Nós costumamos nos concentrar muito no livramento que Deus dera a
Daniel de ser devorado pelos leões famintos na cova em que fora colocado
juntamente com eles, que esquecemos que o grande livramento fora de fato dos
lobos e raposas do reino de Dario, que por inveja e ciúme de Daniel, usaram de
um estratagema, ou cilada, para matá-lo, a pretexto de não ser leal ao rei da
Média e aos seus deuses.
É mais fácil sermos livrados de leões do que destes lobos e
raposas que intentam contra as almas dos justos, sempre usando de
dissimulações, onde aparentem serem justos e interessados nos negócios do reino
e da religião, ocultando a hipocrisia de seus corações, enquanto elaboram
projetos para destruírem os santos.
Os leões atacam diretamente usando a sua força, num ataque
frontal, mas lobos e raposas montam ciladas para apanharem suas presas, e
especialmente estas últimas, não caem facilmente em armadilhas, como os leões.
É preciso portanto, acautelar-se de tais lobos e raposas, e por
isso temos da parte de nosso Senhor, instruções neste sentido.
Daniel confiou no Senhor, e Ele reverteu a cilada do diabo para o
aumento da Sua própria glória.
O mesmo se dá quando o cristão permanece fiel no seu testemunho,
quando é perseguido e atacado injustamente pelos instrumentos do diabo.
A história tem sempre se repetido, porque no final, o diabo será
envergonhado e o nome de Deus engrandecido.
O grande alvo do diabo não era simplesmente o de tirar a vida de
Daniel, mas levar o rei Dario à conclusão errônea que o Deus de Israel não é
poderoso para livrar os Seus melhores servos, porque Dario havia observado que
havia em Daniel um espírito excelente.
Por uma profecia de Isaías Deus havia encarregado o rei Ciro de
trazer de volta os judeus para a sua própria terra na Palestina, bem como para
se encarregar dos meios necessários para que fosse erigido o Seu templo em
Jerusalém, pelo reconhecimento da honra que lhe dera de vencer os babilônios.
E Ciro se entregou de fato a tal projeto.
A escritura da parede na sala do banquete de Belsazar na noite que
ele caiu no poder da Média e da Pérsia, e o livramento de Daniel da cova dos
leões, pelo poder do Deus dos judeus, somente serviriam para aumentar a
convicção em Dario e em Ciro, que a profecia de Isaías havia tido cumprimento pela
intervenção do Deus dos judeus, e a queda de Babilônia, não fora portanto, mera
obra do acaso.
Israel era um povo vassalo, ao mesmo tempo que era um povo temido
pelos reis conquistadores, por causa dos atos poderosos que o Deus deles vinha
operando em favor do Seu povo. Eles temiam portanto, caírem no desagrado do
Deus dos judeus, para não serem arruinados como os reinos que haviam sido
derrubados por Ele, anteriormente.
Tudo coopera para o bem dos que amam a Deus, porque não somente
Daniel foi livrado da boca dos leões, como também o rei Dario e outros grandes
da Média, e mesmo da Pérsia, através daquele incidente, tiveram a oportunidade
de aprenderem que quando o Deus de Israel é honrado, à custa da desonra de
outros deuses, ou até mesmo de reis, que exijam adoração, como se deuses
fossem, por fim, estes haverão de ser humilhados, e o Deus de Israel sempre
será honrado.
Não vale a pena portanto, colocar a confiança em falsos deuses ou
nos homens, por conta de se desonrar ao Senhor, coisa que Daniel não se
permitiu, fazer, contrariando o decreto real, que não permitia que se fizesse
petição a qualquer deus por trinta dias, senão somente ao rei, não por motivo
de rebelião, mas para permanecer fiel ao Senhor, e para manter as suas devoções
diárias, que ele jamais havia
interrompido em toda a sua longa vida, por qualquer motivo que fosse.
A honra que Ele deu ao Senhor, foi-lhe dada por devolvida por Ele,
em muitos sentidos, mantendo-o em honra diante dos reinos conquistadores, como
também, fazendo menção nas Escrituras, como um dos três grandes justos que
subsistem perante Ele, citando-o ao lado de Nóe e de Jó em Ez 14.14,20:
“ainda que estivessem no meio dela estes três homens, Noé, Daniel
e Jó, eles pela sua justiça, livrariam apenas a sua própria vida, diz o Senhor
Deus.” (Ez 14.14)
“ainda que Noé, Daniel e Jó estivessem no meio dela, vivo eu, diz
o Senhor Deus, eles não livrariam nem filho nem filha, tão somente livrariam as
suas próprias vidas pela sua justiça.” (Ez 14.20)
“1 Pareceu bem a Dario constituir sobre o reino a cento e vinte
sátrapas, que estivessem por todo o reino;
2 e sobre eles, três presidentes, dos quais Daniel era um, aos
quais estes sátrapas dessem conta, para que o rei não sofresse dano.
3 Então, o mesmo Daniel se distinguiu destes presidentes e
sátrapas, porque nele havia um espírito excelente; e o rei pensava em
estabelecê-lo sobre todo o reino.
4 Então, os presidentes e os sátrapas procuravam ocasião para
acusar a Daniel a respeito do reino; mas não puderam achá-la, nem culpa alguma;
porque ele era fiel, e não se achava nele nenhum erro nem culpa.
5 Disseram, pois, estes homens: Nunca acharemos ocasião alguma
para acusar a este Daniel, se não a procurarmos contra ele na lei do seu Deus.
6 Então, estes presidentes e sátrapas foram juntos ao rei e lhe
disseram: Ó rei Dario, vive eternamente!
7 Todos os presidentes do reino, os prefeitos e sátrapas,
conselheiros e governadores concordaram em que o rei estabeleça um decreto e
faça firme o interdito que todo homem que, por espaço de trinta dias, fizer
petição a qualquer deus ou a qualquer homem e não a ti, ó rei, seja lançado na
cova dos leões.
8 Agora, pois, ó rei, sanciona o interdito e assina a escritura,
para que não seja mudada, segundo a lei dos medos e dos persas, que se não pode
revogar.
9 Por esta causa, o rei Dario assinou a escritura e o interdito.
10 Daniel, pois, quando soube que a escritura estava assinada,
entrou em sua casa e, em cima, no seu quarto, onde havia janelas abertas do
lado de Jerusalém, três vezes por dia, se punha de joelhos, e orava, e dava
graças, diante do seu Deus, como costumava fazer.
11 Então, aqueles homens foram juntos, e, tendo achado a Daniel a
orar e a suplicar, diante do seu Deus,
12 se apresentaram ao rei, e, a respeito do interdito real, lhe
disseram: Não assinaste um interdito que, por espaço de trinta dias, todo homem
que fizesse petição a qualquer deus ou a qualquer homem e não a ti, ó rei,
fosse lançado na cova dos leões? Respondeu o rei e disse: Esta palavra é certa,
segundo a lei dos medos e dos persas, que se não pode revogar.
13 Então, responderam e disseram ao rei: Esse Daniel, que é dos
exilados de Judá, não faz caso de ti, ó rei, nem do interdito que assinaste;
antes, três vezes por dia, faz a sua oração.
14 Tendo o rei ouvido estas coisas, ficou muito penalizado e
determinou consigo mesmo livrar a Daniel; e, até ao pôr-do-sol, se empenhou por
salvá-lo.
15 Então, aqueles homens foram juntos ao rei e lhe disseram: Sabe,
ó rei, que é lei dos medos e dos persas que nenhum interdito ou decreto que o
rei sancione se pode mudar.
16 Então, o rei ordenou que trouxessem a Daniel e o lançassem na
cova dos leões. Disse o rei a Daniel: O teu Deus, a quem tu continuamente
serves, que ele te livre.
17 Foi trazida uma pedra e posta sobre a boca da cova; selou-a o
rei com o seu próprio anel e com o dos seus grandes, para que nada se mudasse a
respeito de Daniel.
18 Então, o rei se dirigiu para o seu palácio, passou a noite em
jejum e não deixou trazer à sua presença instrumentos de música; e fugiu dele o
sono.
19 Pela manhã, ao romper do dia, levantou-se o rei e foi com
pressa à cova dos leões.
20 Chegando-se ele à cova, chamou por Daniel com voz triste; disse
o rei a Daniel: Daniel, servo do Deus vivo! Dar-se-ia o caso que o teu Deus, a
quem tu continuamente serves, tenha podido livrar-te dos leões?
21 Então, Daniel falou ao rei: Ó rei, vive eternamente!
22 O meu Deus enviou o seu anjo e fechou a boca aos leões, para
que não me fizessem dano, porque foi achada em mim inocência diante dele; também
contra ti, ó rei, não cometi delito algum.
23 Então, o rei se alegrou sobremaneira e mandou tirar a Daniel da
cova; assim, foi tirado Daniel da cova, e nenhum dano se achou nele, porque
crera no seu Deus.
24 Ordenou o rei, e foram trazidos aqueles homens que tinham
acusado a Daniel, e foram lançados na cova dos leões, eles, seus filhos e suas
mulheres; e ainda não tinham chegado ao fundo da cova, e já os leões se
apoderaram deles, e lhes esmigalharam todos os ossos.
25 Então, o rei Dario escreveu aos povos, nações e homens de todas
as línguas que habitam em toda a terra: Paz vos seja multiplicada!
26 Faço um decreto pelo qual, em todo o domínio do meu reino, os
homens tremam e temam perante o Deus de Daniel, porque ele é o Deus vivo e que
permanece para sempre; o seu reino não será destruído, e o seu domínio não terá
fim.
27 Ele livra, e salva, e faz sinais e maravilhas no céu e na
terra; foi ele quem livrou a Daniel do poder dos leões.
28 Daniel, pois, prosperou no reinado de Dario e no reinado de
Ciro, o persa.”
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