Nós lemos no primeiro versículo deste capítulo 32º que
os três amigos de Jó cessaram de lhe responder porque Jó era justo aos seus
próprios olhos.
Ou seja, era este o entendimento deles quanto ao que
haviam entendido das palavras de Jó, apesar dele ter deixado muito claro que
não era no que possuía e nem no que ele era, que estavam a sua esperança e
confiança, senão no Senhor.
Então não poderia ser acusado de ser justo por sua
própria capacidade e poder.
O que ele estava fazendo indevidamente, em sua
ignorância, era o fato de confiar simplesmente no fato de ser justo para ser
livrado da sua aflição, e também, pensar que Deus estava deixando que ele fosse
afligido injustamente, no que indiretamente, condenava o próprio Deus enquanto
se justificava.
Entre eles, havia uma quinta pessoa que até então
estava acompanhando em silêncio todos os debates dos três amigos de Jó com ele.
Ele se chamava Eliú, e declara que havia permanecido
calado por julgar que por serem mais idosos do que ele, a sabedoria estaria com
os três amigos de Jó, mas como vira que eles haviam se dado por vencidos no
debate que vinham mantendo com ele, animara-se então a também falar o que
pensava.
A Eliú, tal como aos três amigos de Jó, também foi
muito desconfortável e penoso, ter que suportar ouvir Jó declarar o seu
testemunho de homem justo e santo.
Só que no caso deste Eliú, ele seria muito útil a
Jó, para a virada do seu cativeiro, tanto que o Senhor não se declarou irado em
relação ao que ele havia falado, diferentemente do que declarara em relação aos
três amigos de Jó.
Eliú queria ajudar sinceramente a Jó, como veremos
adiante de suas próprias palavras, e nisto havia algo bom e diferente nele em
relação aos demais.
Também, o motivo de estar desagrado com o fato de Jó
se declarar justo, não era propriamente pela declaração em si mesma, que era
verdadeira, mas porque enquanto mantivesse aquela posição, em nada poderia ser
ajudado por Deus.
Jó queria ser livrado confiando apenas na sua
justiça, e na justiça divina, que o livraria por ser justo e santo.
No entanto, Eliú conhecia algo a mais do que Jó,
quanto a isto, porque sabia que enquanto Jó não se humilhasse perante o Senhor,
e lutasse contra o mal (o diabo) que estava lhe afligindo, as coisas não
poderiam mudar de rumo.
É muito comum que cristãos piedosos julguem
erroneamente que Deus está obrigado a livrá-los de todas as investidas do
diabo, baseando-se apenas no fato de serem filhos de Deus.
Caso eles não vistam a armadura de Deus, e repreendam
o Inimigo que os ataca, é bem possível que o Senhor não se levantará para
livrá-los.
Deus não nos tem chamado à passividade, ou seja,
cruzarmos os braços enquanto somos afligidos pelo inferno, esperando que o
Senhor venha nos livrar porque somos pessoas piedosas.
Este era o problema com Jó, não porque fosse justo,
porque isto não é problema, mas solução, mas por estar confiando apenas na sua
própria justiça para ser livrado do mal que lhe havia atingido.
É preciso clamar, orar, buscar por socorro em Deus,
pedir-Lhe livramento, que repreenda o diabo que nos oprime, para que Ele possa
operar com base na nossa fé, e não propriamente na nossa justiça.
Eliú estivera calado, e Jó não pôde ser ajudado em
nada com os discursos condenatórios de seus três amigos.
Mas incontido com a visão que traria solução para Jó
em seu peito, Eliú teve coragem o bastante para silenciar ainda mais os três
amigos de Jó e para se fazer ouvido por ele.
Ele não teria que abandonar a sua justiça, mas teria
que confiar em algo mais elevado para ser livrado da sua aflição, a saber, na
justiça e poder do próprio Deus.
“1 E aqueles três homens cessaram de responder a Jó;
porque era justo aos seus próprios olhos.
2 Então se acendeu a ira de Eliú, filho de Baraquel,
o buzita, da família de Rão; acendeu-se a sua ira contra Jó, porque este se
justificava a si mesmo, e não a Deus.
3 Também contra os seus três amigos se acendeu a sua
ira, porque não tinham achado o que responder, e contudo tinham condenado a Jó.
4 Ora, Eliú havia esperado para falar a Jó, porque
eles eram mais idosos do que ele.
5 Quando, pois, Eliú viu que não havia resposta na
boca daqueles três homens, acendeu-se-lhe a ira.
6 Então respondeu Eliú, filho de Baraquel, o buzita,
dizendo: Eu sou de pouca idade, e vós sois, idosos; arreceei-me e temi de vos
declarar a minha opinião.
7 Dizia eu: Falem os dias, e a multidão dos anos
ensine a sabedoria.
8 Há, porém, um espírito no homem, e o sopro do
Todo-Poderoso o faz entendido.
9 Não são os velhos que são os sábios, nem os
anciãos que entendem o que é reto.
10 Pelo que digo: Ouvi-me, e também eu declararei a
minha opinião.
11 Eis que aguardei as vossas palavras, escutei as
vossas considerações, enquanto buscáveis o que dizer.
12 Eu, pois, vos prestava toda a minha atenção, e
eis que não houve entre vós quem convencesse a Jó, nem quem respondesse às suas
palavras;
13 pelo que não digais: Achamos a sabedoria; Deus é
que pode derrubá-lo, e não o homem.
14 Ora ele não dirigiu contra mim palavra alguma,
nem lhe responderei com as vossas palavras.
15 Estão pasmados, não respondem mais; faltam-lhes
as palavras.
16 Hei de eu esperar, porque eles não falam, porque
já pararam, e não respondem mais?
17 Eu também darei a minha resposta; eu também
declararei a minha opinião.
18 Pois estou cheio de palavras; o espírito dentro
de mim me constrange.
19 Eis que o meu peito é como o mosto, sem
respiradouro, como odres novos que estão para arrebentar.
20 Falarei, para que ache alívio; abrirei os meus
lábios e responderei:
21 Que não faça eu acepção de pessoas, nem use de
lisonjas para com o homem.
22 Porque não sei usar de lisonjas; do contrário, em
breve me levaria o meu Criador.” (Jó 32)
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