Mesmo uma alma piedosa, depois de
muita comunhão com Deus, pode, por causa do pecado, ser trazida a um estado de
perplexidade como a que o salmista expressa no início deste salmo.
Mesmo na aliança da graça não há
uma provisão de permanente consolação para qualquer pessoa debaixo da culpa de
grandes pecados, nos quais elas caíram.
Assim, pelo que significam, tais pecados vêm terrificar a consciência,
quebrar os ossos da alma, e colocá-la em trevas, e lançá-la em profundezas
insondáveis, apesar do alívio que é provido pelo perdão do sangue de Cristo.
Mas a força de todo e qualquer
pecado pode ser debilitada pela graça, contudo a raiz de nenhum pecado será
completamente arrancada nesta vida.
Assim, não será algo estranho que
em algumas vezes o próprio cristão fiel se encontre nestas profundezas de alma
a que se refere o salmista.
A alma regenerada pelo Espírito
possui um princípio de graça que opera e trabalha continuamente para
preservá-la do pecado.
Então o próprio Espírito Santo que
habita no cristão há de incitá-lo a buscar socorro na graça de Cristo, para ser
arrancada deste abatimento de espírito.
Quando a presença de Cristo é
perdida, pelos sinais visíveis de falta de paz no espírito, devemos nos
esforçar com todo empenho para encontrá-lo, porque é nisto que está a cura da
nossa angústia.
É preciso crer na sua bondade,
graça e misericórdia, e manter o coração firme na fé, ainda que debaixo da
fraqueza produzida pelo pecado, porque disto depende a nossa cura.
Este esforço para curar as feridas
da alma deve ser empreendido, senão elas se ampliarão até a morte espiritual.
Os ferimentos do pecado devem ser
tratados pelo Médico divino, mas Ele não operará se não for procurado.
E esta procura é espiritual em
oração e entrega do espírito ao Senhor.
Davi conhecia bem este segredo, e
nunca se permitiu ficar nas profundezas por motivo de indolência ou acomodação
às enfermidades produzidas pelo pecado.
Ele partia em busca de alívio e de
cura nAquele que é o único competente para tratar com os males da alma.
Uma recuperação das profundezas é
como uma nova conversão. O Espírito Santo dá às almas um senso renovado para
que se apliquem no propósito de buscar a Deus. O trabalho inteiro é dele., mas
é nosso dever orar e crer.
Por isso é necessário ter um senso sincero do
pecado. E nesta sinceridade devemos reconhecer a nossa culpa no que fazemos,
deixamos de fazer ou pensamos, e sem este auto exame e julgamento em razão do
pecado não podemos contar com uma confissão sincera que nos habilite ao perdão
de Deus.
A condição para o nosso perdão é a
confissão. Sem confissão não pode haver perdão. Sem a confissão ficaríamos
insensíveis e faríamos pouco caso do pecado. Mas ao termos que declarar as
nossas faltas e culpa reconhecemos que Deus é santo e exige santidade de nós. E tratamos o pecado
com a devida seriedade com que deve ser tratado.
Devemos nos sujeitar debaixo da
potente mão do Senhor, e receber de bom grado os juízos corretivos, por mais
que estes nos doam, porque é assim que se acha graça em ocasião oportuna.
Quanto mais tentarmos justificar a
nós próprios, maiores abismos se abrirão e engolirão ainda mais o nosso
espírito em suas profundezas.
A mão poderosa do
Senhor tem o controle de tudo e todos. Ele pode fazer a alma esperar pelo Seu perdão
em profundezas pelo tempo que bem Lhe aprouver, de modo que se cumpra todo o
Seu propósito.
A misericórdia e
o perdão não vêm adiante de Deus como a luz do sol e as ondas do mar, que
seguem um curso fixo e pré-determinado.
Isto é mais um
fator para reforçar a necessidade do nosso temor e reverência diante dEle.
A andarmos
humildemente na Sua presença enquanto aguardamos pelo Seu favor.
É por isso que o
seu nome é Senhor.
Ele tem o governo
de nossas vidas, e cabe a Ele e não a nós conduzir o nosso caminhar.
Todos os frutos
da bondade e graça de Deus são mantidos exclusivamente pela sua própria vontade
soberana.
Esta é a Sua
grande glória.
Por isso Ele
afirmou o que disse em Êx 33.19, quando Moisés lhe pediu que lhe mostrasse a
Sua glória (Êx 33.18).
A glória do
Senhor está em manifestar a Sua graça e bondade.
Não é de maneira
indiscriminada que Ele concede o Seu perdão. Com isto dá grande valor à Sua
graça. Ela não é barata porque é graça. Ela não é comum. E faríamos bem em
atribuir a ela o mesmo valor que o Senhor lhe dá.
Ela é preciosa
para nós, já que Deus tem misericórdia de quem quer ter misericórdia.
Quão grande e
permanente gratidão devem demonstrar os cristãos por terem sido alvo de tão
precioso favor. Glórias são dadas a Deus no céu e na terra quando Ele manifesta
a Sua bondade e misericórdia ao pecador.
Por isso devemos
ter paciência e fé, enquanto aguardamos pelo livramento do Senhor, em nos
retirar das profundezas em que nos encontramos.
É no próprio
Cristo, na comunhão com Ele, que seremos livrados.
Assim, o que o salmista busca é o próprio
Deus, é o próprio Jeová que sua alma espera. Não é apenas a graça, a
misericórdia ou o alívio considerados de modo absoluto, mas o Deus de toda a
graça que devemos esperar com grande expectativa.
O salmista
esperava em Deus, e esperava na Sua Palavra, especialmente nas promessas da
Palavra e nas suas demonstrações da bondade, misericórdia, graça, generosidade
e amor de Deus.
Quando as
dificuldades surgem, e em nossos dilemas, tentações e desertos, devemos nos
entreter com tais pensamentos sobre o caráter de Deus.
Isto removerá de a
impaciência e a ansiedade.
“1 Das profundezas clamo a ti, ó
Senhor.
2 Senhor, escuta a minha voz;
estejam os teus ouvidos atentos à voz das minhas súplicas.
3 Se tu, Senhor, observares as
iniquidades, Senhor, quem subsistirá?
4 Mas contigo está o perdão, para
que sejas temido.
5 Aguardo ao Senhor; a minha alma
o aguarda, e espero na sua palavra.
6 A minha alma anseia pelo Senhor,
mais do que os guardas pelo romper da manhã, sim, mais do que os guardas pela
manhã.
7 Espera, ó Israel, no Senhor!
pois com o Senhor há benignidade, e com ele há copiosa redenção;
8 e ele remirá a Israel de todas
as suas iniquidades.”
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