Até o
verso 19 deste capitulo prosseguem os juízos contra Tiro, e aqui, primeiramente
contra o príncipe de Tiro, ou seja o homem que governava aquele país, o qual
tomado pelos mesmos sentimentos que foram achados em Satanás, quando seu
coração se elevou no céu por causa da sua formosura, foi lançado à terra por um
juízo que lhe viera da parte de Deus.
Ele
fora um bom servo do diabo em tudo, e chegou a ponto, de tal como ele, se
considerar um deus acima do próprio Deus, por causa do grande poder e riqueza
que havia obtido no seu comércio com as nações.
Tal
como o diabo, o seu grande objetivo era apenas glória, fama e poder mundanos, e
nisto foi um excelente discípulo do seu mestre, Satanás, o diabo, que é também
citado por isto na profecia, não como príncipe, mas como rei de Tiro, para que
soubéssemos que era debaixo da sua influência e poder que o príncipe regente de
Tiro se encontrava.
E assim
como juízos foram estabelecidos por Deus contra o diabo por ter-se elevado o
seu coração, de igual modo o príncipe de Tiro, que em tudo havia seguido os
seus passos, seria também submetido aos mesmos juízos, para que soubesse que
era apenas homem e não Deus, assim como o diabo os recebeu para que soubesse
que era apenas um anjo, uma criatura de Deus, e não alguém semelhante a Deus,
como ele julgara insensatamente em seu coração.
As
profecias relativas ao príncipe de Tiro vão do verso 1 ao 10, e dele é dito no
verso 3 que ele era mais sábio do que Daniel, porque não havia segredo que
pudesse ser escondido dele.
Ora,
certamente a sabedoria maior que ele possuía não era da parte de Deus mas do
diabo, que lhe revelava os segredos das outras nações para que pudesse negociar
com elas obtendo sempre vantagens.
Nem
todas as coisas Deus revelava a Daniel, senão o que era da Sua exclusiva
autoridade, soberania e propósito divinos, e segundo a reta justiça, para
propósitos justos, o que não é certamente o que se acha no reino do diabo.
Então a
sabedoria do regente de Tiro era diabólica, conforme no dizer de Tiago, e não
celestial, como era a de Daniel.
Deus
determinou um juízo de morte sobre o príncipe de Tiro, em pleno mar, quando
estivesse viajando a negócios num de seus navios mercantes. E ele seria morto
pela mão de estrangeiros.
A
profecia dirigida contra Satanás, sob o codinome de rei de Tiro estão
registradas nos versos 11 a 19, na qual é destacado que ele era perfeito, cheio
de sabedoria e formosura (v. 12) antes da sua queda do céu.
Que ele
estivera no jardim do Éden, no paraíso de Deus (isto exclui a possibilidade da
profecia se referir a algum governante terreno de Tiro), e a este tempo ele
estava coberto de pedras preciosas, e de ouro, e tal era a glória que o Senhor
lhe havia reservado que foram preparados instrumentos musicais para recepcioná-lo
no dia em que havia sido criado, e como isto não fosse pouco, foi-lhe dada a
honra de ser querubim da guarda da santidade de Deus, e ele andava no monte
santo de Deus, no meio das pedras afogueadas, porque foi da vontade de Deus
tributar-lhe toda aquela glória.
Todavia,
como a honra que recebera fora muito elevada, em vez de devolvê-la em louvor e
gratidão ao Senhor, deixou que seu coração fosse corrompido pela iniquidade,
abandonando o seu caminhar em perfeição diante dEle, porque pela abundância do
seu comércio o seu coração se encheu de violência e veio a pecar contra Deus.
Certamente
o comércio aqui referido devem ter sido as vantagens falsas que ofereceu aos
milhares de anjos que caíram juntamente com ele, lhes enganando quanto ao seus
planos para aumentar o seu próprio poder e glória assim como o deles, conforme é seu costume até hoje fazer
com pessoas de todas as nações, assim como havia conseguido alcançar tal
intento em relação ao príncipe de Tiro.
Por
isso o Senhor o lançou fora do monte de Deus, que é uma possível referência ao
terceiro céu, a habitação do Senhor, que está acima da terra e do segundo céu,
que é o universo.
É dito
que ele estivera no Éden, e esta palavra no hebraico significa prazer, delícia,
e daí ser chamado de paraíso.
Pode
ser portanto uma indicação do terceiro céu, a habitação de Deus, e não o jardim
que Deus plantou para Adão e Eva.
Lembremos
que Jesus disse ao ladrão que morreu ao Seu lado, que estaria com Ele no
paraíso, e não estava certamente se referindo a um jardim terreno, mas ao céu.
Com
isto a sabedoria divina e o resplendor da glória de Deus que havia nele, antes
da queda, foram corrompidos, isto é, estragados, perdidos, porque não pode
existir tais bênçãos naqueles cujos corações se elevam em soberba por causa da
própria formosura, e quando se passa a fazer de si mesmo um objeto de adoração
narcisista.
Então o
diabo foi lançado do céu para a terra para que fosse contemplado em sua
natureza agora pervertida, corrompida, que sempre busca o mal, e que não pode
possuir qualquer bem.
O
argumento de Satanás junto aos anjos que caíram deve ter sido provavelmente o
de que Deus era mau e deveria portanto ser destronado para que Ele recebesse o
governo acima do trono do próprio Deus, como se vê em Isaías 14, no entanto,
por ter sido lançado à terra, e por todo o mal que faz aos homens, está bem
notório quem é realmente injusto e mau, a saber, o próprio diabo.
Não
admira que Deus tenha provado o Seu perfeito amor e bondade e fidelidade, dando
o Seu próprio Filho para morrer em nosso lugar na cruz, para que pudesse nos
livrar do poder do diabo, para sempre.
No
verso 18 é afirmado diretamente que o comércio do diabo é injusto, e que pela
multidão das suas iniquidades havia profanado os santuários que Deus lhe havia
reservado no céu para serem dirigidos por ele, de modo que o Senhor fez recair
sobre ele um juízo de fogo, que o tem consumido, e que o tem tornado em cinza à
vista de todos os que o contemplavam.
E todos
os que conheceram as obras do diabo ficarão espantados com o estado de ruína
eterna a que ele foi submetido por Deus, o que aguarda apenas o tempo de
cumprimento, porque a sentença já foi determinada sobre ele de modo inapelável,
de modo que Jesus diz que já está julgado (Jo 16.11), e que será lançado no
lago de fogo e enxofre para todo o sempre, como se vê em Apocalipse 20.10.
Nos
versos 21 e 23 são pronunciados juízos contra Sidom, que era uma outra nação
situada próxima de Israel e de Tiro.
O
Senhor estava assim trazendo juízos sobre todos os povos vizinhos de Israel que
lhe haviam oprimido em várias ocasiões, ao longo de toda a sua história como
nação. Eles não ficariam impunes para se alegrarem da ruína de Judá.
Eles
não se gloriariam com os seus falsos deuses contra o Deus de Israel, que se revelaria
mais poderoso do que todos eles juntos, porque submeteria a juízo cada uma das
nações da terra, relacionadas com Judá, uma a uma, de modo que estes juízos
estavam voltados principalmente para os falsos deuses que eles adoravam.
Estas
nações estavam sendo também enfraquecidas, para que quando Judá voltasse do
cativeiro em Babilônia, não tivesse que lutar contra nações poderosas ao seu
redor (v. 24 a 26).
“1 De
novo veio a mim a palavra do Senhor, dizendo:
2 Filho
do homem, dize ao príncipe de Tiro: Assim diz o Senhor Deus: Visto como se
elevou o teu coração, e disseste: Eu sou um deus, na cadeira dos deuses me
assento, no meio dos mares; todavia tu és homem, e não deus, embora consideres
o teu coração como se fora o coração de um deus.
3 com
efeito és mais sábio que Daniel; não há segredo algum que se possa esconder de
ti.
4 Pela
tua sabedoria e pelo teu entendimento alcançaste para ti riquezas, e adquiriste
ouro e prata nos teus tesouros.
5 Pela
tua grande sabedoria no comércio aumentaste as tuas riquezas, e por causa das
tuas riquezas eleva-se o teu coração;
6
portanto, assim diz o Senhor Deus: Pois que consideras o teu coração como se
fora o coração de um deus,
7 por
isso eis que eu trarei sobre ti estrangeiros, os mais terríveis dentre as nações,
os quais desembainharão as suas espadas contra a formosura da tua sabedoria, e
mancharão o teu resplendor.
8 Eles
te farão descer à cova; e morrerás da morte dos traspassados, no meio dos
mares.
9 Acaso
dirás ainda diante daquele que te matar: Eu sou um deus? mas tu és um homem, e
não um deus, na mão do que te traspassa.
10 Da
morte dos incircuncisos morrerás, por mão de estrangeiros; pois eu o falei, diz
o Senhor Deus.
11 Veio
mais a mim a palavra do Senhor, dizendo:
12
Filho do homem, levanta uma lamentação sobre o rei de Tiro, e dize-te: Assim
diz o Senhor Deus: Tu eras o selo da perfeição, cheio de sabedoria e perfeito
em formosura.
13
Estiveste no Éden, jardim de Deus; cobrias-te de toda pedra preciosa: a
cornalina, o topázio, o ônix, a crisólita, o berilo, o jaspe, a safira, a
granada, a esmeralda e o ouro. Em ti se faziam os teus tambores e os teus
pífaros; no dia em que foste criado foram preparados.
14 Eu
te coloquei com o querubim da guarda; estiveste sobre o monte santo de Deus;
andaste no meio das pedras afogueadas.
15
Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado, até que em ti
se achou iniquidade.
16 Pela
abundância do teu comércio o teu coração se encheu de violência, e pecaste;
pelo que te lancei, profanado, fora do monte de Deus, e ó querubim da guarda te
expulsei do meio das pedras afogueadas.
17
Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria
por causa do teu resplendor; por terra te lancei; diante dos reis te pus, para
que te contemplem.
18 Pela
multidão das tuas iniquidades, na injustiça do teu comércio, profanaste os teus
santuários; eu, pois, fiz sair do meio de ti um fogo, que te consumiu a ti, e
te tornei em cinza sobre a terra, à vista de todos os que te contemplavam.
19
Todos os que te conhecem entre os povos estão espantados de ti; chegaste a um
fim horrível, e não mais existirás, por todo o sempre.
20
Novamente veio a mim a palavra do Senhor, dizendo:
21
Filho do homem, dirige o teu rosto para Sidom, e profetiza contra ela,
22 e dize:
Assim diz o Senhor Deus: Eis-me contra ti, ó Sidom, e serei glorificado no meio
de ti; e saberão que eu sou o Senhor, quando nela executar juizos e nela me
santificar.
23 Pois
lhe enviarei peste e sangue nas suas ruas; e os traspassados cairão no meio
dela, estando a espada contra ela por todos os lados; e saberão que eu sou o
Senhor.
24 E a
casa de Israel nunca mais terá espinho que a fira, nem abrolho que lhe cause
dor, entre os que se acham ao redor deles e que os desprezam; e saberão que eu
sou o Senhor Deus.
25
Assim diz o Senhor Deus: Quando eu congregar a casa de Israel dentre os povos
entre os quais estão espalhados, e eu me santificar entre eles, à vista das
nações, então habitarão na sua terra que dei a meu servo, a Jacó.
26 E
habitarão nela seguros; sim, edificarão casas, e plantarão vinhas, e habitarão
seguros, quando eu executar juízos contra todos os que estão ao seu redor e que
os desprezam; e saberão que eu sou o Senhor seu Deus.” (Ezequiel 28)
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