No
segundo capítulo de Levítico nós temos a lei relativa ao
oferecimento de manjares, que eram ofertas de bolos de farinha de trigo, ou
outros cereais, para serem queimadas no altar, como
símbolo de gratidão, alegria ou consagração.
Havia
algumas ofertas de manjares que eram acrescentadas aos sacrifícios, como a
relativa ao sacrifício diário, prescrito em Êx 29.38-40.
Mas a
lei deste segundo capítulo se refere principalmente às ofertas
voluntárias apresentadas por pessoas que desejassem expressar a sua devoção.
É
interessante observar que se a oferta de farinha não fosse cozida ou assada,
ela deveria ser misturada ao azeite, e deveria ser coberta com incenso (2.1).
E uma
parte desta oferta seria queimada sobre o altar, e o que dela sobrasse seria
para o sustento dos sacerdotes (2.2,3).
No
caso de ser cozida no forno (v. 4), sob
a forma de bolo, ou feita em assadeira (v. 5), ou ainda frita (v. 7), não
deveria conter fermento nem mel (v. 5,
11), mas a farinha do cereal sempre deveria ser misturada ao azeite (v. 4, 5,
7), e ser temperada com sal (v. 13).
No
caso de se ofertar primícias das colheitas, esta deveria ser feita com os grãos
de espigas dos cereais ainda verdes, e não maduras, de forma que seriam esmagados
e tostados, e sobre os quais se deveria colocar também azeite e incenso (v.
14,15).
Todas
estas ofertas deveriam ter uma parte delas queimada sobre o altar, de forma que
se diz delas o que lemos no capítulo anterior relativo ao holocausto de animais:
“é
oferta queimada de aroma agradável ao Senhor” (v. 2, 9, 12).
Destas
ofertas não se diz que fariam expiação pelo pecado, pois não temos aqui as
mesmas afirmações relativas aos sacrifícios descritos no primeiro capítulo, nos
quais havia derramamento de sangue, e por isso se diz que sem derramamento de
sangue não há remissão de pecados (Hb 9.22).
Mas
como as ofertas de manjares apontam para a devoção e consagração dos ofertantes
a Deus, elas trazem em si muitas figuras importantes do significado desta
devoção.
Veja
que em todas as ofertas deveria estar presente o azeite, que é símbolo do
Espírito Santo.
Isto
indica que se em toda oferta há uma identificação do ofertante com ela, isto é,
como se a oferta fosse a sua própria vida que estava sendo oferecida a Deus,
então, daí aprendemos que nenhuma consagração será aceita pelo Senhor se não
for acompanhada pela presença do Espírito Santo, que indica o seu trabalho nas
nossas vidas em regeneração e santificação.
Indica,
sobretudo que uma verdadeira consagração a Deus deve estar sempre acompanhada
de uma efetiva comunhão com o Espírito Santo, não apenas traduzida na sua unção
e dons espirituais, mas sobretudo pela manifestação do Seu fruto em nossas
vidas.
É o
que Paulo chama de andar no Espírito, de ser cheio do Espírito, isto é, de ser
governado por Ele, de estar debaixo do Seu poder e influência.
Nenhum
sacrifício espiritual, seja de oração, louvor, de serviço, de adoração, será
aceito por Deus se não for no Espírito Santo.
Por
isso se diz que a oração deve ser no Espírito. E não há verdadeiro louvor,
adoração e serviço a Deus que não seja no Espírito.
Se a
farinha representa a vida do cristão, e caso se pretenda
oferecer esta farinha (vida) a Deus, ela não será aceita se não estiver
totalmente misturada ao azeite (Espírito Santo).
Além
disto, se aprende destas ofertas de manjares que uma verdadeira devoção deve
ser temperada com sal, e não conter de maneira nenhuma fermento e mel.
Há
ofertas em que o incenso deveria ser acrescentado.
Uma grande
parte da obra do Senhor, e da nossa consagração pessoal a Ele, depende e
consiste de uma vida de oração, que está representada no incenso.
Se
faltasse o incenso nas ofertas em que este estava designado, ela não seria
aceita, mesmo se fosse queimada sobre o altar.
O que
tornaria a oferta aceitável seria todo o seu conjunto, inclusive o incenso. Não
podemos portanto, negligenciar o dever de orar sem cessar, porque ainda que
alguma bênção pudesse ser obtida de Deus sem ser acompanhada de oração, certamente
a presença desta em nada prejudicará, ao contrário muito ajudará a quem deseja
se consagrar ao Senhor.
Quanto
ao sal, Jesus disse que os cristãos são o sal da terra e
que a sua serventia reside no fato de terem esta propriedade de salgar, que uma
vez sendo perdida, para nada mais presta (Mt 5.13).
Em Mc
9.50, Jesus diz que os cristãos devem ter sal em si mesmo.
Por
isso é ensinado em figura na lei, que toda oferta de consagração a Deus deve
conter obrigatoriamente o sal.
Este
sal é o testemunho de vida cristã, baseada na Palavra de Deus, que é o elemento
que salga (santifica) as nossas vidas.
Então,
sem isto, a oferta (nossa vida, nossa consagração) não será aceita por Deus,
conforme se ensina em figura na Lei.
Quanto
ao fato de que nunca poderia ser juntado fermento ou mel às ofertas de
manjares, isto ensina em figura que a presença do pecado invalida a oferta,
especialmente o pecado do orgulho e da hipocrisia que são geralmente associados
ao fermento.
Isto
aponta para a total necessidade de sinceridade e humildade diante de Deus, em
toda a nossa consagração a Ele.
Relativamente
ao mel, que apesar de ser agradável ao paladar, é símbolo de prazer sensual,
tanto que era muito usado nas oferendas dos pagãos aos seus deuses.
Asim,
além de marcar que as ofertas dos cristãos são
distintas das ofertas dos pagãos, o Senhor nos ensina nesta figura que uma
verdadeira consagração e devoção não devem ser para busca de prazer pessoal,
senão para o Seu inteiro agrado.
O
alvo da consagração não é o nosso regalo pessoal, mas a plena satisfação do
Senhor, por se buscar fazer a Sua vontade e não a nossa.
Finalmente
se diz que estas ofertas devem ser queimadas no altar em aroma agradável ao
Senhor.
Nenhuma
verdadeira devoção é real quando queremos guardar daquilo que temos oferecido a
Ele, alguma parte para nós mesmos.
Nós
temos um tempo que é nosso e que gastamos nos nossos interesses, mas aquele
tempo que temos consagrado ao Senhor pertence inteiramente a Ele, e
assim deve ser gasto inteiramente para Ele, do mesmo modo que a oferta era
queimada totalmente pelo fogo.
Se a
nossa consagração não tem esta marca de estarmos sendo gastos naquilo que
estamos fazendo a serviço do Senhor, tudo o que fizermos será inútil, porque
apesar de termos preparado a oferta, apesar de termos em nossa mão a farinha
misturada ao azeite, com incenso, sem fermento e temperada com sal, mas se não
agirmos investindo e agindo no Reino, colocando em prática aquilo que temos
para que seja gasto no altar do Senhor, para nada valerá a nossa preparação,
uma vez que esta não está sendo consumida inteiramente na Sua obra.
“1
Quando alguém fizer ao Senhor uma oferta de cereais, a sua oferta será de flor
de farinha; deitará nela azeite, e sobre ela porá incenso;
2 e a
trará aos filhos de Arão, os sacerdotes, um dos quais lhe tomará um punhado da
flor de farinha e do azeite com todo o incenso, e o queimará sobre o altar por
oferta memorial, oferta queimada, de cheiro suave ao Senhor.
3 O
que restar da oferta de cereais pertencerá a Arão e a seus filhos; é coisa
santíssima entre as ofertas queimadas ao Senhor.
4
Quando fizerdes oferta de cereais assada ao forno, será de bolos ázimos de flor
de farinha, amassados com azeite, e coscorões ázimos untados com azeite.
5 E
se a tua oferta for oferta de cereais assada na assadeira, será de flor de
farinha sem fermento, amassada com azeite.
6 Em
pedaços a partirás, e sobre ela deitarás azeite; é oferta de cereais.
7 E
se a tua oferta for oferta de cereais cozida na frigideira, far-se-á de flor de
farinha com azeite.
8
Então trarás ao Senhor a oferta de cereais que for feita destas coisas; e será
apresentada ao sacerdote, o qual a levará ao altar.
9 E o
sacerdote tomará da oferta de cereais o memorial dela, e o queimará sobre o
altar; é oferta queimada, de cheiro suave ao Senhor.
10 E
o que restar da oferta de cereais pertencerá a Arão e a seus filhos; é coisa
santíssima entre as ofertas queimadas ao Senhor.
11
Nenhuma oferta de cereais, que fizerdes ao Senhor, será preparada com fermento;
porque não queimareis fermento algum nem mel algum como oferta queimada ao
Senhor.
12
Como oferta de primícias oferecê-los-eis ao Senhor; mas sobre o altar não
subirão por cheiro suave.
13
Todas as suas ofertas de cereais temperarás com sal; não deixarás faltar a elas
o sal do pacto do teu Deus; em todas as tuas ofertas oferecerás sal.
14 Se
fizeres ao Senhor oferta de cereais de primícias, oferecerás, como oferta de
cereais das tuas primícias, espigas tostadas ao fogo, isto é, o grão trilhado
de espigas verdes.
15
Sobre ela deitarás azeite, e lhe porás por cima incenso; é oferta de cereais.
16 O
sacerdote queimará o memorial dela, isto é, parte do grão trilhado e parte do
azeite com todo o incenso; é oferta queimada ao Senhor.” (Lev 2.1-16).
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