A autoridade e
importância de Boaz em Belém de Judá são vistas logo no início deste quarto capítulo,
pela forma como reuniu prontamente dez anciãos à porta principal da cidade para
resolver juntamente com eles a questão
da remissão da propriedade de Elimeleque e ao ato de se dar continuidade à
descendência de Malom, de quem Rute havia enviuvado, pela via do matrimônio, em
cumprimento à lei do levirato.
Assim, aquele que remisse
a propriedade deveria também se casar com Rute, para que através dela, fosse
perpetuada a posse da herança que vinha passando desde os antepassados de
Elimeleque, e que continuaria através de seus filhos Quiliom e Malom, caso
ambos não tivessem morrido.
Como a viúva de Malom
(Rute) estava recorrendo ao seu direito legítimo de reaver a propriedade que
seria herdada pelo seu marido, e sabendo também do direito que tinha, pela Lei
de Moisés, a se casar com um parente próximo que suscitasse descendência ao
ex-marido dela, de forma que a sua propriedade permanecesse como herança
perpétua em sua família, não houve interesse da parte do remidor a quem Boaz
havia se referido, em resgatar a hipoteca da propriedade porque deveria também,
simultaneamente, cumprir a lei do levirato, e assim, a posse da propriedade não
seria dele, mas dos filhos que viesse a gerar com Rute. E Boaz teria assim o
caminho aberto para realizar ambas as ações, conforme era da sua vontade.
E ali mesmo junto àqueles
anciãos e ao público que a tudo testemunhou, Boaz fechou tanto o contrato da
remissão da hipoteca da propriedade quanto o relativo ao seu casamento com Rute
para que se suscitasse descendência a Malom.
Assim como Boaz atentou
para a condição de miséria em que Noemi e Rute se encontravam, e tomou
providências para que pudesse restaurá-las a um estado venturoso, Jesus também
contemplou com compaixão ao estado deplorável da raça humana, caída no pecado,
e pagando um alto preço resgatou a herança divina para nós, que havia sido
hipotecada em razão do pecado, estando esta hipoteca nas mãos da justiça
divina, e que em nossa condição de miséria, jamais conseguiríamos resgatar por
nós mesmos, senão por este parente riquíssimo, poderoso, bondoso, achegado a
nós, que o fez voluntária e prazerosamente em nosso favor.
“Se teu irmão empobrecer
e vender uma parte da sua possessão, virá o seu parente mais chegado e remirá o
que seu irmão vendeu.” (Lev 25.25).
Jesus não se envergonhou
em colocar a elevadíssima honra do Seus santo nome, e a dignidade infinita da
Sua realeza divina, em se associar a pessoas pobres e miseráveis como nós, que
não tínhamos como resgatar a herança que nos foi destinada por Deus e que
havíamos perdido em razão do pecado. E Ele o fez não com prata e ouro, mas
derramando o Seu precioso sangue, a Sua própria vida, que voluntariamente
ofereceu como preço do nosso resgate. Graças sejam dadas pois a Ele por toda a
eternidade, pois não temos como retribuir tão imenso e impagável favor.
Boaz é digno de honra e
louvor pelo seu gesto justo e bondoso, mas Jesus é digno de muito maior honra e
louvor, porque não nos resgatou com dinheiro, mas oferecendo a própria vida por
nós. E por isso recebeu do Pai um nome que é sobre todo o nome, e digno de
honra, glória e louvor acima de toda
comparação.
Ele manifestou
perfeitamente a completa extensão da bondade, amor e misericórdia de Deus para
com os pecadores, e não vacilou em deixar a glória celestial, sendo Deus, para
se tornar também homem como nós, para que pudesse realizar a Sua função de
Remidor, que lhe foi designada pelo Pai.
Assim, do menino que
nasceu a Rute, de seu casamento com Boaz, ao qual chamaram Obede, foi dito que
seria o restaurador da vida de Noemi e o consolador da sua velhice (v. 15). E o
menino que nos nasceu, e que nos foi dado por Deus para ser o nosso Remidor não
é porventura o restaurador da nossa vida e o consolador da nossa velhice? Por
isso se diz através do profeta Isaías:
“Porque um menino nos
nasceu, um filho se nos deu; e o governo estará sobre os seus ombros; e o seu
nome será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai Eterno, Príncipe da Paz.”
(Is 9.6).
O futuro já não pode nos
assustar mais em face da miséria em que nos encontrávamos por causa dos nossos
pecados, porque a Providência Divina nos deu um filho, o Filho do homem, para
ser o Redentor da nossa propriedade eterna.
“o qual é o penhor da
nossa herança, para redenção da possessão de Deus, para o louvor da sua
glória.” (Ef 1.14).
“em quem temos a
redenção, a saber, a remissão dos pecados;” (Col 1.14).
“e não pelo sangue de
bodes e novilhos, mas por seu próprio sangue, entrou uma vez por todas no santo
lugar, havendo obtido uma eterna redenção.” (Hb 9.12).
No verso 15 é afirmado o
amor que Rute devotava a Noemi, e que por causa deste amor, aquele neto seria
uma bênção para ela.
Ele não seria apenas um
neto legítimo por força da lei justa e piedosa do levirato que Deus havia
instituído em Israel, mas pelo fato de Rute se colocar não na posição de uma
simples nora em relação a Noemi, mas na posição de uma filha devotada e
amorosa.
O amor tudo vence.
E os habituais conflitos
existentes entre noras e sogras não teriam lugar, caso tanto o exemplo de
Noemi, quanto o de Rute fossem seguidos.
E tanto Noemi era para
Rute uma verdadeira mãe e não simplesmente uma sogra, que ela deixou a criação
de Obede aos cuidados da avó, de modo que ela pudesse se consolar da perda dos
seus filhos na terra de Moabe.
Assim, o amor verdadeiro
é constituído não apenas de palavras, mas de renúncias e atos de bondade em
relação àqueles aos quais amamos.
Quantas lições extraordinárias
de vida, podemos retirar deste pequeno livro de Rute!
O qual, a propósito, foi
escrito bem depois de terem ocorrido os fatos que estão nele narrados, pois,
são citados também os descendentes de Boaz e o rei Davi (v. 22). Sendo Jessé,
pai de Davi, filho de Obede, que havia
nascido de Rute, então o rei Davi era bisneto dela.
E é maravilhoso observar
como a providência divina se encarregou de deixar registrado os fatos marcantes
da genealogia que conduziria ao Messias.
Antes que Jesus se manifestasse
em carne, na plenitude dos tempos (Gál 4.4), Deus estava descrevendo o caminho
pelo qual Ele viria ao mundo, na Sua plena inclusão e participação na natureza
e história humanas, demonstrando assim que a Sua Pessoa e obra teriam a ver com
o homem, segundo o propósito de Deus relativamente à humanidade.
“mas, vindo a plenitude
dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido debaixo de lei,
para resgatar os que estavam debaixo de lei, a fim de recebermos a adoção de
filhos.” (Gál 4.4,5).
“1 Boaz subiu à porta da
cidade, e assentou-se ali. Quando o remidor de que ele havia falado ia
passando, disse-lhe Boaz: Meu amigo, vem cá, assenta-te aqui. Ele se virou, e
se assentou.
2 Então Boaz tomou dez
homens dentre os anciãos da cidade, e lhes disse: Sentai-vos aqui. E eles se
sentaram.
3 Disse Boaz ao remidor:
Noemi, que voltou da terra dos moabitas, vendeu a parte da terra que pertencia
a Elimeleque; nosso irmão.
4 Resolvi informar-te
disto, e dizer-te: Compra-a na presença dos que estão sentados aqui, na
presença dos anciãos do meu povo; se hás de redimi-la, redime-a, e se não,
declara-mo, para que o saiba, pois outro não há, senão tu, que a redima, e eu
depois de ti. Então disse ele: Eu a redimirei.
5 Disse, porém, Boaz: No
dia em que comprares o campo da mão de Noemi, também tomarás a Rute, a moabita,
que foi mulher do falecido, para suscitar o nome dele na sua herança.
6 Então disse o remidor:
Não poderei redimi-lo para mim, para que não prejudique a minha própria
herança; toma para ti o meu direito de remissão, porque eu não o posso fazer.
7 Outrora em Israel, para
confirmar qualquer negócio relativo à remissão e à permuta, o homem descalçava
o sapato e o dava ao seu próximo; e isto era por testemunho em Israel.
8 Dizendo, pois, o
remidor a Boaz: Compra-a para ti, descalçou o sapato.
9 Então Boaz disse aos
anciãos e a todo o povo: Sois hoje testemunhas de que comprei tudo quanto foi
de Elimeleque, e de Quiliom, e de Malom, da mão de Noemi,
10 e de que também tomei
por mulher a Rute, a moabita, que foi mulher de Malom, para suscitar o nome do
falecido na sua herança, para que a nome dele não seja desarraigado dentre seus
irmãos e da porta do seu lugar; disto sois hoje testemunhas.
11 Ao que todo o povo que
estava na porta e os anciãos responderam: Somos testemunhas. O Senhor faça a
esta mulher, que entra na tua casa, como a Raquel e a Léia, que juntas
edificaram a casa de Israel. Porta-te valorosamente em Efrata, e faze-te nome
afamado em Belém.
12 Também seja a tua casa
como a casa de Pérez, que Tamar deu a Judá, pela posteridade que o Senhor te
der desta moça.
13 Assim tomou Boaz a
Rute, e ela lhe foi por mulher; ele a conheceu, e o Senhor permitiu a Rute
conceber, e ela teve um filho.
14 Disseram então as
mulheres a Noemi: Bendito seja o Senhor, que não te deixou hoje sem remidor; e
torne-se o seu nome afamado em Israel.
15 Ele será restaurador
da tua vida, e consolador da tua velhice, pois tua nora, que te ama, o deu à
luz; ela te é melhor do que sete filhos.
16 E Noemi tomou o
menino, pô-lo no seu regaço, e foi sua ama.
17 E as vizinhas
deram-lhe nome, dizendo: A Noemi nasceu um filho, E chamaram ao menino Obede.
Este é o pai de Jessé, pai de Davi.
18 São estas as gerações
de Pérez: Pérez gerou a Hezrom,
19 Hezrom gerou a Rão, Rão
gerou a Aminadabe,
20 Aminadabe gereu a
Nasom, Nasom gerou a Salmom,
21 Salmom gerou a Boaz,
Boaz gerou a Obede,
22 Obede gerou a Jessé, e
Jessé gerou a Davi.”
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