Se Salomão tivesse a vida atribulada de seu pai Davi, nas muitas
guerras e oposições de muitos inimigos que ele enfrentou durante toda a sua
vida, talvez tivesse se consagrado mais a Deus à busca de consolo e triunfo
sobre as adversidades dirigidas contra ele e contra o reino de Israel.
Contudo, como o seu reino foi pacífico e próspero, e sua vida
cheia de confortos, achou então muita
tristeza nas adversidades, desigualdades, enfim, em tudo aquilo que é consequente
da presença do pecado no mundo.
Todavia, o seu testemunho nos é muito precioso, para nos advertir
que de fato, conforme a própria experiência dele o comprovou, apesar de toda a
sua grande riqueza e sabedoria, não está em nada disso o motivo da verdadeira
vida e alegria, senão somente no Senhor e na nossa plena comunhão com Ele.
Então é importantíssimo que aqueles que andam à busca de
prosperidade mundana, especialmente os cristãos da Igreja de Laodiceia, citada
em Apo 3, como se fosse isto o triunfo da fé, porque a pessoa que colocar o seu
coração em buscar uma vida vitoriosa fora do ato de se conquistar mais e mais
da pessoa do próprio Deus, virá a reconhecer mais cedo ou mais tarde, tal como
Salomão, que tudo o que há no mundo, ou que se possa obter dele, é vaidade, ou
seja, vazio, algo vão, inútil para atender aos propósitos divinos e eternos,
que Deus designou para o homem.
A vitória da fé é exatamente o oposto do que os cristãos carnais
andam afirmando, porque a fé não é orientada para se alcançar resultados de
triunfos mundanos, mas exatamente para vencer o mundo e o fascínio de suas
riquezas e glória terrenas.
“porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a
vitória que vence o mundo: a nossa fé.” (I Jo 5.4)
A afirmação do verso 15 que não se pode endireitar o que é torto,
está sendo considerada amplamente no comentário relativo a Eclesiastes
7.13.
Quando Salomão afirma no verso 18 que “o que aumenta o
conhecimento aumenta a tristeza.”, ele está se referindo não ao aumento de
conhecimento propriamente dito como sendo
uma fonte de tristeza para aquele que o possui, mas que é por ele que se
chega a conhecer qual é a real condição da maldade que há no mundo,
especialmente no coração humano.
Quem detém o verdadeiro conhecimento entenderá que este mundo não é
nenhum parque de diversões, e que a vida não é uma coisa à qual não se deva dar
a devida consideração, porque Deus prestará contas de todos os nossos atos,
conforme o próprio Salomão afirma no capítulo 12 deste livro.
Por isso também, Salomão afirmou que não devemos aplicar o coração
para sermos demasiadamente sábios (cap 7 verso 16), porque acharíamos enfado
nisto, e não toparíamos com o grande sentido da vida, porque faríamos do ato de
buscar sabedoria um fim em si mesmo, quando o fim primeiro e último da vida é o
próprio Deus.
É possível conhecer até mesmo toda a Palavra de Deus, e no entanto
não se ter qualquer comunhão ou intimidade com Ele.
É possível conhecer tudo acerca da doutrina da salvação, e não ser
salvo por uma experiência pessoal e real com Jesus Cristo.
Então o conhecimento até mesmo como meio terá as suas limitações,
caso não seja colocado em prática, e caso não seja orientado pelo próprio Deus,
tanto no que se refere à recepção quanto à aplicação deste conhecimento.
Pretendendo saber mais acerca das leis e da justiça, alguém pode
usar isto vindo a se transformar num ditador cruel, e fazer, portanto, um uso
ruim de uma coisa boa.
Assim Paulo disse dos judeus legalistas, que a Lei é boa para quem
faz um uso legítimo da Lei, e não errando como eles faziam dizendo que a
justificação não era pela fé, mas mediante o cumprimento de todos os
mandamentos da Lei de Moisés (I Tim 1.8-10).
A graça e a verdade não serão achadas nos escritos de Moisés, e
nem mesmo nestes escritos de Salomão, senão somente em nosso Senhor Jesus
Cristo, pela revelação melhor e mais ampla que Ele nos fez de toda a vontade de
Deus, e que nos foi ensinada em figura ou em forma de sombra no Velho
Testamento.
“Porque a lei foi dada por meio de Moisés; a graça e a verdade
vieram por Jesus Cristo.” (Jo 1.17)
Então Salomão não proferiu toda a verdade quando afirmou que há
muito enfado no conhecimento e na sabedoria, e que tudo é vaidade, porque
estava se referindo principalmente à sua própria condição depois de ter investigado
profundamente todas as coisas no que lhe fora possível investigar, à procura do
verdadeiro conhecimento e da verdadeira sabedoria.
Há muita verdade no que ele disse, especialmente quanto às coisas
deste mundo que passam, mas não podemos concordar com ele, quando diz que Deus
nos pôs o enfado de ter que investigar acerca da natureza de todas as coisas,
porque na verdade não nos foi imposto tal enfado, Salomão o impôs a si mesmo,
porque se é certo de que Deus colocou a eternidade no coração do homem para que
Ele cresça em sabedoria e conhecimento, no entanto, isto pode ser feito como um
deleite, em Sua presença, aprendendo dEle em plena submissão e paciência, e não
tentando fazê-lo pela nossa própria capacidade e esforço, ou pela própria
inteligência, tal como Salomão o fizera em grande parte, porque no final, a
conclusão a que chegaremos será a mesma à qual ele chegou de que tudo não
passou de enfado, canseira e vaidade para nós, porque não teve este crivo da
marca do Senhor em toda a nossa busca.
Veja a diferença destas palavras de Salomão, se comparadas com as
que saíram da boca de seu pai Davi. Como ele se deleitava no Senhor e nas Suas
obras. Como se agradava da Sua Lei, à qual ele chamava de perfeita. Deus era o
centro em torno do qual girava toda a Sua vida, e por isso não achou nenhum
enfado ou canseira em tudo o que aprendeu da parte do Senhor, porque teve
sempre o Seu Espírito guiando todos os seus passos, pensamentos e ações, desde
a sua infância.
Salomão tentou achar alegria nos prazeres terrenos, e somente
depois de muito tempo, já nas reflexões que faz neste livro de Eclesiastes,
chegou à conclusão que não se pode achar a verdadeira alegria em prazeres
terrenos conforme ele afirma no primeiro versículo do capítulo seguinte (cap
2).
Melhor instruído do que
ele, Davi jamais buscou alegria em tais prazeres, porque o Senhor era toda a
Sua alegria.
“1 Palavras do pregador, filho de Davi, rei em Jerusalém.
2 Vaidade de vaidades, diz o pregador; vaidade de vaidades, tudo é
vaidade.
3 Que proveito tem o homem, de todo o seu trabalho, com que se
afadiga debaixo do sol?
4 Uma geração vai-se, e outra geração vem, mas a terra permanece
para sempre.
5 O sol nasce, e o sol se põe, e corre de volta ao seu lugar donde
nasce.
6 O vento vai para o sul, e faz o seu giro vai para o norte;
volve-se e revolve-se na sua carreira, e retoma os seus circuitos.
7 Todos os ribeiros vão para o mar, e contudo o mar não se enche;
ao lugar para onde os rios correm, para ali continuam a correr.
8 Todas as coisas estão cheias de cansaço; ninguém o pode
exprimir: os olhos não se fartam de ver, nem os ouvidos se enchem de ouvir.
9 O que tem sido, isso é o que há de ser; e o que se tem feito,
isso se tornará a fazer; nada há que seja novo debaixo do sol.
10 Há alguma coisa de que se possa dizer: Vê, isto é novo? ela já
existiu nos séculos que foram antes de nós.
11 Já não há lembrança das gerações passadas; nem das gerações
futuras haverá lembrança entre os que virão depois delas.
12 Eu, o pregador, fui rei sobre Israel em Jerusalém.
13 E apliquei o meu coração a inquirir e a investigar com
sabedoria a respeito de tudo quanto se faz debaixo do céu; essa enfadonha
ocupação deu Deus aos filhos dos homens para nela se exercitarem.
14 Atentei para todas as obras que se e fazem debaixo do sol; e
eis que tudo era vaidade e desejo vão.
15 O que é torto não se pode endireitar; o que falta não se pode
enumerar.
16 Falei comigo mesmo, dizendo: Eis que eu me engrandeci, e
sobrepujei em sabedoria a todos os que houve antes de mim em Jerusalém; na
verdade, tenho tido larga experiência da sabedoria e do conhecimento.
17 E apliquei o coração a conhecer a sabedoria e a conhecer os
desvarios e as loucuras; e vim a saber que também isso era desejo vão.
18 Porque na muita sabedoria há muito enfado; e o que aumenta o
conhecimento aumenta a tristeza.”
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