A
natureza terrena é de fato incurável e por isso recebeu a sentença de morte na
cruz, quando Cristo morreu em nosso lugar, para que o velho homem fosse
crucificado juntamente com Ele.
O
ciúme, a inveja, o orgulho e todas as demais obras da carne estão ligadas à
natureza terrena, e se não forem mortificados diariamente
pelo carregar da cruz, haverão de se manifestar num ou noutro momento,
independentemente de sermos tentados ou não por Satanás.
As
obras da carne não se refreiam e não podem ser contidas, mesmo diante de
pessoas amadas e que somente nos tenham feito o bem, pois de um modo ou de
outro, se não andarmos no Espírito, haveremos de manifestar a nossa ingratidão
a eles, ciúme, e até mesmo aversão, ainda que não haja nenhum motivo real para
isto.
Assim,
encontramos registrado, no 12º capítulo
de Números, que tanto Arão quanto Miriã vieram a questionar a
autoridade de Moisés, em razão de não ter se casado com uma
israelita, mas com uma cuxita, isto é, uma descendente de Cuxe, um dos filhos
de Cão, filho de Noé, não sendo, portanto de origem semítica, isto é, da
descendência de Sem, da qual procediam os israelitas.
Todavia,
na verdade, isto era apenas um pretexto, um argumento para esconder o real
motivo daquela contestação: ciúme, pois se compararam com Moisés, dizendo-se
tão importantes quanto ele, pois Miriã era profetisa e Arão Sumo Sacerdote, e
além disso eram irmãos de Moisés, mais idosos do que ele.
Quando
nos falta o entendimento que devemos cultivar uma submissão de coração a todos
aqueles que Deus tem constituído como líderes espirituais sobre nós, ficamos
mais sujeitos a estes ataques da carne, que nos levam a nos rebelar contra
eles, para o nosso próprio mal, assim como se dera com Miriã e Arão, que foram
humilhados pelo Senhor, e submetidos ao Seu juízo,
particularmente Miriã, que ficou leprosa e foi curada exatamente pela
intercessão daquele contra o qual havia falado.
Quem
quiser servir de fato ao Senhor deve estar preparado para estes dolorosos
ataques de carnalidade da parte daqueles que mais estimamos.
Por
privarem de intimidade conosco serão exatamente eles os que mais resistirão a
reconhecer que temos de fato uma chamada de Deus para a liderança, e haverão de
nos resistir não raro, por muito tempo, nos causando
muitas dores.
Contudo,
devemos seguir o exemplo de Moisés, em sua mansidão e paciência, intercedendo
em favor deles, para que sejam curados da sua doença espiritual de rebelião,
que nem sempre apresentará sintomas exteriores visíveis como o da lepra de
Miriã, que era a manifestação exterior de uma lepra interior do espírito.
Arão
estava acometido da mesma doença espiritual, mas não apresentava nenhuma marca
exterior que revelasse a sua doença.
Moisés
era um leão na causa de Deus, mas um cordeiro na sua própria causa, e assim não
se ressentiu com a murmuração de Arão e Miriã contra ele.
Ele
não lutou para fazer prevalecer a sua própria honra e autoridade.
Em
face da sua submissão, o Senhor agiu em favor dele, e fez da sua causa a Sua
causa, e disse as seguintes palavras a Arão e Miriã na presença de Moisés:
“Ouvi agora as minhas palavras: se entre vós
houver profeta, eu, o Senhor, a ele me farei conhecer em visão, em sonhos
falarei com ele. Mas não é assim com o meu servo Moisés, que é fiel em toda a
minha casa; boca a boca falo com ele, claramente e não em enigmas; pois ele
contempla a forma do Senhor. Por que, pois, não temestes falar contra o meu
servo, contra Moisés?”
Aqui
é dito por Deus que Ele se manifestava a Moisés em teofanias, para se comunicar
com ele.
Moisés
podia ver a Deus numa provável forma humana, enquanto a outros não era
concedido terem tal visão, assim como ocorreu com Paulo em seus dias,
quando teve a visão da glória de Cristo numa grande luz que o cegou, no entanto
aos que estavam com ele, não lhes foi concedido terem a mesma visão.
Moisés
não era um profeta comum, não apenas pelo fato de como Deus lhe aparecia, mas
também por ter sido fiel em toda a casa de Deus, ou seja, ele não deixou de
revelar a Israel toda a vontade do Senhor, exatamente na forma como esta lhe
foi revelada e ordenada.
Deste
modo, era fiel a toda a casa de Israel, que era a casa de Deus, pois nunca
disse aos israelitas nenhuma palavra a mais ou a menos de todas as palavras que
o Senhor lhe ordenara que transmitisse ao Seu povo.
Deus
sabia que podia confiar no seu caráter e em toda esta sua fidelidade, e não foi
por acaso que lhe havia separado para ser o seu profeta por excelência, para
revelar a Lei e ser o mediador da Antiga Aliança; organizando, dirigindo e
orientando Israel nos Seus caminhos.
Esta
passagem das Escrituras é um grande alerta para todos os que são da Igreja de
Cristo, especialmente no que se refere a se rebelarem contra os líderes que o
Senhor tem constituído sobre eles.
O
fato de termos os nossos pecados perdoados em Cristo, por estarmos numa Nova
Aliança, que foi instituída no Seu sangue, não nos torna irresponsáveis pelos
nossos atos, conforme os preceitos desta mesma Aliança, que afirma que estamos
debaixo da correção de Deus, por termos sido tornados seus filhos.
Assim como muitos foram disciplinados por Deus
nos dias apostólicos, do mesmo modo Ele continua a disciplinar todos aqueles
que são Seus filhos.
Quantas
humilhações e experiências dolorosas não poderiam ser evitadas por muitos, se
tão somente tivessem o temor do Senhor sendo submissos aos seus líderes?
Mas,
como o motivo da sua aflição, geralmente não lhes é declarado, eles continuam
debaixo das correções de Deus, porque não associam que o motivo delas não raro
se encontra associado às suas rebeliões, e não são curados,
porque não se arrependem e não se consertam junto àqueles a cuja autoridade têm
resistido.
Eles
não seguem o exemplo de Arão que ao ter ouvido a repreensão do Senhor, e
visto o que sucedera a Miriã, se humilhou diante de Moisés,
mostrando-se arrependido, e proferindo as seguintes palavras:
“Ah,
meu senhor! Rogo-te não ponhas sobre nós este pecado, porque procedemos
loucamente, e pecamos. Não seja ela como um morto que, ao sair do ventre de sua
mãe, tenha a sua carne já meio consumida.”
O
apóstolo Pedro tinha em mente o temor e submissão que é devido às autoridades,
e da bênção que é ter um coração submisso, que nos preserve de ter uma língua
desaforada e blasfema, pois disse o seguinte:
“também
sabe o Senhor livrar da tentação os piedosos, e reservar para o dia do juízo os
injustos, que já estão sendo castigados; especialmente aqueles que, seguindo a
carne, andam em imundas concupiscências, e desprezam toda autoridade.
Atrevidos, arrogantes, não receiam blasfemar das dignidades, enquanto que os
anjos, embora maiores em força e poder, não pronunciam contra eles juízo
blasfemo diante do Senhor.” (II Pe 2. 9-11).
Vivemos
numa época em que muitos dentre as próprias autoridades não se dão ao respeito,
mas nem com isso estamos autorizados a desrespeitar àqueles que foram
constituídos pelo Senhor como autoridades sobre as nossas vidas, e
faremos bem em nos guardar em nossa caminhada terrena,
vivendo com santo temor e reverência, servindo ao nosso Deus, obedientemente,
em todas as cousas que nos são ordenadas em Sua Palavra.
Se
Miriã foi castigada com lepra por falar contra aquele que era o Mediador da
Antiga Aliança, de quanto maior castigo não é merecedor todo aquele que fala
contra Cristo, o Mediador da Nova Aliança.
Certamente
era com isto em vista que o autor de Hebreus disse o seguinte:
“Havendo
alguém rejeitado a lei de Moisés, morre sem misericórdia, pela palavra de duas
ou três testemunhas; de quanto maior castigo cuidais vós será julgado merecedor
aquele que pisar o Filho de Deus, e tiver por profano o sangue do pacto, com
que foi santificado, e ultrajar ao Espírito da graça? Pois conhecemos aquele
que disse: Minha é a vingança, eu retribuirei. E outra vez: O Senhor julgará o
seu povo. Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo.” (Hb 10.28-31).
A par
de tudo o que se possa ver na Igreja visível de Cristo na terra, que nos leve a
considerar apressada e erroneamente que debaixo da graça tudo nos é permitido,
faríamos muito bem em atentar para as muitas advertências da Palavra de Deus,
que nos alertam sobre o fato de que estar debaixo da graça não significa que
estejamos livres da disciplina do Senhor, por um andar desordenado longe da Sua
presença.
Não
podemos contar com o fato de usar a graça como pretexto para um comportamento
insensato, para uma conversação não santa e caluniadora, pois temos visto no
exemplo do que sucedeu a Arão e Miriã, que Deus não nos terá por inocentes,
quando agirmos deliberadamente movidos por sentimentos de inveja, orgulho,
rebelião, impureza, e seja qualquer outro que seja fruto da operação do pecado
em nós.
Bem
faremos em confessarmos as nossas faltas e abandoná-las e voltarmos à prática
de uma vida obediente e santa, para o nosso próprio bem e daqueles que estão
debaixo do nosso cuidado.
A
iniquidade tem se multiplicado de tal forma no mundo, que pode parecer que
o mal é algo banal e comum, e que está fora do alcance do controle e do juízo
de Deus.
Todavia,
faremos bem em lembrar que ainda que os ímpios sejam entregues a si mesmos,
para praticarem toda sorte de impurezas, para responderam por elas no Grande
Dia do Juízo Final, no entanto, Deus corrigirá a seus filhos no aqui e agora,
para que não sejam condenados à morte eterna,
juntamente com as pessoas que amam o mundo de
pecado.
Assim,
é nosso dever aumentar a vigilância e a santidade à vista de um aumento da iniquidade
do mundo ao nosso redor.
Devemos
nos espelhar no exemplo de Noé, de Ló, de Raabe, de Obadias e de todos aqueles
que serviram a Deus quando não tinham sequer ao seu lado,
senão a uns poucos que não tinham sido vencidos inteiramente pelo mal.
Lembremos
finalmente que o pecado de rebelião, de dissensão entre o povo de Deus afasta
do nosso meio a manifestação da glória de Deus, assim como a nuvem havia se
afastado do tabernáculo por causa do pecado de Arão e Miriã, e não somente
isto, o avanço do reino de Deus é detido por causa deste pecado, até que
sejamos curados de nossas rebeliões, pois Israel não pôde prosseguir na jornada
rumo a Canaã, até que Miriã fosse curada pelo Senhor, nos sete dias que Ele
havia determinado para que ficasse leprosa fora do arraial.
Em
vez de aumentarem a esfera da sua influência e liderança, eles foram
humilhados, pois todo o que se exaltar será humilhado.
Em
vez de ser engrandecida por Deus, Miriã foi envergonhada à vista de todos os
israelitas, apesar dos muitos bons serviços que ela vinha prestando ao Senhor.
Ele
nunca fará vista grossa para as nossas faltas em face de uma fidelidade
anterior.
Ele
recompensará a fidelidade e dará a justa retribuição ao mal que tivermos
praticado, pois é imparcial em Seus juízos.
Especialmente
dos líderes exigirá muito mais, porque muito lhes é dado.
Por
isso a norma bíblica é que consideremos os outros superiores a nós mesmos, de
modo que tenhamos sempre um espírito submisso que dê honra a todas as pessoas.
Com
isto não corremos o risco de julgarmos e falarmos contra qualquer liderança, que
tenha sido levantada por Deus e que por falta de uma justa avaliação da nossa
parte, possa ser alvo de nossas críticas, que acabarão por prejudicar a nós
mesmos, pois ainda que eles não se defendam dos nossos ataques, Deus os
defenderá.
Assim,
sempre será bom seguirmos a norma do apóstolo:
“É
pois para isso também que escrevi, para, por esta prova, saber se sois
obedientes em tudo. E a quem perdoardes alguma coisa, também eu; pois, o que eu
também perdoei, se é que alguma coisa tenho perdoado, por causa de vós o fiz na
presença de Cristo, para que Satanás não leve vantagem sobre nós;” (II Cor
2.9,10).
Que
sejamos pois muito criteriosos, até mesmo no próprio zelo
pelas coisas do Senhor e em favor da manutenção da verdade em nosso meio, de
modo que não venhamos a ser condenados naquilo que aprovamos, pois, podemos ser
achados falando de autoridades constituídas por Deus, em razão de entendermos
que estamos apenas combatendo o erro em favor da verdade.
Para
Arão e Miriã, Moisés havia errado em não ter se casado
com uma israelita, e para eles isto o desqualificava de certa forma no serviço
do Senhor, no entanto, não era este o juízo de Deus em relação a Moisés.
Um
espírito crítico, ácido, amargurado é um grande impedimento para um espírito de
unidade e amor.
Guardemo-nos,
pois de toda crítica ácida contra quem quer que seja, porque no final o ácido
acabará corroendo a nós mesmos, para o nosso próprio
prejuízo e da unidade do povo de Deus.
Por
isso Miriã foi ferida com lepra para que ficasse fora do arraial, para servir
de exemplo e figura desta verdade espiritual de que o espírito de rebelião
impede a unidade do povo do Senhor numa vida espiritual saudável, que conte com
a Sua bênção.
Havia
uma prática dos pais antigos para demonstrarem o seu desgosto com a
desobediência de seus filhos, cuspindo-lhes na face.
Isto
indicava que o filho rebelde deveria se recolher em seu quarto por sete dias,
assumindo a vergonha da sua rebelião e desobediência, e
ficaria impedido de ver a face do seu pai por todo aquele período como prova do
seu desgosto.
Deus
se valeu desta prática que havia entre eles para dizer que faria o mesmo com
Miriã, em razão da rebelião dela contra Moisés, que na verdade era uma rebelião
contra o Senhor ,por tê-lo escolhido para ser o líder do
Seu povo.
Assim
como o filho que fora envergonhado deveria se submeter ao juízo que lhe foi
imposto por seu pai, do mesmo modo Miriã teria que se submeter ao de Deus na
vergonha que Ele lhe havia imposto.
Nisto
se aplicam as palavras do autor de Hebreus:
“É
para disciplina que sofreis; Deus vos trata como a filhos; pois qual é o filho
a quem o pai não corrija? Mas, se estais sem disciplina, da qual todos se têm
tornado participantes, sois então bastardos, e não filhos. Além disto, tivemos
nossos pais segundo a carne, para nos corrigirem, e os olhávamos com respeito;
não nos sujeitaremos muito mais ao Pai dos espíritos, e viveremos? Pois aqueles
por pouco tempo nos corrigiam como bem lhes parecia, mas este, para nosso
proveito, para sermos participantes da sua santidade. Na verdade, nenhuma
correção parece no momento ser motivo de gozo, porém de tristeza; mas depois
produz um fruto pacífico de justiça nos que por ele têm sido exercitados.” (Hb
12.7-11).
Sujeitar-se
à disciplina de Deus é a chave de toda esta porção das Escrituras. O autor de
Hebreus faz uma afirmação sob a forma de indagação:
“não
nos sujeitaremos muito mais ao Pai dos espíritos, e viveremos?”
“1
Ora, falaram Miriã e Arão contra Moisés, por causa da mulher cuchita que este
tomara; porquanto tinha tomado uma mulher cuchita.
2 E
disseram: Porventura falou o Senhor somente por Moisés? Não falou também por
nós? E o Senhor o ouviu.
3
Ora, Moisés era homem mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a
terra.
4 E
logo o Senhor disse a Moisés, a Arão e a Miriã: Saí vos três à tenda da
revelação. E saíram eles três.
5
Então o Senhor desceu em uma coluna de nuvem, e se pôs à porta da tenda; depois
chamou a Arão e a Miriã, e os dois acudiram.
6
Então disse: Ouvi agora as minhas palavras: se entre vós houver profeta, eu, o
Senhor, a ele me farei conhecer em visão, em sonhos falarei com ele.
7 Mas
não é assim com o meu servo Moisés, que é fiel em toda a minha casa;
8
boca a boca falo com ele, claramente e não em enigmas; pois ele contempla a
forma do Senhor. Por que, pois, não temestes falar contra o meu servo, contra
Moisés?
9
Assim se acendeu a ira do Senhor contra eles; e ele se retirou;
10
também a nuvem se retirou de sobre a tenda; e eis que Miriã se tornara leprosa,
branca como a neve; e olhou Arão para Miriã e eis que estava leprosa.
11
Pelo que Arão disse a Moisés: Ah, meu senhor! rogo-te não ponhas sobre nós este
pecado, porque procedemos loucamente, e pecamos.
12
Não seja ela como um morto que, ao sair do ventre de sua mãe, tenha a sua carne
já meio consumida.
13
Clamou, pois, Moisés ao Senhor, dizendo: Ó Deus, rogo-te que a cures.
14
Respondeu o Senhor a Moisés: Se seu pai lhe tivesse cuspido na cara não seria
envergonhada por sete dias? Esteja fechada por sete dias fora do arraial, e
depois se recolherá outra vez.
15
Assim Miriã esteve fechada fora do arraial por sete dias; e o povo não partiu,
enquanto Miriã não se recolheu de novo.
16
Mas depois o povo partiu de Hazerote, e acampou-se no deserto de Parã..” (Nm
12.1-16).
Nenhum comentário:
Postar um comentário