Neste capítulo, Daniel registrou o sonho e a correspondente
revelação que ele tivera, no primeiro ano do reinado de Belsazar de Babilônia,
ou seja, cerca de dois anos antes desta ter caído no poder do medos e dos
persas.
Então lhes são dadas agora, a partir deste momento, depois de
passados muitos anos, visões proféticas, que serão narradas até o final do seu
livro, que se referem às coisas que se sucederiam na história da humanidade até
o tempo do fim, sendo que seria feito, como veremos, um hiato na história da
Igreja, ou seja da dispensação da graça, que é contada desde a morte e
ressurreição de Jesus até a Sua segunda vinda, porque, como já dissemos antes,
o propósito da escrita de Daniel, tem em vista
principalmente narrar como se dará a glorificação futura do povo judeu,
ou seja dos descendentes de Abraão, Isaque e Jacó, conforme as boas promessas
que o Senhor lhes fizera.
É importante observar que o livro de Apocalipse segue de certo
modo este mesmo arranjo, porque a Igreja é referida no mesmo sucintamente,
apenas nos três primeiros capítulos, porque a partir do quarto capítulo são
descritos os eventos relativos ao período da Grande Tribulação sob o
Anticristo, os quais precipitarão a volta do Senhor, para a inauguração do Seu
reino milenar.
É
importante saber que muitas das profecias que se referem ao tempo do fim,
tiveram antitipos que lhes antecederam em proporções menores dos eventos aos
quais elas se referem.
Por
exemplo a abominação desoladora em Daniel é uma referência ao Anticristo no
tempo do fim, mas teve um antitipo nas ações de Antíoco Epifânio no período dos
macabeus.
De
igual modo, as perseguições empreendidas contra os santos no livro de
Apocalipse, que se referem às assolações do Anticristo, tiveram um antitipo
especialmente nas perseguições empreendidas pelos romanos nos primeiros três
séculos da história da Igreja.
Todavia,
estas profecias têm o propósito de desvendar os eventos finais que precipitarão
a volta de Jesus, porque sabemos que esta se dará no tempo do Anticristo, e não
ocorreu nem nos dias de Antíoco Epifânio, e nem dos romanos.
Isto
está suficientemente claro, e seria portanto, perda de tempo nos concentrarmos
nos detalhes das ações empreendidas por Antíoco Epifânio, e pelo romanos,
contra os santos, para tentar explicar o teor destas profecias de Daniel e do
livro de Apocalipse; porque estas revelações foram consoladoras para os judeus
e os cristãos que viveram nos dias do cumprimento das mesmas, no que se referia
a Antíoco e aos romanos, mas agora, servirão para confortar aqueles que
estiverem vivendo nos dias do Anticristo, e para nos dar instrução acerca das
coisas que haverão de suceder, para que vivamos em permanente vigilância e
santidade, de modo a sermos achados dignos na presença do Senhor.
Daniel
viu quatro bestas surgindo do mar, e ele especifica qual foi o mar em sua
profecia, a saber o Mar Grande, que era o nome antigo dado ao mar Mediterrâneo,
costeiro à terra de Israel.
João
viu também bestas subindo do mar no livro de Apocalipse.
Isto nos
leva a concluir que não se trata de eventos paralelos, mas de um mesmo evento
visto com alguns detalhes adicionais numa ou noutra profecia.
Como já
dissemos antes, a vocação de Israel não é a de ser uma província na terra, mas
um reino, conforme o propósito predeterminado de Deus.
Nos
dias de Daniel, tanto quanto nos dias de João, Israel era uma província,
respectivamente, dos persas e dos romanos. Mas a vocação de Israel, como já
dissemos, não é a de província, mas de nação santa e reino de sacerdotes, e
Deus começou a revelar a Daniel neste capítulo quais eventos ocorreriam quando
estivesse próximo o momento do cumprimento de tal promessa.
As
revelações de Apocalipse ajudam a compreender muito do que está revelado em
Daniel. Por exemplo, sabemos por Apocalipse que o pequeno chifre insolente que
fala blasfêmias (v. 8, 20, 25) é o próprio Anticristo (Apo 13.5).
Sabemos
que na Bíblia, chifre representa poder. Aqui no caso, trata-se de um poder
governamental. É poder de um chifre pequeno, porque sua grandeza, não reflete a
dos reinos que lhe antecederam, no entanto, é insolente, porque recebe a Sua
autoridade diretamente de Satanás, como vemos em Apocalipse 13, e lhe é dado
produzir grandes assolações na terra, apesar de não ter a grandeza dos reinos
que lhe antecederam, e dos quais ele saiu, como um resultado, ou somatório de
tudo que havia de pior nestes reinos em relação a traições, conspirações,
enganos e tudo o mais que pertence ao reino do diabo.
Veja o
que o apóstolo Paulo nos fala sobre este reino do Anticristo:
“3
Ninguém de modo algum vos engane; porque isto não sucederá sem que venha
primeiro a apostasia e seja revelado o homem do pecado, o filho da perdição,
4
aquele que se opõe e se levanta contra tudo o que se chama Deus ou é objeto de
adoração, de sorte que se assenta no santuário de Deus, apresentando-se como
Deus.
5 Não
vos lembrais de que eu vos dizia estas coisas quando ainda estava convosco?
6 E
agora vós sabeis o que o detém para que a seu próprio tempo seja revelado.
7 Pois
o mistério da iniquidade já opera; somente há um que agora o detém até que seja
posto fora;
8 e
então será revelado esse iníquo, a quem o Senhor Jesus matará como o sopro de
sua boca e destruirá com a manifestação da sua vinda;
9 a
esse iníquo cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás com todo o poder e
sinais e prodígios de mentira,
10 e
com todo o engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor
da verdade para serem salvos.” (II Tes 2.3-10)
A
grandeza e glória dos primeiros reinos, que também foram bestas saídas do mar
da humanidade, conforme revelado a Daniel, tinha portanto, o propósito de
demonstrar que não se espere que o último reino que se levantará na terra com o
propósito de dominar todas as nações (do Anticristo) terá a glória dos reinos
que foram antes dele e que são citados no início desta profecia de Daniel, como
a própria Babilônia (leão com asas de águia, forma pela qual costumava ser
representada pelos seus reis – v.4); Média e Pérsia (urso – que eram reinos tão
fortes que mantinham as nações dominadas em seus próprios territórios – v. 5);
Grécia (leopardo com quatro asas de ave, com quatro cabeças – rapidez com que
se levantou o reino de Alexandre, o Grande, o macedônio, e como o seu reino foi
repartido pelos seus quatro generais –
v. 6); e Roma (besta terrível com grandes dentes de ferro e que tinha dez
chifres – v.7).
Será dos poderes (chifres) que regerão o mundo depois do Império
Romano, e depois da queda de três grandes poderes notáveis, que se levantará o
chifre insolente que é o Anticristo.
Podemos identificar estes três poderes que se levantaram depois do
Império Romano, com propósitos imperialistas, e que caíram, com Carlos Magno,
Napoleão Bonaparte e Adolf Hitler.
No entanto, isto é apenas uma mera cogitação, porque até onde
sabemos, nenhum outro poder se levantou na terra com ações imperialistas que
visassem à dominação das nações da terra pelo emprego da força das armas. E
será este o mesmo método usado pelo Anticristo.
Alguns acham que isto seja improvável, mas devemos levar em conta,
que as condições políticas do mundo terão mudado, em razão de várias
circunstâncias que ainda ocorrerão, e conforme estão profetizadas,
especialmente pelo próprio Senhor Jesus Cristo nos capítulos 24 e 25 de Mateus,
onde se afirma expressamente que antes e próximo da manifestação do Anticristo
haverá fomes, pestes, terremotos, maremotos, guerras e rumores de guerras e até
mesmo os poderes dos céus serão abalados, e também deve ser considerado que
haverá um grande caos no mundo por causa do arrebatamento da Igreja, de modo
que o mundo que o Anticristo regerá será um mundo devastado por assolações, e
daí se dizer dele que é um pequeno chifre, porque não poderá, ter pelas
circunstâncias que lhes serão impostas, a possibilidade de estabelecer um reino
glorioso, como os citados, que lhe haviam antecedido. Circunstâncias estas que
apesar de lhe serem desfavoráveis para estabelecer um reino de glória, no
entanto, ser-lhe-ão propícias para subir ao poder.
O seu propósito será o de se tornar glorioso como eles haviam
sido, mas será impedido de fazê-lo pelo retorno do Senhor em poder e grande
glória, para subjugá-lo.
Se o desprezo ao Senhor trouxe ruína a todos estes grandes reinos
gloriosos citados, quanto mais não manifestaria Ele os Seus juízos sobre o
insolente Anticristo que ousará afrontá-lO diretamente com suas palavras de
insolência dirigidas contra Ele e contra os santos?
Daniel desejou ser melhor instruído quanto a esta quarta besta,
especialmente quanto ao pequeno chifre que faria grandes assolações, porque lhe
seria dado ferir até mesmo os santos do altíssimo nas grandes assolações que
ele produziria pela permissão de Deus, mas ao mesmo tempo havia uma visão
consoladora para os santos, porque o pequeno chifre está relacionado ao tempo
em que o Senhor Jesus assumirá o governo de todas as coisas, estabelecendo o
Seu reino eterno.
Ele é identificado na profecia de Daniel por “Ancião de Dias” (v.
9).
A visão que João teve de Jesus no início de Apocalipse é a mesma
que Daniel tivera (v. 9).
É dito o seguinte do reino de Jesus, depois que entrar na posse do
mesmo em Sua volta:
“Foi-lhe dado domínio, e glória, e o reino, para que os povos,
nações e homens de todas as línguas o servissem; o seu domínio é domínio
eterno, que não passará, e o seu reino jamais será destruído.” (v. 14)
Como já falamos antes, o propósito da revelação dos quatro reinos
em formas de bestas, foi o de consolar os santos, por saberem que apesar de
tudo o que tiverem que sofrer neste mundo debaixo destes reinos passageiros,
será a eles que será dado o domínio eterno sobre a terra, como se lê no verso
18:
“Mas os santos do Altíssimo receberão o reino e o possuirão para
todo o sempre, de eternidade em eternidade.”
Foi dado a Daniel ver que o pequeno chifre insolente faria guerra
contra os santos (judeus e cristãos que permanecerem na terra depois do
arrebatamento da Igreja no período da Grande Tribulação) e prevaleceria contra
eles, não propriamente contra os seus espíritos, mas contra a sua integridade
física (v. 21).
Todavia, ele fará isto no tempo determinado por Deus de três anos
e meio que é designado na profecia de Daniel e em Apocalipse como sendo um
tempo, dois tempos e metade de um tempo (v. 25).
Ao fim deste tempo o Ancião de Dias (Jesus) fará justiça aos santos,
e lhes dará o reino (v. 22).
A destruição do Anticristo está registrada na profecia de Daniel
no verso 26, e a isto corresponderá o que é dito no verso 27:
“O reino, e o domínio, e a majestade dos reinos debaixo de todo o
céu serão dados ao povo dos santos do Altíssimo; o seu reino será reino eterno,
e todos os domínios o servirão e lhe obedecerão.”
“1 No primeiro ano de Belsazar, rei da Babilônia, teve Daniel um
sonho e visões ante seus olhos, quando estava no seu leito; escreveu logo o
sonho e relatou a suma de todas as coisas.
2 Falou Daniel e disse: Eu estava olhando, durante a minha visão
da noite, e eis que os quatro ventos do céu agitavam o mar Grande.
3 Quatro animais, grandes, diferentes uns dos outros, subiam do
mar.
4 O primeiro era como leão e tinha asas de águia; enquanto eu
olhava, foram-lhe arrancadas as asas, foi levantado da terra e posto em dois
pés, como homem; e lhe foi dada mente de homem.
5 Continuei olhando, e eis aqui o segundo animal, semelhante a um
urso, o qual se levantou sobre um dos seus lados; na boca, entre os dentes,
trazia três costelas; e lhe diziam: Levanta-te, devora muita carne.
6 Depois disto, continuei olhando, e eis aqui outro, semelhante a
um leopardo, e tinha nas costas quatro asas de ave; tinha também este animal
quatro cabeças, e foi-lhe dado domínio.
7 Depois disto, eu continuava olhando nas visões da noite, e eis
aqui o quarto animal, terrível, espantoso e sobremodo forte, o qual tinha
grandes dentes de ferro; ele devorava, e fazia em pedaços, e pisava aos pés o
que sobejava; era diferente de todos os animais que apareceram antes dele e
tinha dez chifres.
8 Estando eu a observar os chifres, eis que entre eles subiu outro
pequeno, diante do qual três dos primeiros chifres foram arrancados; e eis que
neste chifre havia olhos, como os de homem, e uma boca que falava com
insolência.
9 Continuei olhando, até que foram postos uns tronos, e o Ancião
de Dias se assentou; sua veste era branca como a neve, e os cabelos da cabeça,
como a pura lã; o seu trono eram chamas de fogo, e suas rodas eram fogo
ardente.
10 Um rio de fogo manava e
saía de diante dele; milhares de milhares o serviam, e miríades de miríades
estavam diante dele; assentou-se o tribunal, e se abriram os livros.
11 Então, estive olhando, por causa da voz das insolentes palavras
que o chifre proferia; estive olhando e vi que o animal foi morto, e o seu
corpo desfeito e entregue para ser queimado.
12 Quanto aos outros animais, foi-lhes tirado o domínio; todavia,
foi-lhes dada prolongação de vida por um prazo e um tempo.
13 Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha
com as nuvens do céu um como o Filho do Homem, e dirigiu-se ao Ancião de Dias,
e o fizeram chegar até ele.
14 Foi-lhe dado domínio, e glória, e o reino, para que os povos,
nações e homens de todas as línguas o servissem; o seu domínio é domínio
eterno, que não passará, e o seu reino jamais será destruído.
15 Quanto a mim, Daniel, o meu espírito foi alarmado dentro de
mim, e as visões da minha cabeça me perturbaram.
16 Cheguei-me a um dos que estavam perto e lhe pedi a verdade
acerca de tudo isto. Assim, ele me disse e me fez saber a interpretação das
coisas:
17 Estes grandes animais, que são quatro, são quatro reis que se
levantarão da terra.
18 Mas os santos do Altíssimo receberão o reino e o possuirão para
todo o sempre, de eternidade em eternidade.
19 Então, tive desejo de conhecer a verdade a respeito do quarto
animal, que era diferente de todos os outros, muito terrível, cujos dentes eram
de ferro, cujas unhas eram de bronze, que devorava, fazia em pedaços e pisava
aos pés o que sobejava;
20 e também a respeito dos dez chifres que tinha na cabeça e do
outro que subiu, diante do qual caíram três, daquele chifre que tinha olhos e
uma boca que falava com insolência e parecia mais robusto do que os seus
companheiros.
21 Eu olhava e eis que este chifre fazia guerra contra os santos e
prevalecia contra eles,
22 até que veio o Ancião de Dias e fez justiça aos santos do
Altíssimo; e veio o tempo em que os santos possuíram o reino.
23 Então, ele disse: O quarto animal será um quarto reino na
terra, o qual será diferente de todos os reinos; e devorará toda a terra, e a
pisará aos pés, e a fará em pedaços.
24 Os dez chifres correspondem a dez reis que se levantarão
daquele mesmo reino; e, depois deles, se levantará outro, o qual será diferente
dos primeiros, e abaterá a três reis.
25 Proferirá palavras contra o Altíssimo, magoará os santos do
Altíssimo e cuidará em mudar os tempos e a lei; e os santos lhe serão entregues
nas mãos, por um tempo, dois tempos e metade de um tempo.
26 Mas, depois, se assentará o tribunal para lhe tirar o domínio,
para o destruir e o consumir até ao fim.
27 O reino, e o domínio, e a majestade dos reinos debaixo de todo
o céu serão dados ao povo dos santos do Altíssimo; o seu reino será reino
eterno, e todos os domínios o servirão e lhe obedecerão.
28 Aqui, terminou o assunto. Quanto a mim, Daniel, os meus
pensamentos muito me perturbaram, e o meu rosto se empalideceu; mas guardei
estas coisas no coração.”
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