Do
final do capítulo precedente ao início deste 20º de Números, há
um intervalo, um silêncio de cerca de 40 anos, correspondentes às peregrinações
dos israelitas no deserto, relatadas em Números 33,
sendo que o momento histórico e a condição geográfica deste capítulo vigésimo
estão registrados em Nm 33.36,37.
Aqui
se dá conta que eles haviam chegado ao deserto de Zim, tendo ficado em Cades,
onde morreu Miriã.
A
narrativa é retomada exatamente, a partir do mesmo local de onde eles tinham há
38 anos atrás partido para espiar a terra de Canaã, e receberam a sentença de
terem os seus cadáveres sepultados no deserto, em razão da incredulidade e
rebelião contra o Senhor, de não se dispuserem a conquistar a terra prometida
(Nm 13.25,26; Dt 1.19-27).
Foi
nesta ocasião que ocorreu uma nova contenda por causa da falta de água para o
povo beber, e esta foi chamada de águas de Meribá, e como já estudamos em Êxodo
17, esta palavra no hebraico significa provocação, contenda.
Aquela
nova geração havia aprendido do mau exemplo de seus pais a também murmurar, e
disto nos é dado conta nesta passagem.
Eis o
teor das palavras deles proferidas contra Moisés e Arão:
“Oxalá
tivéssemos perecido quando pereceram nossos irmãos perante o Senhor! Por que
trouxestes a congregação do Senhor a este deserto, para que morramos aqui, nós
e os nossos animais? E por que nos fizestes subir do Egito, para nos trazer a
este mau lugar? lugar onde não há semente, nem figos, nem vides, nem romãs, nem
mesmo água para beber.” (v. 3-5)
A
mesma graça miraculosa que o Senhor havia demonstrado a seus pais no princípio,
em Refidim, deixando de visitar as suas murmurações com juízos, seria agora
também manifestada a estes israelitas da geração que entraria em Canaã, e por
isso foi ordenado a Moisés, que lhes desse de beber da água que sairia da
rocha.
Entretanto,
Moisés não creu no Senhor e disse a eles o seguinte:
“Ouvi
agora, rebeldes! Porventura tiraremos água desta rocha para vós?” (v. 10)
Isto
lhe custou a proibição de não entrar em Canaã. A ele e a Arão que teve a mesma
reação diante do povo.
Isto
foi registrado para demonstrar que aquela nova geração de israelitas não era
melhor do que a anterior.
O
pecado atua na natureza terrena de todos os homens, e é somente por se
submeterem à graça de Deus que eles podem se tornar pessoas melhores.
Mas
havia uma pedra espiritual que os seguia como diz Paulo em I Cor 10.4:
”e
beberam todos da mesma bebida espiritual, porque bebiam da pedra espiritual que
os acompanhava; e a pedra era Cristo.”
A
graça de Cristo estava tipificada na água que saiu da rocha para dar de beber
aos israelitas e mantê-los em vida.
Moisés
e Arão pecaram gravemente quando tentaram impedir que esta graça fosse
manifestada ao povo pela vontade de Deus; transmitindo-lhes a falsa ideia de
que a graça e a misericórdia do Senhor estão somente disponíveis a quem não
esteja debaixo do pecado.
Rebeldes
não poderiam, segundo eles, pelo que demonstraram naquela ocasião, serem alvo
do favor de Deus e receberem água para terem vida.
Na
verdade, Deus dá de graça a água da vida a pecadores, que
a desejem e que nEle creiam.
O
povo, apesar da sua murmuração inicial, creu que Deus lhes daria água, fendendo
a rocha, tanto que se postaram diante dela em obediência ao que Ele havia
ordenado a Moisés, mas o próprio Moisés, não creu, naquela ocasião que o Senhor
o faria em face da rebeldia que havia sido manifestada por eles.
Assim,
foi proferido contra ele e Arão a seguinte sentença:
“Pelo
que o Senhor disse a Moisés e a Arão: Porquanto não me crestes a mim, para me
santificardes diante dos filhos de Israel, por isso não introduzireis esta
congregação na terra que lhes dei.” (v. 10)
Arão morreria não muito depois deste incidente
pela vontade do Senhor, para que não entrasse em Canaã:
“Arão
será recolhido a seu povo, porque não entrará na terra que dei aos filhos de
Israel, porquanto fostes rebeldes contra a minha palavra no tocante às águas de
Meribá.” (v. 24)
Moisés
viria a interceder junto ao Senhor para que lhe perdoasse e permitisse sua
entrada com o povo em Canaã, conforme se lê em Deuteronômio, mas o Senhor não
lho permitiu (Dt 3.23.-28)
Há
também referências sobre este incidente em Núm 27.12-14 e em
Deut 32.48-52.
Somente
Deus pode pesar os espíritos e saber o que está nos corações dos homens.
A
justa avaliação dos sentimentos daqueles israelitas cabia tão somente ao
Senhor, e Moisés falhou em não ter contemplado que havia muito mais de fruto
irrefletido dos lábios naquela ocasião, do que uma rebelião profundamente
arraigada ao coração, tanto que aquela geração não se negou a lutar em Canaã,
como a anterior.
Contudo,
independentemente de tudo, tanto ele quanto Arão não havia santificado ao
Senhor porque não manifestaram a Sua bondade para com o povo, na condição de
líderes e Seus representantes perante Israel.
A
graça, a bondade, a misericórdia, a fidelidade de Deus, em
cumprir as Suas promessas seria o que daria entrada ao povo na terra, e não
propriamente a liderança de Moisés e Arão, e por isso a proibição de entrarem
em Canaã deixaria isto ensinado claramente aos israelitas.
Eles
teriam que confiar no braço poderoso de Deus para conquistarem a terra
prometida, e não no grande líder que era Moisés.
Por
mais santos e dignos que sejam os nossos líderes, não é neles que deve repousar
a nossa fé, mas exclusivamente em Jesus, autor e consumador da mesma.
A
pedra espiritual que seguia Israel em suas jornadas nunca falhou, e
lhes deu de beber mesmo quando Moisés não creu no Senhor.
Para
distinguir que a ocasião desta contenda (Meribá), se
referia a uma ocasião diferente da havida em Refidim, relatada em Êxodo, é
chamada em Deut 32.51 de Cadesh Meribá, isto é, Meribá de
Cades, que era a localidade onde os israelitas se encontravam, prontos para
reiniciarem a jornada rumo à conquista de Canaã.
Aqui ficou marcado o contraste entre a condição do pecado que
opera permanentemente na carne com a misericórdia eterna de Deus, que é a causa
de não sermos consumidos.
Muitas
outras lições podem ser aprendidas deste incidente, como por exemplo, a
paciência que os ministros de Cristo devem ter com as ovelhas do Seu rebanho,
mesmo quando estas se encontram impacientes e queixosas, em
razão das suas provações e tribulações, mas importa prosseguir adiante com o
nosso estudo neste livro, em que encontramos numerosas lições para
o modo que devemos caminhar com Deus, em
nossa jornada rumo à Canaã celestial.
Tendo
rodeado várias vezes o monte de Seir, onde se situava a terra dos edomitas (Dt
2.1-3), Deus ordenou a Moisés que passasse pelos termos de Edom, sem no
entanto entrarem em guerra contra eles, porque havia dado a terra de Seir em
possessão aos descendentes de Esaú.
Então,
Moisés enviou de Cades uma embaixada ao rei de Edom (v. 14) solicitando passagem
pela sua terra, prometendo-lhe que não tocariam em nenhuma das propriedades dos
edomitas.
Entretanto,
recebeu uma resposta negativa e uma ameaça de que caso passasse pela sua terra, eles
saíram com espada contra Israel (v. 17, 18).
Os
israelitas renovaram o seu pedido dando inclusive garantias que caso bebessem
da água que havia em Seir eles pagariam o justo preço por ela.
Mais
uma vez receberam não apenas uma resposta negativa como também uma ação militar
que consistiu no deslocamento de tropas para protegerem as fronteiras de Edom
(v.20).
Esaú
havia odiado Jacó por causa da bênção, e agora o ódio estava sendo reavivado
quando a bênção estava prestes a ser herdada por Israel.
Os
israelitas se desviaram de Edom, conforme o mandado do
Senhor, e chegaram a Hor, onde o Ele
falou a Moisés e a Arão que este não entraria em Canaã e morreria naquele lugar
em razão da contenda de Meribá (v.23,24).
E,
ordenou a Moisés que subisse juntamente com Arão e Eleazar, seu filho, ao monte
Hor, onde Arão seria despido de suas vestes sacerdotais e Eleazar seria vestido
com elas.
Fizeram
isto aos olhos de toda a congregação, tendo Arão morrido no cume do monte, tão
logo suas vestes sacerdotais foram colocadas em Eleazar.
Arão
foi pranteado por Israel durante trinta dias.
Deus
havia ordenado que eles subissem o monte Hor para que Arão morresse, e isto à
vista de todo o povo, para que ficasse registrado que aquela morte era para uma
elevação, para uma promoção, e não para humilhação ou rebaixamento.
Arão
seria promovido à glória celestial.
Assim
se dá com a morte de todos os santos. Eles são promovidos à glória de Cristo.
A
remoção das vestes sacerdotais simbolizava o cumprimento cabal do ministério.
Se
este é cumprido segundo a vontade do Senhor já não há porque permanecermos
neste mundo.
Assim
como se referiu o apóstolo Paulo ao cumprimento do seu próprio ministério:
“Quanto
a mim, já estou sendo derramado como libação, e o tempo da minha partida está
próximo. Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a
coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele
dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda.” (II
Tim 4.6-8)
Moisés viria ainda a escrever o livro de
Deuteronômio, no último ano de sua vida, isto é, no quadragésimo ano desde a
saída dos israelitas do cativeiro egípcio, e este capítulo
nos dá conta que próximo de retomarem o curso das ações para entrarem em Canaã,
o Senhor tomou para si, provavelmente no mesmo ano, a Miriã e a Arão, e o
próprio Moisés seria também juntado a eles, não muito tempo depois, pois Miriã
morreu no primeiro mês, e Arão no quinto mês daquele ano, e Moisés depois do
décimo mês, como veremos adiante.
O
menino que havia sido livrado da morte e colocado num cesto de junco, e que foi
assistido pela sua corajosa irmã, e auxiliado por ela e por seu doce irmão
durante todo o tempo do seu ministério, haveria de se juntar na Canaã celestial
a eles, entrando no gozo e na glória do Seu Senhor, depois de terem cumprido
com toda a fidelidade o ministério que Deus lhes havia
designado.
“1 Os
filhos de Israel, a congregação toda, chegaram ao deserto de Zim no primeiro
mês, e o povo ficou em Cades. Ali morreu Miriã, e ali foi sepultada.
2
Ora, não havia água para a congregação; pelo que se ajuntaram contra Moisés e
Arão.
3 E o
povo contendeu com Moisés, dizendo: Oxalá tivéssemos perecido quando pereceram
nossos irmãos perante o Senhor!
4 Por
que trouxestes a congregação do Senhor a este deserto, para que morramos aqui,
nós e os nossos animais?
5 E
por que nos fizestes subir do Egito, para nos trazer a este mau lugar? lugar
onde não há semente, nem figos, nem vides, nem romãs, nem mesmo água para
beber.
6
Então Moisés e Arão se foram da presença da assembleia até
a porta da tenda da revelação, e se lançaram com o rosto em terra; e a glória
do Senhor lhes apareceu.
7 E o
Senhor disse a Moisés:
8
Toma a vara, e ajunta a congregação, tu e Arão, teu irmão, e falai à rocha
perante os seus olhos, que ela dê as suas águas. Assim lhes tirarás água da
rocha, e darás a beber à congregação e aos seus animais.
9
Moisés, pois, tomou a vara de diante do senhor, como este lhe ordenou.
10
Moisés e Arão reuniram a assembleia
diante da rocha, e Moisés disse-lhes: Ouvi agora, rebeldes! Porventura
tiraremos água desta rocha para vós?
11
Então Moisés levantou a mão, e feriu a rocha duas vezes com a sua vara, e saiu
água copiosamente, e a congregação bebeu, e os seus animais.
12
Pelo que o Senhor disse a Moisés e a Arão: Porquanto não me crestes a mim, para
me santificardes diante dos filhos de Israel, por isso não introduzireis esta
congregação na terra que lhes dei.
13
Estas são as águas de Meribá, porque ali os filhos de Israel contenderam com o
Senhor, que neles se santificou.
14 De
Cades, Moisés enviou mensageiros ao rei de Edom, dizendo: Assim diz teu irmão
Israel: Tu sabes todo o trabalho que nos tem sobrevindo;
15
como nossos pais desceram ao Egito, e nós no Egito habitamos muito tempo; e
como os egípcios nos maltrataram, a nós e a nossos pais;
16 e
quando clamamos ao Senhor, ele ouviu a nossa voz, e mandou um anjo, e nos tirou
do Egito; e eis que estamos em Cades, cidade na extremidade dos teus termos.
17
Deixa-nos, pois, passar pela tua terra; não passaremos pelos campos, nem pelas
vinhas, nem beberemos a água dos poços; iremos pela estrada real, não nos
desviando para a direita nem para a esquerda, até que tenhamos passado os teus
termos.
18
Respondeu-lhe Edom: Não passaras por mim, para que eu não saia com a espada ao
teu encontro.
19 Os
filhos de Israel lhe replicaram: Subiremos pela estrada real; e se bebermos das
tuas águas, eu e o meu gado, darei o preço delas; sob condição de eu nada mais
fazer, deixa-me somente passar a pé.
20
Edom, porém, respondeu: Não passarás. E saiu-lhe ao encontro com muita gente e
com mão forte.
21
Assim recusou Edom deixar Israel passar pelos seus termos; pelo que Israel se
desviou dele.
22
Então partiram de Cades; e os filhos de Israel, a congregação toda, chegaram ao
monte Hor.
23 E
falou o Senhor a Moisés e a Arão no monte Hor, nos termos da terra de Edom,
dizendo:
24
Arão será recolhido a seu povo, porque não entrará na terra que dei aos filhos
de Israel, porquanto fostes rebeldes contra a minha palavra no tocante às águas
de Meribá.
25
Toma a Arão e a Eleazar, seu filho, e faze-os subir ao monte Hor;
26 e
despe a Arão as suas vestes, e as veste a Eleazar, seu filho, porque Arão será
recolhido, e morrerá ali.
27
Fez, pois, Moisés como o Senhor lhe ordenara; e subiram ao monte Hor perante os
olhos de toda a congregação.
28
Moisés despiu a Arão as vestes, e as vestiu a Eleazar, seu filho; e morreu Arão
ali sobre o cume do monte; e Moisés e Eleazar desceram do monte.
29
Vendo, pois, toda a congregação que Arão era morto, chorou-o toda a casa de
Israel por trinta dias.” (Nm 20.1-29).
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