Eliú falou duramente com Jó neste capítulo 34º, e
até mesmo o acusou de sentimentos que não existiam nele.
No entanto, Jó tudo suportou com paciência sem
replicar porque notara, que diferentemente de seus três amigos, o desejo de
Eliú ajudá-lo a sair da aflição era sincero.
Não era propósito seu acusá-lo como os demais, mas
levá-lo a refletir em sua consciência até que ponto não estaria colocando a sua
própria justiça até mesmo sobre a própria vontade de Deus, naquela obstinação
de que o Senhor lhe justificaria por causa do seu bom testemunho, e não
propriamente, por causa da Sua própria justiça e misericórdia divina?
Nisto se cumpriram as palavras do salmista:
“ Fira-me o justo, será isso uma benignidade; e repreenda-me,
isso será como óleo sobre a minha cabeça; não o recuse a minha cabeça; mas
continuarei a orar contra os feitos dos ímpios.” (Sl 141.5)
E o que também lemos em Provérbios:
“Fiéis são as feridas dum amigo; mas os beijos dum
inimigo são enganosos.” (Pv 27.6)
Eliú fez Jó lembrar de algumas palavras injustas que
ele havia proferido contra Deus. Apesar de terem sido palavras proferidas em
amargura de espírito debaixo daquela grande aflição, eram no entanto palavras
injustas.
Então Jó deveria desconfiar um pouco da
excepcionalidade da sua própria justiça, porque como qualquer outro homem, era
pó e sujeito às mesmas paixões que eles, e se era justo, isto era tributado
totalmente à graça divina que lhe capacitava a isto.
Assim Eliú lembra Jó que nunca se ouviu na terra
qualquer homem que defendesse de modo tão elevado a sua própria honra e justiça
tal como ele fizera no desespero da sua aflição.
E possivelmente isto demonstrava que ele se
orgulhava de ser justo, e isto não deixa de ser uma forma de orgulho que deve
também ser crucificado pela cruz.
Este orgulho de ser justo era o que estava dando
ocasião a outros a zombarem dele, como fizeram os seus próprios três
amigos.
“1 Prosseguiu Eliú, dizendo:
2 Ouvi, vós, sábios, as minhas palavras; e vós,
entendidos, inclinai os ouvidos para mim.
3 Pois o ouvido prova as palavras, como o paladar
experimenta a comida.
4 O que é direito escolhamos para nós; e conheçamos
entre nós o que é bom.
5 Pois Jó disse: Sou justo, e Deus tirou-me o
direito.
6 Apesar do meu direito, sou considerado mentiroso;
a minha ferida é incurável, embora eu esteja sem transgressão.
7 Que homem há como Jó, que bebe o escárnio como
água,
8 que anda na companhia dos malfeitores, e caminha
com homens ímpios?
9 Porque disse: De nada aproveita ao homem o
comprazer-se em Deus.
10 Pelo que ouvi-me, vós homens de entendimento:
longe de Deus o praticar a maldade, e do Todo-Poderoso o cometer a iniquidade!
11 Pois, segundo a obra do homem, ele lhe retribui,
e faz a cada um segundo o seu caminho.
12 Na verdade, Deus não procederá impiamente, nem o
Todo-Poderoso perverterá o juízo.
13 Quem lhe entregou o governo da terra? E quem lhe
deu autoridade sobre o mundo todo?
14 Se ele retirasse para si o seu espírito, e
recolhesse para si o seu fôlego,
15 toda a carne juntamente expiraria, e o homem
voltaria para o pó.
16 Se, pois, há em ti entendimento, ouve isto,
inclina os ouvidos às palavras que profiro.
17 Acaso quem odeia o direito governará? Quererás tu
condenar aquele que é justo e poderoso?
18 aquele que diz a um rei: Ó vil? e aos príncipes:
Ó ímpios?
19 que não faz acepção das pessoas de príncipes, nem
estima o rico mais do que o pobre; porque todos são obra de suas mãos?
20 Eles num momento morrem; e à meia-noite os povos
são perturbados, e passam, e os poderosos são levados não por mão humana.
21 Porque os seus olhos estão sobre os caminhos de
cada um, e ele vê todos os seus passos.
22 Não há escuridão nem densas trevas, onde se
escondam os obradores da iniquidade.
23 Porque Deus não precisa observar por muito tempo
o homem para que este compareça perante ele em juízo.
24 Ele quebranta os fortes, sem inquirição, e põe
outros em lugar deles.
25 Pois conhecendo ele as suas obras, de noite os
transtorna, e ficam esmagados.
26 Ele os fere como ímpios, à vista dos
circunstantes;
27 porquanto se desviaram dele, e não quiseram
compreender nenhum de seus caminhos,
28 de sorte que o clamor do pobre subisse até ele, e
que ouvisse o clamor dos aflitos.
29 Se ele dá tranquilidade, quem então o condenará?
Se ele encobrir o rosto, quem então o poderá contemplar, quer seja uma nação,
quer seja um homem só?
30 para que o ímpio não reine, e não haja quem iluda
o povo.
31 Pois, quem jamais disse a Deus: Sofri, ainda que
não pequei;
32 o que não vejo, ensina-me tu; se fiz alguma
maldade, nunca mais a hei de fazer?
33 Será a sua recompensa como queres, para que a
recuses? Pois tu tens que fazer a escolha, e não eu; portanto fala o que sabes.
34 Os homens de entendimento dir-me-ão, e o varão
sábio, que me ouvir:
35 Jó fala sem conhecimento, e às suas palavras
falta sabedoria.
36 Quem dera que Jó fosse provado até o fim; porque
responde como os iníquos.
37 Porque ao seu pecado acrescenta a rebelião; entre
nós bate as palmas, e multiplica contra Deus as suas palavras.” (Jó 34)
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