Em nenhum momento de sua grande aflição Jó deixou de
reconhecer a Deus como um grande e perfeito Juiz, conforme podemos ver neste
23º capítulo.
Ele estava convicto de que Ele julgaria a sua causa
com reta justiça, especialmente, livrando-o das falsas acusações que lhes
estavam sendo dirigidas pelos seus três amigos, a ponto de acusá-lo de pecados
específicos que sequer passaram pelo seu pensamento.
Mas o peso da mão do Senhor sobre ele, até aquele
dia ainda era muito grande, e maior mesmo do que o seu próprio gemido (v. 2).
Todavia, Jó ansiava ter um encontro com o Senhor, no
Seu tribunal de juízo, para que pudesse expor diante dele a sua causa, porque
já a tinha elaborado com argumentos precisos e verdadeiros para a defesa do seu
caminhar perante o Altíssimo.
Como andava em justiça diante de um Deus justo,
haveria bom entendimento entre ambos, porque tanto entenderia o que Deus lhe
dissesse como o Senhor também o entenderia. Não haveria portanto, conflitos e
coisas a serem escondidas em tal tribunal de julgamento.
Jó sabia que era filho de Deus, e teria nEle o
julgamento de um pai em relação a seu filho, e não de um juiz togado em relação
a um malfeitor.
Por isso estava certo de que Deus seria brando e
compassivo para com Ele, e não lhe trataria segundo a grandeza do Seu poder.
Ele estava convicto de sua absolvição eterna pelo
seu Juiz, porque estava convicto da sua retidão (v. 7).
Ele tinha em seu espírito o testemunho de ter sido e
feito o que Lhe era agradável, e por ter vivido pela fé, no Seu amor divino,
não havia nele qualquer temor do Juízo, porque o amor lança fora o medo da
condenação.
Sabemos que já não há nenhuma condenação para os que
são de Jesus, e Jó, por sua fé, pertencia a Cristo, ainda que Ele não tivesse
ainda se manifestado em carne em Seu ministério terreno.
Jó sabia em espírito que tinha em Cristo o Seu
Redentor, ainda que não soubesse o Seu nome, porque ainda não havia sido
revelado até então.
Contudo, sabia que o efeito desta redenção, desta
absolvição é para sempre, ou seja, é eterna, conforme havia declarado no verso 7.
Ele estava à busca de Deus, sem dar descanso à sua
alma, mas o Senhor não estava se revelando a Ele naquele período da sua
aflição. Deus não havia ainda falado com ele, como viria a fazer, como lemos na
parte final do seu livro, depois que Eliú concluiu o seu discurso.
O Senhor interveio porque se compadeceu de Jó, em
face das grandes e contínuas acusações que estava recebendo da parte daqueles
insensatos.
Contudo, mesmo na aflição, Jó declara que nunca
havia se desviado do caminho do Senhor, antes havia guardado tal caminho (v.
10,11).
Ele nunca deixou de guardar os Seus mandamentos, e
sempre escondeu no seu coração as palavras da Sua boca (v. 12).
Ele reconheceu que Deus estava determinado em
cumprir tudo o que havia resolvido fazer em relação a ele, e que ninguém
poderia desviá-lO do Seu propósito. Por isso, se sujeitou inteiramente ao
desígnio do Senhor, porque sabia que o que Ele havia intentado, certamente o
faria.
Ele sabia que Deus poderia afligi-lo ainda mais com
muitas outras coisas como aquelas, e que por isso ficava perturbado diante
dEle, e sentia medo do que mais poderia lhe sobrevir (v. 14,15).
Então seus amigos estavam enganados pensando que ele
estava perturbado e temeroso por causa dos pecados, que segundo eles, ele havia
cometido, mas o seu temor era do próprio Senhor, das aflições que Ele poderia
ainda lhe trazer na Sua determinação que nunca poderá ser frustrada por ninguém
e por nenhum poder (v. 16,17).
“1 Então Jó respondeu:
2 Ainda hoje a minha queixa está em amargura; o peso
da mão dele é maior do que o meu gemido.
3 Ah, se eu soubesse onde encontrá-lo, e pudesse
chegar ao seu tribunal!
4 Exporia ante ele a minha causa, e encheria a minha
boca de argumentos.
5 Saberia as palavras com que ele me respondesse, e
entenderia o que me dissesse.
6 Acaso contenderia ele comigo segundo a grandeza do
seu poder? Não; antes ele me daria ouvidos.
7 Ali o reto pleitearia com ele, e eu seria
absolvido para sempre por meu Juiz.
8 Eis que vou adiante, mas não está ali; volto para
trás, e não o percebo;
9 procuro-o à esquerda, onde ele opera, mas não o
vejo; viro-me para a direita, e não o diviso.
10 Mas ele sabe o caminho por que eu ando;
provando-me ele, sairei como o ouro.
11 Os meus pés se mantiveram nas suas pisadas;
guardei o seu caminho, e não me desviei dele.
12 Nunca me apartei do preceito dos seus lábios, e
escondi no meu peito as palavras da sua boca.
13 Mas ele está resolvido; quem então pode desviá-lo?
E o que ele quiser, isso fará.
14 Pois cumprirá o que está ordenado a meu respeito,
e muitas coisas como estas ainda tem consigo.
15 Por isso me perturbo diante dele; e quando
considero, tenho medo dele.
16 Deus macerou o meu coração; o Todo-Poderoso me
perturbou.
17 Pois não estou desfalecido por causa das trevas,
nem porque a escuridão cobre o meu rosto.” (Jó 23)
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