O quinto capítulo de Juízes contém a canção
triunfal que foi composta e cantada, na ocasião da vitória gloriosa que Israel
obteve sobre as forças do rei Jabim de Canaã, e as consequências felizes daquela
vitória.
Toda vez que é realmente o Senhor quem nos conduz
em vitória sobre o inimigo, e quando podemos, pelo Seu poder e graça que nos
são concedidos, quando clamamos a Ele por socorro e livramento, esmagar a
cabeça da serpente, então a consequência disto sempre será sermos movidos pelo
Espírito Santo a entoarmos cânticos de louvor e gratidão a Deus com grande
alegria espiritual em nossos corações.
Esta é uma lei do mundo espiritual que nunca falha,
porque nisto o Senhor é muito exaltado e glorificado, e Ele sempre o fará para
testificação espiritual que foi o Seu forte braço que nos trouxe livramento,
fazendo-nos triunfar sobre as forças do inimigo, que dantes nos oprimiam e
amedrontavam, e que agora, pelo poderoso livramento operado por Deus se tornam
como poderes inteiramente subjugados aos nossos pés. E isto traz descanso, paz
e regozijo à alma. E a graça de Jesus se torna para nós como o fruto mais doce
e valioso que nos satisfaz completamente, ao ponto de não necessitarmos de
coisa alguma. E foi exatamente isto que os israelitas experimentaram depois de
o Senhor ter subjugado as forças do inimigo diante deles, ao mesmo tempo que se
tornava de novo favorável a Seu povo restaurando a comunhão com Ele e de uns
com os outros.
Não pode haver sossego e paz num espírito
verdadeiramente temente a Deus enquanto a força do inimigo prevalece sobre o
seu povo, e será sempre pelo clamor por misericórdia e livramento destes, e
pela tristeza e pesar em seus espíritos por não estarem vendo os planos de Deus
prosperando por meio da igreja, que a mão do Senhor se moverá para restaurar
todas as coisas, pelo derramar do Seu Espírito e da Sua graça sobre o Seu povo.
E o cristão não pode respirar espiritualmente e experimentar a verdadeira vida
celestial sem ter a aprovação e aceitação de Deus. Se a presença do Senhor não
vai conosco o resultado imediato disto é que ficaremos à mercê dos nossos
inimigos espirituais, e estaremos enfraquecidos diante deles e temeremos a sua
força intimidadora, tal como os israelitas se sentiam diante dos carros de
ferro dos cananeus. Mas uma vez retornando ao favor do Senhor, a situação se
inverte, e nos tornamos fortes pela graça e podemos contemplar espiritualmente
quão fracos e impotentes os nossos inimigos se tornam na presença de Deus quando
Ele está pelejando por nós. Vale ou não a pena, portanto, sempre clamar e se
arrepender do pecado para que possamos ter Deus agindo como nosso amigo e
repreendendo todos aqueles que se levantam contra nós? Qual é o sentido que há
na vida quando a presença do Senhor já não segue conosco por causa dos nossos
pecados?
Quando entenderemos que é um dever orar pelos
nossos líderes para que o Senhor os guarde do mal e da desgraça de não honrarem
a Deus se aliançando com as coisas que são do mundo? A nossa bênção passa por
eles porque somos de fato um só corpo. E o diabo sempre procurará
neutralizá-los, para que em vez de prevalecermos sobre ele, ele possa
prevalecer sobre nós. Josué enquanto vivia conduzia Israel nos caminhos do
Senhor e o resultado é que todos eram
abençoados. Mas tendo morrido Josué, necessário se fazia que se levantassem
outros líderes que honrassem ao Senhor como ele o fizera, tal como Otniel,
Eúde, Débora e outros, para que conduzindo o povo pelo caminho de Deus, e
levando-os ao arrependimento e à decisão de não se misturarem com os incrédulos
praticando as suas obras, pudessem de novo experimentar as bênçãos do Senhor. O
mesmo ocorre com a igreja, porque importa que aqueles que têm sido levantados
por Deus para liderarem o Seu povo, sejam achados honrando-O e à Sua Palavra
para que todo o povo sobre o qual foram constituídos pela vontade do Senhor
possa ser de fato abençoado por Ele.
Débora havia julgado os israelitas a caminharem na
presença de Deus guardando os Seus mandamentos, e o resultado dela ter honrado ao Senhor de tal maneira foi o
estarem experimentando a grande bênção da vitória sobre todos os seus inimigos,
e sentirem a grande alegria que os levou a entoar este cântico triunfal de
louvor que encontramos registrado neste capítulo.
“Está aflito alguém entre vós? Ore. Está alguém
contente? Cante louvores.” (Tg 5.13). Se está havendo aflição devemos orar com
fé pedindo a bênção do Senhor. E quando esta vier e nos alegrar, devemos cantar
louvores, e não o faremos certamente somente porque somos obrigados a isto, mas
porque o Espírito Santo se moverá em nós conduzindo-nos neste sentido.
A própria Débora, inspirada pelo Espírito Santo,
compôs esta canção, conforme se pode inferir do verso 7.
O propósito da canção é dar glória a Deus e
louvá-lo pela vitória sobre os Seus inimigos, vingando Israel dos seus
opressores cruéis e orgulhosos.
Mas o cântico não generaliza os louvores a todas as
tribos de Israel, pois aqueles que subiram à batalha, os que clamaram a Deus
por livramento e que choraram a condição em que o povo de Deus se encontrava
debaixo da opressão dos seus inimigos são os que são convocados a se alegrarem
no Senhor e a louvá-lo pelos seus grandes feitos, quer grandes ou pequenos,
conforme apresentados no cântico como aqueles que cavalgavam sobre jumentas
brancas, que se assentavam sobre ricos tapetes - grandes; e aqueles que andavam
pelo caminho.- pequenos (v. 10).
De igual modo todos os que estão compromissados com
Deus e que não fogem da batalha que têm que travar contra os poderes das trevas
para que a causa de Cristo triunfe sobre a terra, sejam grandes ou pequenos,
são chamados a louvar ao Senhor pelos seus grandes livramentos, porque eles têm
efetivamente participação nisto, porque foi pelo esforço deles em oração e pela
contrição de seus espíritos e empenho no serviço do Senhor que a Sua boa mão se
mostrou favorável para com eles. Mas de fato, todos aqueles que preferem o
conforto pelo temor da dificuldade e que ficam impedidos de cumprir o seu dever
para com Deus, e que não se preocupam com a Sua honra, que direito têm de
participar dos seus louvores, e que sinceridade haveria nisto se o fizessem?
Seus espíritos egoístas e estreitos não se preocupam com os interesses da
igreja do Senhor, e assim eles não têm outro interesse senão no dinheiro e
naquilo que é do próprio interesse deles (Fp 2.21). E nisto são diferentes das
tribos de Naftali e Zebulom, que nos dias de Débora foram os que efetivamente
participaram da batalha contra os cananeus (v. 18). Rúben não fez mais do que
se entregar a muitas cogitações, especialmente entre os seus príncipes que se
dividiram ao considerar as vantagens e desvantagens em se empenharem na
batalha, e prevaleceu a decisão final de não colaborarem, e isto trouxe muita
tristeza àqueles que eram de opinião contrária (v. 15b,16). Divisões no corpo
de Cristo sempre conduzirão a um impedimento de se servir a Deus, porque o
Espírito não opera num corpo onde não haja unidade.
Então Deus dá prosseguimento à Sua obra usando
aqueles que têm real compromisso com ele, e deixa entregue às muitas resoluções
da própria cabeça àqueles que ficam na igreja cuidando apenas de fazer planos e
avaliações estratégicas de como alcançar os perdidos e que são incapazes de
produzir um só ato prático neste sentido.
Dã e Aser seguiram o exemplo de Rúben (v. 17). Dã
se desculpou porque tinha que cuidar dos seus portos e navios e de manter suas
relações comerciais em andamento, e não prejudicar os seus negócios com os
riscos de uma guerra. E nada sabiam de que Deus mesmo pelejaria por Israel e
destruiria o exército dos cananeus. A ordem foi clara e direta para que de
Naftali e Zebulom se recrutassem dez mil homens e que eles deveriam subir o
monte Tabor porque o exército de Sísera seria atraído pelo Senhor para junto do
rio Quisom, onde ele os subjugaria numa grande inundação. Não há portanto
nenhuma desculpa para que não nos empenhemos nas guerras do Senhor, porque
quando nos dispomos a isto é sempre Ele quem pelejará por nós.
Os merozitas, habitantes de Meroz,
possivelmente uma das cidades israelitas que ficavam próximas do front de
batalha, não quiseram se envolver e por isso foram amaldiçoados por Deus,
porque não vieram em socorro do Senhor e dos seus valentes (v. 23). Rúben,
Gade, Gileade e Aser não se envolveram,
porém não foram amaldiçoados como Meroz! O Senhor não precisava da ajuda
deles, e fez o Seu trabalho sem eles, mas marcou Meroz com uma maldição porque
decidiram certamente se manter neutros para não contrariarem tanto os
israelitas, quanto aos cananeus sob cuja dominação se encontravam. Temendo
sofrer represálias futuras da parte deles caso os cananeus saíssem vencedores
na guerra, decidiram por aquilo que parece ser indubitável e politicamente o
mais seguro e correto, a saber a neutralidade. Só que Deus nunca admitirá
neutralidade, especialmente da parte do Seu povo, no que tange a fazer a Sua
vontade. Então eles fizeram a pior opção que poderiam fazer porque isto lhes
trouxe uma maldição da parte de Deus que foi proferida pelo anjo da aliança, a
saber, pelo príncipe do exército do Senhor que vinha acompanhando Israel desde
a saída deles do Egito. E tal foi o cumprimento da maldição sobre os israelitas
daquela cidade que desejando segurança acabaram por encontrar a sua própria
destruição, porque deste ponto em diante nunca mais se ouviu falar na cidade de
Meroz como sendo uma das cidades israelitas. Tal como a figueira que Jesus
amaldiçoou e secou, eles também secaram com a maldição que o Senhor pronunciou
contra eles.
E assim são descritas no cântico de Débora as
manifestações de regozijo e congratulações com aqueles que se dispuseram a se
empenhar na batalha contra os cananeus, e uma nota de lamento e tristeza e até
mesmo de maldição contra aqueles que se recusaram a ajudar as tribos que lutaram.
Isto que ocorreu com Israel também se dá em relação à igreja, porque o Israel
de Deus é um só corpo formado por muitos membros, e com eles sucede o que está
registrado em I Cor 12.24-26: “Mas Deus assim formou o corpo, dando muito mais
honra ao que tinha falta dela, para que não haja divisão no corpo, mas que os
membros tenham igual cuidado uns dos outros. De maneira que, se um membro
padece, todos os membros padecem com ele; e, se um membro é honrado, todos os
membros se regozijam com ele.”. E onde destacamos o que se afirma no verso 26
que o padecimento de um membro é na verdade o padecimento de todos, e o mesmo
se dá em relação à alegria. Isto decorre do fato de o Espírito Santo se mover
em nós fazendo-nos sentir como de fato somos, parte integrantes de um só corpo
espiritual. E assim o fracasso de um membro, especialmente em razão do pecado é
como se fosse o fracasso de toda a igreja, em razão desta vinculação de uns com
os outros que foi estabelecida por Deus, e o sucesso de um membro que traz honra
e glória para o nome de Deus produz realmente alegria, pelo Espírito, no
coração de todos os cristãos, porque aquele triunfo é tido como sendo o triunfo
de toda a igreja. É por isso que é ordenado aos cristãos que se exortem
mutuamente, em face desta responsabilidade mútua de uns para com os outros.
Este evangelho de mídia, sem uma igreja definida, sem compromisso mútuo entre
os seus membros, desfigura e depõe totalmente contra o desígnio de Deus para a
sua igreja.
“1 Então cantaram Débora e Baraque, filho de
Abinoão, naquele dia, dizendo:
2 Porquanto os chefes se puseram à frente em
Israel, porquanto o povo se ofereceu voluntariamente, louvai ao Senhor.
3 Ouvi, ó reis; dai ouvidos, ó príncipes! eu
cantarei ao Senhor, salmodiarei ao Senhor Deus de Israel.
4 Ó Senhor, quando saíste de Seir, quando
caminhaste desde o campo de Edom, a terra estremeceu, os céus gotejaram, sim,
as nuvens gotejaram águas.
5 Os montes se abalaram diante do Senhor, e até
Sinai, diante do Senhor Deus de Israel.
6 Nos dias de Sangar, filho de Anate, nos dias de
Jael, cessaram as caravanas; e os que viajavam iam por atalhos desviados.
7 Cessaram as aldeias em Israel, cessaram; até que
eu Débora, me levantei, até que eu me levantei por mãe em Israel.
8 Escolheram deuses novos; logo a guerra estava às
portas; via-se porventura escudo ou lança entre quarenta mil em Israel?
9 Meu coração inclina-se para os guias de Israel,
que voluntariamente se ofereceram entre o povo. Bendizei ao Senhor.
10 Louvai-o vós, os que cavalgais sobre jumentas
brancas, que vos assentais sobre ricos tapetes; e vós, que andais pelo caminho.
11 Onde se ouve o estrondo dos flecheiros, entre os
lugares onde se tiram águas, ali falarão das justiças do Senhor, das justiças
que fez às suas aldeias em Israel; então o povo do Senhor descia às portas.
12 Desperta, desperta, Débora; desperta, desperta,
entoa um cântico; levanta-te, Baraque, e leva em cativeiro os teus
prisioneiros, tu, filho de Abinoão.
13 Então desceu o restante dos nobres e do povo;
desceu o Senhor por mim contra os poderosos.
14 De Efraim desceram os que tinham a sua raiz em
Amaleque, após ti, Benjamim, entre os teus povos; de Maquir desceram os guias,
e de Zebulom os que levam o báculo do inspetor de tropas.
15 Também os príncipes de Issacar estavam com
Débora; e como Issacar, assim também Baraque; ao vale precipitaram-se em suas
pegadas. Junto aos ribeiros de Rúben grandes foram as resoluções do coração.
16 Por que ficastes entre os currais a escutar os
balidos dos rebanhos? Junto aos ribeiros de Rúben grandes foram as resoluções
do coração.
17 Gileade ficou da banda dalém do Jordão; e Dã,
por que se deteve com seus navios? Aser se assentou na costa do mar e ficou
junto aos seus portos.
18 Zebulom é um povo que se expôs à morte, como
também Naftali, nas alturas do campo.
19 Vieram reis e pelejaram; pelejaram os reis de
Canaã, em Taanaque junto às águas de Megido; não tomaram despojo de prata.
20 Desde os céus pelejaram as estrelas; desde as
suas órbitas pelejaram contra Sísera.
21 O ribeiro de Quisom os arrastou, aquele antigo
ribeiro, o ribeiro de Quisom. Ó minha alma, calcaste aos pés a força.
22 Então os cascos dos cavalos feriram a terra na
fuga precipitada dos seus valentes.
23 Amaldiçoai a Meroz, diz o anjo do Senhor,
amaldiçoai acremente aos seus habitantes; porquanto não vieram em socorro do
Senhor, em socorro do Senhor, entre os valentes.
24 Bendita entre todas as mulheres será Jael,
mulher de Heber, o queneu; bendita será entre as mulheres nômades.
25 Água pediu ele, leite lhe deu ela; em taça de
príncipes lhe ofereceu coalhada.
26 À estaca estendeu a mão esquerda, e ao martelo
dos trabalhadores a direita, e matou a Sísera, rachando-lhe a cabeça; furou e
traspassou-lhe as fontes.
27 Aos pés dela ele se encurvou, caiu, ficou
estirado; aos pés dela se encurvou, caiu; onde se encurvou, ali caiu morto.
28 A mãe de Sísera olhando pela janela, através da
grade exclamava: Por que tarda em vir o seu carro? por que se demora o rumor
das suas carruagens?
29 As mais sábias das suas damas responderam, e ela
respondia a si mesma:
30 Não estão, porventura, achando e repartindo os
despojos? uma ou duas donzelas a cada homem? para Sísera despojos de estofos
tintos, despojos de estofos tintos bordados, bordados de várias cores, para o
meu pescoço?
31 Assim ó Senhor, pereçam todos os teus inimigos!
Sejam, porém, os que te amam, como o sol quando se levanta na sua força.
32 E a terra teve sossego por quarenta anos.” (Jz
5.1-32).
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