Nós vemos no 19º capítulo que Jó respondeu ao
discurso condenatório de Bildade, pedindo a seus três amigos que tivessem
compaixão dele, porque era a mão do Senhor que estava pesando sobre a Sua vida.
Bastava-lhe a humilhação que estava sendo imposta
pelo Senhor, que lhe havia tornado um estranho para todos os seus amigos e
familiares, e até mesmo para sua esposa e irmãos.
O seu estado físico repugnante, consequente da sua
enfermidade, fizera que exalasse mau cheiro e mau hálito, de modo que não era
agradável para ninguém estar em sua companhia.
Então, porque seus amigos lhe afligiam ainda mais a
sua alma atormentando-lhe com palavras acusadoras?
Eles já haviam se revezado até este ponto, por dez
vezes em discursos que o humilhavam, e não sentiam qualquer vergonha por lhe
estarem maltratando daquela forma.
Mesmo caso estivesse sofrendo por ter errado, não
havia errado contra eles, e portanto não se justificava o mau trato que estava
recebendo deles.
Neste caso, somente ele responderia pelo seu erro.
Mas como se mostravam obstinados em incriminá-lo,
deveriam estar conscientes de que teriam que prestar conta a Deus, porque fora
Ele quem dera ocasião a todo aquele sofrimento pelo qual estava passando.
Certamente o Senhor não lhes daria satisfação de
Seus atos. E não poderia ser acusado de ter sido injusto em ter afligido a Jó,
uma vez que fosse comprovado que estava sofrendo por motivo de sua justiça, e
não por qualquer iniquidade que tivesse praticado.
Em face disso, como ficariam seus amigos com seus
argumentos justificando a Deus por estar afligindo Jó em razão de possíveis
pecados praticados por ele?
Se fosse este o caso, nada teriam que responder,
afora da falta de misericórdia deles, porque em tal pressuposto, teriam razão
em dizer que Jó estava sendo castigado pelo mal que havia praticado.
Mas sabemos que não era este o caso. Portanto, como
seriam pesadas as acusações deles contra Jó, pelo justo e soberano Deus?
Por isso é recomendado que tenhamos muito cuidado ao
exercermos juízos, porque se nossas acusações forem falsas ou infundadas, nós
mesmos seremos achados como faltosos diante do Senhor, e teremos que lhe
prestar contas pelos nossos julgamentos errados.
Deus havia despojado a Jó da sua antiga honra entre
as pessoas que se encontravam debaixo da sua liderança e influência, e lhe
impediu de reassumir a antiga posição de honra em que se encontrava.
Jó se sentia como alguém que estava debaixo da ira
de Deus e sendo tratado por Ele como um dos Seus adversários.
Até mesmo pelos seus servos ele estava sendo
desprezado, sendo tratado como se fosse um estranho.
Seus servos já não mais lhe obedeciam.
Sua mulher e irmãos não suportavam o seu mau cheiro
produzido pela enfermidade.
Em tal estado ele suspirou e aspirou para que suas
palavras não fossem desprezadas, como estavam sendo pelos seus amigos, mas que
fossem registradas num livro, ou então que fossem registradas para sempre na
rocha, porque gostaria que elas estivessem em lembrança e fossem apresentadas
ao Seu Redentor, o qual ele estava convicto de que vivia e que ainda se
levantaria para efetuar a Sua redenção em toda a terra.
Ele sabia que havia sido comprado pela graça de
Deus, por meio de um Redentor que pagaria o preço pelos seus pecados, quando se
levantasse sobre a terra.
Ele tinha inteira confiança nisto em seu espírito.
Tinha plena fé nesta verdade.
Por isso queria que o seu testemunho fosse
registrado num livro e na rocha para que fosse lido pelo Seu Redentor,
comprovando que era pertencente ao número dos redimidos, por causa do modo como havia vivido na terra, sem negar o Seu santo
nome, porque estava cheio da graça e da fé no Redentor, que lhe justificara,
tal como a Abraão, antes dele.
Jó, inteiramente quebrantado, que se encontrava
agora, ainda mais do que antes, não aspirava pela sepultura como um lugar para
se esconder dos seus sofrimentos, mas como uma libertação da condição da
ausência da presença de Deus, para poder para sempre contemplar a Sua face, em
espírito, depois de ter deixado este corpo de carne e sangue (v. 26).
Seus olhos veriam o Rei na Sua formosura, não mais
como adversário, conforme o afligia neste mundo, porque na Sua presença, não há
mais qualquer aflição para ser experimentada. Todo propósito divino em relação
a nós se terá cumprido na glória.
De modo, que nenhum cristão será mais achado debaixo
da potente mão de Deus para ser afligido, mas a seu lado (v. 27 a).
Então seus amigos deveriam ponderar as suas ações
contra ele, porque na perseguição da sua alma, estavam esquecidos desta
condição prometida futura.
Eles deviam temer usar a espada afiada de suas
línguas com a qual estavam desferindo golpes contra a sua alma justa, porque os
que ferem à espada, pela espada afiada de dois gumes da boca de Deus também
serão feridos no dia do juízo (v. 27, 28).
“1 Então Jó respondeu:
2 Até quando afligireis a minha alma, e me
atormentareis com palavras?
3 Já dez vezes me haveis humilhado; não vos
envergonhais de me maltratardes?
4 Embora haja eu, na verdade, errado, comigo fica o
meu erro.
5 Se deveras vos quereis engrandecer contra mim, e
me incriminar pelo meu opróbrio,
6 sabei então que Deus é o que transtornou a minha
causa, e com a sua rede me cercou.
7 Eis que clamo: Violência! mas não sou ouvido;
grito: Socorro! mas não há justiça.
8 com muros fechou ele o meu caminho, de modo que
não posso passar; e pôs trevas nas minhas veredas.
9 Da minha honra me despojou, e tirou-me da cabeça a
coroa.
10 Quebrou-me de todos os lados, e eu me vou;
arrancou a minha esperança, como a, uma árvore.
11 Acende contra mim a sua ira, e me considera como
um de seus adversários.
12 Juntas as suas tropas avançam, levantam contra
mim o seu caminho, e se acampam ao redor da minha tenda.
13 Ele pôs longe de mim os meus irmãos, e os que me
conhecem tornaram-se estranhos para mim.
14 Os meus parentes se afastam, e os meus conhecidos
se esquecem de mim.
15 Os meus domésticos e as minhas servas me têm por
estranho; vim a ser um estrangeiro aos seus olhos.
16 Chamo ao meu criado, e ele não me responde; tenho
que suplicar-lhe com a minha boca.
17 O meu hálito é intolerável à minha mulher; sou
repugnante aos filhos de minha mãe.
18 Até os pequeninos me desprezam; quando me
levanto, falam contra mim.
19 Todos os meus amigos íntimos me abominam, e até
os que eu amava se tornaram contra mim.
20 Os meus ossos se apegam à minha pele e à minha
carne, e só escapei com a pele dos meus dentes.
21 Compadecei-vos de mim, amigos meus;
compadecei-vos de mim; pois a mão de Deus me tocou.
22 Por que me perseguis assim como Deus, e da minha
carne não vos fartais?
23 Quem dera que as minhas palavras fossem escritas!
Quem dera que fossem gravadas num livro!
24 Que, com pena de ferro, e com chumbo, fossem para
sempre esculpidas na rocha!
25 Pois eu sei que o meu Redentor vive, e que por
fim se levantará sobre a terra.
26 E depois de consumida esta minha pele, então fora
da minha carne verei a Deus;
27 vê-lo-ei ao meu lado, e os meus olhos o
contemplarão, e não mais como adversário. O meu coração desfalece dentro de
mim!
28 Se disserdes: Como o havemos de perseguir! e que
a causa deste mal se acha em mim,
29 temei vós a espada; porque o furor traz os
castigos da espada, para saberdes que há um juízo.” (Jó 19)
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