Nós vimos no final do comentário relativo ao
capítulo 19 de I Reis, que Deus havia determinado trazer um juízo de espada,
isto é de guerra, contra Israel, através de Hazael, quando este subisse ao
trono da Síria, então foi por sua própria conta e iniciativa que Ben-Hadade
invadiu Samaria coligado com 32 reis que se juntaram a ele (I Reis 20.1)
naquela empresa.
Deus não lhe havia incitado para exercer qualquer
juízo sobre os israelitas, mas confiando na força do exército que se encontrava
sob o seu comando invadiu Israel e enviou uma mensagem insolente a Acabe, para
que se rendesse a ele, pois estava se apoderando de tudo o que lhe pertencia,
inclusive mulheres e filhos, mostrando assim até que ponto esperava tornar
Israel um reino vassalo, não somente para pagar tributos, mas para ser usado
conforme fosse a conveniência da Síria.
Temendo um massacre Acabe concordou em se render a
Ben-Hadade, e o chamou de seu senhor e declarou que tudo quanto tinha pertencia
ao rei da Síria (I Reis 20.4).
Com isto, Ben-Hadade ficou de enviar uma embaixada
não para fins pacíficos, mas para efetuar um levantamento de tudo quanto fosse
achado de precioso em Israel, para que fosse tomado (v.6).
Vendo que Ben-Hadade estava de fato disposto a
tomar para si inclusive suas mulheres e filhos, Acabe consultou os anciãos de
Israel, e estes lhe aconselharam a não atender às condições impostas pelo rei
da Síria, e então Acabe mandou resposta pelos mensageiros de Ben-Hadade, que
aceitava ser seu vassalo, mas não permitindo aquela insolência de se apoderar
de tudo quanto o que quisesse em Israel (v. 9).
Com isto Ben-Hadade se enfureceu e enviou
mensageiros com um declaração formal de guerra, dizendo que reduziria a capital
de Israel, Samaria, a pó (v. 10).
Acabe mandou uma resposta ao rei da Síria dizendo
que ele não se gabasse enquanto não tivesse ainda deposto as armas, por ter
obtido vitória na guerra que pretendia empreender (v. 11).
Tão confiante estava Ben-Hadade na vitória que já a
estava comemorando bebendo em companhia dos reis que o acompanhavam em Samaria,
que ao ouvir a resposta que Acabe lhe enviara, ordenou a eles que se colocassem
em ordem de batalha contra a cidade de Samaria (v.12).
Mas o Senhor daria vitória a Acabe contra o rei da
Síria, não por causa da justiça de Acabe,
mas para vindicar a Sua própria justiça, e para castigar a afronta
insolente de Ben-Hadade.
Ele castigaria Acabe depois, pelas suas impiedades,
mas usaria o próprio Acabe agora para punir o rei da Síria.
Não seria então nem por amor de Acabe, nem por amor
de Israel que Ele o faria, mas por amor de Seu grande nome, e pela própria
maldade de Ben-Hadade.
E para que Acabe soubesse que aquela vitória seria
obtida por causa do Senhor, e não pela própria força dos israelitas, Ele lhe
enviou um profeta que disse a Acabe que Deus havia entregue o exército sírio na
sua mão. E de fato o exército de Israel impôs uma grande derrota aos sírios (v.
21).
Mas estes não se dariam por vencidos, e planejavam
se reorganizar e retornar a Israel dentro de um ano.
E o Senhor revelou através do mesmo profeta a Acabe
estas intenções dos sírios, de modo que ele se preparasse para esta nova
investida.
E como os sírios justificaram a derrota anterior
alegando que tinham lutado no monte de Samaria contra Israel, e que o Deus
deles era somente dos montes e não dos vales, então lutariam desta vez na
planície e o Deus de Israel seria vencido pelos seus deuses.
Com esta declaração, assinaram a sua derrota,
porque provocaram o Senhor a zelos (v. 28).
Os sírios perderam 100.000 homens de infantaria na
batalha (v. 29), e os que restaram
fugiram para a cidade de Afeque, mas o muro da cidade caiu sobre eles e
morreram 27.000 homens.
Ben-Hadade conseguiu escapar e entrando na cidade
se escondeu numa câmara (v.30) e foi aconselhado pelos seus servos a implorar
pela misericórdia de Acabe, humilhando-se perante ele com saco e cordas ao
pescoço.
E indo os seus servos ter com o rei de Israel, este
em vez de matar o rei da Síria, alegrou-se em saber que ele ainda estava vivo e
o chamou de irmão (v. 32), certamente pensando em contar com um possível favor
da Síria no futuro, em reconhecimento desta sua atitude.
Ele agiu politicamente para evitar futuros
conflitos, e assim, não ter mais que se expor à morte no campo de batalha.
Entretanto, em vez de confiar no Senhor, confiou
nos seus inimigos.
Em vez de se arrepender dos seus pecados pelos
livramentos que Deus havia operado em Israel, continuou em sua idolatria, assim
como o povo de Israel.
A honra que
Acabe havia negado a Elias deixando-o correr adiante do seu carro, quando vinha
do Carmelo para Jizreel, ele a concedeu a Ben-Hadade, pedindo que este viesse
ter com ele, e o honrou fazendo-o subir no seu carro, como que a mostrar
publicamente que ele seria dali por diante o seu aliado (v. 33).
Pensando somente em livrar seu próprio pescoço
Ben-Hadade enganou Acabe, dizendo que lhe restituiria inclusive as cidades que
o seu pai havia tomado de Onri, pai de Acabe, e que ele poderia fazer praças em
sua honra na capital da Síria, Damasco, assim como o pai de Ben-Hadade havia
feito em Samaria (v. 34).
E lisonjeado por estas palavras Acabe o deixou ir
livremente para a Síria.
Em razão disso, um dos filhos dos profetas pediu ao
seu amigo que o ferisse, e ele lhe pediu
pela palavra do Senhor que veio a ele e ordenou que fizesse isto.
Contudo, o amigo se recusou a feri-lo (v. 35) tal
como Acabe havia se recusado a ferir Ben-Hadade, contrariando aquilo que o
Senhor havia ordenado, pois dissera a Acabe que o entregara nas suas mãos para
ser morto.
E o que pediu para ser ferido disse a seu amigo que
assim como ele havia desobedecido a voz do Senhor, quando ele se afastasse
dele, seria morto por um leão, e isto de fato ocorreu (v. 36).
Estava de igual modo assinalada a sentença de
Acabe, por ter se recusado a ferir aquele a quem o Senhor havia entregue nas
suas mãos.
A atitude de Acabe havia ferido ao Senhor, e por
isso o profeta não desistiria de cumprir o que lhe havia sido ordenado por
Deus, até que alguém o ferisse, e por isso ele se voltou a um outro homem e lhe
pediu para que o ferisse e este o fez (v. 37).
E foi sentindo em seu corpo a dor que o Senhor
estava sentindo em seu coração por aquele duro golpe que Acabe lhe desferira,
que o profeta foi ter com o rei de Israel e encontrando-o lhe contou uma
estória na qual o próprio profeta seria supostamente o protagonista, que
estando no campo de batalha, foi-lhe ordenado que guardasse um dos inimigos, e
que caso falhasse na missão que lhe fora dada ele responderia com a sua própria
vida, ou então pagaria um talento de prata, e tendo ele se descuidado, deixou
fugir o homem que lhe fora confiado.
Ao que Acabe se adiantou em dizer que ele havia
proferido a sua própria sentença contra si mesmo.
E este tirando o disfarce viu Acabe que era um dos
profetas, possivelmente Micaías, que lhe disse o seguinte:
“Assim diz o Senhor: Porquanto deixaste escapar da
mão o homem que eu havia posto para destruição, a tua vida responderá pela sua
vida, e o teu povo pelo seu povo.” (v. 39 a 42).
E de fato isto veio a suceder a Acabe na peleja que
viria a travar contra os siros, e na qual Ben-Hadade ordenou a seus soldados
que se ocupassem somente em matar Acabe (22.35), e a palavra contra os
israelitas teria o seu cumprimento posteriormente, nos dias em que Hazael
reinava sobre a Síria (II Rs 10.32,33), conforme o Senhor havia predito a Elias
no Horebe, quando lhe enviou a ungir Hazael como o futuro rei da Síria.
Nem com tudo isto Acabe se arrependeu, e em vez
disso se diz apenas que ele retornou para Samaria desgostoso e indignado
(v.43).
Indignação esta que ele revelaria ter contra os
profetas do Senhor, e em especial contra Micaías, conforme viria a declarar ao
rei Josafá, posteriormente, quando se aliançou com ele para lutar contra os
sírios, o que veremos no comentário relativo ao capítulo 22.
“1 Ora, Ben-Hadade, rei da Síria, ajuntou todo o
seu exército; e havia com ele trinta e dois reis, e cavalos e carros. Então
subiu, cercou a Samaria, e pelejou contra ela.
2 E enviou à cidade mensageiros a Acabe, rei de
Israel, a dizer-lhe: Assim diz: Ben-Hadade:
3 A tua prata e o teu ouro são meus; e também, das
tuas mulheres e dos teus filhos, os melhores são meus.
4 Ao que respondeu o rei de Israel, dizendo: Conforme
a tua palavra, ó rei meu senhor, sou teu, com tudo quanto tenho.
5 Tornaram a vir os mensageiros, e disseram: Assim
fala Ben-Hadade, dizendo: Enviei-te, na verdade, mensageiros que dissessem: Tu
me hás de entregar a tua prata e o teu ouro, as tuas mulheres e os teus filhos;
6 todavia amanhã a estas horas te enviarei os meus
servos, os quais esquadrinharão a tua casa, e as casas dos teus servos; e há de
ser que tudo o que de precioso tiveres, eles tomarão consigo e o levarão.
7 Então o rei de Israel chamou todos os anciãos da
terra, e disse: Notai agora, e vede como esse homem procura o mal; pois mandou
pedir-me as minhas mulheres, os meus filhos, a minha prata e o meu ouro, e não
os neguei.
8 Responderam-lhe todos os anciãos e todo o povo:
Não lhe dês ouvidos, nem consintas.
9 Pelo que disse aos mensageiros de Ben-Hadade:
Dizei ao rei, meu senhor: Tudo o que a princípio mandaste pedir a teu servo,
farei; porém isto não posso fazer. Voltaram os mensageiros, e lhe levaram a
resposta.
10 Tornou Ben-Hadade a enviar-lhe mensageiros, e
disse: Assim me façam os deuses, e outro tanto, se o pó de Samaria bastar para
encher as mãos de todo o povo que me segue.
11 O rei de Israel, porém, respondeu: Dizei-lhe:
Não se gabe quem se cinge das armas como aquele que as depõe.
12 E sucedeu que, ouvindo ele esta palavra, estando
a beber com os reis nas tendas, disse aos seus servos: Ponde-vos em ordem. E
eles se puseram em ordem contra a cidade.
13 E eis que um profeta, chegando-se a Acabe, rei
de Israel, lhe disse: Assim diz o Senhor: Viste toda esta grande multidão eis
que hoje te entregarei nas mãos, e saberás que eu sou o Senhor.
14 Perguntou Acabe: Por quem? Respondeu ele: Assim
diz o Senhor: Pelos moços dos chefes das províncias. Ainda perguntou Acabe:
Quem começará a peleja? Respondeu ele: Tu.
15 Então contou os moços dos chefes das províncias,
e eram duzentos e trinta e dois; e depois deles contou todo o povo, a saber,
todos os filhos de Israel, e eram sete mil.
16 Saíram, pois, ao meio-dia. Ben-Hadade, porém,
estava bebendo e se embriagando nas tendas, com os reis, os trinta e dois reis
que o ajudavam.
17 E os moços dos chefes das províncias saíram
primeiro; e Ben-Hadade enviou espias, que lhe deram aviso, dizendo: Saíram de
Samaria uns homens.
18 Ao que ele disse: Quer venham eles tratar de
paz, quer venham à peleja, tomai-os vivos.
19 Saíram, pois, da cidade os moços dos chefes das
províncias, e o exército que os seguia.
20 E eles mataram cada um o seu adversário. Então
os sírios fugiram, e Israel os perseguiu; mas Ben-Hadade, rei da Síria, escapou
a cavalo, com alguns cavaleiros.
21 E saindo o rei de Israel, destruiu os cavalos e
os carros, e infligiu aos sírios grande derrota.
22 Então o profeta chegou-se ao rei de Israel e lhe
disse: Vai, fortalece-te; atenta bem para o que hás de fazer; porque decorrido
um ano, o rei da Síria subirá contra ti.
23 Os servos do rei da Síria lhe disseram: Seus
deuses são deuses dos montes, por isso eles foram mais fortes do que nós; mas
pelejemos com eles na planície, e por certo prevaleceremos contra eles.
24 Faze, pois, isto: tira os reis, cada um do seu
lugar, e substitui-os por capitães;
25 arregimenta outro exército, igual ao exército
que perdeste, cavalo por cavalo, e carro por carro; pelejemos com eles na
planície, e por certo prevaleceremos contra eles. Ele deu ouvidos ao que
disseram, e assim fez.
26 Passado um ano, Ben-Hadade arregimentou os
sírios, e subiu a Afeque, para pelejar contra Israel.
27 Também os filhos de Israel foram arregimentados
e, providos de víveres, marcharam contra eles. E os filhos de Israel
acamparam-se defronte deles, como dois pequenos rebanhos de cabras; mas os
sírios enchiam a terra.
28 Nisso chegou o homem de Deus, e disse ao rei de
Israel: Assim diz o Senhor: Porquanto os sírios disseram: O Senhor é Deus dos
montes, e não Deus dos vales, entregarei nas tuas mãos toda esta grande
multidão, e saberás que eu sou o Senhor.
29 Assim, pois, estiveram acampados sete dias, uns
defronte dos outros. Ao sétimo dia a peleja começou, e num só dia os filhos de
Israel mataram dos sírios cem mil homens da infantaria.
30 E os restantes fugiram para Afeque, e entraram
na cidade; e caiu o muro sobre vinte e sete mil homens que restavam.
Ben-Hadade, porém, fugiu, e veio à cidade, onde se meteu numa câmara interior.
31 Disseram-lhe os seus servos: Eis que temos
ouvido dizer que os reis da casa de Israel são reis clementes; ponhamos, pois,
sacos aos lombos, e cordas aos pescoços, e saiamos ao rei de Israel; pode ser
que ele te poupe a vida.
32 Então cingiram sacos aos lombos e cordas aos
pescoços e, indo ter com o rei de Israel, disseram-lhe: Diz o teu servo
Ben-Hadade: Deixa-me viver, rogo-te. Ao que disse Acabe: Pois ainda vive? É meu
irmão.
33 Aqueles homens, tomando isto por bom presságio,
apressaram-se em apanhar a sua palavra, e disseram: Ben-Hadade é teu irmão!
Respondeu-lhes ele: Ide, trazei-me. Veio, pois, Ben-Hadade à presença de Acabe;
e este o fez subir ao carro.
34 Então lhe disse Ben-Hadade: Eu te restituirei as
cidades que meu pai tomou a teu pai; e farás para ti praças em Damasco, como
meu pai as fez em Samaria. E eu, respondeu Acabe, com esta aliança te deixarei
ir. E fez com ele aliança e o deixou ir.
35 Ora, certo homem dentre os filhos dos profetas
disse ao seu companheiro, pela palavra do Senhor: Fere-me, peço-te. Mas o homem
recusou feri-lo.
36 Pelo que ele lhe disse: Porquanto não obedeceste
à voz do Senhor, eis que, em te apartando de mim, um leão te matará. E logo que
se apartou dele um leão o encontrou e o matou.
37 Depois o profeta encontrou outro homem, e
disse-lhe: Fere-me, peço-te. E aquele homem deu nele e o feriu.
38 Então foi o profeta, pôs-se a esperar e rei no
caminho, e disfarçou-se, cobrindo os olhos com o seu turbante.
39 E passando o rei, clamou ele ao rei, dizendo:
Teu servo estava no meio da peleja; e eis que um homem, voltando-se, me trouxe
um outro, e disse: Guarda-me este homem; se ele de qualquer maneira vier a
faltar, a tua vida responderá pela vida dele, ou então pagarás um talento de
prata.
40 E estando o teu servo ocupado de uma e de outra
parte, eis que o homem desapareceu. Ao que lhe respondeu o rei de Israel: Esta
é a tua sentença; tu mesmo a pronunciaste.
41 Então ele se apressou, e tirou o turbante de
sobre os seus olhos; e o rei de Israel o reconheceu, que era um dos profetas.
42 E disse ele ao rei: Assim diz o Senhor:
Porquanto deixaste escapar da mão o homem que eu havia posto para destruição, a
tua vida responderá pela sua vida, e o teu povo pelo seu povo.
43 E o rei de Israel seguiu para sua casa,
desgostoso e indignado, e veio a Samaria.” (I Rs 20.1-43).
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