Comparemos a citação de Salomão constante do verso 21 deste
capítulo:
“Quem sabe se o espírito dos filhos dos homens vai para cima, e se
o dos animais desce para a terra?”
Com a que ele faz no verso 7 do capítulo 12:
“e o pó volte para a terra como o era, e o espírito volte a Deus
que o deu.”
É necessário fazer tal comparação para que possamos entender o que
ele pretendeu dizer com as palavras dos versos 18 a 21 deste capitulo terceiro,
pelas quais parece estar afirmando que tanto homens quanto animais têm o mesmo
destino comum, e que poderia haver alguma incerteza nele quanto ao destino de
ambos depois da morte, todavia, o que parece que pretendia afirmar é que no que
tange ao corpo é inegável que tanto homens quanto animais voltam ao pó, mas
quanto ao espírito, ele diz em Ec 12.7 que este volta ao domínio de Deus depois
da morte, porque foi dado por Deus, e não formado naturalmente dos próprios
elementos naturais da terra, tal como fora o corpo, tanto de animais quanto de
homens.
E ele afirmou também em relação ao espírito em Ec 3.21, quanto ao destino eterno dos
animais e dos homens, que não se pode afirmar que o espírito de todo o homem
subirá ao céu depois da morte, bem como não podia afirmar se o dos animais
desceria para a terra, parecendo atribuir aos animais terem um espírito que
poderia ir para debaixo da terra depois da morte do seu corpo físico.
Todavia, tão ligado estava Salomão às coisas deste mundo, que
havia nele esta incerteza quanto às coisas que se seguem depois da morte, e
assim, não podemos ver em suas palavras senão a trágica e melancólica conclusão
do verso 22 de que então, em face da realidade assim considerada por ele, que
não há coisa melhor para o homem, do que se alegrar nas suas obras enquanto
estiver neste mundo, porque somente este era o seu quinhão, ou seja, a sua
herança, porque quem o faria voltar depois da morte para ver o que sucedeu
depois dele?
Tão diferente são as afirmações de Davi em relação à certeza de
que estaria com Deus para sempre, não somente Ele, bem como todos aqueles que
tinham o verdadeiro temor do Senhor, e aos quais o Senhor não mais atribuiria a
condenação eterna decorrente do pecado, por causa da justificação.
Em Davi havia esta certeza plena por causa da testificação do
Espírito com o seu espírito, mas em Salomão nós encontramos estas expressões da
incerteza da vida, e da instabilidade de tudo o que há no mundo, nas suas
palavras nos primeiros versículos deste capítulo, embora, ele soubesse que Deus
é eterno, e seu meio de comprovação desta eternidade divina, é que Deus colocou
na própria mente do homem a ideia da eternidade (v. 11).
Embora, o homem não possa descobrir a obra de Deus desde o
princípio até o fim (v. 11 b). Isto é uma afirmação doutrinária correta,
ortodoxa, mas mal usada por Salomão no contexto da sua aplicação, porque
concluiu que o melhor que há então para o homem fazer é se alegrar nesta vida e
praticar o bem enquanto viver, comendo e bebendo, e gozando de todo o bem do
seu trabalho (v. 12, 13). Podemos dizer disto que é parcialmente correto e que
não expressa todo o desígnio de Deus quanto ao modo como espera que os Seus
servos vivam neste mundo, porque Salomão associou todas as ações dos homens
apenas àquilo que é terreno.
Ele falou da eternidade de Deus, e da eternidade colocada por Deus
na mente do homem, mas não pôde afirmar que o homem deveria viver orientado
para esta vida eterna no por vir, porque ele próprio não vivia desta forma.
Deste modo, ele expressa o seu conceito sobre eternidade nos
versos 14 e 15 que podem bem se prestar a servir de base para a formulação de
doutrinas errôneas de que tudo não passa afinal de um eterno voltar a ser o que
já fora dantes, do que para firmar o verdadeiro conceito relativo à eternidade
que consiste em progresso em santificação, quando tudo se faz novo, e o que era
velho e pertencente à natureza de Adão é destruído progressivamente por Deus,
para a formação de uma nova criação em Cristo Jesus.
Assim, as contradições do viver de Salomão especialmente nos
últimos dias de sua vida, podem ser vistas em tudo o que escreveu em
Eclesiastes, porque apesar de afirmar o temor devido a Deus, e que haverá um
juízo perante Ele depois da morte, no entanto, em várias passagens de
Eclesiastes afirma esta sua incerteza em relação ao futuro do espírito humano.
Nós encontramos o seguinte registro em I Reis 11.4-12, relativo a
Salomão, pelo qual nós vemos a que ponto ele chegou por não ter perseverado em
seguir ao Senhor com integridade de coração:
“4 Pois
sucedeu que, no tempo da velhice de Salomão, suas mulheres lhe perverteram o
coração para seguir outros deuses; e seu coração já não era perfeito para com o
Senhor seu Deus, como fora o de Davi, seu pai;
5 Salomão seguiu a Astarete, deusa dos sidônios, e
a Milcom, abominação dos amonitas.
6 Assim fez Salomão o que era mau aos olhos do
Senhor, e não perseverou em seguir, como fizera Davi, seu pai.
7 Nesse tempo edificou Salomão um alto a Quemós,
abominação dos moabitas, sobre e monte que está diante de Jerusalém, e a
Moloque, abominação dos amonitas.
8 E assim fez para todas as suas mulheres
estrangeiras, as quais queimavam incenso e ofereciam sacrifícios a seus deuses.
9 Pelo que o Senhor se indignou contra Salomão,
porquanto o seu coração se desviara do Senhor Deus de Israel, o qual duas vezes
lhe aparecera,
10 e lhe ordenara expressamente que não seguisse a
outros deuses. Ele, porém, não guardou o que o Senhor lhe ordenara.
11 Disse, pois, o Senhor a Salomão: Porquanto houve
isto em ti, que não guardaste a meu pacto e os meus estatutos que te ordenei,
certamente rasgarei de ti este reino, e o darei a teu servo.
12 Contudo não o farei nos teus dias, por amor de
Davi, teu pai; da mão de teu filho o rasgarei.”
Tão apegado estava Salomão à sua coroa, que mesmo sabendo que era
da vontade de Deus dar as dez tribos do Norte para serem regidas por Jeroboão,
conforme palavra do profeta Aías, Salomão tentou matá-lo, para que tal palavra
não tivesse cumprimento, e nós vemos o quanto ele estava desviado do temor
devido ao Senhor nesta fase da sua vida, conforme podemos ver no registro de I
Reis 11.40:
“40 Pelo
que Salomão procurou matar Jeroboão; porém este se levantou, e fugiu para o
Egito, a ter com Sisaque, rei de Egito, onde esteve até a morte de Salomão.”
“1 Tudo tem a sua ocasião própria, e há tempo para todo propósito
debaixo do céu.
2 Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo
de arrancar o que se plantou;
3 tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derribar, e tempo de
edificar;
4 tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de
dançar;
5 tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de
abraçar, e tempo de abster-se de abraçar;
6 tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de
deitar fora;
7 tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e
tempo de falar;
8 tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de
paz.
9 Que proveito tem o trabalhador naquilo em que trabalha?
10 Tenho visto o trabalho penoso que Deus deu aos filhos dos
homens para nele se exercitarem.
11 Tudo fez formoso em seu tempo; também pôs na mente do homem a
ideia da eternidade, se bem que este não possa descobrir a obra que Deus fez
desde o princípio até o fim.
12 Sei que não há coisa melhor para eles do que se regozijarem e
fazerem o bem enquanto viverem;
13 e também que todo homem coma e beba, e goze do bem de todo o
seu trabalho é dom de Deus.
14 Eu sei que tudo quanto Deus faz durará eternamente; nada se lhe
pode acrescentar, e nada se lhe pode tirar; e isso Deus faz para que os homens
temam diante dele:
15 O que é, já existiu; e o que há de ser, também já existiu; e
Deus procura de novo o que já se passou.
16 Vi ainda debaixo do sol que no lugar da retidão estava a
impiedade; e que no lugar da justiça estava a impiedade ainda.
17 Eu disse no meu coração: Deus julgará o justo e o ímpio; porque
há um tempo para todo propósito e para toda obra.
18 Disse eu no meu coração: Isso é por causa dos filhos dos
homens, para que Deus possa prová-los, e eles possam ver que são em si mesmos
como os animais.
19 Pois o que sucede aos filhos dos homens, isso mesmo também
sucede aos animais; uma e a mesma coisa lhes sucede; como morre um, assim morre
o outro; todos têm o mesmo espírito; e o homem não tem vantagem sobre os
animais; porque tudo é vaidade.
20 Todos vão para um lugar; todos são pó, e todos ao pó tornarão.
21 Quem sabe se o espírito dos filhos dos homens vai para cima, e
se o dos animais desce para a terra?
22 Pelo que tenho visto que não há coisa melhor do que alegrar-se
o homem nas suas obras; porque esse é o seu quinhão; pois quem o fará voltar
para ver o que será depois dele?”
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