Os três amigos de Jó ficaram emudecidos depois que
ele proferiu o seu belo e profundo discurso sobre a sabedoria divina, a qual
não se encontra nos animais, e em nenhuma das coisas naturais da terra, e nem
mesmo nos homens que não têm o verdadeiro temor do Senhor, e que não se desviam
do mal.
Eles não poderiam retrucar esta doutrina verdadeira,
expressada como foi, com as palavras de sabedoria que Deus havia concedido a
Jó.
É até mesmo possível que tenham percebido quanto
estultos haviam sido em suas afirmações que não estavam fundamentadas em
nenhuma revelação que lhes tivesse sido dada pelo Espírito de Deus.
Deus oculta a verdadeira sabedoria dos sábios e
entendidos deste mundo e a revela aos pequeninos, ou seja, àqueles que são
pobres de espírito perante Ele.
“Naquele tempo falou Jesus, dizendo: Graças te dou,
ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e
entendidos, e as revelaste aos pequeninos.” (Mt 11.25)
Então Jó
poderia falar agora abertamente, neste 29º capítulo, sobre a sua antiga glória,
antes de ter sido afligido, porque revelara que o seu verdadeiro tesouro não
consistia em nada do que possuía neste mundo, mas na Sua comunhão com Deus e na
sabedoria que recebia dEle, e pela qual dirigia todos os seus passos nas obras
que realizava junto aos seus conterrâneos, e todos aqueles que o procuravam
para serem abençoados por ele.
Jó detalha minuciosamente tudo o que fazia
especialmente para os desfavorecidos e desprezados.
Como foi um amparo para o fraco na sua angústia.
Era de fato um grande homem segundo o coração de
Deus, e por isso o Senhor deu acerca dele o testemunho de ser reto, íntegro,
temente a Ele, e que se desviava do mal, ou seja, Jó possuía os requisitos
necessários para se obter a verdadeira sabedoria, então era de fato sábio, não
segundo o mundo, mas segundo Deus, porque era temente a Ele e se desviava do
mal. E o Senhor será também com todo aquele que caminhar neste mundo, tal como
caminhava Jó.
É interessante observar que o que Ele lamentou no
seu presente estado de aflição não foi propriamente a perda de bens e honra,
mas a íntima presença de Deus.
Por isso ele introduz este seu discurso enfatizando
a glória da sua caminhada diária com o Senhor, antes de todas as demais coisas
que podia fazer a outros, assistido que era pela Sua sabedoria e graça.
Ele disse:
“2 Ah! quem me dera ser como eu fui nos meses do
passado, como nos dias em que Deus me guardava;
3 quando a sua lâmpada luzia sobre o minha cabeça, e
eu com a sua luz caminhava através das trevas;
4 como era nos dias do meu vigor, quando o íntimo
favor de Deus estava sobre a minha tenda;
5 quando o Todo-Poderoso ainda estava comigo, e os
meus filhos em redor de mim;” (v. 2 a 5)
Ele está impedido agora pela enfermidade e por sua
presente condição, de fazer as obras de Deus. Isto era a causa maior da sua
angústia. Não o simples fato de ter perdido pessoas, amigos, bens, saúde.
É este impedimento de continuar servindo a Deus que
fere e magoa o coração do justo, e o Senhor é glorificado nisto, e Satanás fica
enfurecido de inveja, porque se comprova assim o nosso real amor pelo Senhor, e
o testemunho de que Ele é toda a nossa vida, e nada mais.
Continuamos no mundo, desfrutando das coisas lícitas
do mundo, mas é no Senhor mesmo que o justo tem todo o seu deleite e prazer.
“1 E prosseguindo Jó no seu discurso, disse:
2 Ah! quem me dera ser como eu fui nos meses do
passado, como nos dias em que Deus me guardava;
3 quando a sua lâmpada luzia sobre o minha cabeça, e
eu com a sua luz caminhava através das trevas;
4 como era nos dias do meu vigor, quando o íntimo
favor de Deus estava sobre a minha tenda;
5 quando o Todo-Poderoso ainda estava comigo, e os
meus filhos em redor de mim;
6 quando os meus passos eram banhados em leite, e a
rocha me deitava ribeiros de azeite!
7 Quando eu saía para a porta da cidade, e na praça
preparava a minha cadeira,
8 os moços me viam e se escondiam, e os idosos se
levantavam e se punham em pé;
9 os príncipes continham as suas palavras, e punham
a mão sobre a sua boca;
10 a voz dos nobres emudecia, e a língua se lhes
pegava ao paladar.
11 Pois, ouvindo-me algum ouvido, me tinha por
bem-aventurado; e vendo-me algum olho, dava testemunho de mim;
12 porque eu livrava o miserável que clamava, e o
órfão que não tinha quem o socorresse.
13 A bênção do que estava a perecer vinha sobre mim,
e eu fazia rejubilar-se o coração da viúva.
14 vestia-me da retidão, e ela se vestia de mim;
como manto e diadema era a minha justiça.
15 Fazia-me olhos para o cego, e pés para o coxo;
16 dos necessitados era pai, e a causa do que me era
desconhecido examinava com diligência.
17 E quebrava os caninos do perverso, e
arrancava-lhe a presa dentre os dentes.
18 Então dizia eu: No meu ninho expirarei, e
multiplicarei os meus dias como a areia;
19 as minhas raízes se estendem até as águas, e o
orvalho fica a noite toda sobre os meus ramos;
20 a minha honra se renova em mim, e o meu arco se
revigora na minha mão.
21 A mim me ouviam e esperavam, e em silêncio atendiam
ao meu conselho.
22 Depois de eu falar, nada replicavam, e minha
palavra destilava sobre eles;
23 esperavam-me como à chuva; e abriam a sua boca
como à chuva tardia.
24 Eu lhes sorria quando não tinham confiança; e não
desprezavam a luz do meu rosto;
25 eu lhes escolhia o caminho, assentava-me como
chefe, e habitava como rei entre as suas tropas, como aquele que consola os
aflitos.” (Jó 29)
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