Salomão deu muitas provas e exemplos da vaidade deste mundo e de
tudo o que pertence a ele, e agora neste capítulo ele nos recomenda alguns
meios apropriados para nos prevenirmos e agirmos de tal maneira sábia, que não
sejamos enredados ou prejudicados pela instabilidade e impureza das coisas do
mundo em razão do pecado.
Então são recomendados principalmente, boa reputação (v. 1);
seriedade (v. 2 a 6); tranquilidade de espírito (v. 7 a 10); prudência na
administração de nossos negócios (v. 11, 12); submissão à vontade de Deus (v.
13 a 15); evitar os extremos perigosos (v. 16 e 18); mansidão e ternura para
com aqueles que nos ofenderam (v. 19 a 22); e finalmente Salomão lamenta a sua
própria iniquidade juntando para si várias mulheres, que acabaram lhe afastando
de Deus e impedindo que ele cumprisse os seus deveres (v. 23 a 29).
Tão fundamental é que se viva permanentemente na prudência e
vigilância que são essenciais à manutenção da nossa santificação, que é melhor
estarmos num funeral, do que num banquete festivo (v. 2). Porque não somente
aprendemos sobre quão breve é a nossa peregrinação neste mundo, como nada há
num funeral que nos chame a sair de nosso estado de seriedade e humildade
diante de Deus. Não há espaço para as paixões da carne se manifestarem na casa
onde há luto. Todavia, dá-se o oposto onde há banquetes que têm por fim gerar
alegria carnal.
Por isso se afirma também no verso 3 que é melhor a aflição do que
o riso, porque a tristeza do rosto torna melhor o coração. Isto é uma
referência especialmente às aflições que os cristãos fiéis sofrem neste mundo,
sobre as quais Jesus alertou à Sua Igreja que por elas seria processado o
crescimento da fé, e consumada a maturidade espiritual dos cristãos, porque sem
tais aflições não se pode aprender paciência, experiência e esperança.
Onde há alegria carnal, o Espírito Santo se entristece, porque o
Seu fruto de alegria e de paz, não são conformes a alegria e paz que procede do
mundo e que consiste em simples consolações vãs que são oferecidas à alma, na
tentativa de preencher o vazio da vida que somente a presença de Deus pode por
um fim, pela manifestação da plenitude da vida de Cristo em nós, pelo Espírito.
Daí a conclusão do verso 4:
“O coração dos sábios está na casa do luto, mas o coração dos
tolos na casa da alegria.”
Não se achará a verdadeira sabedoria na alegria carnal do mundo, e
em tudo aquilo que o mundo busca para entreter a alma, porque o homem é
espírito, e o espírito não pode estar vivo naqueles que não têm mortificado as
paixões da carne.
Por isso Salomão afirma que:
“5 Melhor é ouvir a repreensão do sábio do que ouvir alguém a
canção dos tolos.
6 Pois qual o crepitar dos espinhos debaixo da panela, tal é o
riso do tolo; também isso é vaidade.”
A partir do verso 7 até o 9, Salomão passa a considerar como se
deve considerar a questão da opressão e do suborno, os quais, conforme ele
afirma, tira do seu juízo equilibrado até ao próprio sábio.
“7 Verdadeiramente a opressão faz endoidecer até o sábio, e o
suborno corrompe o coração.
8 Melhor é o fim duma coisa do que o princípio; melhor é o
paciente do que o arrogante.
9 Não te apresses no teu espírito a irar-te, porque a ira
abriga-se no seio dos tolos.”
Salomão tinha reclamado muito das opressões que ele viu debaixo do
sol, e que deram ocasião a muitas especulações que trouxeram tristezas e
desânimos à sua devoção.
A opressão pode fazer com que um homem sábio fique irado, conforme
vemos neste texto, mas o sábio deve evitar cair em tal tentação (v. 9).
Ele deve prosseguir agindo com paciência, porque toda opressão
terá o seu fim, e assim será melhor aguardar com paciência o seu término, do
que se tornar arrogante desde o princípio em que a opressão se manifestar.
Se o sábio perder a paciência debaixo das opressões que possa
sofrer neste mundo, ele ficará sujeito à ira que se abrigará no seu coração, e
será achado então na condição de um tolo e não de um sábio diante de Deus (v.
9).
Até mesmo um coração generoso está sujeito à tentação de se tornar
arrogante quando debaixo de opressões.
As opressões às quais Salomão se refere, não se restringem apenas
às injustiças do ímpios especialmente contra o próximo, mas também toda sorte
de tribulação, especialmente, as que são produzidas pelos principados e
potestades das trevas.
Por isso é necessário que se busque refúgio no Senhor, como Ele
mesmo nos ordena na Sua Palavra.
“Vinde a mim, todos os que estai cansados e oprimidos, e eu vos
aliviarei.” (Mt 11.28)
Não será lutando para remover a causa da opressão propriamente dita,
que poderemos nos livrar dela ou mesmo achar descanso para as nossas almas, mas
é clamando ao Senhor, esperando nEle, na expectativa de que Ele nos livrará a
Seu tempo, que a opressão será vencida por nós, pela fé, ainda que estejam
presentes as causas das coisas que vinham nos oprimindo, porque o Senhor será
uma barreira entre tais causas (enfermidades, falta de provisão, ataques do
Inimigo etc), e nós.
Nós entenderemos
melhor o modo pelo qual convém nos comportarmos debaixo de opressões, no texto
que usaremos de forma reduzida e
adaptada da longa interpretação deste texto feita pelo puritano Thomas Bostons,
especialmente sobre a afirmação do verso 13:
Ec 7.13:
“Considera as obras de Deus; porque quem poderá endireitar o que ele fez
torto?”.
O propósito de Deus em afligir alguém para
algum propósito de juízo ou de aperfeiçoamento espiritual haverá de ser
cumprido pelo tempo que Ele determinou sem que ninguém possa mudar isto. Este é
um dos principais significados de Ec 7.13.
O sofrimento não tem o propósito de ser
algo em vão nas nossas vidas, do ponto de vista de Deus, pois tem determinado
principalmente que através dele sejamos transformados segundo a Sua vontade e
Palavra, para que Ele seja glorificado. A paciência na tribulação, no sofrimento
que ela produz, é de grande valor para Deus, e também para nós, porque é por
meio disto que aprendemos a ser pacientes e perseverantes nas coisas do Senhor,
ensinando-nos a amar com o mesmo amor de Deus, que é sofredor, isto é,
longânimo em sofrer em razão do pecado que há no mundo.
Uma visão correta da aflição é
completamente necessária para um comportamento verdadeiramente cristão sob
elas; e esta visão somente será obtida por fé, e nunca pelos sentidos; porque
somente quando os desígnios divinos são descobertos nas aflições, pelos olhos
da fé, sendo assim propriamente considerados, nós temos uma visão correta das
tribulações, que são o meio provido para suprimir as ações de afetos
corrompidos quando estão debaixo destas aflições.
Foi sob esta visão que Salomão afirmou as
palavras de Ec 7.13: ““Considera as obras de Deus; porque quem poderá
endireitar o que ele fez torto?”.
Antes, ele havia afirmado em 7.3-5 que:
“Melhor é a mágoa do que o riso, porque a tristeza do rosto torna melhor o
coração. O coração dos sábios está na casa do luto, mas o coração dos tolos na
casa da alegria. Melhor é ouvir a repreensão do sábio do que ouvir alguém a
canção dos tolos.”. Ele está se referindo às tribulações como o meio precioso
de nos tornar úteis para os propósitos de Deus em transformar-nos em sábios, e
que deveriam ser motivo de regozijo e não de abatimento o passar por várias
provações, sabendo que a prova da fé produz perseverança, conforme diz em suas
palavras: “a tristeza do rosto torna melhor o coração.”, a saber, aquilo que
nos magoa, isto é, que nos machuca, pode nos fazer pessoas melhores, o que
necessariamente não ocorrerá com aquilo que somente nos dá alegrias.
Salomão deduz, conforme de fato é
segundo a vontade de Deus, que é melhor ser humilde e paciente do que orgulhoso
e impaciente nas tribulações; porque no primeiro caso, nós nos submetemos
sabiamente ao que é realmente melhor; e no segundo caso, nós lutamos contra
isto. E ele então nos dissuade de estarmos contrariados com nossas provações,
por causa da adversidade que se encontra nelas. Salomão nos acautela, falando
pelo Espírito, para não fazermos comparações odiosas de tempos anteriores e
presentes (“Não digas: Por que razão
foram os dias passados melhores do que estes; porque não provém da sabedoria
esta pergunta.” - v.
10), concluindo que não é sábio proceder desta forma, porque que insinua
reflexões e julgamentos impróprios acerca da providência de Deus.
Ele prescreve um remédio geral, isto é,
primeiro uma sabedoria santa, que nos permitirá tirar o melhor de tudo, até
mesmo a vida em circunstâncias mortais; e então um remédio particular,
consistindo numa aplicação devida daquela sabedoria, para levar a uma visão
justa do caso: “Considera as obras de Deus; porque quem poderá endireitar o que
ele fez torto?”, como que a dizer: quem ou o quê poderá impedir aquilo que foi
determinado pela poderosa mão de Deus para nos provar? Por isso Pedro recomenda
que nos humilhemos sob a potente mão do Senhor, para que no tempo dEle possa
nos exaltar.
Assim, o próprio remédio é uma visão sábia
da mão de Deus em tudo que nós achamos que seja duro de suportar. Isto é,
"considere o trabalho de Deus" em suas desagradáveis aflições, nas
cruzes que tem de carregar e nos cálices amargos que tem que beber. Porque há
motivo de glória nisto, porque produzirá um peso eterno de glória, e o mesmo
não pode ser dito de quem não tem experimentado os sofrimentos de Cristo dos
quais todos os que são dEle têm se tornado participantes, e isto sim é para se
lamentar, porque é indicador do fato de ser bastardo e não filho, porque todos
os filhos de Deus são corrigidos e transformados por Ele por meio das suas
provações.
Quando se procura uma segunda causa para a
aflição além da cruz, isto normalmente conduz à lamúria. Mas sendo paciente na
tribulação, é possível ver a mão de Deus nisto, e sujeitando-se à Sua vontade é
a melhor forma para ser livrado porque Ele livra o justo de todas as suas
aflições. Mas o que lamuria será geralmente ainda achado nelas.
Carregar a cruz voluntariamente faz com que
ela se torne leve, mas carregá-la com a mente perturbada por inquietações à
busca de respostas fora de Deus para aquilo que se esteja experimentando,
quando estas provas vêm da Sua parte, somente serve para aumentar o peso da
cruz que carregamos.
Ter um espírito contrito e quebrantado na
aflição é algo muito apropriado para acalmar as agitações do coração, e nos
fazer pacientes debaixo dela. Afinal, quem pode acabar com aquilo que Deus
entortou? No quebrantamento em sua aflição Deus fez isto; e tem que continuar
até que veja cumprido o Seu propósito. Se você pudesse usar toda a sua força,
procurando consertar aquilo que somente Ele pode endireitar, sua tentativa será
vã: Nada mudará apesar de tudo que você possa fazer. Somente Ele que produziu este
entortamento que nos inquieta, pode repará-lo, e fazer isto diretamente. Esta
consideração, esta visão do assunto, é o meio apropriado para silenciar e
satisfazer os homens, e assim trazê-los
a uma submissão obediente ao seu Criador e Senhor, debaixo do quebrantamento
das suas aflições.
Agora, nós estudaremos o nosso texto
debaixo destes três aspectos principais: a)qualquer quebrantamento que há em
nossa aflição, é Deus que está fazendo ou permitindo; b) o que Deus determinou
arruinar, ninguém poderá reparar em sua aflição; c) considerar o quebrantamento
na aflição como o trabalho de Deus, ou da ação direta dele, é o meio apropriado
para nos levar a um comportamento cristão debaixo disto.
Quanto ao fato de que qualquer
quebrantamento que há em nossa aflição, é
Deus que está fazendo ou permitindo, nós temos duas coisas a considerar,
a saber, o próprio quebrantamento, e Deus que o está produzindo.
1. Sobre o próprio quebrantamento, o
quebrantamento na aflição, para melhor entendê-lo, são postuladas estas poucas
coisas que seguem:
Primeiro. Há um certo curso de eventos,
pela providência de Deus, que caem sobre cada um de nós, durante nossa vida
neste mundo. E isso é nossa aflição, como sendo dividida a nós pelo Deus
soberano, nosso Criador e Senhor, "em quem vivemos e nos movemos”. Este
conjunto de eventos é extensamente diferente para pessoas diferentes, de acordo
com a vontade do soberano Administrador, que ordena a condição dos homens no
mundo, numa grande variedade.
Segundo. Nesse conjunto de eventos,
excluindo determinadas épocas, cruzes nos são trazidas para que as carreguemos,
com o alvo de nos quebrantar em nossa aflição. Enquanto nós estivermos aqui,
haverá eventos desagradáveis, como também agradáveis. Às vezes as coisas
planarão suave e agradavelmente; mas, logo, há algum incidente que altera
aquele curso, como se tivéssemos dado um passo errado que nos fez começar a
mancar.
Terceiro. Todo a aflição neste mundo tem
algum quebrantamento nisto. Os queixosos são hábeis para fazer comparações
odiosas. Eles não conseguem olhar para muito longe e acabam pondo a culpa do
que está lhes afligindo no seu próximo. Eles não conseguem ver a mão de Deus
nisto, e assim, não se submetem a ela. E assim fazem uma falso veredicto;
porque não há nenhuma aflição aqui que não tenha sido ligada ou permitida no
céu. Quem teria pensado que a aflição de Hamã seria muito direta, quando a
família dele estava numa condição próspera, e ele prosperando em riquezas e
honras, como primeiro-ministro do estado Persa, e de pé no elevado favor do
rei? Certamente ele não pôde ver que era a mão de Deus que estava produzindo a
sua aflição. Ainda que os homens neguem que não é a mão de Deus que seja a
causa de suas aflições, não há realmente uma só gota de conforto permitida; porque
enquanto estivermos aqui, sempre será pelas misericórdias do Senhor que não
somos consumidos.
Quarto. O quebrantamento na aflição entrou
no mundo através do pecado. Ele existe por causa da queda, porque assim que o
pecado entrou no mundo entrou com ele a enfermidade, o sofrimento e a morte. O
pecado entortou o corpo, a mente e o espírito dos homens. E como este entortamento está inseparavelmente
ligado à aflição, conclui-se que isto nos acompanhará até que deixemos este
corpo de morte e cheguemos aos portões do céu.
Assim, enquanto estivermos aqui, o
quebrantamento na aflição produz o contraste de comportamento que há entre o
dia da adversidade e o dia da
prosperidade. Como se lê em Ec 7.14: “No dia da prosperidade regozija-te, mas
no dia da adversidade considera; porque Deus fez tanto este como aquele, para
que o homem nada descubra do que há de vir depois dele.”. E isto segue de certo
modo a recomendação de Tiago: “Está alguém alegre? Cante louvores. Está alguém
triste. Faça oração.”. Esta oração na tristeza é sobretudo oração de
dependência e de submissão à vontade de Deus, e não necessariamente oração para
expulsar imediatamente a tristeza.
O quebrantamento na aflição, é portanto uma
ou outra medida de adversidade. A Palavra ensina que tanto o dia da
prosperidade quanto o da adversidade procedem da parte de Deus, “que fez assim
este como aquele para que o homem nada descubra do que há de vir depois dele.”,
isto é, para que ninguém saiba o que lhe reserva o futuro, e assim vivam
dependendo inteiramente de Deus, confiando suas almas ao fiel Criador na
prática do bem, enquanto sofrem neste mundo.
Deus misturou estes dois na condição dos
homens neste mundo; que, tanto experimentam um pouco de prosperidade, quanto de
adversidade. Esta mistura tem lugar, não somente na aflição de santos dos quais
é dito que "no mundo terão tribulação", mas até mesmo na aflição de
todos.
Estas são aplicações da vara da adversidade
que passa pelas pessoas, e a aflição da pessoa pode ser extinta de repente,
assim como a nuvem que desaparece antes que o percebamos, sem que seja
produzido qualquer efeito duradouro. Assim o quebrantamento na aflição da
adversidade, continua durante um tempo mais curto ou mais longo.
Mas um quebrantamento na aflição que produz
efeitos duradouros. Como o quebrantamento produzido pela crueldade de Herodes
que fez com que a aflição das mães em Belém lamentasse a morte de seus filhos
produzisse um lamento para o qual não se encontrou conforto.
E há um quebrantamento produzido por um
conjunto de aflições que se sucedem, tal como no caso de Jó, que enquanto um
mensageiro de más notícias ainda falava, veio um outro com outras más notícias.
José experimentou este tipo de
quebrantamento quando em sucessão foi lançado na cova pelos seus irmãos,
vendido como escravo, e lançado numa prisão egípcia.
Há
quebrantamentos que são de tempo prolongado, como Sara, Raquel e Rebeca que
foram impedidas de gerarem filhos por muito tempo. Outros que como aquela
mulher que tocou em Jesus sofria de uma hemorragia de doze anos.
E assim há variedades de aflições, tanto na
qualidade delas quanto em relação às pessoas.
E mais particularmente, encontramos na
natureza do quebrantamento na aflição estas quatro coisas:
(1) Desarmonia. Uma coisa que aflige é
persistente. E não há naturalmente, isto é, em sua própria natureza, em nenhuma
pessoa, uma tal coisa como um quebrantamento em relação à vontade e propósitos
de Deus. Se a vontade de Deus fosse aceita e feita no mundo, haveria nele uma
harmonia perfeita. Mas como isto não é feito voluntariamente em razão da
natureza terrena que não está sujeita à vontade de Deus e nem mesmo pode estar,
então Ele fará com que todas as coisas cooperem juntamente para o cumprimento
da Sua vontade, sejam agradáveis ou não agradáveis. Ele fará aquilo que tiver
que ser feito. Assim se Paulo deve ser entregue nas mãos dos gentios, foi pela
vontade de Deus que isto ocorreu, de modo que a Paulo foi revelado pelo
Espírito as cadeias e tribulações que lhe aguardavam. E assim não havia nenhuma
desarmonia nisto. Mas, na aflição de toda pessoa há uma desarmonia entre o que
se passa em suas mentes e a inclinação natural delas.
A situação adversa traz a cruz à pessoa e
esta não responderá harmoniosamente a isto. Quando a divina providência traz a
provação a vontade do homem vai de um modo e a situação vai de outro, e a
vontade puxa para cima, e a situação puxa para baixo, e assim vão em sentidos
contrários. E é justamente nisto que consiste a aflição. É esta desarmonia
produzida pela aflição que nos exercita no estado de provação, no qual somos
chamados a confiar em Deus, enquanto caminhamos por fé, não através de visão, e
temos que se aquietar e se ajustar à vontade e propósito de Deus, e não
insistirmos que a situação devesse estar de acordo com o que estabelecemos em
nossa mente.
(2) Perda de visão. Coisas entortadas são
desagradáveis à vista; e nenhum quebrantamento na aflição parece ser alegre,
mas doloroso (Hb 12.11). Então as pessoas precisam se precaver de dar curso aos seus pensamentos
enfatizando o quebrantamento na aflição delas, e de manter isto muito à vista.
Davi mostra uma experiência dolorosa sua quando disse::. "Enquanto eu
estava meditando o fogo estava queimando" e Jacó agiu de modo mais sábio,
quando chamou o seu filho Benjamim, de filho da mão direita do que a mãe
agonizante que lhe tinha chamado de Benoni, que significa o filho de minha
tristeza. Porque com isto não estaria provendo um meio de quebrantamento na
aflição toda vez que pronunciasse o nome do seu filho.
Realmente, um cristão pode ter uma visão
fixa e fraca do seu quebrantamento na aflição à luz da Palavra santa que
representa isto como a disciplina da aliança. Assim a fé descobrirá uma visão
escondida nisto, debaixo de uma pequena aparência externa, percebendo o quão agradável isto é à bondade
infinita, amor, e sabedoria de Deus, e para a realidade de que na maioria dos
valiosos interesses para que a pessoa possa experimentar aquele gozo mais
elevado e refinado que resulta da alegria na provação e na angústia. Mas qualquer
quebrantamento na aflição que é agradável ao olho da fé, não é de todo
agradável ao olho dos sentidos.
(3.) Incapacidade para se movimentar.
Salomão observa a causa do caminhar intranquilo e desajeitado do manco:
"As pernas do manco não são iguais.". Esta intranquilidade deles é
encontrada na caminhada cristã, pela aflição de um espírito dobre que tem
pernas de tamanhos diferentes, e que traz grande dificuldade para a caminhada.
Não há nada que dê um acesso mais fácil para a tentação do que a aflição; nada é mais hábil para colocar
os passos fora do rumo. Então, diz o apóstolo, no contexto das recomendações
relativas à disciplina de Deus em Hb 12.11-13: “Na verdade, nenhuma correção
parece no momento ser motivo de gozo, porém de tristeza; mas depois produz um
fruto pacífico de justiça nos que por ele têm sido exercitados. Portanto
levantai as mãos cansadas, e os joelhos vacilantes, e fazei veredas direitas
para os vossos pés, para que o que é manco não se desvie, antes seja curado.”.
Devemos ter compaixão daqueles que estão sendo trabalhados debaixo disto e não
os censurarmos rigidamente, porque ainda que tenham dificuldade de serem
corrigidos por palavras eles aprenderão a lição que lhes será dada na sua
própria experiência.
(4.) Inteligência para pegar e se segurar,
como que usando ganchos (anzóis). O quebrantamento na aflição deixa prontamente
uma forte impressão no espírito da pessoa, e as corrupções do pecado ou as
tentações de Satanás deixam-na como que num embaraço do qual não consegue se
desembaraçar. E esta tentação deixa à mostra alguma coisa muito feia que estava
oculta no espírito, como o lodo que existe no fundo do mar e que é revelado
pelo bater das ondas. Alguma blasfêmia ou ateísmo pode surgir na aflição, como
revelado por Asafe: “foi inútil limpar meu coração e lavar minhas mãos na
inocência.”. Foi parte do que ele disse em sua aflição. Ah! É este o piedoso Asafe? Como é que ele se virou tão rápido na direção
contrária! Mas o quebrantamento na aflição é uma máquina reveladora pela qual o
tentador faz descobertas surpreendentes de corrupção oculta até mesmo nos
melhores santos.
Assim o quebrantamento na aflição pode atingir qualquer pessoa, e
ninguém está isento de ser apanhado por isto, e porque o pecado é achado em
toda parte,´o quebrantamento pode acontecer em qualquer parte. As próprias
enfermidades físicas e até mentais abundam visivelmente no mundo em razão
disto, por que o pecado abunda em toda a parte, e a enfermidade é uma mera
consequência da existência do pecado.
Uma pessoa pode ter um quebrantamento na
aflição permanente de complexos de inferioridade por causa de sua constituição
física que lhe parece inadequada; na falta de estima e reconhecimento da parte
de seus semelhantes; na insatisfação por não ser capacitada intelectualmente
tanto quanto gostaria de ser; e por uma série de outros motivos relativos a uma
inaceitação pessoal.
Muita aflição pode ser resultante do
relacionamento pessoal. Este quebrantamento pode ser produzido por perda de
relacionamento, especialmente a perda de pessoas queridas. Pode ser por
rompimento de relacionamento, como no caso de separações conjugais, abandono do
convívio dos filhos com os pais, exclusão da igreja ou de qualquer outra
sociedade de amigos.
Jó era afligido por sua esposa, Abigail por
seu marido ranzinza Nabal; Eli pelos seus filhos obstinados; Jônatas pelo temperamento de Saul; e assim as
pessoas acham uma cruz exatamente naqueles em quem esperava o seu maior
conforto. O pecado sujeitou a criação inteira à vaidade, e tornou todo relacionamento
sujeito a produzir aflição. Na empresa são patrões duros e injustos; no bairro,
homens egoístas e violentos; na igreja pessoas carnais e indolentes, um
verdadeiro fardo para os ministros; no estado, magistrados opressores e
corruptos; na família filhos contenciosos e rebeldes.
Tendo visto o próprio quebrantamento, nós
vamos considerar qual é a participação de
Deus em tudo isto.
Primeiro, o quebrantamento na aflição, é
uma forma de penalidade que os homens pagam como forma de juízo de Deus que começa
já neste mundo, mesmo começando primeiro pela sua própria igreja, como diz o
apóstolo Pedro, para que se saiba todo o mal que o pecado tem produzido na
terra, e que Deus pôs um juízo sobre isto na forma de os homens serem
quebrantados por suas aflições. Ninguém está inteiramente livre dos mais
variados tipos de aflições que se pode sentir neste mundo, em razão de estar
sujeito ao pecado que trouxe desarmonia e dor à criação. Mesmo quem se isole
poderá ser achado por suas próprias aflições interiores como solidão, temores,
enfermidades etc.
Em segundo
lugar, as doutrinas da Bíblia sobre a providência divina mostram
claramente que Deus provoca a aflição de todos os homens. Não há nada que
aconteça neste mundo que não seja permitido ou produzido por Deus. Satanás nada
poderá fazer se o Senhor não o permitir. O pecador nada poderá fazer se Deus
não o quiser, assim como impediu Abimeleque de tomar Sara, mulher de Abraão
como esposa; e o poderoso Senaqueribe da Assíria levar Judá em cativeiro, assim
como tinha levado Israel. No caso de Israel Ele permitiu, mas no de Judá,
impediu. Ele permitiu que Tiago fosse morto por Herodes logo no início da
igreja, e manteve João com vida até a mais avançada idade. Nem um só pássaro é
morto sem a sua permissão, e até os cabelos de nossas cabeças estão
contados.
E o mais maravilhoso de tudo isto é que
Deus age sem anular o livre arbítrio humano e sem traçar o destino de cada um
em relação a tudo o que deve lhes suceder em sua vida terrena. O bem será
recompensado e o mal será julgado. E o justo será feito mais justo. E o que se
suja se sujará ainda mais. É com base neste princípio geral que Ele tudo
governa e visita os homens controlando as suas tribulações; de modo que
produzam quebrantamentos na aflição para conversão ou aperfeiçoamento
espiritual dos justos, ou para juízo dos injustos.
O mistério da providência, no governo do
mundo, está em todas as suas partes, em conformidade exata com o decreto de
Deus que opera todas as coisas conforme o conselho da Sua vontade.
Há quebrantamentos puros e sem pecado; que
são meras aflições, cruzes limpas, dolorosas realmente, mas não sujas. Tal era
a pobreza de Lázaro; a esterilidade de Raquel, os olhos baços de Lia, a
cegueira do cego de nascença. Agora, os quebrantamentos deste tipo são de Deus,
que pela eficácia do Seu poder os faz passar diretamente por estas situações.
Ele é o Criador do pobre. Ele formou os olhos do cego de nascença de modo que
as suas obras sejam manifestadas nele. Então ele diz a Moisés: “Quem faz a boca
do homem? ou quem faz o mudo, ou o surdo, ou o que vê, ou o cego?. Não sou eu,
o Senhor?” (Êx 4.11).
Em segundo lugar há quebrantamentos
pecaminosos, isto é resultantes do pecado em sua própria natureza. Como foi a aflição de Davi em razão do seu pecado de adultério e morte
de Urias, produzido pelo incesto de Amon com Tamar; o assassinato de Amon; a
rebelião e morte de Absalão, e por todas as desordens havidas em sua família
por causa do seu pecado. E as tribulações deste tipo não são de Deus, é a isto
que Pedro chama sofrer como um malfeitor, isto é, por causa do mal praticado.
Deus não põe o mal no coração de ninguém, nem incita ninguém à sua prática. Nem
sequer tenta a ninguém. Mas estas tribulações são permitidas por Ele, de modo
que venham como forma de julgamento sobre o pecado que é praticado.
Está
na esfera de soberania de Deus impedir ou não a prática de tais pecados, assim
como impediu Abimeleque de pecar contra Ele, no caso de Sara, mulher de Abraão.
Aquilo que Deus fecha ninguém pode abrir, e aquilo que Ele abre ninguém pode
fechar. E quando Ele age ninguém poderá impedir. Então, Ele sabe em Sua
providência a quem, onde e quando livrar da prática do pecado, bem como o
contrário disto. Os juízos permitidos em forma de aflições chamam a atenção dos
homens a serem responsáveis e eles próprios tomarem atitudes legais de modo a
não permitir que a prática do mal venha a se espalhar, colocando em perigo a
sobrevivência da própria sociedade.
Deus põe limites à prática do mal até ao próprio
Satanás, como nós vemos no livro de Jó. Ele não pode ultrapassar os limites que
lhe são impostos por Deus. E até mesmo todas as tentações dos cristãos têm
estes limites demarcadores de modo que não sejam tentados além de suas forças.
O propósito de Satanás era o de fazer Jó
blasfemar e o de Deus de provar a sinceridade do amor de Jó por Ele, ao mesmo
tempo que aperfeiçoaria a intimidade de Jó com Ele, e por isso permitiu que
Satanás produzisse todas aquelas aflições que trouxe sobre Jó. E Deus virou o
cativeiro de Jó fazendo com que aquilo que Satanás lhe trouxe para o seu mal,
se transformasse na vida de Jó em duplo bem. De modo que o Senhor demonstra o
Seu poder de fazer com que tudo coopere juntamente para o bem daqueles que O
amam. E Ele fez o mesmo em relação a Mordecai e aos judeus, a quem Hamã
desejava destruir, e o mal sobreveio ao próprio Hamã, enquanto Mordecai e os
judeus foram livrados. O mal intentado para a destruição de José trouxe o
livramento da fome a todo o mundo.
Estes, e todos os verdadeiros cristãos
sofrem, nestas ocasiões, muitas vezes não por praticarem o mal, mas exatamente
por praticarem o bem, pelo bom nome de Cristo que levam sobre si, e disto falou
o apóstolo Pedro nas seguintes palavras:
I Pe 2.20: “Pois, que glória é essa, se,
quando cometeis pecado e sois por isso esbofeteados, sofreis com paciência? Mas
se, quando fazeis o bem e sois afligidos, o sofreis com paciência, isso é
agradável a Deus.”.
I Pe 3.17: “Porque melhor é sofrerdes
fazendo o bem, se a vontade de Deus assim o quer, do que fazendo o mal.”.
“1 Melhor é o bom nome do que o melhor unguento, e o dia da morte
do que o dia do nascimento.
2 Melhor é ir à casa onde há luto do que ir a casa onde há
banquete; porque naquela se vê o fim de todos os homens, e os vivos o aplicam
ao seu coração.
3 Melhor é a aflição do que o riso, porque a tristeza do rosto
torna melhor o coração.
4 O coração dos sábios está na casa do luto, mas o coração dos
tolos na casa da alegria.
5 Melhor é ouvir a repreensão do sábio do que ouvir alguém a
canção dos tolos.
6 Pois qual o crepitar dos espinhos debaixo da panela, tal é o
riso do tolo; também isso é vaidade.
7 Verdadeiramente a opressão faz endoidecer até o sábio, e o
suborno corrompe o coração.
8 Melhor é o fim duma coisa do que o princípio; melhor é o
paciente do que o arrogante.
9 Não te apresses no teu espírito a irar-te, porque a ira
abriga-se no seio dos tolos.
10 Não digas: Por que razão foram os dias passados melhores do que
estes; porque não provém da sabedoria esta pergunta.
11 Tão boa é a sabedoria como a herança, e mesmo de mais proveito
para os que veem o sol.
12 Porque a sabedoria serve de defesa, como de defesa serve o
dinheiro; mas a excelência da sabedoria é que ela preserva a vida de quem a
possui.
13 Considera as obras de Deus; porque quem poderá endireitar o que
ele fez torto?
14 No dia da prosperidade regozija-te, mas no dia da adversidade
considera; porque Deus fez tanto este como aquele, para que o homem nada
descubra do que há de vir depois dele.
15 Tudo isto vi nos dias da minha vaidade: há justo que perece na
sua justiça, e há ímpio que prolonga os seus dias na sua maldade.
16 Não sejas demasiadamente justo, nem demasiadamente sábio; por
que te destruirias a ti mesmo?
17 Não sejas demasiadamente ímpio, nem sejas tolo; por que
morrerias antes do teu tempo?
18 Bom é que retenhas isso, e que também daquilo não retires a tua
mão; porque quem teme a Deus escapa de tudo isso.
19 A sabedoria fortalece ao sábio mais do que dez governadores que
haja na cidade.
20 Pois não há homem justo sobre a terra, que faça o bem, e nunca
peque.
21 Não escutes a todas as palavras que se disserem, para que não
venhas a ouvir o teu servo amaldiçoar-te;
22 pois tu sabes também que muitas vezes tu amaldiçoaste a outros.
23 Tudo isto provei-o pela sabedoria; e disse: Far-me-ei sábio;
porém a sabedoria ainda ficou longe de mim.
24 Longe está o que já se foi, e profundíssimo; quem o poderá
achar?
25 Eu me volvi, e apliquei o meu coração para saber, e inquirir, e
buscar a sabedoria e a razão de tudo, e para conhecer que a impiedade é
insensatez e que a estultícia é loucura.
26 E eu achei uma coisa mais amarga do que a morte, a mulher cujo
coração são laços e redes, e cujas mãos são grilhões; quem agradar a Deus
escapará dela; mas o pecador virá a ser preso por ela.
27 Vedes aqui, isto achei, diz o pregador, conferindo uma coisa
com a outra para achar a causa;
28 causa que ainda busco, mas não a achei; um homem entre mil
achei eu, mas uma mulher entre todas, essa não achei.
29 Eis que isto tão-somente achei: que Deus fez o homem reto, mas
os homens se meteram em muitas astúcias.”
Seu texto é simplesmente excelente.
ResponderExcluirSeu texto é simplesmente excelente.
ResponderExcluir...Deus te abençoe..eu precisava saber disto!!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir* Digo, coopera
ResponderExcluirGrande sabedoria em um texto que revela muito bem esse capítulo, que Deus continue abençoando sua vida para que possa continuar a interpretar dessa forma tão linda a palavra de Deus!
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