Eliú havia preparado o caminho no coração de Jó,
para que ele fosse aberto para poder ouvir a voz de Deus.
Este é o mesmo papel de bons ministros do evangelho,
que preparam os corações das pessoas para receberem a graça de Jesus Cristo,
pregando-lhes a verdadeira palavra do evangelho.
No caso de Jó, que se encontrava em grande angústia,
seria de se esperar, que Deus lhe falasse através de um cicio suave. Mas foi de
um redemoinho, de uma tempestade de vendaval que o Senhor lhe falou, conforme
vemos neste capítulo 38º.
Jó, apesar de afligido fizera-se digno de uma
repreensão, então não foi com doçura que o Senhor lhe falou, e o vendaval
revelaria, de certo modo a Ele, o desagrado de Deus.
Este desagrado foi-lhe demonstrado também em
palavras quando o Senhor introduziu a sua fala lhe perguntando quem era ele
para obscurecer o Seu propósito com palavras sem conhecimento, que não
revelavam a verdadeira sabedoria divina?
Ele tentara falar a seus amigos como um arauto de
Deus. Como alguém que tivesse sido enviado desde o céu com uma mensagem para
eles. No entanto, Deus ordena agora a Jó, que se colocasse na posição de mero
homem, para que pudesse falar com ele, não lhe dando satisfações dos Seus atos,
mas fazendo-lhe perguntas para que Jó as respondesse, já que ele se mostrara
anteriormente tão ousado em tentar explicar a seus amigos o Seu conhecimento
sobre Deus e o Seus atos divinos.
Certamente, Jó não poderia responder a nenhuma das
perguntas que Deus lhe faria, ainda que todas elas se referissem aos atos da
criação das coisas visíveis e naturais.
O propósito era o de convencê-lo que uma vez que não
podia sequer explicar as coisas que seus olhos viam, e que seus ouvidos ouviam,
como poderia explicar as coisas espirituais invisíveis?
Deus nos impôs um conhecimento limitado em quase
todas as coisas, e devemos aceitar esta limitação, e avançar em conhecimento no
que nos for permitido por Sua graça, e não nos estribarmos em explicar coisas
que não entendemos com palavras falsas.
Quando pretendemos passar por sábios, falando de
coisas na nossa ignorância, não somente nos tornamos mentirosos, como também
tomados de um orgulho que nos incha em nossa loucura em tentar mostrar a outros
um conhecimento superior ao deles.
Se Deus nos limitou o acesso ao conhecimento de tal
forma, é para que aprendamos humildade, colocando-nos dentro dos limites que
nos foram estipulados por Ele.
Isto também nos ensina que ninguém deve se gloriar
no seu conhecimento, porque este conhecimento sempre será em parte, ou seja,
limitado, porque somente o Senhor conhece perfeitamente todas as coisas, quer
as naturais, quer as espirituais, que Ele criou.
“Ora, no tocante às coisas sacrificadas aos ídolos,
sabemos que todos temos conhecimento. O conhecimento incha, mas o amor
edifica.” (I Cor 8.1)
“8 O amor jamais acaba; mas havendo profecias, serão
aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá;
9 porque, em parte conhecemos, e em parte
profetizamos;
10 mas, quando vier o que é perfeito, então o que é
em parte será aniquilado.” (I Cor 13.8-10)
“Porque agora vemos como por espelho, em enigma, mas
então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei
plenamente, como também sou plenamente conhecido.” (I Cor 13.12)
Virá o dia que nosso conhecimento aumentará e muito,
sobre a pessoa de Deus, e sobre as coisas espirituais, mas isto está associado
à volta de nosso Senhor Jesus Cristo, porque está determinado que a plenitude
de conhecimento seja concedida por Ele em nossa união em perfeição com Ele no
céu, porque é nEle que reside toda a plenitude do conhecimento. Não se encontra
em nós, mas nEle. Esta é a grande lição que teremos. Este será um fato que
nunca mais esqueceremos: que toda a glória deve ser dada a Ele, e a nenhum de
nós, porque tudo o que tivermos, terá sido recebido dEle.
Então Deus não queria repreender Jó porque fosse
ignorante, ou por ter um conhecimento parcial das coisas naturais e
espirituais, porque esta é a condição de todo homem, que foi determinada por
Ele próprio.
Portanto, a causa da repreensão era a de que Jó
estava se gloriando em seu conhecimento, quando ninguém tem que se gloriar em
nada em si mesmo, senão somente no Senhor.
“23 Assim diz o Senhor: Não se glorie o sábio na sua
sabedoria, nem se glorie o forte na sua força; não se glorie o rico nas suas
riquezas;
24 mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em
entender, e em me conhecer, que eu sou o Senhor, que faço misericórdia, juízo e
justiça na terra; porque destas coisas me agrado, diz o Senhor.” (Jer 9.23, 24)
Note que o texto de Jeremias é bastante claro quanto
à declaração que o Senhor fez através do profeta quanto ao motivo em que
devemos nos gloriar.
Ele não está dizendo sequer que devemos nos gloriar
em nosso conhecimento teológico, mas no conhecimento íntimo, pessoal de Deus, e
ter a certeza de fé que Ele faz misericórdia, juízo e justiça na terra.
É em Deus mesmo que nós temos que devemos nos
gloriar, e não nas coisas que saibamos acerca dEle, porque isto tem a ver conosco,
e não com a Sua própria pessoa divina.
Se houvesse tal espírito em Jó e em seus três
amigos, eles não teriam debatido por um só minuto, porque estariam calados
diante do Senhor, clamando em seus corações para que tivesse misericórdia de Jó
e o livrasse.
Toda aquela discussão somente servira para distorcer
a justiça e enfraquecer a fé. Para apagar qualquer atmosfera favorável à
manifestação da presença de Deus.
É principalmente por isso que somos exortados a não
nos envolvermos em debates e discussões teológicas que não são úteis para a
edificação, senão para perverter a fé.
“23 E rejeita as questões tolas e absurdas, sabendo
que geram contendas;
24 e ao servo do Senhor não convém contender, mas
sim ser brando para com todos, apto para ensinar, paciente;” (II Tim
2.23,24)
“Lembra-lhes estas coisas, conjurando-os diante de
Deus que não tenham contendas de palavras, que para nada aproveitam, senão para
subverter os ouvintes.” (II Tim 2.14)
A razão destas ordenanças é que não fomos chamados
para obscurecer o conselho, o propósito de Deus em relação aos homens, senão
tornar claro tal propósito, que Ele tem revelado de modo direto e claro na
própria pessoa de nosso Senhor Jesus Cristo, a quem devemos estar unidos pela fé, para podermos viver de modo
agradável a Deus, conforme a concessão e assistência da Sua graça.
Assim como o Senhor não necessitou do conselho ou da
ajuda de qualquer homem quando fundou a terra, e tudo o mais no universo
visível, de igual modo, não necessita da intervenção do homem na criação
espiritual que está formando em Jesus Cristo.
O homem é mero instrumento no Seu plano de salvação,
mas é o próprio Cristo que tudo faz e consuma em relação à obra da salvação.
É Deus quem justifica, regenera, santifica, liberta.
O homem nada mais é do que o agente receptivo das Suas graças, ou o canal pelo
qual elas fluem para outros. Mas isto não é produzido pelo homem e nem está
presente em sua natureza terrena, mas é algo que lhe vem diretamente do céu.
A própria palavra do evangelho não é uma palavra da
terra, criada pela imaginação dos homens, mas a revelação da verdade que nos
veio a partir do céu. Não é da terra, mas do céu. Está operando na terra, mas
sua origem é celestial.
Assim, aos sabichões que andam inchados em seu conhecimento,
na Igreja, gerando contendas e divisões, convinha uma leitura constante destes
últimos capítulos de Jó, para que voltassem à sensatez de taparem suas bocas
diante do Grande Criador e Senhor, em quem somente eles deveriam se gloriar, e
não na pouca sabedoria e conhecimento que possuem, pensando que seja muita
coisa, ou que seja por meio disto que Deus opera os Seus livramentos e bênçãos.
“1 Depois disso o Senhor respondeu a Jó dum
redemoinho, dizendo:
2 Quem é este que escurece o conselho com palavras
sem conhecimento?
3 Agora cinge os teus lombos, como homem; porque te
perguntarei, e tu me responderás.
4 Onde estavas tu, quando eu lançava os fundamentos
da terra? Faze-mo saber, se tens entendimento.
5 Quem lhe fixou as medidas, se é que o sabes? ou
quem a mediu com o cordel?
6 Sobre que foram firmadas as suas bases, ou quem
lhe assentou a pedra de esquina,
7 quando juntas cantavam as estrelas da manhã, e
todos os filhos de Deus bradavam de júbilo?
8 Ou quem encerrou com portas o mar, quando este
rompeu e saiu da madre;
9 quando eu lhe pus nuvens por vestidura, e
escuridão por faixas,
10 e lhe tracei limites, pondo-lhe portas e
ferrolhos,
11 e lhe disse: Até aqui virás, porém não mais
adiante; e aqui se quebrarão as tuas ondas orgulhosas?
12 Desde que começaram os teus dias, acaso deste tu
ordem à madrugada, ou mostraste à alva o seu lugar,
13 para que agarrasse nas extremidades da terra, e
os ímpios fossem sacudidos dela?
14 A terra se transforma como o barro sob o selo; e
todas as coisas se assinalam como as cores dum vestido.
15 E dos ímpios é retirada a sua luz, e o braço
altivo se quebranta.
16 Acaso tu entraste até os mananciais do mar, ou
passeaste pelos recessos do abismo?
17 Ou foram-te descobertas as portas da morte, ou
viste as portas da sombra da morte?
18 Compreendeste a largura da terra? Faze-mo saber,
se sabes tudo isso.
19 Onde está o caminho para a morada da luz? E,
quanto às trevas, onde está o seu lugar,
20 para que as tragas aos seus limites, e para que
saibas as veredas para a sua casa?
21 De certo tu o sabes, porque já então eras
nascido, e porque é grande o número dos teus dias!
22 Acaso entraste nos tesouros da neve, e viste os
tesouros da saraiva,
23 que eu tenho reservado para o tempo da angústia,
para o dia da peleja e da guerra?
24 Onde está o caminho para o lugar em que se
reparte a luz, e se espalha o vento oriental sobre a terra?
25 Quem abriu canais para o aguaceiro, e um caminho
para o relâmpago do trovão;
26 para fazer cair chuva numa terra, onde não há
ninguém, e no deserto, em que não há gente;
27 para fartar a terra deserta e assolada, e para
fazer crescer a tenra relva?
28 A chuva porventura tem pai? Ou quem gerou as
gotas do orvalho?
29 Do ventre de quem saiu o gelo? E quem gerou a
geada do céu?
30 Como pedra as águas se endurecem, e a superfície
do abismo se congela.
31 Podes atar as cadeias das Plêiades, ou soltar os
atilhos do Oriom?
32 Ou fazer sair as constelações a seu tempo, e
guiar a ursa com seus filhos?
33 Sabes tu as ordenanças dos céus, ou podes
estabelecer o seu domínio sobre a terra?
34 Ou podes levantar a tua voz até as nuvens, para
que a abundância das águas te cubra?
35 Ou ordenarás aos raios de modo que saiam? Eles te
dirão: Eis-nos aqui?
36 Quem pôs sabedoria nas densas nuvens, ou quem deu
entendimento ao meteoro?
37 Quem numerará as nuvens pela sabedoria? Ou os
odres do céu, quem os esvaziará,
38 quando se funde o pó em massa, e se pegam os
torrões uns aos outros?
39 Podes caçar presa para a leoa, ou satisfazer a
fome dos filhos dos leões,
40 quando se agacham nos covis, e estão à espreita
nas covas?
41 Quem prepara ao corvo o seu alimento, quando os
seus pintainhos clamam a Deus e andam vagueando, por não terem o que comer?”
(Jó 38)
Nenhum comentário:
Postar um comentário