Quando lemos o livro de Salmos, e nos
deparamos especialmente com os salmos em que Davi rasga o seu coração e alma
atribulados diante de Deus, em busca de refrigério, socorro e livramento, como
este, por exemplo, ficamos a pensar até que ponto temos transformado o próprio
culto de adoração ao Senhor, em muitas de nossas igrejas, numa espécie de
bezerro de ouro sagrado, que usamos na adoração, em vez de adorarmos em
espírito e em verdade, que é a única forma de adoração aceitável por Deus.
Esta verdade não é apenas a verdade da
própria Palavra mas também a verdade relativa às nossas reais condições,
especialmente de corpo, alma e espírito.
Como lidar com um Deus verdadeiro, sem
que seja nesta base de verdade, tal como encontramos em todos os personagens da
Bíblia que lograram agradar a Deus?
Se
o nosso alvo em nossos cultos é o de agradá-lO e não propriamente a nós
mesmos, estamos obrigados a seguir o mesmo critério de verdade que eles
seguiram, não ocultando de Deus a sua real condição, e não impondo-Lhe algo
formal que não viesse da própria experiência pessoal deles e do profundo dos
seus corações.
Por isso os salmos não são meras
produções poéticas, compostas com a finalidade de atender a um determinado
propósito religioso, senão a expressão da própria vida do salmista, e do mover
do Espírito Santo sobre ela, nas experiências reais que eles viveram.
Este é o motivo porque falam tão
profundamente a nós.
Lembremos que Deus nos ordena a pregação
da Palavra mas não necessariamente na forma de sermões.
Por este motivo, devemos ter muito
cuidado para não construirmos bezerros de ouro em nossos cultos, fazendo por
exemplo do momento de louvor um ídolo, do sermão outro ídolo, e assim
sucessivamente, quanto a tudo o que for apresentado no culto, porque estaremos
adorando não ao Senhor, mas ao momento de louvor e ao sermão propriamente
ditos.
E quão perigoso é isto para uma
verdadeira adoração.
Substituirmos o grande objetivo dela que
é o próprio Deus, pelos meios que usamos para adorá-lo.
Quantos estariam dispostos a fazerem uma
oração como a que Davi fez neste salmo, em pleno culto público?
Veja que ele pede a Deus que atendesse
às suas súplicas, não confiado na sua própria justiça, mas na fidelidade e na
justiça do próprio Senhor.
Ele pede humildemente para que o Senhor
não entrasse em juízo com ele com base na sua perfeição na justiça, porque
sabia que à vista do Senhor nenhum homem é perfeitamente justo.
E ele declara que o diabo estava se
aproveitando disto, perseguindo a sua alma e assolando a sua vida, fazendo-lhe
sentir-se como aqueles que haviam morrido há muito tempo.
Ele confessa que o seu espírito está
abatido, e que o seu coração estava turbado.
Todavia, ele trazia à memória o que
podia lhe dar esperança, lembrando dos dias passados em que Deus havia
manifestado o Seu grande poder, realizando grandes obras.
Então se esforçava levantando as suas
mãos para o Senhor, para que Ele o segurasse e apoiasse, e passava a sentir
sede em sua alma pela presença de Deus, tal como uma terra seca que aguarda
ansiosamente pelas chuvas.
Ele pede que o Senhor não demorasse em
responder-lhe porque o seu espírito estava a ponto de desfalecer, e que não
sucedesse de o Senhor lhe ocultar a Sua face, porque então ele se sentiria como
aqueles que já morreram.
Ele clama então para que o Senhor lhe
manifestasse a Sua graça, porque apesar do seu abatimento não deixou de confiar
nEle um só momento, e que Lhe mostrasse o caminho pelo qual deveria andar,
porque havia elevado a sua alma até a Sua presença.
Ele pediu que Deus o livrasse dos seus
inimigos, porque fizera dEle o seu único refúgio.
E que lhe continuasse ensinando a fazer
a Sua vontade, porque somente Ele era o Seu Deus, de maneira que sabia que o
Espírito Santo haveria de guiá-lo por um terreno plano, sem pedras, nas quais
pudesse tropeçar.
Finalmente, ele pede a Deus que o
vivificasse não por causa dele, Davi, mas por causa do amor do Seu nome, por
amor à Sua justiça, tirando a sua alma da tribulação.
E que por misericórdia desse cabo de
todos os seus inimigos, de todos os que lhe atribulavam a alma, porque afinal
era servo do Senhor, e tinha dEle a promessa de ser livrado da angústia por
Ele, sempre que Lhe clamasse por socorro.
Este é o efeito da ligação da alma com
Deus, quando é libertada dos seus opressores, ela não somente é livrada, como
os seus opressores, ou seja, todos os agentes do inferno que a oprimiam, são
subjugados por Deus.
“Atende, SENHOR, a minha oração, dá ouvidos às
minhas súplicas. Responde-me, segundo a tua fidelidade, segundo a tua justiça.
Não entres em juízo com o teu servo, porque à tua vista não há justo nenhum
vivente. Pois o inimigo me tem perseguido a alma; tem arrojado por terra a
minha vida; tem-me feito habitar na escuridão, como aqueles que morreram há
muito. Por isso, dentro de mim esmorece
o meu espírito, e o coração se vê turbado. Lembro-me dos dias de outrora, penso
em todos os teus feitos e considero nas obras das tuas mãos. A ti levanto as mãos; a minha alma anseia por
ti, como terra sedenta. Dá-te pressa,
SENHOR, em responder-me; o espírito me desfalece; não me escondas a tua face,
para que eu não me torne como os que baixam à cova. Faze-me ouvir, pela manhã, da tua graça, pois
em ti confio; mostra-me o caminho por onde devo andar, porque a ti elevo a
minha alma. Livra-me, SENHOR, dos meus inimigos; pois em ti é que me
refugio. Ensina-me a fazer a tua
vontade, pois tu és o meu Deus; guie-me o teu bom Espírito por terreno plano. Vivifica-me, SENHOR, por amor do teu nome;
por amor da tua justiça, tira da tribulação a minha alma. E, por tua
misericórdia, dá cabo dos meus inimigos e destrói todos os que me atribulam a
alma, pois eu sou teu servo.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário