É dito em I Reis 11.4 que foi no tempo da velhice
de Salomão que suas mulheres lhe perverteram o coração para seguir outros
deuses, de maneira que o seu coração já não era perfeito na constância e
fidelidade em seguir ao Senhor, assim como havia feito Davi, seu pai.
Isto deve ser enfatizado logo de início para que se
faça justiça não somente ao homem, mas sobretudo à eleição de Deus relativa a
Salomão, porque ele não foi o homem pervertido que muitos costumam proclamar.
O Inimigo costuma usar de meios para afastar as
pessoas da presença de Deus, e um deles que é muito usado por ele, no caso dos
homens, é a união deles pelos laços do amor eros a mais de uma mulher,
desviando-os assim do propósito original de Deus, relativo à instituição do
matrimônio.
Muitos têm quebrado as suas cabeças com as suas
próprias costelas. Porque são costelas que agregaram a si fora da vontade do
Senhor.
E o diabo usará fatalmente as mulheres que um homem
tenha além da sua própria esposa, para afastá-lo dos caminhos de Deus.
Foi esta a causa de Salomão ter se desviado destes
caminhos, na parte final da sua vida.
O problema não era apenas o de desordem familiar e
do elevado custo para manter todas aquelas mil mulheres (700 princesas e 300
concubinas), mas principalmente o fato de serem em sua grande maioria mulheres
pagãs, que adoravam outros deuses.
Para não desagradá-las, e para não ofender as
nações com as quais havia se aliançado através do casamento com estas
princesas, Salomão acabou erigindo altares para a adoração destes falsos
deuses, e chegou inclusive a construir um deles, dedicado a Quemós, deus dos
moabitas, no monte que ficava defronte de Jerusalém, e ao próprio Moloque,
divindade dos amonitas, ao qual eram oferecidas crianças como holocausto (v.
7,8).
E Deus havia feito menção especialmente a Moloque
na Lei de Moisés, como sendo uma abominação que os israelitas deveriam evitar a
todo custo:
“Não oferecerás a Moloque nenhum dos teus filhos,
fazendo-o passar pelo fogo; nem profanarás o nome de teu Deus. Eu sou o
Senhor.” (Lev 18.21).
Salomão havia transgredido o mandamento expresso do
Senhor de que os israelitas não se casassem com mulheres de outras terras, que
servissem a falsos deuses (I Reis 11.2), e não somente quebrou o mandamento de
que os reis de Israel não deveriam multiplicar para si mulheres e cavalos (Dt
17.16, 17). E acabou quebrando um mandamento que é uma grande abominação para o
Senhor, que é a adoração de outros deuses.
Certamente, ainda que ele não tenha perdido a sua
salvação, como qualquer outro cristão, em razão da promessa de eterna
misericórdia que receberam da parte de Deus, e que foi feita a Davi, em relação
a Salomão (II Sm 7.12-15), no entanto não deve ter sido deixado sem a justa
correção de Deus, como Ele havia prometido que faria em II Sm 7.14:
“Eu lhe serei pai, e ele me será filho. E, se vier
a transgredir, castigá-lo-ei com vara de homens, e com açoites de filhos de
homens;”.
E o maior açoite que Salomão recebeu da parte de
Deus ainda em vida foi o de ver o seu servo de confiança, Jeroboão, que viria a
reinar sobre o Reino do Norte (Israel) não teve a mesma fidelidade e sabedoria
de Davi quando foi ungido rei pelo Senhor, enquanto Saul ainda vivia, pois ao
contrário de Davi, que honrou Saul até o dia da sua morte, e não levantou sua
mão contra ele, Jeroboão levantou a sua contra Salomão, e isto deve ter sido
feito por lhe ter declarado que lhe havia sido dado por Deus o reino sobre
todas as tribos de Israel, exceto Judá, e ele deve ter tomado algum tipo de
iniciativa para assumir logo o reino, porque ele tinha recebido, de há muito,
da parte do próprio Salomão, autoridade para superintender os seus negócios em
toda a casa de José, que é uma referência às tribos de Israel, que eram encabeçadas
pela tribo de Efraim, cujo patriarca era filho de José.
Como Salomão havia perdido a comunhão com o Senhor,
em razão da adoração dos falsos deuses, ele não se sujeitou ao Seu juízo, e ao
contrário do que fez seu pai Davi, em relação a Absalão e a Simei, que
reconheceu terem agido contra ele em razão do pecado que havia cometido com
Bate-Seba, tentou impedir o cumprimento da palavra do Senhor dada através do
profeta Aías, procurando matar Jeroboão, o qual teve que buscar refúgio no
Egito (v. 40), onde permaneceu até a morte de Salomão.
É possível que o Senhor tenha abreviado os dias de
Salomão sobre o reino de todo o Israel, porque ele havia quebrado a promessa
que lhe havia feito de que receberia longevidade caso andasse nos mandamentos,
estatutos e Juízos do Senhor (I Rs
3.14), quando lhe apareceu em Gibeom.
E não foi em paz que ele desceu à sepultura, porque
a grande paz que havia experimentado nos dias da sua fidelidade ao Senhor foi
perdida por ele e marcada não apenas na aflição que lhe dera Jeroboão, mas no
ter permitido que se levantassem contra ele o rei Hadade de Edom, que havia
sido criado no Egito nos dias de Davi, por terem os edomitas sido assolados por
Joabe, e sendo ele ainda menino fugiu para o Egito tendo recebido tratamento
devido a um exilado de estirpe real, porque sua família fazia parte da realeza;
e também o rei Rezom de Zobá da Síria, que igualmente guardava rancor contra
Israel por tudo o que havia sido feito contra eles nos dias de Davi.
Que força estes reis teriam para afligir o reino de
Israel nos dias de Salomão caso o Senhor não lhe tivesse entregado nas mãos
deles, por causa da Sua grande ira contra a sua idolatria?
Mas como o Senhor é fiel no cumprimento das Suas
promessas, determinou que a divisão do reino de Israel não seria feita nos
próprios dias de Salomão, poupando-lhe assim desta grande queda e humilhação
para toda a glória, riquezas e sabedoria que lhe haviam sido dadas.
Esta divisão ocorreria nos dias em que estivesse
reinando o seu filho Roboão, que ele havia gerado com uma amonita, e que
certamente, carregava consigo as influências da idolatria que havia recebido
tanto da parte do seu pai, nos seus últimos dias de vida, e de sua mãe, desde a
mais tenra idade.
Seria neste descendente que Salomão receberia o
juízo sobre a sua idolatria.
Ele havia deixado esta herança para Israel e eles
se deixaram levar pela idolatria do rei, e agora receberiam também a visitação
do seu pecado, pela separação do povo em duas nações, quebrando-se desta forma
a unidade federativa das doze tribos, que caminhavam juntas desde os dias do
patriarca Jacó, cujo nome Deus havia mudado para Israel.
Salomão fez um mau uso da sabedoria que Deus lhe
havia dado, quando se entregou à idolatria.
O impacto psicológico do efeito da idolatria de
Salomão no povo, deve ser considerado, em razão do peso da glória terrena do
seu reino.
Isto facilitaria o arraigamento da idolatria.
A bênção viraria uma maldição, pelo mau uso dos
dons recebidos por Salomão.
Onde estavam os príncipes e sacerdotes quando
Salomão começou a introduzir a idolatria em Israel?
Nada se diz quanto a ter sido confrontado desde o
início quer pelos sacerdotes, quer pelos profetas.
Somente no final de sua vida que Aías foi levantado
pelo Senhor para ditar os Seus juízos sobre o seu pecado.
Eles haviam esquecido da glória que havia enchido o
templo quando este foi consagrado ao Senhor?
Salomão havia caído, ainda que não numa queda
final, por causa da misericórdia prometida por Deus, e com ele caiu todo o
Israel.
Toda a glória terrena do seu reino havia dado
naquilo e não seria todo o ouro que ele havia juntado, que poderia mudar um só
centímetro dos juízos que haviam sido determinados pelo Senhor.
Ainda que
tenha se arrependido de sua idolatria, quando estava próxima a sua morte, e
ainda que tivesse confessado o erro de se adorar falsos deuses, isto não
mudaria no entanto os juízos que o Senhor traria sobre Israel.
Bem fará portanto, o povo do Senhor, em evitar o
pecado sob todas as suas formas, para que não tenha que ser submetido às
dolorosas correções que Deus lhe aplicará na condição de Pai que corrige aos
filhos que ama.
Não devemos nos iludir com a ausência de correções
imediatas aos pecados que praticamos, porque Deus é longânimo, mas a sua
longanimidade não suspende os seus juízos, e logo, logo, ainda que possa
parecer demorado, um Aías virá a nós da parte do Senhor, para protestar contra
os nossos pecados e proclamar as correções que nos serão aplicadas por
Ele.
“1 Ora, o rei Salomão amou muitas mulheres estrangeiras,
além da filha de Faraó: moabitas, amonitas, edomitas, sidônias e heteias,
2 das nações de que o Senhor dissera aos filhos de
Israel: Não ireis para elas, nem elas virão para vós; doutra maneira
perverterão o vosso coração para seguirdes os seus deuses. A estas se apegou
Salomão, levado pelo amor.
3 Tinha ele setecentas mulheres, princesas, e
trezentas concubinas; e suas mulheres lhe perverteram o coração.
4 Pois sucedeu que, no tempo da velhice de Salomão,
suas mulheres lhe perverteram o coração para seguir outros deuses; e seu
coração já não era perfeito para com o Senhor seu Deus, como fora o de Davi,
seu pai;
5 Salomão seguiu a Astarete, deusa dos sidônios, e
a Milcom, abominação dos amonitas.
6 Assim fez Salomão o que era mau aos olhos do Senhor,
e não perseverou em seguir, como fizera Davi, seu pai.
7 Nesse tempo edificou Salomão um alto a Quemós,
abominação dos moabitas, sobre e monte que está diante de Jerusalém, e a
Moloque, abominação dos amonitas.
8 E assim fez para todas as suas mulheres
estrangeiras, as quais queimavam incenso e ofereciam sacrifícios a seus deuses.
9 Pelo que o Senhor se indignou contra Salomão,
porquanto o seu coração se desviara do Senhor Deus de Israel, o qual duas vezes
lhe aparecera,
10 e lhe ordenara expressamente que não seguisse a
outros deuses. Ele, porém, não guardou o que o Senhor lhe ordenara.
11 Disse, pois, o Senhor a Salomão: Porquanto houve
isto em ti, que não guardaste a meu pacto e os meus estatutos que te ordenei,
certamente rasgarei de ti este reino, e o darei a teu servo.
12 Contudo não o farei nos teus dias, por amor de
Davi, teu pai; da mão de teu filho o rasgarei.
13 Todavia não rasgarei o reino todo; mas uma tribo
darei a teu filho, por amor de meu servo Davi, e por amor de Jerusalém, que
escolhi.
14 O Senhor levantou contra Salomão um adversário,
Hadade, o edomeu; o qual era da estirpe real de Edom.
15 Porque sucedeu que, quando Davi esteve em guerra
contra Edom, tendo Joabe, o chefe do exército, subido a enterrar os mortos, e
ferido a todo varão em Edom
16 (porque Joabe ficou ali seis meses com todo o
Israel, até que destruiu a todo varão em Edom),
17 Hadade, que era ainda menino, fugiu para o Egito
com alguns edomeus, servos de seu pai.
18 Levantando-se, pois, de Midiã, foram a Parã; e
tomando consigo homens de Parã, foram ao Egito ter com Faraó, rei do Egito, o
qual deu casa a Hadade, proveu-lhe a subsistência, e lhe deu terras.
19 E Hadade caiu tanto em graça a Faraó, que este
lhe deu por mulher a irmã de sua mulher, a irmã da rainha Tafnes.
20 Ora, desta irmã de Tafnes nasceu a Hadade seu
filho Genubate, o qual Tafnes criou na casa de Faraó, onde Genubate esteve
entre os filhos do rei.
21 Ouvindo, pois, Hadade no Egito que Davi
adormecera com seus pais, e que Joabe, chefe do exército, era morto, disse o
Faraó: Deixa-me ir, para que eu volte à minha terra.
22 Perguntou-lhe Faraó: Que te falta em minha
companhia, que procuras partir para a tua terra? Respondeu ele: Nada; todavia,
peço que me deixes ir.
23 Deus levantou contra Salomão ainda outro adversário,
Rezom, filho de Eliadá, que tinha fugido de seu senhor Hadadézer, rei de Zobá.
24 Pois ele ajuntara a si homens, e se fizera
capitão de uma tropa, quando Davi matou os de Zobá; e, indo-se para Damasco,
habitaram ali; e fizeram-no rei em Damasco.
25 E foi adversário de Israel por todos os dias de
Salomão, e isto além do mal que Hadade fazia; detestava a Israel, e reinava
sobre a Síria.
26 Também Jeroboão, filho de Nebate, efrateu de
Zeredá, servo de Salomão, cuja mãe era viúva, por nome Zeruá, levantou a mão
contra o rei.
27 E esta foi a causa por que levantou a mão contra
o rei: Salomão tinha edificado a Milo, e cerrado a brecha da cidade de Davi,
seu pai.
28 Ora, Jeroboão era homem forte e valente; e vendo
Salomão que este mancebo era laborioso, colocou-o sobre toda a carga imposta à
casa de José.
29 E sucedeu naquele tempo que, saindo Jeroboão de
Jerusalém, o profeta Aías, o silonita, o encontrou no caminho; este se tinha
vestido duma capa nova; e os dois estavam sós no campo.
30 Então Aías pegou na capa nova que tinha sobre
si, e a rasgou em doze pedaços.
31 E disse a Jeroboão: Toma estes dez pedaços para
ti, porque assim diz o Senhor Deus de Israel: Eis que rasgarei o reino da mão
de Salomão, e a ti darei dez tribos.
32 Ele, porém, terá uma tribo, por amor de Davi,
meu servo, e por amor de Jerusalém, a cidade que escolhi dentre todas as tribos
de Israel.
33 Porque me deixaram, e se encurvaram a Astarote,
deusa dos sidônios, a Quemós, deus dos moabitas, e a Milcom, deus dos amonitas;
e não andaram pelos meus caminhos, para fazerem o que parece reto aos meus
olhos, e para guardarem os meus estatutos e os meus preceitos, como o fez Davi,
seu pai.
34 Todavia não tomarei da sua mão o reino todo; mas
deixá-lo-ei governar por todos os dias da sua vida, por amor de Davi, meu
servo, a quem escolhi, o qual guardou os meus mandamentos e os meus estatutos.
35 Mas da mão de seu filho tomarei e reino e to
darei a ti, isto é, as dez tribos.
36 Todavia a seu filho darei uma tribo, para que
Davi, meu servo, sempre tenha uma lâmpada diante de mim em Jerusalém, a cidade
que escolhi para ali pôr o meu nome.
37 Então te tomarei, e reinarás sobre tudo o que
desejar a tua alma, e serás rei sobre Israel.
38 E há de ser que, se ouvires tudo o que eu te
ordenar, e andares pelos meus caminhos, e fizeres o que é reto aos meus olhos,
guardando os meus estatutos e os meus mandamentos, como o fez Davi, meu servo,
eu serei contigo, e te edificarei uma casa firme, como o fiz para Davi, e te
darei Israel.
39 E por isso afligirei a descendência de Davi,
todavia não para sempre.
40 Pelo que Salomão procurou matar Jeroboão; porém
este se levantou, e fugiu para o Egito, a ter com Sisaque, rei de Egito, onde
esteve até a morte de Salomão.
41 Quanto ao restante dos atos de Salomão, e a tudo
o que ele fez, e à sua sabedoria, porventura não está escrito no livro dos atos
de Salomão?
42 O tempo que Salomão reinou em Jerusalém sobre
todo o Israel foi quarenta anos.
43 E Salomão dormiu com seus pais, e foi sepultado
na cidade de Davi, seu pai; e Roboão, seu filho, reinou em seu lugar.” (I Rs
11.1-43).
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