Provérbios 28
Silvio Dutra
Mar/2016
A474
Alves, Silvio Dutra
Provérbios 28./ Silvio
Dutra Alves. – Rio de Janeiro,
2016.
41p.; 14,8x21cm
1. Teologia. 2. Salomão. 3.
Estudo Bíblico.
I. Título.
CDD
230.223
|
Provérbios 28
1 Os
ímpios fogem sem que haja ninguém a persegui-los; mas os justos são ousados
como um leão.
A quantos sustos contínuos estão
sujeitos aqueles que andam em maus
caminhos. A culpa na consciência faz os homens um terror para si mesmos, de
modo que eles estão prontos para fugir quando ninguém os persegue; como aquele
que foge por causa da dívida que é encontrada em cada um que se encontra com um
fiel oficial de justiça.
Embora eles finjam estarem tranquilos,
há temores secretos que os assombram, de modo que temem, onde haja perigo atual
ou iminente (Sl 53.5).
Aqueles que fizeram de Deus o
inimigo deles, não podem deixar de ver toda a criação em guerra contra eles, e,
portanto, não podem ter verdadeiro prazer e paz em si mesmos, pois uma terrível
expectativa de juízo do pecado torna os homens covardes.
Se eles fogem quando ninguém os persegue,
o que vão fazer
quando virem a Deus mesmo os perseguindo com seus exércitos?
Mas quão grande segurança santa e
serenidade de espírito possuem aqueles que apreciam e que guardam a consciência
livre de ofensa e assim se mantêm no amor de Deus.
Os justos são ousados como um leão, como um
leão novo; nos
maiores perigos porque eles têm um Deus de poder onipotente em quem podem confiar.
Pelo que não temerão, ainda que a terra se transtorne. Todas as dificuldades
que se encontram no caminho de seu dever, não lhes deixam assustados.
2 Pela
transgressão da terra muitos são os seus príncipes, mas por homem prudente e
entendido a sua continuidade será prolongada.
Os pecados nacionais trazem
transtornos nacionais e a perturbação do repouso público. Pela
transgressão da terra, e uma apostasia geral de Deus e da religião para a
idolatria, profanação, ou imoralidade, muitos são os seus príncipes, muitos ao
mesmo tempo fingindo soberania e disputando o poder, através do qual as pessoas
se dividem em partidos e facções, mordendo e devorando uns aos outros.
Quando governam os ímpios, o seu
povo sofre por isso, e às vezes o
governo sofre por causa dos pecados do povo.
Então, esta iniquidade que se
multiplica na Terra reflete nas relações entre governantes e governados,
fazendo com que em vez da verdade e da justiça, imperem o engano e a injustiça.
Estes que se entregam à prática
da corrupção caem e são sucedidos por outros, que geralmente, tal como eles
também permanecem por pouco tempo na condição de governantes por seguirem a
mesma prática.
Mas, quando se levanta entre o
povo quem os governe com justiça e equidade o tempo de governo tende a se
prolongar pois as coisas são mantidas em boa ordem, ou, se perturbadas, são
trazida de volta mais uma vez ao antigo canal.
Não podemos calcular quão grande
quantidade de serviços um homem sábio e justo pode fazer a uma nação em um
momento crítico.
3 O
homem pobre que oprime os pobres é como a chuva impetuosa, que causa a falta de
alimento.
É ilusório o pensamento de que
aqueles que são pobres seriam melhores senhores e governantes caso assumissem o
poder.
A cobiça e a ambição reside
escondida no coração do homem, de modo que o seu caráter maligno logo se revela
quando lhe é dado o poder.
Falto de sabedoria e de
conhecimento e não acostumado ao mel, logo se lambuzará com ele, e usará da
opressão para que possa garantir a sua permanência na posição que logrou
alcançar.
Se um pobre vem a se tornar
grande entre os homens pelo muito empenho em estudar, se especializar e a
alcançar o entendimento da forma correta de se gerir a coisa pública, então ele
fica habilitado ao desempenho das funções de governo.
Mas, se permanece indolente e
analfabeto, e sem as qualificações necessárias para governar, então sempre
haverá esta tendência a se permanecer endurecido e ignorante, de forma que fica
impossibilitado de prestar bons ofícios aos outros.
O poder exerce fascínio e tende a
corromper, de modo que aqueles que conhecem, por experiência as misérias da
pobreza, em vez de serem compassivos para com aqueles que sofrem, tornam-se indesculpavelmente
insensíveis e opressores.
Eles são comparados à chuva
impetuosa, que em vez de ser benéfica à lavoura, como se espera da chuva, a
destrói.
4 Os
que deixam a lei louvam o ímpio; porém os que guardam a lei contendem com eles.
É por este critério que se
nivelam os homens, sejam eles pobres ou ricos.
Os que não possuem ou que abandonam
o temor a Deus e à Sua Lei, aplaudem e aprovam a prática da impiedade,
principalmente em razão da aparente vantagem que obtêm com a prática da
corrupção.
Mas aqueles que têm o temor de
Deus e guardam os Seus mandamentos reprovam e contendem com a prática da
impiedade.
As pessoas ímpias se lisonjeiam
mutuamente e arquitetam projetos para permanecerem nas posições em que tiram
vantagens para si. Fortalecem a mão um do outro em seus maus caminhos,
esperando assim silenciar os clamores de suas próprias consciências e para
servir os interesses do reino do diabo.
Aqueles que realmente têm uma
consciência da lei de Deus, se opõem vigorosamente ao pecado, não para
satisfazer motivos pessoais ou revanchistas, mas para agradarem e obedecerem a
Deus, que assim o exige.
Reprovarão as obras das trevas, não
propriamente em nome do interesse do povo, mas do de Deus, e farão o que
estiver ao seu alcance para conduzir os infratores à punição devida, para que
outros possam ouvir e temer.
5 Os
homens maus não entendem o juízo, mas os que buscam ao Senhor entendem tudo.
A prevalência de
desejos dos homens é devida à escuridão do seu entendimento, e a escuridão da
sua compreensão é devida em grande parte
ao domínio de suas paixões.
Os homens, de si mesmos, sem o
auxílio da graça divina, não entendem o juízo, não discernem entre verdade e
falsidade, certo e errado; eles não entendem a lei de Deus como regra, quer do
seu dever ou de sua desgraça; e, por isso, é que são ímpios, uma vez que sua
maldade é o efeito da sua ignorância e erro (Ef 4.18).
Como não entendem o juízo, e por conseguinte
não temem a Deus, são ímpios; suas corrupções cegam os olhos, e os enchem de preconceitos
contra o que é santo e justo, que lhes conduzem a praticar o mal e a odiar a
luz.
Então, o conhecimento de Deus e
da Sua vontade e juízos é reservado para aqueles que buscam ao Senhor.
Aqueles que fazem da glória de
Deus o fim de suas ações, o Seu favor como a sua felicidade, e Sua Palavra como
sua regra, e se aplicam a Ele em todas as ocasiões por meio da oração, receberão
da Sua parte o espírito de sabedoria. Se um homem fizer a vontade dEle,
conhecerá a sua doutrina (João 7.17).
6
Melhor é o pobre que anda na sua integridade do que o de caminhos perversos,
ainda que seja rico.
Supõe-se que um homem pode andar na
retidão e ainda
ser pobre neste mundo, o que é uma tentação para a desonestidade, e ainda
assim podem resistir à tentação e continuar a caminhar na retidão – também, que
um homem pode ser perverso em seus caminhos, prejudiciais para Deus e ao homem,
e ainda ser rico, e prosperar no mundo, por um tempo, sendo rico, e sendo encontrado
sob grandes obrigações e tendo grandes oportunidades para fazer o bem, e ainda
assim ser perverso em seus caminhos e causar uma grande quantidade de dor a
outros.
Então, é considerado um paradoxo
para um mundo cego, que um pobre, santo e honesto, é melhor do que um homem
mau, ímpio e rico, pois tem um caráter melhor, e está em uma condição melhor, e
com mais conforto em si mesmo, sendo uma maior bênção para o mundo, e digno de
muito mais honra e respeito.
Quando Aristides foi censurado
por um homem rico por causa da sua pobreza, ele respondeu: as tuas riquezas te
fazem mais dor do que a minha pobreza me faz.
7 O
que guarda a lei é filho sábio, mas o companheiro dos desregrados envergonha a
seu pai.
Temer o Senhor e guardar os Seus
mandamentos é a
verdadeira sabedoria, e faz com que os homens sejam sábios em
todas as relações.
Aquele que conscientemente guarda
a lei é sábio, e ele
será
particularmente um filho sábio, ou seja, vai agir de forma discreta em relação a seus
pais, como a lei de Deus ensina a fazê-lo.
A má companhia é um grande
obstáculo para a vida piedosa. Aqueles
que são companheiros de desregrados, que os escolhem para seus companheiros,
certamente serão tentados a desconsiderar a lei de Deus e atraídos para
transgredi-la, (Sl 119.115).
A impiedade não é apenas uma
vergonha para o próprio pecador, mas para todos os seus semelhantes.
Aquele que se faz companheiro dos
libertinos e que gasta o seu tempo e dinheiro com eles, não somente entristece
seus pais, como também os envergonha; e
isto para o seu descrédito, pois deixa de cumprir o seu dever para com eles.
8 O
que aumenta os seus bens com usura e ganância ajunta-os para o que se compadece
do pobre.
A história tem comprovado que
Deus, em Sua providência e bondade, tem provido para que aquilo que os
avarentos e gananciosos ajuntam em sua cobiça, passe para a mão daqueles que
usarão no futuro os seus bens, com justiça, em benefício dos que são necessitados
deles.
A fortuna que foi levantada por
monarcas com usura e violência, em sua vaidade, sempre será desfrutada no
futuro - ainda que se passem decênios para que isto ocorra - por aqueles que a
receberão das mãos daqueles que a utilizem numa sábia e justa administração.
Assim, por Sua providência, Deus
corta o vínculo da maldição que o ambicioso trouxe sobre suas riquezas, que
adquiriu através do engano e da violência.
Desta forma, a mesma Providência
que pune o ímpio, e o impede de produzir mais danos, premia o misericordioso, e lhe permite fazer o
bem, pelo qual será recompensado.
Aquele que tiver dez talentos,
receberá o talento que o mau servo mau
escondeu; porque aquele que tem praticado a justiça, receberá ainda mais da
parte de Deus, pelo bom uso que fizer de todos os Seus dons (Lucas 19.24).
9 O
que desvia os seus ouvidos de ouvir a lei, até a sua oração será abominável.
É pela prática da Palavra e pela oração
que nossa comunhão com Deus é mantida. Deus nos fala por sua lei, e espera que a ouçamos e
prestemos a devida consideração; que falamos com ele por meio da oração, para
que possamos esperar por uma resposta de paz.
Quão reverentes e sinceros devemos
ser, sempre que estivermos falando com o Senhor da glória!
Se a Palavra de Deus não for
considerada por nós, nossas orações devem não somente não serem aceitas por
Deus, como também serão uma abominação para ele, pois não estarão baseadas na
verdade da Palavra (Isaías 1.11,15).
Deus fica, portanto, irado com
aquele que deliberada e obstinadamente se recusa a obedecer os Seus mandamentos.
10 O
que faz com que os retos errem por mau caminho, ele mesmo cairá na sua cova;
mas os bons herdarão o bem.
Temos aqui a desgraça dos
sedutores, que tentam tirar os que são justos de seus bons caminhos, pois é
dito que fazem isto para o seu próprio prejuízo, porque ficarão certamente
sujeitos ao juízo de Deus.
Eles cairão na cova que cavaram
para sepultar nela o justo, enquanto este é livrado e feito herdeiro do bem
eterno por Deus.
Aqueles que não são somente
injustos, mas também inimigos dos justos, sofrerão uma condenação maior (Mat
23.14, 15).
11 O
homem rico é sábio aos seus próprios olhos, mas o pobre que é entendido, o
examina.
O rico citado no provérbio é
aquele que representa a grande maioria dos ricos, que costumam ser sábios a
seus próprios olhos, e que não se examinam à luz do caráter e da vontade de
Deus.
Aqueles que são pobres, muitas
vezes se revelam mais sábios do que estes ricos, porque são humildes e
consentem em examinarem a sua conduta, sujeitando-se à sondagem que eles buscam
em Deus, pelo Espírito Santo e consoante a revelação da Palavra.
12
Quando os justos triunfam há grande glória; mas quando os ímpios sobem, os
homens se escondem.
O conforto do povo de Deus é a honra da
nação em que
vivem.
Há uma grande glória habitando
na terra quando os justos governam, porque isto não somente exalta a Deus, como
faz bem ao povo, por uma administração de justiça e de paz.
Mas, o avanço dos ímpios é o
eclipse da beleza de uma nação; pois quando assumem as posições de liderança,
opõem-se a tudo o que é justo e sagrado, e todas as formas de opressão passam a
ser vistas na terra, fazendo com que os homens se escondam do alcance das más
ações deles.
13 O
que encobre as suas transgressões nunca prosperará, mas o que as confessa e
deixa, alcançará misericórdia.
Temos aqui a insensatez de
favorecer o pecado, de mitigá-lo e desculpá-lo, negando-o ou atenuando-o, dissimulando-o,
ou jogando a culpa dele sobre os outros.
Aquele que, assim, encobre as
suas transgressões nunca prosperará aos olhos de Deus. Ele não deve ter sucesso em seu esforço para
cobrir o seu pecado, pois será descoberto, mais cedo ou mais tarde. Não há nada
escondido que não venha a ser revelado.
Ele não prosperará, ou seja, não
deve obter o perdão dos seus pecados, nem pode ter qualquer verdadeira paz de
consciência.
Davi se encontrou numa agitação
constante, enquanto cobria os seus pecados (Salmo 32. 3, 4). Enquanto o
paciente esconde sua enfermidade ele não pode esperar uma cura.
Mas aquele que não somente
confessa as suas transgressões, como também as abandona, pode estar certo de
que encontrará o perdão e o favor de Deus.
Sua consciência deve ser apaziguada
e sua ruína impedida (I João 1.9; Jeremias 3. 12, 13).
Quando colocamos o pecado diante
de nosso rosto (como Davi, que disse que o seu pecado estava sempre diante dele)
Deus o lançará para trás das Suas costas.
14
Bem-aventurado o homem que continuamente teme; mas o que endurece o seu coração
cairá no mal.
Parece estranho, mas é muito
verdadeiro: feliz é o homem que teme sempre.
A maioria das pessoas acha que
aqueles estão felizes é porque nunca
temem; mas há um tipo de temor que é muito diferente de tormento, e que traz
embutida em si a maior satisfação.
Feliz é o homem que mantém sempre
em sua mente um santo temor e reverência a Deus, à Sua glória, bondade e ao Seu
governo, e que está sempre com medo de ofender a Deus e incorrer no Seu
desagrado, que mantém sua consciência sensível e que tem temor da aparência do
mal, e que está sempre desconfiado de sua própria suficiência.
Aquele que mantém-se com um tal temor
como este viverá uma vida de fé e de vigilância, e, portanto, esse será feliz,
abençoado e santo.
Temos então o perigo de uma
presunção pecaminosa, pois aquele que endurece o seu coração, que zomba do
temor, e que desafia Deus e os Seus
juízos, não aceitando os mandamentos de Sua Palavra, cairá no mal; pois sua
presunção será a sua ruína, e ele cairá devido à dureza de seu coração.
15
Como leão rugidor, e urso faminto, assim é o ímpio que domina sobre um povo
pobre.
Está escrito na
verdade que não se deve falar mal do príncipe do teu povo; mas se ele for
um ímpio, que
oprime as pessoas, especialmente os pobres, roubando-lhes o pouco que têm e
fazendo uma presa deles, tudo o que podemos chamá-lo, esta escritura chama de
um leão que ruge ou um urso faminto.
No que diz respeito ao seu
caráter, ele é brutal, bárbaro, e sedento de sangue.
Em relação ao mal que faz aos
seus súditos, é terrível como o leão que ruge, que faz tremer a floresta; e é
devorador como um urso faminto, e tanto maior é o mal que ele faz, quanto maior
for a sua cobiça.
Os reis e seus cortesãos nobres,
ao longo dos séculos, viviam às expensas dos impostos elevados que cobravam dos
pobres, estando eles próprios e o clero isentos de quaisquer taxações.
O maior exemplo disto,
encontramos talvez nos dias do rei da França Luiz XIV, que especialmente para a
consumação de seu projeto político absolutista de governo, buscando trazer
todos os nobres influentes da França a estarem debaixo de sua vigilância,
construiu por decênios o Palácio de Versalhes para ser a morada de todos eles,
e isto foi feito à custa da perda e penúria de muitas vidas de franceses
pobres.
Este palácio revela o desprezo
dos poderosos pelos homens, sem estarem efetivamente preocupados com os problemas das pessoas mais carentes que vivem
debaixo da miséria e opressão que são decorrentes das ações de tais governantes
e políticos.
A ganância dos poderosos nunca é
saciada, e isto é visto sob qualquer regime de governo, seja ele monárquico ou
republicano.
A mazela das nações está sempre
relacionada diretamente à riqueza e ao luxo com que vivem aqueles que são leões rugidores e ursos famintos, que
se encontram em todas elas, que devoram os pobres e fracos para com eles
alimentar ainda mais a sua ganância.
Por isso todo homem sábio jamais
coloca a sua esperança de paz, segurança e justiça nos governos deste mundo,
senão na forte expectativa que tem pela manifestação do único reino de justiça
eterno na terra, que será visto somente por ocasião da volta de Jesus Cristo.
16 O príncipe
falto de entendimento é também um grande opressor, mas o que odeia a avareza
prolongará seus dias.
É uma grande bênção ser livrado
pela graça de Cristo da ambição que domina naturalmente o coração.
Este poder é acompanhado pela
iluminação do entendimento de que o amor ao dinheiro é de fato a raiz de todos
os males, pois deste amor brota uma grande variedade de outros pecados
abomináveis, como o da avareza, do engano, da opressão e os demais que estão
relacionados ao desejo de enriquecer ainda que à custa de roubos, subornos, e
exploração de pessoas.
Um governante que seja ambicioso
dificilmente amará a misericórdia e a justiça para tratar por meio delas as
pessoas que estiverem debaixo da sua autoridade.
Pessoas assim costumam ser
desprezadas e odiadas pelo povo, e geralmente, não ocupam por muito tempo a
posição de liderança que alcançaram, mas aqueles que odeiam a avareza e a
impiedade prolongarão o seu governo e cairão no afeto do seu povo e na bênção
do seu Deus.
É determinado por Deus que os governantes
procedam com justiça. Assim, os opressores e tiranos, são, portanto, os maiores
tolos do mundo; pois sacrificam tudo o que alcançaram por causa de sua ambição
a um poder absoluto e arbitrário.
17 O
homem carregado do sangue de qualquer pessoa fugirá até à cova; ninguém o
detenha.
Este provérbio está de acordo
com aquela lei antiga, de que aquele que derramasse o sangue do homem, pelo
homem teria o seu sangue derramado (Gên 9.6), e reafirmada na lei de Moisés,
para vigorar no período de vigência da Antiga Aliança.
O dever do vingador do sangue, se
o magistrado ou o parente mais próximo, ou quem quer que estivesse interessado
em punir o crime de sangue, não poderia, segundo a lei, ser negligenciado, e
aquele que absolvesse o assassino, se faria culpado tal como ele, e sujeito à
mesma pena, porque a culpa do sangue derramado injustamente sobre a terra,
somente poderia ser removida pelo sangue daquele que o derramou (Números
35.33).
18 O
que anda sinceramente salvar-se-á, mas o perverso em seus caminhos cairá logo.
Aqueles que são honestos estão sempre
seguros, porque têm a Deus por seu protetor. Aquele que age com sinceridade, cujo
falar seja sim, sim, não, não, por amor à verdade da Palavra de Deus, que tudo
faz para a glória de Deus e o bem de seus irmãos, virá a conhecer a salvação,
pois têm a promessa de Cristo de que aqueles que são pela verdade ouvirão a Sua
voz.
A integridade e a retidão irão
preservar os homens, e lhes dará uma segurança santa no pior dos tempos; por
isso terão preservados o seu conforto, a sua reputação, e todos os seus
interesses.
Eles podem ser feridos, mas não destruídos.
Mas, aqueles que são falsos e
desonestos nunca estão seguros.
Aquele que é perverso nos seus
caminhos, que pensa estar seguro por meio de práticas fraudulentas, por
dissimulação e traição, virá a cair, e não gradualmente, e com aviso dado, mas
de repente, sem aviso prévio, porque ele está menos seguro quando ele se sente
mais seguro.
19 O
que lavrar a sua terra virá a fartar-se de pão, mas o que segue a ociosos se
fartará de pobreza.
Aqueles que são diligentes
em seus chamados tomam o caminho que conduz ao viver confortável.
O que lavra a sua terra,
prosperará, e isto pode ser estendido a todas as áreas de atividades, pois
pressupõe o ato de trabalhar e preparar tudo o que é necessário para se atingir
um determinado objetivo produtivo.
Aqueles que são preguiçosos e
descuidados, e que andam na companhia de pessoas ociosas, serão achados num
viver miserável.
O Novo Testamento confirma o que
é ensinado no Velho, a saber, que o homem deve ser diligente no seu trabalho,
fazendo aquilo que é proveitoso para a própria provisão e de outros que se
encontram debaixo do seu cuidado.
Em nenhuma parte das Escrituras,
somos incentivados a buscar prosperidade e bênçãos somente pelo fato de esperarmos
que isto nos venha por crermos no poder de Deus. Como se o conhecimento de
alguma fórmula mística, de alguma oração específica nos conduzisse a isto,
independentemente de termos um viver santo, justo e piedoso diante de Deus e
dos homens.
Somos convocados a nos
humilharmos, a orarmos, a nos arrependermos, a deixarmos o pecado e nos
convertermos de nossos maus caminhos, e nos aplicarmos a fazer o bem em todas
as circunstâncias, e é nisto que recebemos a promessa de Deus de nos abençoar e
a nossa terra.
20 O
homem fiel será coberto de bênçãos, mas o que se apressa a enriquecer não
ficará impune.
Somos ordenados a buscar em
primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça, e a não andarmos ansiosos
quanto às coisas desta vida quanto ao que vestiremos, comeremos e beberemos.
É para o tesouro do céu que deve
estar direcionado o nosso coração e não aos tesouros terrenos.
A fidelidade a Deus quanto a
estes mandamentos e a outros constantes da Sua Palavra é o que fará com que
sejamos cobertos de bênçãos.
Certamente, o desejo de
enriquecer segundo o mundo, colocando-se isto como o alvo prioritário da vida,
conduzirá na direção oposta de tudo o que nos é ordenado, pois devemos
priorizar o que é espiritual e não o que é natural.
Há então, nesta cobiça pecados
envolvidos que não deixarão de receber a devida punição da parte do Senhor.
21 Dar
importância à aparência das pessoas não é bom, porque até por um bocado de pão
um homem prevaricará.
É um erro fundamental na
administração da justiça, e o que não pode
deixar de levar os homens a grande transgressão, considerar as partes em causa
mais do que o mérito da causa, de modo a favorecer um, em detrimento de outro, em razão
da aparência ou importância das pessoas.
O provérbio destaca a miserável
condição de corrupção do coração humano, que pode levar alguém a desconsiderar
o justo juízo, por até mesmo se deixar subornar por um simples bocado de pão.
O juízo deve ser imparcial para
que seja justo, e então, considerações do tipo a seguir devem ser evitadas: Para
inocentar - ele é um cavalheiro, um estudioso, meu compatriota, meu velho
conhecido, alguém que me fez um favor, ou que pode vir a me fazer um; ou, por
outro lado, para condenar - ele é um
estranho, um homem pobre, me injuriou uma vez, ou foi meu rival, ou não
simpatizo com ele e já agiu contra mim.
22 O
que quer enriquecer depressa é homem de olho maligno, porém não sabe que a pobreza
há de vir sobre ele.
A Bíblia fala em olhar bom e em olhar mau, e até mesmo Jesus se
referiu a isto.
Um olhar bom consiste em fazer
uma justa e correta avaliação das coisas. O olhar mau, por conseguinte, em se
fazer o contrário.
Então, Salomão mostra o
pecado e a insensatez daqueles que desejam ser ricos; e que ficam determinados
que tudo devem fazer para atingir tal propósito, classificando-o como algo
inerente a quem tem o olho maligno; pois não vê as coisas pelo justo valor que
elas possuem em si mesmas.
As riquezas deste mundo corrompem
e fazem asas para si, mas a piedade e a sabedoria enriquecem e para tudo são
proveitosas e permanentes.
Deus recompensará quem foi
piedoso e não quem foi rico de bens mundanos.
A riqueza destes bens não recomendará a qualquer pessoa diante de Deus.
23 O
que repreende o homem gozará depois mais amizade do que aquele que lisonjeia
com a língua.
Aqueles que nos repreendem para
nos desviarem de maus caminhos, são verdadeiramente amigos, e virão a receber
tal reconhecimento da parte de muitos, especialmente da parte dos que são
repreendidos por eles.
A razão disto é que o amor se
comprova pelo interesse prático e sincero que temos pelo bem de outros,
especialmente de suas almas.
Não há quem não peque, quem não
erre, quem não necessite de aconselhamento, pois todos somos pecadores e
falhos. Portanto, não há quem seja digno de sempre ser louvado por tudo o que
seja ou que faça.
Se alguém, dizendo ser nosso
amigo, faz vista grossa para os nossos erros e pecados, e sempre nos lisonjeia,
procurando com isto cair no nosso agrado, tal pessoa, está antes de tudo
contrariando ao próprio Deus que nos ordena o dever da repreensão longânima e
sincera, e ulteriormente, desagradando a nós mesmos, por dar provas que não têm
real interesse pelo bem-estar de nossas almas, pois poderiam nos ajudar a nos
livrarmos dos juízos de Deus relativos ao nossos pecados, por nos alertarem
quanto à nossa real condição.
Reprovadores podem desagradar em
princípio, mas uma vez passada a tristeza ou amargura que possam causar, suas
palavras e ações irão produzir um bom resultado, e eles serão amados e
respeitados.
24 O
que rouba a seu próprio pai, ou a sua mãe, e diz: Não é transgressão,
companheiro é do homem destruidor.
Jesus Cristo mostra o absurdo e a
maldade daqueles filhos que pensam que não é qualquer dever deles, em alguns
casos, cuidar dos seus pais (Mat 15.5), de modo que Salomão fala aqui da
impiedade daqueles que pensam que não é pecado roubar seus pais, pela força ou
secretamente, por ameaçá-los, ou por desperdiçar o que eles têm, criando
dívidas e deixando que eles as paguem.
Eles pensam que é um dever
amoroso dos pais terem que suportar tais ofensas. Julgam que é um direito que
possuem por serem herdeiros naturais. Todavia, são companheiros do grande
destruidor, que veio senão roubar, matar e destruir – Satanás, pois estas
coisas são originadas nele e inspiradas por ele, que usurpou os dons de Deus e
tentou entrar na posse daquilo que que não lhe fora dado por Ele, pensando até
mesmo em se apoderar do Seu trono.
25 O
orgulhoso de coração levanta contendas, mas o que confia no Senhor prosperará.
Viver em contendas é uma das
evidências dos que não são dotados de humildade de espírito, e que por
conseguinte não confiam e dependem de Deus.
Os que prosperam num viver quieto
e sábio são aqueles que vivem em uma
contínua dependência de Deus e da Sua graça.
Aquele que coloca sua confiança
no Senhor, em vez de lutar por si mesmo, entrega a sua causa a Deus.
Ninguém vive tão facilmente, tão
agradavelmente, como aqueles que vivem pela fé.
26 O
que confia no seu próprio coração é insensato, mas o que anda em sabedoria,
será salvo.
Aqui está o caráter de um
tolo: ele confia no seu próprio coração, e na sua própria sabedoria e
conselhos, sua própria força e suficiência, seu próprio mérito e justiça, e a
boa opinião que tem de si mesmo; aquele que faz isso é um tolo, pois confia naquilo que é corrupto e enganoso
acima de todas as coisas, a saber, no coração (Jeremias 17.9), sendo portanto, muitas
vezes enganado.
Isto implica que é o caráter de
um homem sábio, como visto no provérbio anterior (v. 25) colocar a sua
confiança no Senhor, e em Seu poder e promessa, e seguir a Sua orientação (Prov
3.5, 6).
27 O
que dá ao pobre não terá necessidade, mas o que esconde os seus olhos terá
muitas maldições.
Este provérbio está baseado no
princípio divino de que é dando que se recebe, pois Jesus afirma: “Dai e
ser-vos-á dado”.
Temos aqui a promessa relativa à caridade: aquele
que dá ao pobre não
terá qualquer necessidade que esteja fora do controle de Deus.
Onde houver qualquer aparente
necessidade, esta será compensada pelo suprimento da graça de Jesus, que nos
torna suficientes em quaisquer circunstâncias.
Por isso se diz que aquele que
desviar o seu olhar do pobre, para evitar suprir-lhe o que for necessário, terá
muitas maldições, tanto de Deus, quanto do homem, e não sem causa.
28
Quando os ímpios se elevam, os homens andam se escondendo, mas quando perecem,
os justos se multiplicam.
Este provérbio tem o mesmo
significado do que encontramos no verso 1 do capítulo 12.
Quando a administração pública
está nas mãos dos ímpios,
os justos se escondem temendo ser perseguidos e maltratados.
Mas, quando os ímpios são desonrados,
e seu poder tirado deles, então os justos reaparecem, e são colocados nas posições
que os ímpios ocupavam.
Por este princípio podemos
concluir que não pode haver um governo justo enquanto for tolerada a presença
de ímpios liderando ao lado de justos.
Um governo que se diz reformador
e que, no entanto, tolera e admite a presença de corruptos nos ministérios,
está fadado ao fracasso, pois a justiça não pode prevalecer enquanto o ímpio é
colocado em honra.
Muito edificante! :)
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