Não podemos de modo algum concordar com as palavras de Salomão
proferidas no último versículo deste capitulo, porque conhecemos sim, se somos servos de Deus, aquilo que é
bom para o homem nesta vida, ainda que sejam poucos os seus dias na terra,
porque não é vã a vida para aqueles que andam na presença do Senhor e que o
servem com um coração sincero, porque é em Deus mesmo que se encontra o sentido
da vida, e não nos dons que recebemos dEle, nem mesmo na sabedoria que nos tenha
dado, tal como fizera com Salomão, porque nada disso pode preencher a vida,
senão o próprio Senhor.
A razão desta conclusão melancólica de Salomão pode ser vista em
suas palavras proferidas no início deste capitulo no qual ele afirma que se
Deus dá riquezas a um homem, mas ao mesmo tempo não lhe dá a condição de
desfrutar delas, então, segundo Salomão, teria sido melhor para tal homem que
nem tivesse nascido, porque um aborto está em vantagem em relação a ele, porque
não tendo nascido, não pôde ter consciência de não poder desfrutar daquilo que
lhe havia sido dado.
Veja o modo como Salomão lamenta, em sua velhice, a sua própria
incapacidade, como há de declarar no último capitulo deste livro, o seu próprio
estado de não sentir prazer mais em nada, por causa da sua idade avançada.
Assim, ao mesmo tempo em que falava da certeza e da instabilidade
das riquezas, como no capítulo anterior, e que não é nelas que devemos colocar
o nosso coração, todavia, era quase que exclusivamente nisto que Salomão
somente pensava, ou seja, nas riquezas, e como poderia continuar desfrutando
delas.
Temos assim nele, a mesma contradição dos pastores da Igreja de
Laodiceia, que afirmam pregar a verdade do evangelho da cruz, mas na prática seus
corações estão apegados irremediavelmente às coisas deste mundo. Pobres
infelizes, como Cristo se referiu a eles, por viverem em tal contradição de
vida, afirmando uma coisa e vivendo o oposto dela.
As igrejas estão cheias de pessoas que têm grande conhecimento
teológico, mas nenhuma verdadeira piedade. Afirmam o valor da vida piedosa, mas
negam a sua eficácia em suas próprias vidas.
“1 Sabe, porém, isto, que nos últimos dias sobrevirão tempos
penosos;
2 pois os homens serão amantes de si mesmos, gananciosos,
presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a seus pais, ingratos, ímpios,
3 sem afeição natural, implacáveis, caluniadores, incontinentes,
cruéis, inimigos do bem,
4 traidores, atrevidos, orgulhosos, mais amigos dos deleites do
que amigos de Deus,
5 tendo aparência de piedade, mas negando-lhe o poder. Afasta-te
também desses.” (II Tim 3.1-5)
“Porque o reino de Deus não consiste em palavras, mas em poder.”
(I Cor 4.20)
A pregação dos pastores da Igreja de Laodiceia está toda orientada
para desfrutar os prazeres que a vida pode dar. Chamam à conquista de tal
posição, de o triunfo da fé, na materialização de sonhos e desejos.
Exatamente o que afirma
Salomão no seu ensino neste capitulo, para o qual a vida não teria qualquer
sentido caso não se pudesse experimentar tais prazeres que o mundo tem a nos
oferecer (v. 6).
Ele até parece ter sido adepto da filosofia epicurista antes mesmo
dela ter sido formulada na Grécia, pela qual se afirma o “comamos e bebamos
porque amanhã morreremos”.
O evangelho está na contramão desta filosofia, porque não
esperamos a nossa recompensa da fé em Cristo, apenas para este mundo, e não é
para este tipo de recompensa mundana que ela está orientada, porque o triunfo
da cruz, é triunfo sobre o mundo e a carne, pelo viver e andar no poder do
Espírito, em novidade de vida, a vida ressurecta e poderosa de Cristo, que se
manifesta em nós, quando negamos o eu e carregamos a nossa cruz
diariamente.
“1 Há um mal que tenho visto debaixo do sol, e que pesa muito
sobre o homem:
2 um homem a quem Deus deu riquezas, bens e honra, de maneira que
nada lhe falta de tudo quanto ele deseja, contudo Deus não lhe dá poder para
daí comer, antes o estranho lho come; também isso é vaidade e grande mal.
3 Se o homem gerar cem filhos, e viver muitos anos, de modo que os
dias da sua vida sejam muitos, porém se a sua alma não se fartar do bem, e além
disso não tiver sepultura, digo que um aborto é melhor do que ele;
4 porquanto debalde veio, e em trevas se vai, e de trevas se cobre
o seu nome;
5 e ainda que nunca viu o sol, nem o conheceu, mais descanso tem
do que o tal;
6 e embora vivesse duas vezes mil anos, mas não gozasse o bem. Não
vão todos para um mesmo lugar?
7 Todo o trabalho do homem é para a sua boca, e contudo não se
satisfaz o seu apetite.
8 Pois, que vantagem tem o sábio sobre o tolo? e que tem o pobre
que sabe andar perante os vivos?
9 Melhor é a vista dos olhos do que o vaguear da cobiça; também
isso é vaidade, e desejo vão.
10 Seja qualquer o que for, já há muito foi chamado pelo seu nome;
e sabe-se que é homem; e ele não pode contender com o que é mais forte do que
ele.
11 Visto que as muitas palavras aumentam a vaidade, que vantagem
tira delas o homem?
12 Porque, quem sabe o que é bom nesta vida para o homem, durante
os poucos dias da sua vida vã, os quais gasta como sombra? pois quem declarará
ao homem o que será depois dele debaixo do sol?”
Nenhum comentário:
Postar um comentário