Em sua árida teologia, os amigos de Jó não foram
capazes de observar o maravilhoso trabalho que a graça estava começando a
operar em Jó, em face do seu quebrantamento de espírito.
Eles continuaram então com o mesmo velho discurso de
ataque contra os ímpios, considerando o próprio Jó como sendo um deles,
conforme se depreende destas palavras de Bildade, no 18º capítulo.
Eles estavam se sentindo desprezados, rejeitados por
Jó, por não estar dando a devida consideração às suas palavras, que eles
julgavam ser da mais pura sabedoria.
Então o que deveriam fazer com um rebelde como Jó,
conforme o juízo deles, senão repreendê-lo ainda mais duramente?
Não é o mesmo que alguns conselheiros cristãos
funestos fazem quando pensam que estão sendo desprezados quando pessoas debaixo
dos conselhos deles, decidem sabiamente não lhes dar ouvido?
Jó não estava envolvido como eles, num debate acerca
de saber quem estava certo ou quem tinha a maior sabedoria.
Ele estava buscando alívio para a sua aflição.
Ele estava buscando respostas em Deus, não
propriamente para explicar a razão do mal que estava sofrendo, mas sobre o Seu
propósito em tudo aquilo.
Ele queria, como sempre o fizera em toda a sua vida,
acertar com a vontade de Deus, e certamente isto estava sendo muito difícil
debaixo daquela terrível aflição.
Contudo, ele percebeu que havia sido quebrantado.
Que seu espírito já não estava disposto a tecer
argumentos, mas a achar descanso no Senhor.
Foi a partir deste momento que ele começou a entrar,
ainda que não o soubesse, no centro do propósito de Deus, porque em toda
aflição que sofremos o Seu grande alvo é o de nos quebrantar, de forma que
sejamos humildes e submissos ao Seu Espírito.
“1 Então respondeu Bildade, o suíta:
2 Até quando estareis à procura de palavras?
considerai bem, e então falaremos.
3 Por que somos tratados como gado, e como estultos
aos vossos olhos?
4 Oh tu, que te despedaças na tua ira, acaso por
amor de ti será abandonada a terra, ou será a rocha removida do seu lugar?
5 Na verdade, a luz do ímpio se apagará, e não
resplandecerá a chama do seu fogo.
6 A luz se escurecerá na sua tenda, e a lâmpada que
está sobre ele se apagará.
7 Os seus passos firmes se estreitarão, e o seu
próprio conselho o derribará.
8 Pois por seus próprios pés é ele lançado na rede,
e pisa nos laços armados.
9 A armadilha o apanha pelo calcanhar, e o laço o
prende;
10 a corda do mesmo está-lhe escondida na terra, e
uma armadilha na vereda.
11 Terrores o amedrontam de todos os lados, e de
perto lhe perseguem os pés.
12 O seu vigor é diminuído pela fome, e a destruição
está pronta ao seu lado.
13 São devorados os membros do seu corpo; sim, o
primogênito da morte devora os seus membros.
14 Arrancado da sua tenda, em que confiava, é levado
ao rei dos terrores.
15 Na sua tenda habita o que não lhe pertence;
espalha-se enxofre sobre a sua habitação.
16 Por baixo se secam as suas raízes, e por cima são
cortados os seus ramos.
17 A sua memória perece da terra, e pelas praças não
tem nome.
18 É lançado da luz para as trevas, e afugentado do
mundo.
19 Não tem filho nem neto entre o seu povo, e
descendente nenhum lhe ficará nas moradas.
20 Do seu dia pasmam os do ocidente, assim como os
do oriente ficam sobressaltados de horror.
21 Tais são, na verdade, as moradas do, ímpio, e tal
é o lugar daquele que não conhece a Deus.”
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