Logo no primeiro
versículo do segundo capítulo de Rute é dito que Boaz era rico e poderoso, e
era parente de Elimeleque, marido de Noemi, que havia morrido em Moabe.
No comentário do capítulo
anterior nós vimos que Boaz era Neto de Naassom, que era príncipe da tribo de
Judá quando Israel peregrinou no deserto com Moisés.
E Boaz sendo filho de
Raabe, aquela mulher de grande fé cujo nome se encontra na galeria dos heróis
da fé de Hebreus, aprendeu com seu pai e mãe não apenas como preservar e
aumentar a fortuna material de seus ancestrais, mas sobretudo a ser uma pessoa
piedosa, de uma verdadeira fé genuína que se evidencia por um caráter justo e
temente a Deus, e que portanto, ama e pratica os Seus mandamentos e vontade.
Esta é a fé bíblica que
salva. Uma fé que transforma o caráter segundo o caráter de Deus, que está
revelado na Sua Palavra.
A verdadeira fé nos torna
semelhantes ao Filho de Deus, quanto a todas as virtudes que fazem parte da Sua
pessoa divina e santa.
Uma fé meramente
intelectual que não se evidencia em obras de justiça é a fé dos demônios e não
a fé dos que foram justificados e regenerados, sendo feitos novas criaturas em
Cristo Jesus.
A piedade de Boaz se
comprova no relato que a Bíblia nos dá sobre o seu testemunho de vida, porque
sendo um homem rico e poderoso relacionava-se com as pessoas pobres e se
interessava pessoalmente pelo bem-estar delas, ainda que fossem estrangeiras,
como no caso de Rute.
Ele era um patrão justo
porque era temente a Deus e agia de acordo com a Sua vontade e Palavra. E não
desdenhava e tratava com desprezo seus parentes pobres, pois nós vemos a
manifestação da sua bondade para com Rute, pelo que soube do bem que ela havia
feito à sua sogra.
E cabe destacar que não
era propriamente Noemi que era parente de Boaz, mas Elimeleque, seu ex-marido,
que havia morrido em Moabe.
Boaz não fazia portanto
acepção de pessoas porque o nosso Deus também não faz tal tipo de acepção.
E na verdade Deus se
inclina mais para o pobre, o necessitado, o desprezado, do que para os que se
encontram em posições confortáveis e elevadas, como forma de corrigir as
distorções e injustiças que são muito comuns entre os homens.
Por isso nós vemos em
Rute uma atitude permanentemente humilde. Ela não protesta diante de Deus sobre
nenhum direito que lhe era devido em razão da sua fé nEle e de ter deixado a
sua própria terra para servi-lo.
Ela não fez nenhuma
determinação em relação a si mesma e nem a Noemi, quanto a isto, como que se
Deus fosse obrigado a fazer aquilo que ela julgasse necessário ou conveniente.
E não o fez tão somente
diante de Deus, como também diante dos homens. Ela não disse que iria respigar
e que ninguém poderia impedi-la de fazê-lo. Ela simplesmente se entregou ao
cuidado e à direção de Deus sobre a sua vida, e isto se demonstra nas palavras
que proferiu, as quais lemos no segundo versículo:
“Rute, a moabita, disse a
Noemi: Deixa-me ir ao campo a apanhar espigas atrás daquele a cujos olhos eu
achar graça.”.
Ela teria que se humilhar
para obter o alimento necessário para si e para Noemi, submetendo-se ao que
estava prescrito na lei para o sustento daqueles que se encontravam em
condições de miséria, a saber, rebuscar as sobras da lavoura que deveriam ser
deixadas para os pobres.
Ela não ficaria se lastimando
em casa, ou esperando que Deus lhe enviasse alguém para matar a sua fome e de
sua sogra. Não. Fortalecida pela graça ela se pôs sobre os seus pés e partiu
para ação, ainda que isso representasse uma humilhação para ela.
Quando Boaz veio de Belém
saudou seus segadores com a expressão:”O Senhor seja convosco” (v. 4), e já
sabemos que no texto original a palavra traduzida por Senhor é Jeová.
E os segadores
responderam: “O Senhor te abençoe.”.
E ao indagar àquele que
supervisionava o serviço dos segadores quem era aquela desconhecida que estava
respigando após os segadores, este lhe informou que se tratava da nora de
Noemi, e que ela estava trabalhado desde a manhã sem descansar nem sequer um
pouco (v. 7).
Pelo que se infere do
contexto bíblico a norma legal do rebuscar era permitida somente aos pobres que
também tivessem trabalhado na colheita. Eles trabalhariam assim, antes que
pudessem pegar aquilo que havia ficado para trás, por alguma omissão na
colheita, ou que tivesse caído ao solo, ou permanecido escondido entre os ramos
e folhas.
Por isso Boaz recomendou
a Rute que permanecesse trabalhando no seu campo e que se juntasse às moças
israelitas que estavam trabalhando na colheita, de modo que não fosse molestada
pelos homens que trabalhavam para Boaz, aos quais ele ordenou expressamente que
não importunassem Rute em razão de ser pobre e estrangeira entre eles.
E tal foi a bondade de
Boaz para com ela que lhes ordenou que a deixassem respigar até mesmo entre os
molhos que já haviam sido colhidos, e que deixassem de colher espigas,
propositalmente, num esquecimento voluntário, para que fossem respigadas por
Rute.
E vale a pena destacar o
cavalheirismo, bondade e atenção de Boaz, bem como a atitude humilde de Rute,
que estão registradas nos versos oitavo a décimo sexto, onde lemos no verso 12
as seguintes palavras de Boaz dirigidas a Rute:
“O Senhor recompense o
que fizeste, e te seja concedido pleno galardão da parte do Senhor Deus de
Israel, sob cujas asas te vieste abrigar.”.
Isto é o que de fato
sucede a todo o que confia inteiramente na graça de Jesus e que vem buscar
refúgio debaixo das suas asas, pois o Senhor recompensará a todo que o fizer
concedendo a plenitude da Sua graça. A uma entrega e confiança completa em Deus
corresponde uma recompensa também completa.
Boaz orou para que o
Senhor recompensasse Rute da forma referida, mas certamente ele o fez porque
observou a grande diligência com que ela estava se empenhando em seu trabalho.
Assim devemos juntar à fé
a ação e certamente o Senhor abençoará os nossos esforços, e devemos ser também
diligentes para não perder o fruto do nosso trabalho, como somos exortados pela
Palavra de Deus:
“Olhai por vós mesmos,
para que não percais o fruto do nosso trabalho, antes recebeis plena recompensa.”
(II Jo 8).
“mas o que tendes,
retende-o até que eu venha. Ao que vencer, e ao que guardar as minhas obras até
o fim, eu lhe darei autoridade sobre as nações,” (Apo 2.25,26).
“ Venho sem demora;
guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa.” (Apo 3.11).
Nos versos 17 a 23 nós
temos o relatório que Rute fez a Noemi da bondade de Boaz para com ela.
E o relatório de Rute
avivou a memória de Noemi, de modo que ela se lembrou que Boaz era um dos
parentes de seu ex-marido, que poderia resgatar a hipoteca da propriedade que
lhe pertencia como herança vitalícia, segundo a lei de Moisés, segundo a qual,
quando a própria pessoa não tivesse recursos para reaver a sua antiga posse, um
parente próximo abastado poderia fazê-lo no lugar dela.
E Noemi aconselhou Rute a continuar
respigando somente nos campos de Boaz para que não parecesse a ele, em caso
contrário, um desprezo da generosidade que ele havia lhe demonstrado.
Se elas esperavam uma
generosidade ainda maior de Boaz, a ponto de se dispor a resgatar a propriedade
hipotecada, haveria necessidade de se aproximar dele, de estar somente no campo
dele e não em outro, e de igual modo aqueles que têm sido resgatados pelo
Senhor Jesus ou que o estão esperando, não podem se envolver com os negócios
deste mundo, eles devem permanecer na presença do Senhor, e trabalharem para
ele, tornando-se familiares e apegados a Ele, e assim poderão ter a certeza de
que receberão o Seu favor.
Aquele que busca agradar
a Deus em tudo jamais será desamparado por Ele.
“1 Ora, tinha Noemi um
parente de seu marido, homem poderoso e rico, da família de Elimeleque; e ele
se chamava Boaz.
2 Rute, a moabita, disse
a Noemi: Deixa-me ir ao campo a apanhar espigas atrás daquele a cujos olhos eu
achar graça. E ela lhe respondeu: Vai, minha filha.
3 Foi, pois, e chegando
ao campo respigava após os segadores; e caiu-lhe em sorte uma parte do campo de
Boaz, que era da família de Elimeleque.
4 E eis que Boaz veio de
Belém, e disse aos segadores: O Senhor seja convosco. Responderam-lhe eles: O
Senhor te abençoe.
5 Depois perguntou Boaz
ao moço que estava posto sobre os segadores: De quem é esta moça?
6 Respondeu-lhe o moço:
Esta é a moça moabita que voltou com Noemi do país de Moabe.
7 Disse-me ela: Deixa-me
colher e ajuntar espigas por entre os molhos após os segadores: Assim ela veio,
e está aqui desde pela manhã até agora, sem descansar nem sequer um pouco.
8 Então disse Boaz a
Rute: Escuta filha minha; não vás colher em outro campo, nem tampouco passes
daqui, mas ajunta-te às minhas moças.
9 Os teus olhos estarão
atentos no campo que segarem, e irás após elas; não dei eu ordem aos moços, que
não te molestem? Quando tiveres sede, vai aos vasos, e bebe do que os moços
tiverem tirado.
10 Então ela,
inclinando-se e prostrando-se com o rosto em terra, perguntou-lhe: Por que
achei eu graça aos teus olhos, para que faças caso de mim, sendo eu
estrangeira?
11 Ao que lhe respondeu
Boaz: Bem se me contou tudo quanto tens feito para com tua sogra depois da
morte de teu marido; como deixaste a teu pai e a tua mãe, e a terra onde
nasceste, e vieste para um povo que dantes não conhecias.
12 O Senhor recompense o
que fizeste, e te seja concedido pleno galardão da parte do Senhor Deus de
Israel, sob cujas asas te vieste abrigar.
13 E disse ela: Ache eu
graça aos teus olhos, senhor meu, pois me consolaste, e falaste bondosamente à
tua serva, não sendo eu nem mesmo como uma das tuas criadas.
14 Também à hora de
comer, disse-lhe Boaz: Achega-te, come do pão e molha o teu bocado no vinagre.
E, sentando-se ela ao lado dos segadores, ele lhe ofereceu grão tostado, e ela
comeu e ficou satisfeita, e ainda lhe sobejou.
15 Quando ela se levantou
para respigar, Boaz deu ordem aos seus moços, dizendo: Até entre os molhos
deixai-a respirar, e não a censureis.
16 Também, tirai dos
molhos algumas espigas e deixai-as ficar, para que as colha, e não a
repreendais.
17 Assim ela respigou
naquele campo até a tarde; e debulhou o que havia apanhado e foi quase uma efa
de cevada.
18 Então, carregando com
a cevada, veio à cidade; e viu sua sogra o que ela havia apanhado. Também Rute
tirou e deu-lhe o que lhe sobejara depois de fartar-se.
19 Ao que lhe perguntou
sua sogra: Onde respigaste hoje, e onde trabalhaste? Bendito seja aquele que
fez caso de ti. E ela relatou à sua sogra com quem tinha trabalhado, e disse: O
nome do homem com quem hoje trabalhei é Boaz.
20 Disse Noemi a sua
nora: Bendito seja ele do Senhor, que não tem deixado de misturar a sua
beneficência nem para com os vivos nem para com os mortos. Disse-lhe mais Noemi:
Esse homem é parente nosso, um dos nossos remidores.
21 Respondeu Rute, a
moabita: Ele me disse ainda: Seguirás de perto os meus moços até que tenham
acabado toda a minha sega.
22 Então disse Noemi a
sua nora, Rute: Bom é, filha minha, que saias com as suas moças, e que não te
encontrem noutro campo.
23 Assim se ajuntou com
as moças de Boaz, para respigar até e fim da sega da cevada e do trigo; e
morava com a sua sogra.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário