Assim
como a entrada em vigor da Nova Aliança foi marcada pela morte de Ananias e
Safira, como um juízo da parte do Senhor, que
veio sobre eles, e trouxe grande temor à igreja, de igual modo, a Antiga
Aliança entrou em vigor com a morte de cerca de três mil israelitas, pela
adoração do bezerro de ouro, e com a morte de Nadabe e Abiú, filhos de Arão,
logo depois de que o tabernáculo foi erigido, e os
sacerdotes foram consagrados e começaram a oficiar no mesmo.
Deste
modo, tanto numa aliança quanto noutra, Deus marcou com estes exemplos, que
estes pactos eram pactos para um viver em santidade, em obediência à Sua
vontade.
Certamente,
a visitação da iniquidade de Nadabe e Abiú, que ofereceram
incenso de modo diferente do designado por Deus, desprezando as instruções que
foram dadas por Ele, tinha em vista impedir que o ofício sacerdotal fosse
cumprido sem o temor e o respeito devidos a todas as prescrições, que
foram transmitidas a Moisés, para serem cumpridas pelos
sacerdotes.
A
citação bíblica “fogo estranho” é uma referência, portanto a um modo diferente
de queimar incenso, do que fora designado por Deus.
O
Senhor declarou a Moisés o motivo daquele juízo de morte sobre os filhos de
Arão:
“Serei
santificado naqueles que se chegarem a mim, e serei glorificado diante de todo
o povo.”
Isto porque foi manifestado que o Senhor exige
de fato santidade e obediência daqueles que se aproximam dEle, e nisto o Seu
nome é glorificado diante do Seu povo, pelo temor que lhe sobrevém, por
observarem o modo como Deus trata com aqueles que Lhe servem, especialmente com
os líderes do Seu povo, quando estes se desviam do temor que Lhe é devido.
A
ocasião em que eles ofereceram o fogo estranho (início dos serviços no tabernáculo)
e o ofício elevado de que estavam investidos (sacerdotes) contribuiu para o
juízo que lhes sobreveio.
Este
viera nem tanto pela enormidade do pecado deles, pois o Senhor tem suportado
maiores e continuadas ofensas com Sua longanimidade, mas exatamente porque se
não tivesse intervindo de forma drástica,
quando eles se predispuseram a não cumprir
rigorosamente o que prescrevera na Lei para ser cumprido, isto se tornaria a
norma nos procedimentos deles, e a exigência de Deus relativa a que Seus mandamentos
fossem cumpridos, seria grandemente desacreditada.
Por
isso foi ordenado a Arão e seus dois outros filhos, Eleazar e Itamar que
permanecessem no tabernáculo, e que não chorassem e
lamentassem a morte de Nadabe e Abiú, pois isto seria permitido somente aos
seus demais familiares, que não tinham parte no sacerdócio.
Desta
forma, dariam testemunho a toda a congregação de Israel, que
a vontade de Deus, a obra do Senhor, era mais importante do que a perda de
filhos e irmãos.
As
coisas ordenadas pelo Senhor relativas ao modo de ser servido e adorado são
santíssimas, e não devem ser consideradas coisas comuns, e muito menos se deve dar
a elas um uso profano e imundo, conforme estava ilustrado na lei em variadas
figuras, como comidas, animais, situações etc, com o propósito de ensinar a
reverência, que é devida especialmente, às
coisas que são pertencentes ao culto de adoração a Deus.
É um
grande perigo, mesmo na dispensação da graça, quando os líderes em vez de
submeterem o serviço de louvor e adoração à Palavra de Deus, usam a sua
imaginação ou permitem serem dirigidos pela imaginação de outros, para
contrariar frontalmente aquilo que está revelado pelo Senhor na Sua Palavra.
A
bondade e misericórdia de Deus são infinitas, assim como Ele é infinito, e é exatamente
em razão desta bondade e misericórdia, que Ele usa uns pouquíssimos exemplos
para nos advertir que viver deliberadamente no pecado nos priva de experimentar
as Suas melhores e maiores bênçãos, e no caso de falta de cobertura do
sacrifício de Jesus, o pecado produz a pior de todas as mortes, que
é a morte espiritual, e que por fim virá a ser morte eterna.
Assim,
com Seus juízos, o Senhor nos alerta em Sua bondade, graça e misericórdia que
não devemos viver na prática deliberada do pecado, mas que devemos nos
arrepender dos nossos pecados e buscar andar em retidão na Sua presença, pois
foi para este propósito que fomos criados por Ele.
É por
isso que tanto Jesus quanto os profetas e os apóstolos advertem seriamente a
todos os pecadores, para que se arrependam e se convertam a
Deus, por meio da fé nEle, e vivam em santidade de vida, para que lhes vá bem.
Pois, do contrário correm o risco de enfrentarem o justo juízo de Deus, tal
como ocorrera com Nadabe e Abiú, para a nossa advertência.
Os ministros
de Deus devem saber distinguir não somente o que é santo do que é profano, como
também, discernir nas próprias coisas santas, aquilo que é mais santo, como
exemplificado em figura no caso dos sacerdotes em relação às partes dos
sacrifícios que lhes foram dadas por Deus, e de que tipos de sacrifícios
deveriam comê-las.
Nós
já tecemos o devido comentário sobre isto nos capítulos anteriores, e vimos ali
que era vedado ao sacerdote comer da carne do sacrifício pelo pecado, cujo
sangue fosse levado para o interior do tabernáculo, para fazer expiação no
interior do Lugar Santo.
Mas estava obrigado a comer as porções de carne
relativas às partes dos animais, que fossem ofertados pelo pecado e cujo sangue
não fosse usado na referida expiação no interior do Lugar Santo.
Deste
modo, eles não poderiam frustrar o ensino em figura que aqueles que são feitos
sacerdotes para Deus, por meio da fé em Cristo, vivem diante dEle porque se
alimentam da Sua carne.
Por
isso Jesus disse que a Sua carne é verdadeira comida, e que todo aquele que
dele se alimenta tem a vida eterna.
Tal
como os apóstolos com Jesus no Getsêmani, o espírito de Arão estava pronto para
toda obediência, mas a carne era fraca, e assim como os apóstolos,
dormiram, em vez de vigiarem com o seu Senhor, em razão da tristeza pela morte
de seus dois filhos, se sentia totalmente indisposto
a comer da carne do bode, que foi oferecido como oferta pelo
pecado e assim ordenou a seus filhos, que
a sua carne fosse queimada totalmente.
Com
isso houve uma quebra de um mandamento, mas, neste caso, a misericórdia do
Senhor o alcançou, pois havia agido daquela forma juntamente com seus filhos
Eleazar e Itamar, não por desconsiderarem ou desrespeitarem as ordens de Deus
relativas aos sacrifícios, e nem pelo desejo de descumpri-las em ocasiões
futuras.
Então
ele argumenta com Moisés como poderia Deus aceitar que ele comesse da carne do
sacrifício por simples obrigação, e
com o espírito entristecido?
Moisés
entendeu a justificativa de Arão e se deu
por satisfeito.
É
bastante instrutivo que no mesmo capítulo que registra a morte de Nadabe e
Abiu, por terem oferecido fogo estranho, também está registrada a misericórdia
de Deus para com Arão e seus filhos, quando deixaram de seguir estritamente o
que era determinado pela Lei, em razão de ter sido compassivo para com o luto e
tristeza deles.
Isto
é muito importante de ser considerado, para
que não se pense de Deus como sendo um Juiz inflexível nos dias do Antigo
Testamento, que punia sem qualquer apelação a qualquer transgressão cometida
contra os Seus mandamentos, sem pesar os espíritos e a sinceridade e o desejo
daqueles que se aproximavam dEle para servi-lO.
O que
pesa para Ele não é o tanto quanto poderemos falhar, porque já sabe que todos
somos pecadores, mas qual é a forma como encaramos o pecado: se com tristeza e
arrependimento, ou considerando a transgressão da Sua vontade como sendo algo
sem importância.
“1
Ora, Nadabe, e Abiú, filhos de Arão, tomaram cada um o seu incensário e, pondo
neles fogo e sobre ele deitando incenso, ofereceram fogo estranho perante o
Senhor, o que ele não lhes ordenara.
2
Então saiu fogo de diante do Senhor, e os devorou; e morreram perante o Senhor.
3
Disse Moisés a Arão: Isto é o que o Senhor falou, dizendo: Serei santificado
naqueles que se chegarem a mim, e serei glorificado diante de todo o povo. Mas
Arão guardou silêncio.
4 E
Moisés chamou a Misael e a Elzafã, filhos de Uziel, tio de Arão, e disse-lhes:
Chegai-vos, levai vossos irmãos de diante do santuário, para fora do arraial.
5
Chegaram-se, pois, e levaram-nos como estavam, nas próprias túnicas, para fora
do arraial, como Moisés lhes dissera.
6
Então disse Moisés a Arão, e a seus filhos Eleazar e Itamar: Não descubrais as
vossas cabeças, nem rasgueis as vossas vestes, para que não morrais, nem venha
a ira sobre toda a congregação; mas vossos irmãos, toda a casa de Israel,
lamentem este incêndio que o Senhor acendeu.
7 E
não saireis da porta da tenda da revelação, para que não morrais; porque está
sobre vós o óleo da unção do Senhor. E eles fizeram conforme a palavra de
Moisés.
8
Falou também o Senhor a Arão, dizendo:
9 Não
bebereis vinho nem bebida forte, nem tu nem teus filhos contigo, quando
entrardes na tenda da revelação, para que não morrais; estatuto perpétuo será
isso pelas vossas gerações,
10
não somente para fazer separação entre o santo e o profano, e entre o imundo e
o limpo,
11
mas também para ensinar aos filhos de Israel todos os estatutos que o Senhor
lhes tem dado por intermédio de Moisés.
12
Também disse Moisés a Arão, e a Eleazar e Itamar, seus filhos que lhe ficaram:
Tomai a oferta de cereais que resta das ofertas queimadas do Senhor, e comei-a
sem levedura junto do altar, porquanto é coisa santíssima.
13
Comê-la-eis em lugar santo, porque isto é a tua porção, e a porção de teus
filhos, das ofertas queimadas do Senhor; porque assim me foi ordenado.
14
Também o peito da oferta movida e a coxa da oferta alçada, comê-los-eis em
lugar limpo, tu, e teus filhos e tuas filhas contigo; porquanto são eles dados como
tua porção, e como porção de teus filhos, dos sacrifícios das ofertas pacíficas
dos filhos de Israel.
15
Trarão a coxa da oferta alçada e o peito da oferta movida juntamente com as
ofertas queimadas da gordura, para movê-los como oferta movida perante o
Senhor; isso te pertencerá como porção, a ti e a teus filhos contigo, para
sempre, como o Senhor tem ordenado.
16 E
Moisés buscou diligentemente o bode da oferta pelo pecado, e eis que já tinha
sido queimado; pelo que se indignou grandemente contra Eleazar e contra Itamar,
os filhos que de Arão ficaram, e lhes disse:
17
Por que não comestes a oferta pelo pecado em lugar santo, visto que é coisa
santíssima, e o Senhor a deu a vós para levardes a iniquidade
da congregação, para fazerdes expiação por eles diante do Senhor?
18
Eis que não se trouxe o seu sangue para dentro do santuário; certamente a
devíeis ter comido em lugar santo, como eu havia ordenado.
19
Então disse Arão a Moisés: Eis que hoje ofereceram a sua oferta pelo pecado e o
seu holocausto perante o Senhor, e tais coisas como essas me têm acontecido; se
eu tivesse comido hoje a oferta pelo pecado, porventura teria sido isso coisa
agradável aos olhos do Senhor?
20
Ouvindo Moisés isto, pareceu-lhe razoável.” (Lev 10.1-20).
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