda a razão quando
afirma que ninguém pode de fato servir e agradar a Deus até mesmo quando
simplesmente o deseje, porque não se trata de uma simples questão de querer,
mas de ser de fato espiritual, e assim ele diz que o cristão tem a graça e o
dever de ser espiritual, tendo pensamentos e afetos espirituais, celestiais e
divinos.
Isto é forjado pelo trabalho do Espírito
Santo, que mortifica a carne ao mesmo tempo que nos regenera, santifica e
renova, possibilitando que o pecador tenha comunhão com Deus, conheça a Sua
vontade e tenha o poder que lhe é dado por Ele, para fazê-la.
É por isso que a Bíblia não contém tantos
exemplos de vidas de fé, que tenham agradado ao Senhor, pois que isto exige que
se viva não segundo o pendor da carne, mas segundo o pendor do Espírito.
Mas os exemplos dos que viveram pela fé
está registrado para que saibamos qual é a única forma de se poder obedecer
efetivamente ao Senhor, por se permitir e cooperar com o trabalho da graça em nossas
vidas.
Deste modo, apesar de a vida eterna ser
obtida pela graça e misericórdia de Deus, mediante o arrependimento e a fé, no
entanto, a vida cristã, uma vida de obediência a Ele, exige muito esforço,
disciplina e diligência, especialmente em se buscar e permitir o trabalho do
Espírito Santo, mediante aplicação da Palavra em nossas vidas.
Não seria pois de se estranhar, da parte
daqueles que apesar de fazerem parte do povo de Deus, mas que não caminham do
modo que foi descrito com o Senhor, senão murmuração diante das dificuldades,
em vez de fé confiante na Sua providência, como se vê no 16º capítulo de Êxodo.
Mas a longanimidade e graça, que suportam
as murmurações dos cristãos da Igreja de Cristo, apesar de por elas darem um
grande testemunho contra a bondade e providência de Deus a eles, desonrando e
não santificando por conseguinte o Seu nome, foi a mesma longanimidade e graça
que alcançaram os israelitas no passado, não permitindo que fossem todos
destruídos por Deus.
Ao contrário, na ocasião descrita no 15º
capítulo, quando caminhavam no deserto de Sim, e murmuravam pela escassez de
comida, desejando voltar ao Egito, Deus prometeu e lhes deu codornizes à tarde,
e o maná pela manhã, que passou a cair todos os dias até que entrassem em
Canaã.
Contudo, o Senhor protestou contra a
murmuração deles, de modo que não pensassem que estavam recebendo bênçãos por
estarem murmurando.
Ao contrário, por causa das suas
murmurações, muitos viriam a ser destruídos, conforme se vê especialmente no
livro de Números.
É possível que muitos tenham murmurado
apenas em seus pensamentos e corações e não demonstraram a sua insatisfação a
Moisés, mas a glória do Senhor apareceu na nuvem e Ele declarou a Moisés que
tinha visto a murmuração dos israelitas contra ele.
Assim Deus que tudo vê e sabe, conhece
perfeitamente as murmurações de nossos pensamentos e corações, mesmo quando não
as expressemos externamente.
Bom e misericordioso é o Senhor, mas
devemos zelar pelo modo como caminhamos na Sua presença, pois é perfeitamente
santo e justo, e não pode de modo algum fazer vista grossa para os nossos
pecados.
O pecado sempre ofende a Sua santidade,
mesmo na vida daqueles que tiveram os seus pecados perdoados por causa da sua
fé em Cristo.
Se caminhamos no temor do Senhor, e Lhe
confessamos os nossos pecados e os deixamos, podemos estar certos do Seu favor
e de que Ele não nos julgará e castigará.
Mas se andarmos contrariamente à Sua
vontade, podemos contar certamente com a visitação das suas correções, ainda
que não para uma perdição eterna.
Nós vemos também neste capítulo uma ordem
clara de Deus para que se guardasse o dia de sábado, antes que fosse instituída
tal ordenança na lei, que seria dada no Sinai.
Por isso, era dada uma porção dupla do maná
no dia anterior ao sábado, para que nenhum trabalho de colher o maná fosse
feito neste dia.
Os israelitas deixariam de trabalhar neste
dia em suas tarefas rotineiras, para que pudessem se dedicar ao culto de
adoração a Deus, conforme seria prescrito na lei, que lhes seria dada ainda
naquele ano no Sinai.
Isto teria em vista principalmente,
mantê-los ligados de modo prático aos preceitos e à forma de adoração, que
seria prescrita pelo Senhor, para aplicarem em suas próprias casas, e especialmente
no tabernáculo.
Apesar de Paulo chamar o maná de manjar
espiritual (I Cor 10.3), porque foi dado de modo sobrenatural, diretamente da
parte de Deus, o maná não poderia garantir a vida espiritual eterna daquele que
o comesse, senão apenas a vida física, e assim mesmo não para um período
superior de anos do que a média normal de vida, e Jesus afirmou que somente Ele
é o pão vivo que dá vida eterna (Jo 6.49-51), e de quem o maná era apenas uma
pálida figura, pois nos ensina que precisamos ser alimentados por Deus, com o
alimento espiritual que nos vem do céu e que nos garante a vida eterna, e este
alimento que nos garante tal vida é um pessoa, a saber, nosso Senhor Jesus
Cristo.
Por isso Ele mesmo afirma diretamente que a
sua carne é verdadeira comida e o seu sangue verdadeira bebida, e que todo
aquele que dEle se alimenta tem a vida eterna.
A Palavra de Deus é o maná que alimenta o
nosso espírito (Mt 4.4); e o conforto do Espírito Santo é o maná escondido que
conhecem apenas os que amam a Deus (Apo 2.17).
Baseado em Êxodo 16
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