O Senhor exigiu de Jó uma resposta para as perguntas
que lhe fizera nos capítulos 40 e 41, que estaremos comentando, uma vez que Jó
lhe havia censurado, ainda que indiretamente.
Ao ter afirmado insistentemente que era justo, fazia
com que consequentemente, Deus fosse considerado injusto por permitir que ele
estivesse sofrendo todas aquelas coisas.
Deus permitiu que o diabo afligisse a Jó, mas não
poderia ser considerado injusto por ter-lhe dado tal permissão.
Afinal, é o processo que Ele costuma usar para
purificar os santos e lhes aumentar a fé.
Assim, por mais consagrado a Deus que um cristão
possa ser, ele não tem o direito, de ficar afirmando, quando é provado: “sou santo, sou justo, sou do
Senhor, tenho sido fiel, e não deveria estar passando por esta provação”,
porque, se o fizer, se tornará digno da mesma repreensão de Deus relativa a
Jó.
Diante da confrontação direta que o Senhor lhe
fizera, finalmente se humilhou e se calou perante Ele, dizendo-Lhe as seguintes
palavras:
“4 Eis que sou vil; que te responderia eu? Antes
ponho a minha mão sobre a boca.
5 Uma vez tenho falado, e não replicarei; ou ainda
duas vezes, porém não prosseguirei.” (Jó 40.4,5)
Deus continuava falando do meio do redemoinho,
porque Jó ainda se fazia digno de repreensão apesar de ter se humilhado, porque
o Senhor que tudo sabe, pode ter descortinado em seu coração ainda alguma
resistência à Sua vontade, apesar das palavras de humilhação que Jó havia
proferido.
Isto é muito comum de acontecer como o legume que
foi mal cozido, e que apesar de estar amolecido por fora, ainda continua
endurecido por dentro.
Tal é o que ocorre com muitos cristãos quando são
repreendidos por Deus. Eles o admitem externamente, mas continuam se justificando
em seu interior.
Assim, não se submeteram de fato à repreensão,
porque esta gera arrependimento sincero no coração e plena aceitação da
admoestação recebida.
Deus continuaria portanto fazendo perguntas a Jó,
porque ele estava tornando vão o Seu juízo, ou seja, não estava permitindo que
a repreensão do Senhor produzisse o efeito esperado e eficaz em seu coração,
porque ainda permanecia na posição de procurar se justificar perante Ele,
baseado na sua própria justiça, e isto, como comentamos anteriormente, era uma
forma de condenar a Deus indiretamente (Jó 40.8).
Então os argumentos do Senhor para Ele, naquele
momento não seriam mais para levá-lo a refletir sobre a sabedoria de Deus na
criação, mas a considerar a força do Seu potente braço e da Sua voz, com os
quais pode abater todas as coisas criadas, inclusive o próprio homem.
Jó não estava dando a consideração que é devida ao
Senhor, de que todo homem deve temê-lo porque pode tirar a vida do corpo e
lançar a alma no inferno.
O poder de lançar no inferno não é do diabo, mas de
Deus.
Portanto, qual soberbo ou poderoso poderá prevalecer
no juízo com o Todo-Poderoso?
Deus fará com que aqueles que com Ele não ajuntam
sejam espalhados como o pó miúdo, ou seja, como a moinha.
Para mostrar aos homens qual é a grandeza da Sua
força, o Senhor lhes deu uma pequena amostra desta força ao ter criado alguns
seres de força e coragem extraordinárias, como o hipopótamo.
De quão maior força e poder não está dotado Aquele
que o criou?
Todavia, falar da força do hipopótamo seria pouco
para levar Jó a refletir no poder de Deus, por isso, Ele continuou a citar
outros seres dotados de força extraordinária, que havia criado, como citou por
exemplo o crocodilo (Jó 40.1), que é um animal que a ninguém e a nada teme.
Deus o fizera assim para revelar que em Seu caráter
nada e ninguém pode perturbá-lo, intimidá-lo, vencê-lo, porque é soberano sobre
tudo e todos.
Se o homem teme o crocodilo, quem há então que seja
tão ousado para se erguer diante de Deus para enfrentá-lO? (v. 10)
Tudo Lhe pertence, e Ele não é devedor a ninguém (v.
11).
Deus criou o crocodilo lhe dotando não somente de
uma boca com dentes mortais, mas também de uma couraça protetora
impenetrável.
Jó deveria portanto, considerar o grande poder do
Senhor para submeter os Seus inimigos e a todos os que resistem à Sua vontade.
Ele era um homem justo, mas deveria vigiar para não
ser encontrado na mesma condição dos ímpios, cujas vontades resistem a Deus.
Ele não seria justificado perante o Senhor por conta
dos grandes sofrimentos a que havia sido submetido, porque esteja na condição
em que estiver, é dever de todo homem se submeter à vontade de Deus.
“1 Disse mais o Senhor a Jó:
2 Contenderá contra o Todo-Poderoso o censurador?
Quem assim argui a Deus, responda a estas coisas.
3 Então Jó respondeu ao Senhor, e disse:
4 Eis que sou vil; que te responderia eu? Antes
ponho a minha mão sobre a boca.
5 Uma vez tenho falado, e não replicarei; ou ainda
duas vezes, porém não prosseguirei.
6 Então, do meio do redemoinho, o Senhor respondeu a
Jó:
7 Cinge agora os teus lombos como homem; eu te
perguntarei a ti, e tu me responderás.
8 Farás tu vão também o meu juízo, ou me condenarás
para te justificares a ti?
9 Ou tens braço como Deus; ou podes trovejar com uma
voz como a dele?
10 Orna-te, pois, de excelência e dignidade, e
veste-te de glória e de esplendor.
11 Derrama as inundações da tua ira, e atenta para
todo soberbo, e abate-o.
12 Olha para todo soberbo, e humilha-o, e calca aos
pés os ímpios onde estão.
13 Esconde-os juntamente no pó; ata-lhes os rostos
no lugar escondido.
14 Então também eu de ti confessarei que a tua mão
direita te poderá salvar.
15 Contempla agora o hipopótamo, que eu criei como a
ti, que come a erva como o boi.
16 Eis que a sua força está nos seus lombos, e o seu
poder nos músculos do seu ventre.
17 Ele enrija a sua cauda como o cedro; os nervos
das suas coxas são entretecidos.
18 Os seus ossos são como tubos de bronze, as suas
costelas como barras de ferro.
19 Ele é obra prima dos caminhos de Deus; aquele que
o fez o proveu da sua espada.
20 Em verdade os montes lhe produzem pasto, onde
todos os animais do campo folgam.
21 Deita-se debaixo dos lotos, no esconderijo dos
canaviais e no pântano.
22 Os lotos cobrem-no com sua sombra; os salgueiros
do ribeiro o cercam.
23 Eis que se um rio trasborda, ele não treme;
sente-se seguro ainda que o Jordão se levante até a sua boca.
24 Poderá alguém apanhá-lo quando ele estiver de
vigia, ou com laços lhe furar o nariz?” (Jó 40)
“1 Poderás tirar com anzol o leviatã, ou apertar-lhe
a língua com uma corda?
2 Poderás meter-lhe uma corda de junco no nariz, ou
com um gancho furar a sua queixada?
3 Porventura te fará muitas súplicas, ou brandamente
te falará?
4 Fará ele aliança contigo, ou o tomarás tu por servo
para sempre?
5 Brincarás com ele, como se fora um pássaro, ou o
prenderás para tuas meninas?
6 Farão os sócios de pesca tráfico dele, ou o
dividirão entre os negociantes?
7 Poderás encher-lhe a pele de arpões, ou a cabeça
de fisgas?
8 Põe a tua mão sobre ele; lembra-te da peleja;
nunca mais o farás!
9 Eis que é vã a esperança de apanhá-lo; pois não
será um homem derrubado só ao vê-lo?
10 Ninguém há tão ousado, que se atreva a
despertá-lo; quem, pois, é aquele que pode erguer-se diante de mim?
11 Quem primeiro me deu a mim, para que eu haja de
retribuir-lhe? Pois tudo quanto existe debaixo de todo céu é meu.
12 Não me calarei a respeito dos seus membros, nem
da sua grande força, nem da graça da sua estrutura.
13 Quem lhe pode tirar o vestido exterior? Quem lhe
penetrará a couraça dupla?
14 Quem jamais abriu as portas do seu rosto? Pois em
roda dos seus dentes está o terror.
15 As suas fortes escamas são o seu orgulho, cada
uma fechada como por um selo apertado.
16 Uma à outra se chega tão perto, que nem o ar
passa por entre elas.
17 Umas às outras se ligam; tanto aderem entre si,
que não se podem separar.
18 Os seus espirros fazem resplandecer a luz, e os
seus olhos são como as pestanas da alva.
19 Da sua boca saem tochas; faíscas de fogo saltam
dela.
20 Dos seus narizes procede fumaça, como de uma
panela que ferve, e de juncos que ardem.
21 O seu hálito faz incender os carvões, e da sua
boca sai uma chama.
22 No seu pescoço reside a força; e diante dele anda
saltando o terror.
23 Os tecidos da sua carne estão pegados entre si;
ela é firme sobre ele, não se pode mover.
24 O seu coração é firme como uma pedra; sim, firme
como a pedra inferior duma mó.
25 Quando ele se levanta, os valentes são
atemorizados, e por causa da consternação ficam fora de si.
26 Se alguém o atacar com a espada, essa não poderá
penetrar; nem tampouco a lança, nem o dardo, nem o arpão.
27 Ele considera o ferro como palha, e o bronze como
pau podre.
28 A seta não o poderá fazer fugir; para ele as
pedras das fundas se tornam em restolho.
29 Os bastões são reputados como juncos, e ele se ri
do brandir da lança.
30 Debaixo do seu ventre há pontas agudas; ele se
estende como um trilho sobre o lodo.
31 As profundezas faz ferver, como uma panela; torna
o mar como uma vasilha de unguento.
32 Após si deixa uma vereda luminosa; parece o
abismo tornado em brancura de cãs.
33 Na terra não há coisa que se lhe possa comparar;
pois foi feito para estar sem pavor.
34 Ele vê tudo o que é alto; é rei sobre todos os
filhos da soberba.” (Jó 41)
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