No
terceiro capítulo de Levítico são descritos os chamados
sacrifícios pacíficos, isto é, aqueles que não eram oferecidos para expiação do
pecado, mas para celebrar a paz com Deus.
Estes
sacrifícios representavam a paz com Deus resultante da expiação da culpa
realizada pelo sacrifício pelo pecado.
Podemos
ver o cumprimento disto em Rom 5.1 onde se diz que, “Justificados,
pois, mediante a fé, temos paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus
Cristo.”
O
caráter desta paz não é meramente psicológico, mas objetivo e espiritual,
porque é por meio do sacrifício de Jesus, que
os cristãos são livrados da ira de Deus.
A
guerra que o Senhor tinha contra eles, e eles contra Deus,
acabou no momento em que eles creram nEle, por terem sido redimidos de seus
pecados pela oferta, que Ele fez de Si mesmo.
Como
esta paz foi obtida por meio do sacrifício do Senhor, então se ordenava em
figura na Lei, que todo aquele que apresentasse uma oferta para expiar a culpa
do pecado, também apresentasse uma oferta para celebrar a paz com Deus, que era
decorrente também de um sacrifício.
Isto
ensinva em figura que o propósito do sacrifício de Jesus é o de nos reconcliar
com Deus, para que tenhamos paz com Ele, uma vez tendo sido justificados pelo
sangue do Seu sacrifício.
Por
isso, as ofertas pacíficas eram em substância constituídas de sacrifícios
sangrentos, pois que também apontam para o sacrifício de Jesus, pois, como já
dissemos é somente por meio dEle que podemos ter paz verdadeira e eterna com
Deus.
Esta
paz fala de reconciliação do pecador com Deus, e isto é feito por meio do
sacrifício de Jesus.
Assim,
em linhas gerais, estes sacrifícios seguem as mesmas prescrições relativas ao
holocausto para a expiação do pecado, descrito no primeiro capítulo, sendo
diferentes basicamente, como já nos referimos, quanto à sua finalidade.
Daqui
aprendemos que o sacrifício de Jesus não somente remove a culpa do pecado, como
também promove a nossa reconciliação e paz com Deus.
No
Antigo Testamento a expiação era feita por uma oferta, e a paz por outra,
entretanto, Jesus fez ambas as coisas com uma única oferta (Hb 10.14).
Nestes
sacrifícios de paz é enfatizada a queima sobre o altar da gordura que envolvia
as entranhas e demais órgãos internos do animal (3.3,4, 9,10, 14,15), e no
verso 16 se afirma expressamente que:
“Toda
gordura será do Senhor.”
No
verso 17 se faz uma proibição expressa de não se comer nenhuma gordura nem
sangue em Israel.
Cabe
destacar que os pagãos bebiam o sangue dos sacrifícios que apresentavam aos
seus deuses, e por isso o Senhor estabeleceu também nisso um claro contraste
entre os sacrifícios que Lhe seriam apresentados no tabernáculo, e
aqueles que eram oferecidos aos demônios e por inspiração destes.
Assim,
além de um ensinamento de caráter prático e sanitário, de se proibir a ingestão
de gordura e sangue, que hoje, mais do que nunca, sabe-se ser prejudicial à
saúde física, certamente foi do propósito de Deus também ensinar sobre
realidades espirituais, neste aspecto relativo à gordura, que
não podemos alcançar em toda a sua plenitude, porque, como se afirma, a lei,
especialmente a cerimonial, era uma sombra e figura das realidades que se
cumpriram em Cristo.
Há
particularmente aqui esta obscuridade quanto a não termos uma revelação direta
na lei, do significado daquelas coisas que foram reveladas clara e diretamente
por Cristo.
Entretanto,
não há qualquer dúvida, já que estes sacrifícios eram apresentados para
celebrar a amizade com Deus, especialmente a gratidão a Ele pela expiação do
pecado, ou por obtenção de bênçãos especiais da Sua parte, podemos inferir, por
tudo o que podemos explicar com o contexto das próprias Escrituras, que a
referência a esta gordura a ser queimada para o Senhor, era uma figura da
prosperidade e bênçãos recebidas dEle, conforme depreendemos de textos como os
a seguir:
Gên
4.4: “Abel também trouxe dos primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura.
Ora, atentou o Senhor para Abel e para a sua oferta,”.
Êx
23.18: “Não oferecerás o sangue do meu sacrifício com pão levedado, nem ficará
da noite para a manhã a gordura da minha festa.”.
Sl
36.8: “8 Eles se fartarão da gordura da tua casa, e os farás beber da corrente
das tuas delícias;”.
Sl
63.5: “A minha alma se farta, como de tutano e de gordura; e a minha boca te
louva com alegres lábios.”.
Jer
31.14: “E saciarei de gordura a alma dos sacerdotes, e o meu povo se fartará
dos meus bens, diz o Senhor.”.
Assim,
apesar de fazer mal à saúde em si mesma, a gordura dos animais era o símbolo da
prosperidade da nação de Israel, e do cuidado de Deus para
com ela, porque animais magros são sinônimo de penúria, enquanto animais gordos
são sinônimo de bons pastos.
Trazendo
isto então para os homens, a gordura como figura era símbolo da prosperidade e
das bênçãos do Senhor sobre as suas vidas, não permitindo que a sua terra fosse
improdutiva e sem abundância de água, de modo que isto era refletido no gado
que possuíam, que era gordo em vez de magro.
Então
a queima da gordura daqueles animais, especialmente nos sacrifícios pacíficos,
indicava que prosperidade é sinônimo de paz com Deus, de comunhão com Ele, de
obediência à Sua vontade.
E que
esta prosperidade que alcançamos nEle deve ser-lhe dada por devolvida, porque
toda a gordura deveria ser queimada no altar dos holocaustos.
Pressupomos
assim que não há qualquer citação a oferecimento de rolas e pombos nos
sacrifícios pacíficos, porque não havia neles gordura suficiente para ser
queimada no altar.
Isto
é muito importante de ser visto como figura na Lei, porque daí aprendemos que
não devemos buscar a prosperidade como um fim em si mesmo, mas devemos buscar o
reino de Deus e a Sua justiça, e toda a prosperidade que Ele nos der, deve ser
empregada por nós no Seu serviço, e
para a Sua exclusiva glória, porque toda aquela gordura, que
era queimada no altar, e que simbolizava a prosperidade
recebida, é dito dela, ser pertencente a Deus, e de fato Lhe pertence, porque
teve nEle a sua origem (3.16b).
Incentivar
as pessoas a buscarem a Deus para ficarem ricas e gastarem tudo o que obtiverem
em seus próprios prazeres e objetivos é um pecado grosseiro, que
é condenado no próprio Novo Testamento:
“Pedis
e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites.” (Tg
4.3).
Na
verdade, o texto de Tiago destaca que aquilo que pedimos com interesse
meramente egoísta, nem sequer é atendido por Deus.
A
verdadeira prosperidade, que procede de Deus, vai exatamente na contramão do
egoísmo, porque é uma lei espiritual estabelecida pelo Senhor que se dê mais
àquele que dá.
A
fórmula do reino para o receber é o dar, pois se diz:
“Dai, e ser-vos-á dado; boa medida, recalcada,
sacudida e transbordando vos deitarão no regaço; porque com a mesma medida com
que medis, vos medirão a vós.” (Lc 6.38).
Vale
ressaltar que sendo exigida a queima no altar da gordura interna, isto é, da
que envolvia os órgãos vitais dos animais, temos aqui uma possível referência
ao fato de que a verdadeira prosperidade é aquela que vem de um serviço que é
feito ao Senhor de todo o coração, como resultado de nossos entranháveis afetos
por Ele, e por nossos irmãos na fé.
Por
um zelo fervoroso que é nascido no mais profundo do nosso ser.
O que
está em foco aqui são as atitudes internas do coração, que mostram a sede em
que reside a nossa comunhão com o Senhor.
Não
propriamente naquilo que é externo, que é visto, mas naquilo que o olho humano
não vê, mas que somente o Senhor conhece, a saber, as reais motivações do nosso
coração.
O
perdão é uma atitude interna. A unidade é fruto do somatório de várias atitudes
internas, como a humildade, a submissão, a obediência, o bom ânimo, a alegria,
a paz, o amor, a bondade, enfim, tudo aquilo que está em Cristo, e que deve ser
encontrado em nós.
Cabe
destacar finalmente que o sangue destes sacrifícios como o dos descritos no
primeiro capítulo, para a expiação do pecado, deveria ser
aspergido ao redor do altar do holocausto.
O
sangue não era queimado, mas derramado sobre o altar, em toda a sua volta.
Certamente
ele atingia a terra sobre a qual estava o altar e era visto por todos.
Temos
nisto uma clara referência ao sangue de Cristo que foi derramado por nós na
cruz.
O
sangue não era queimado porque com isto se indicava que tudo o que se fazia no
tabernáculo, todo serviço que era prestado a Deus, toda a expiação e
reconciliação que era resultante destes serviços, somente era possível e
garantido pelo sangue de Cristo que seria derramado em favor dos pecadores, e
do qual aquele sangue de animais era apenas uma figura.
“1 Se
a oferta de alguém for sacrifício pacífico: se a fizer de gado vacum, seja
macho ou fêmea, oferecê-la-á sem defeito diante do Senhor;
2
porá a mão sobre a cabeça da sua oferta e a imolará à porta da tenda da
revelação; e os filhos de Arão, os sacerdotes, espargirão o sangue sobre o altar
em redor.
3
Então, do sacrifício de oferta pacífica, fará uma oferta queimada ao Senhor; a
gordura que cobre a fressura, sim, toda a gordura que está sobre ela,
4 os
dois rins e a gordura que está sobre eles, e a que está junto aos lombos, e o
redenho que está sobre o fígado, juntamente com os rins, ele os tirará.
5 E
os filhos de Arão queimarão isso sobre o altar, em cima do holocausto que está
sobre a lenha no fogo; é oferta queimada, de cheiro suave ao Senhor.
6 E
se a sua oferta por sacrifício pacífico ao Senhor for de gado miúdo, seja macho
ou fêmea, sem defeito o oferecerá.
7 Se
oferecer um cordeiro por sua oferta, oferecê-lo-á perante o Senhor;
8 e
porá a mão sobre a cabeça da sua oferta, e a imolará diante da tenda da
revelação; e os filhos de Arão espargirão o sangue sobre o altar em redor.
9
Então, do sacrifício de oferta pacífica, fará uma oferta queimada ao Senhor; a
gordura da oferta, a cauda gorda inteira, tirá-la-á junto ao espinhaço; e a
gordura que cobre a fressura, sim, toda a gordura que está sobre ela,
10 os
dois rins e a gordura que está sobre eles, e a que está junto aos lombos, e o
redenho que está sobre o fígado, juntamente com os rins, tirá-los-á.
11 E
o sacerdote queimará isso sobre o altar; é o alimento da oferta queimada ao Senhor.
12 E
se a sua oferta for uma cabra, perante o Senhor a oferecerá;
13 e
lhe porá a mão sobre a cabeça, e a imolará diante da tenda da revelação; e os
filhos de Arão espargirão o sangue da cabra sobre o altar em redor.
14
Depois oferecerá dela a sua oferta, isto é, uma oferta queimada ao Senhor; a
gordura que cobre a fressura, sim, toda a gordura que está sobre ela,
15 os
dois rins e a gordura que está sobre eles, e a que está junto aos lombos, e o
redenho que está sobre o fígado, juntamente com os rins, tirá-los-á.
16 E
o sacerdote queimará isso sobre o altar; é o alimento da oferta queimada, de
cheiro suave. Toda a gordura pertencerá ao Senhor.
17
Estatuto perpétuo, pelas vossas gerações, em todas as vossas habitações, será
isto: nenhuma gordura nem sangue algum comereis.” (Lev 3.1-17).
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