Como Salomão não colocou a sabedoria que recebeu de Deus para
avançar no conhecimento da Sua pessoa e das coisas espirituais, celestiais e
divinas, o Senhor não lhe deu a revelação de muitas destas coisas,
especialmente o conhecimento do motivo porque os justos sofrem, porque isto só
pode ser conhecido sofrendo com paciência debaixo da potente mão do Senhor, tal
como Jó viera a conhecer, por exemplo.
Porque quando se está no profundo poço da aflição, tal como
Jeremias, é a hora de se clamar a Deus, não para entender porque os justos
sofrem, mas para receber conforto, poder e revelações da Sua parte, mas
revelações que forem do Seu propósito nos conceder, especialmente para a
realização da Sua obra.
Então vemos também neste capitulo a perplexidade de Salomão diante
do sofrimento dos justos.
Ele chega a chamar isto de “um mal que ele viu debaixo do sol”, ou
seja, algo, que no seu pensamento, fugia ao controle de um Deus justo, porque
não podia admitir que o justo sofresse o mesmo que o ímpio neste mundo, e muito
menos que ímpios fossem poupados de sofrimentos.
Ele chegou a admitir que tudo está nas mãos de Deus (v. 1) na
administração de todas as obras que se fazem na terra, mas não com o devido
conhecimento de causa como funciona tal soberania divina.
Salomão não podia entender a excelência da vida que o justo
provará quando sair deste mundo, porque isto se experimenta na terra, em forma
de amostragem, antes de se ir para o céu.
Os que caminham com Deus virão por fim a experimentá-lo por
concessão da Sua graça e revelação divinas.
Davi e os santos que perseveraram em seguir ao Senhor, mesmo nos
dias do Velho Testamento, experimentaram isto e falaram disto.
Todavia, Salomão diz que é melhor estar na companhia dos que vivem
na terra, porque nisto há esperança, tanto que, para ele, em suas palavras,
melhor é melhor o cão vivo do que o leão morto (v. 4).
Sabemos que nossa esperança em Cristo não se resume apenas a esta
vida, e a vida plena que teremos na glória, ainda está por se manifestar,
apesar de podermos trazer o céu para nossas vidas aqui na terra, antes de irmos
para lá. No entanto, o que teremos do céu, não será toda a plenitude que nos
será concedida por ocasião da volta de Cristo, quando então seremos perfeitos,
e conheceremos como somos conhecidos.
Assim, que o Senhor nos livre de nos gloriarmos na nossa própria
sabedoria, ainda que a tenhamos recebido dEle, tal como fizera Salomão, porque
não há sabedoria melhor do que estar debaixo do temor e da direção e governo do
Espírito Santo em nosso coração, enquanto andamos em humildade perante o
Senhor. Por isso se diz que o temor do Senhor é o princípio da verdadeira
sabedoria, ou seja, a regra, o motriz que a produz em nós.
Veja quão triste é ler as seguintes palavras de Salomão nos versos
5 e 6, pelas quais revela que realmente não tinha a plena convicção da vida
gloriosa que lhe aguardava, apesar de não merecê-la como qualquer um de nós,
porque não nos é dada por merecimento, mas pelo direito que Cristo adquiriu
para nós.
“5 Pois os vivos sabem que morrerão, mas os mortos não sabem coisa
nenhuma, nem tampouco têm eles daí em diante recompensa; porque a sua memória
ficou entregue ao esquecimento.
6 Tanto o seu amor como o seu ódio e a sua inveja já pereceram;
nem têm eles daí em diante parte para sempre em coisa alguma do que se faz
debaixo do sol.”
Assim é possível estar na posse da vida eterna em Cristo, e não se
ter convicção disto, seja por causa de se crer num ensino errôneo sobre perda
da salvação, ou por não se andar no Espírito Santo, que é Aquele que gera tal
convicção em nossos corações, e portanto, não é possível receber tal convicção
da Sua parte, se não andarmos nEle.
Por isso Salomão continuava afirmando que não havia nada melhor
para se fazer na terra do que comer, beber vinho com o coração contente, por
saber que Deus se agrada de que trabalhemos (Salomão não estava se referindo a
se servir a Deus, mas ao trabalho secular que daria a condição para se comprar
comida e bebida).
“Goza a vida com a mulher que amas, todos os dias da tua vida vã,
os quais Deus te deu debaixo do sol, todos os dias da tua vida vã; porque este
é o teu quinhão nesta vida, e do teu trabalho, que tu fazes debaixo do sol.”
(v. 9)
Então ele recomenda mais uma vez a diligência no trabalhar para se
obter bens para a própria provisão e dos seus, porque a morte é uma certeza, e
depois dela não se poderia mais fazer qualquer trabalho (v. 10). Sabemos que
não será assim, por uma melhor revelação que temos da parte de Jesus Cristo.
A Antiga Aliança estava cheia de sombras como esta, sobre a
convicção das coisas que nos aguardam depois da morte, e que nos foram
reveladas por Cristo.
Para Salomão, o ter sucesso no mundo era uma questão de
oportunidade e sorte, que se apresentam para todos os homens. Então não seriam
os mais rápidos que venceriam a corrida; nem os fortes que venceriam a batalha;
nem os sábios que obteriam o alimento; nem os prudentes a riqueza; e nem os
entendidos o favor (v. 11).
Um general pode se valer das circunstâncias para vencer uma
batalha. E de igual modo elas podem ser usadas para muitos propósitos na vida.
Mas acima de todas as circunstâncias, Deus faz prevalecer a Sua vontade,
especialmente nas vidas dos Seus servos que Lhe são fiéis.
É certo que nenhum homem sabe com grande antecedência a hora da
sua morte, mas não se pode ver isto como sendo uma fatalidade, conforme Salomão
o via (v. 12).
Nos versos 13 a 18, através de um exemplo, Salomão exaltou a
sabedoria, acima da força e do próprio poder, mas se for usada por um pobre
para livrar ainda que seja uma cidade, ele logo cairá no esquecimento das
pessoas às quais livrou. Porque não é comum que pobres sejam honrados na terra
pela sociedade, senão somente os grandes e nobres.
“1 Deveras a tudo isto apliquei o meu coração, para claramente
entender tudo isto: que os justos, e os sábios, e as suas obras, estão nas mãos
de Deus; se é amor ou se é ódio, não o sabe o homem; tudo passa perante a sua
face.
2 Tudo sucede igualmente a todos: o mesmo sucede ao justo e ao
ímpio, ao bom e ao mau, ao puro e ao impuro; assim ao que sacrifica como ao que
não sacrifica; assim ao bom como ao pecador; ao que jura como ao que teme o
juramento.
3 Este é o mal que há em tudo quanto se faz debaixo do sol: que a
todos sucede o mesmo. Também o coração dos filhos dos homens está cheio de
maldade; há desvarios no seu coração durante a sua vida, e depois se vão aos
mortos.
4 Ora, para aquele que está na companhia dos vivos há esperança;
porque melhor é o cão vivo do que o leão morto.
5 Pois os vivos sabem que morrerão, mas os mortos não sabem coisa
nenhuma, nem tampouco têm eles daí em diante recompensa; porque a sua memória
ficou entregue ao esquecimento.
6 Tanto o seu amor como o seu ódio e a sua inveja já pereceram;
nem têm eles daí em diante parte para sempre em coisa alguma do que se faz
debaixo do sol.
7 Vai, pois, come com alegria o teu pão .e bebe o teu vinho com
coração contente; pois há muito que Deus se agrada das tuas obras.
8 Sejam sempre alvas as tuas vestes, e nunca falte o óleo sobre a
tua cabeça.
9 Goza a vida com a mulher que amas, todos os dias da tua vida vã,
os quais Deus te deu debaixo do sol, todos os dias da tua vida vã; porque este
é o teu quinhão nesta vida, e do teu trabalho, que tu fazes debaixo do sol.
10 Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas
forças; porque no Seol, para onde tu vais, não há obra, nem projeto, nem
conhecimento, nem sabedoria alguma.
11 Observei ainda e vi que debaixo do sol não é dos ligeiros a
carreira, nem dos fortes a peleja, nem tampouco dos sábios o pão, nem ainda dos
prudentes a riqueza, nem dos entendidos o favor; mas que a ocasião e a sorte
ocorrem a todos.
12 Pois o homem não conhece a sua hora. Como os peixes que se
apanham com a rede maligna, e como os passarinhos que se prendem com o laço,
assim se enlaçam também os filhos dos homens no mau tempo, quando este lhes
sobrevém de repente.
13 Também vi este exemplo de sabedoria debaixo do sol, que me
pareceu grande:
14 Houve uma pequena cidade em que havia poucos homens; e veio
contra ela um grande rei, e a cercou e levantou contra ela grandes tranqueiras.
15 Ora, achou-se nela um sábio pobre, que livrou a cidade pela sua
sabedoria; contudo ninguém se lembrou mais daquele homem pobre.
16 Então disse eu: Melhor é a sabedoria do que a força; todavia a
sabedoria do pobre é desprezada, e as suas palavras não são ouvidas.
17 As palavras dos sábios ouvidas em silêncio valem mais do que o
clamor de quem governa entre os tolos.
18 Melhor é a sabedoria do que as armas de guerra; mas um só
pecador faz grande dano ao bem.”
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