JOSUÉ 4
“1 Quando todo o povo acabara de
passar o Jordão, falou o Senhor a Josué, dizendo:
2 Tomai dentre o povo doze homens, de
cada tribo um homem;
3 e mandai-lhes, dizendo: Tirai
daqui, do meio do Jordão, do lugar em que estiveram parados os pés dos
sacerdotes, doze pedras, levai-as convosco para a outra banda e depositai-as no
lugar em que haveis de passar esta noite.
4 Chamou, pois, Josué os doze homens
que escolhera dos filhos de Israel, de cada tribo um homem;
5 e disse-lhes: Passai adiante da
arca do Senhor vosso Deus, ao meio do Jordão, e cada um levante uma pedra sobre
o ombro, segundo o número das tribos dos filhos de Israel;
6 para que isto seja por sinal entre
vós; e quando vossos filhos no futuro perguntarem: Que significam estas pedras?
7 direis a eles que as águas do
Jordão foram cortadas diante da arca do pacto de Senhor; quando ela passou pelo
Jordão, as águas foram cortadas; e estas pedras serão para sempre por memorial
aos filhos de Israel.
8 Fizeram, pois, os filhos de Israel
assim como Josué tinha ordenado, e levantaram doze pedras do meio do Jordão
como o Senhor dissera a Josué, segundo o número das tribos dos filhos de
Israel; e levaram-nas consigo ao lugar em que pousaram, e as depositaram ali.
9 Amontoou Josué também doze pedras
no meio do Jordão, no lugar em que pararam os pés dos sacerdotes que levavam a
arca do pacto; e ali estão até o dia de hoje.
10 Pois os sacerdotes que levavam a
arca pararam no meio do Jordão, até que se cumpriu tudo quanto o Senhor mandara
Josué dizer ao povo, conforme tudo o que Moisés tinha ordenado a Josué. E o
povo apressou-se, e passou.
11 Assim que todo o povo acabara de
passar, então passaram a arca do Senhor e os sacerdotes, à vista do povo.
12 E passaram os filhos de Rúben e os
filhos de Gade, e a meia tribo de Manassés, armados, adiante dos filhos de
Israel, como Moisés lhes tinha dito;
13 uns quarenta mil homens em pé de
guerra passaram diante do Senhor para a batalha, às planícies de Jericó.
14 Naquele dia e Senhor engrandeceu a
Josué aos olhos de todo o Israel; e temiam-no, como haviam temido a Moisés, por
todos os dias da sua vida.
15 Depois falou o Senhor a Josué,
dizendo:
16 Dá ordem aos sacerdotes que levam
a arca do testemunho, que subam do Jordão.
17 Pelo que Josué deu ordem aos
sacerdotes, dizendo: Subi do Jordão.
18 E aconteceu que, quando os
sacerdotes que levavam a arca do pacto do Senhor subiram do meio do Jordão, e
as plantas dos seus pés se puseram em terra seca, as águas do Jordão voltaram
ao seu lugar, e trasbordavam todas as suas ribanceiras, como dantes.
19 O povo, pois, subiu do Jordão no
dia dez do primeiro mês, e acampou-se em Gilgal, ao oriente de Jericó.
20 E as doze pedras, que tinham tirado
do Jordão, levantou-as Josué em Gilgal;
21 e falou aos filhos de Israel,
dizendo: Quando no futuro vossos filhos perguntarem a seus pais: Que significam
estas pedras?
22 fareis saber a vossos filhos,
dizendo: Israel passou a pé enxuto este Jordão.
23 Porque o Senhor vosso Deus fez
secar as águas do Jordão diante de vós, até que passásseis, assim como fizera
ao Mar Vermelho, ao qual fez secar perante nós, até que passássemos;
24 para que todos os povos da terra
conheçam que a mão do Senhor é forte; a fim de que vós também temais ao Senhor
vosso Deus para sempre.” (Js 4.1-24).
Nós continuamos vendo neste capítulo
Josué debaixo dos comandos de Deus, tal como estivera Moisés, porque o Senhor
lhe ordenou que doze homens, um de cada tribo de Israel carregassem doze pedras,
para com elas erigir um memorial no lugar em que Israel acampasse, para que as
gerações futuras tivessem sempre em memória que Deus havia aberto o Jordão para
que o seu povo passasse a pé enxuto, e para o mesmo propósito também ordenou a
Josué que fossem colocadas outras doze pedras no lugar onde os sacerdotes
haviam ficado parados com a arca no meio do Jordão.
Cabe destacar que até mesmo o momento
da saída da arca com os sacerdotes do meio do leito do rio foi ordenado pelo
Senhor.
Seria natural de se esperar que o
fizessem por sua própria conta, assim que a última pessoa do povo passasse para
o outro lado, mas não, eles tiveram que esperar a ordem de Deus quanto ao
momento de fazê-lo, e foi somente depois que a ordem foi expedida que as águas
do rio voltaram a correr no seu curso normal.
Isto indica em figura, de modo muito
claro, que devemos continuar esperando em Deus e lhe obedecendo, mesmo depois
dele ter resolvido os nossos problemas.
Especialmente os seus ministros que
têm o santo encargo de pregarem a sua Palavra.
E cabe destacar ainda que a ordem
expedida por Deus não foi dirigida diretamente aos sacerdotes, mas a Josué, que
a transmitiu a eles.
Isto demonstra portanto, que ainda
que os sacerdotes compusessem um ministério designado e honrado por Deus,
deveriam no entanto, se submeter àquele que havia sido levantado para governar
o povo, de modo que houvesse ordem na casa de Deus, pela estrita observância da
cadeia de comando estabelecida pelo próprio Deus.
De igual modo, todos os ministérios
existentes na Igreja devem estar subordinados àqueles que os presidem em o nome
do Senhor.
E este memorial da misericórdia e do
favor, cuidado e providência de Deus para com o seu povo eleito e aliançado com
Ele, ilustra de modo muito claro que apesar de os crentes da Igreja de Cristo
serem ainda pecadores e imperfeitos, tanto quanto eram os israelitas, estão
debaixo da mesma misericórdia e do mesmo favor, cuidado e providência, por
causa da sua eleição e aliança com Deus, e não por qualquer mérito deles.
Eles desfrutam de privilégios em
relação a isto, não em razão da própria justiça, mas pela graça com que foram
eleitos, antes da fundação do mundo, para serem filhos de Deus.
Aquelas doze pedras eram portanto
muito mais do que um simples memorial dos grandes feitos do Senhor, pois
testemunhavam a sua graça, misericórdia, e cuidado especial para com o seu
povo, ainda que composto de pecadores.
Quanta ousadia de fé e
constrangimento à gratidão, serviço, santidade e obediência a Deus não deveriam
ser produzidos em todos os crentes, por estarem devidamente inteirados deste
amor do Senhor por eles?
Tal como fora afirmado pelo apóstolo
Paulo: “Pois o amor de Cristo nos constrange, porque julgamos assim: se um
morreu por todos, logo todos morreram;” (II Cor 5.14).
Na referência a Moisés, no verso 10,
que os sacerdotes pararam no meio do Jordão até que se cumpriu tudo o que o
Senhor mandara Josué dizer ao povo, conforme tudo o que Moisés havia ordenado a
Josué, certamente estas ordens de Moisés se referiam ao fato de o povo atender
ao mandado de Deus em serem obedientes a Josué, para a conquista de Canaã, e
não à retirada das pedras do Jordão, para levantar um memorial, pois Moisés já
havia morrido, não muito tempo antes, pois como é afirmado que os discursos de
Deuteronômio foram proferidos a partir do primeiro dia, do décimo primeiro mês
do quadragésimo ano (Dt 1.3); a travessia do Jordão ocorreu no décimo dia do
primeiro mês (v. 19), certamente do quadragésimo primeiro ano, cerca de 40 dias
após Moisés ter iniciado os discursos de Deuteronômio, que foram as suas
últimas palavras para Israel, da parte de Deus, antes da sua morte.
Como Dt 34.8 nos dá conta que houve
um luto de 30 dias pela morte de Moisés, então nós vemos que tão logo acabou o
luto, foram expedidas ordens de Deus para que se iniciasse a conquista de
Canaã.
E para confirmar que de fato era uma referência ao cumprimento das
ordens que haviam sido expedidas por Moisés antes da sua morte, nos é dito nos
versos 12 e 13 que as duas tribos e meia (Rúben, Gade e Manassés), que haviam
se apossado de territórios na Transjordânia, tinham marchado adiante das demais
tribos, conforme havia sido ordenado por Moisés, de modo que somente
retornassem às suas terras depois que lutassem em Canaã com as demais
tribos.
JOSUÉ 5
“1 Quando, pois, todos os reis dos
amorreus que estavam ao oeste do Jordão, e todos os reis dos cananeus que
estavam ao lado do mar, ouviram que o Senhor tinha secado as águas do Jordão de
diante dos filhos de Israel, até que passassem, derreteu-se-lhes o coração, e
não houve mais ânimo neles, por causa dos filhos de Israel.
2 Naquele tempo disse o Senhor a
Josué: Faze facas de pederneira, e circuncida segunda vez aos filhos de Israel.
3 Então Josué fez facas de pederneira,
e circuncidou aos filhos de Israel em Gibeáte-Haaralote.
4 Esta é a razão por que Josué os
circuncidou: todo o povo que tinha saído do Egito, os homens, todos os homens
de guerra, já haviam morrido no deserto, pelo caminho, depois que saíram do Egito.
5 Todos estes que saíram estavam
circuncidados, mas nenhum dos que nasceram no deserto, pelo caminho, depois de
terem saído do Egito, havia sido circuncidado.
6 Pois quarenta anos andaram os
filhos de Israel pelo deserto, até se acabar toda a nação, isto é, todos os
homens de guerra que saíram do Egito, e isso porque não obedeceram à voz do
Senhor; aos quais o Senhor tinha jurado que não lhes havia de deixar ver a
terra que, com juramento, prometera a seus pais nos daria, terra que mana leite
e mel.
7 Mas em lugar deles levantou seus
filhos; a estes Josué circuncidou, porquanto estavam incircuncisos, porque não
os haviam circuncidado pelo caminho.
8 E depois que foram todos
circuncidados, permaneceram no seu lugar no arraial, até que sararam.
9 Disse então o Senhor a Josué: Hoje
revolvi de sobre vós o opróbrio do Egito; pelo que se chama aquele lugar:
Gilgal, até o dia de hoje.
10 Estando, pois, os filhos de Israel
acampados em Gilgal, celebraram a páscoa no dia catorze do mês, à tarde, nas
planícies de Jericó.
11 E, ao outro dia depois da páscoa,
nesse mesmo dia, comeram, do produto da terra, pães ázimos e espigas tostadas.
12 E no dia depois de terem comido do
produto da terra, cessou o maná, e os filhos de Israel não o tiveram mais;
porém nesse ano comeram dos produtos da terra de Canaã.
13 Ora, estando Josué perto de
Jericó, levantou os olhos, e olhou; e eis que estava em pé diante dele um homem
que tinha na mão uma espada nua. Chegou-se Josué a ele, e perguntou-lhe: És tu
por nós, ou pelos nossos adversários?
14 Respondeu ele: Não; mas venho
agora como príncipe do exército do Senhor. Então Josué, prostrando-se com o
rosto em terra, o adorou e perguntou-lhe: Que diz meu Senhor ao seu servo?
15 Então respondeu o príncipe do
exército do Senhor a Josué: Tira os sapatos dos pés, porque o lugar em que
estás é santo. E Josué assim fez.” (Js 5.1-15).
Este capítulo relata basicamente a
renovação do favor de Deus para os israelitas, com a retirada do opróbrio
(anátema, infâmia, vergonha , desonra, ignomínia, mancha) que estava sobre o
povo, em razão da incredulidade de trinta e oito anos atrás, em Cades Barnéia.
Deste modo, foi ordenado a Josué que
todos os israelitas que tinham deixado de ser circuncidados naquele período de
peregrinação no deserto, fossem agora circuncidados, quando entraram em Canaã,
acampando-se no lugar que se chamou Gibeáte-Haaralote, que significa no
hebraico “monte dos prepúcios”, e que passou a se chamar Gilgal exatamente em
razão da remoção do opróbrio de sobre eles por parte do Senhor, pois Gilgal, no
hebraico significa “lançar fora”, “rodar”, isto é, Deus fez com que a vergonha
que estava sobre eles rodasse para bem longe.
O ato da circuncisão ficou associado
à remoção do opróbrio, de modo que temos aqui uma forte ilustração relativa ao
que é necessário para ter comunhão e intimidade com Deus, a saber, a
circuncisão do prepúcio do coração, que simboliza a mortificação da carne, isto
é, do pecado.
É uma operação dolorosa, mas
necessária para que o opróbrio seja removido de sobre o povo de Deus, pois Ele
é inteiramente santo, e exige santidade daqueles que dEle se aproximam.
Como Ele próprio afirma em Sua
Palavra, sempre se santificará naqueles que se aproximarem dEle: “Serei
santificado naqueles que se chegarem a mim, e serei glorificado diante de todo
o povo.” (Lev 10.3).
Eles celebraram também a páscoa no
dia 14 daquele mesmo mês (primeiro – Abib), no quadragésimo primeiro ano depois
da saída do Egito, apenas quatro dia após terem atravessado o Jordão.
O cronograma, o relógio do povo de
Deus, estão nas Suas mãos, porque ao que tudo indica, foi Ele mesmo quem
determinou o tempo de todas as ações dos israelitas, com a determinação da
morte de Moisés, numa data em que o luto de trinta dias que fizeram por ele não
atrapalharia os planos divinos de fazer o povo entrar em Canaã com Josué, antes
da data de celebração da páscoa no dia quatorze do primeiro mês, pois foi neste
dia que eles haviam saído do Egito.
É por isso que Jesus afirma que não
devemos estar ansiosos com o futuro: “Não vos inquieteis, pois, pelo dia de
amanhã; porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo.” (Mt 6.34), porque o nosso
futuro está nas mãos de Deus, e não propriamente nas nossas mãos.
É por isso também que Tiago nos
exorta sabiamente a não fazer projetos presunçosos, sem levar em conta este
governo de Deus: “E agora, vós que dizeis: Hoje ou amanhã iremos a tal cidade,
lá passaremos um ano, negociaremos e ganharemos. No entanto, não sabeis o que
sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois um vapor que aparece por um pouco, e
logo se desvanece. Em lugar disso, devíeis dizer: Se o Senhor quiser, viveremos
e faremos isto ou aquilo.” (Tg 4.13-15).
O primeiro verso deste capítulo de
Josué relata que os reis dos amorreus e dos cananeus ficaram com os seus
corações derretidos e sem ânimo, quando souberam que o Senhor havia secado as
águas do Jordão diante dos israelitas.
Eles já estavam amedrontados com o
temor que veio da parte de Deus sobre eles, conforme o relato de Raabe aos
espias (2.9), e por este evento Deus trouxe um maior terror a eles.
O Senhor havia feito esta promessa
aos israelitas da primeira geração, quando haviam saído do Egito, conforme se
vê em Êx 23.27: “Enviarei o meu terror adiante de ti, pondo em confusão todo
povo em cujas terras entrares, e farei que todos os teus inimigos te voltem as
costas.”, mas não se valeram do seu cumprimento em sua própria geração, por
causa da sua incredulidade.
E mais do que infundir terror sobre
os nossos inimigos, Deus prepara uma mesa para nós, quando cremos nele, na presença
dos nossos inimigos, pois ele não somente ordenou que fosse celebrada a páscoa
naquele território estranho, como também ordenou que os israelitas fossem
circuncidados, dando uma grande mostra do Seu poder em livrar e proteger, pois,
chegando isto ao conhecimento dos inimigos de Israel, eles possivelmente se
aventurariam em atacar os israelitas, enquanto estes estavam se curando das
dores da circuncisão, assim como Simeão e Levi fizeram nos dias de Jacó contra
os siquemitas.
Todavia, ainda que o tentassem, o
poder de Deus não permitiria que Israel fosse destruído pelos seus inimigos,
porque a Sua poderosa mão era com eles.
Estes atos da renovação do favor de
Deus, demonstrados na abertura do Jordão, na circuncisão, na celebração da
páscoa, e na declaração da remoção do opróbrio, fortaleceram grandemente a fé e
confiança dos israelitas nEle.
E eles necessitariam de firmeza de fé
para a realização de todas as campanhas militares que teriam que empreender em
Canaã, de modo que não sucedesse com eles o que havia ocorrido com os seus pais
no passado, em razão da incredulidade.
O opróbrio de
todos os pecadores crentes, que virão a fazer parte do povo de Deus, de modo
que possam entrar em Canaã, é removido deles por causa da sua fé em Jesus, e em
razão da obra que Jesus fez em favor deles.
A guerra que Deus
tinha contra eles acabou porque a sua iniqüidade foi perdoada, em razão da
morte de Jesus (Is 40.2).
Esta passagem de
Isaías é uma ordem de Deus que se console o seu povo com estas palavras
consoladoras de que o opróbrio que estava sobre eles foi inteiramente removido
por Jesus na cruz.
Que coisa
maravilhosa é saber e crer nesta boa nova com o coração! Mas todo aquele que
permanece em sua incredulidade permanece com este opróbrio, que é resultante da
ira de Deus contra o pecador que não lavou as suas vestes no sangue de Jesus, que
é o único modo de ser justificado e reconciliado com Ele, para viver numa união
eterna, com e por meio de Cristo.
Entretanto, é oportuno lembrarmos que
assim como Josué protestou contra os israelitas, como veremos no último
capitulo deste seu livro, que não poderiam servir ao Deus santo e verdadeiro
caso não vivessem em santidade diante dEle, de igual modo os crentes na Nova
Aliança estão sujeitos à mesma regra espiritual do dever de não viverem na
prática deliberada do pecado, para que possam ser objeto da consolação do Espírito Santo, que
foi enviado por Cristo para o propósito de fortificar o Seu povo, santificá-lo,
auxiliá-lo no entendimento e prática das coisas de Deus, e tudo o mais que se
refira à vida cristã.
Sem a atuação do Espírito Santo não
há nenhuma vida espiritual autêntica.
Spurgeon se referiu a isto de modo
sucinto no seu famoso sermão O Parácleto: “O Espírito de Deus nunca conforta um
homem no seu pecado. Cristãos desobedientes não devem esperar consolação; pois
o Espírito Santo primeiro santifica, e então consola.”.
E ainda são suas palavras no mesmo
sermão: “Tenha medo daquele conforto que não é baseado na verdade. Odeie o
conforto que não vem de Cristo.”.
Assim, há condições para que o povo
de Deus seja alvo das bênçãos do Espírito Santo prometido, que habita no
coração dos crentes.
Ele é designado como outro parácleto
em Jo 14.16, 26, isto é, alguém que se coloca ao nosso lado para nos
conduzir, ensinar, ajudar, fortificar,
enfim, cumprir todo o propósito de Deus em relação a nós, mas isto se cumpre na
santificação que Deus exige do Seu povo.
Por que o apóstolo Paulo chama a Nova
Aliança de ministério do Espírito em II Cor 3.7?
Certamente ele quis estabelecer um
contraste entre o Antigo e o Novo Pacto, especialmente neste sentido
particular.
Porque se é certo que o Espírito
atuava no Antigo Testamento sobre os israelitas, no entanto, Ele não habitou em
todos eles, como ocorre com todos os aliançados com Cristo na Nova Aliança,
porque nem todos os israelitas, que eram considerados integrantes da aliança
feita com Deus, por meio de promessa aos patriarcas, eram de fato pessoas de
fé, e portanto, não podiam ter o Espírito Santo em razão desta condição.
Contudo, todos os crentes, na Nova
Aliança, conhecem de fato a Deus, por terem esta habitação do Espírito, sendo
todos participantes da mesma fé comum em Jesus Cristo. Por isso Paulo diz
“ministério do Espírito” em II Cor 3.7.
É o Espírito Santo quem conduz todos
os assuntos dos crentes e da Igreja, no que respeita aos interesses de Deus.
Ele é um consolador amoroso, fiel e
incansável, que nos conhece e que por nos amar e ser fiel a nós, nunca se cansa
em nos ajudar e completar a boa obra que Deus começou em nós por meio por
próprio Espírito, que nos regenerou em novas criaturas.
Ele sempre faz os diagnósticos
corretos em relação às necessidades de nossas almas, e nos ministra o
medicamento adequado, capacitando-nos a viver de modo agradável a Deus e a
fazer a Sua vontade.
Em Gên 1.2 nós vemos que O Espírito
Santo pairava sobre as profundezas vazias, desérticas, sem utilidade, da terra,
que se encontravam em trevas absolutas, aguardando os comandos pela Palavra do
Pai para que Ele, Espírito Santo, gerasse todas as coisas visíveis. Foi Ele
portanto, o agente ativo da criação relatada nos primeiros capítulos de
Gênesis.
De igual modo, o Espírito habita nos
crentes para o ato da nova criação em Cristo Jesus, transformando as
profundezas do deserto vazio e inútil de suas almas, num pomar espiritual, no
qual são produzidos preciosos frutos para Deus.
Assim, a presença do Espírito Santo
nos crentes não é ocasional e nem acidental, mas absolutamente essencial, para
entrarem no reino dos céus e serem transformados de glória em glória à imagem
de Jesus.
Por isso Ele é o outro grande
Consolador enviado por Jesus, em cumprimento de uma promessa, já que Jesus é o
primeiro Consolador da Igreja.
O Espírito Santo é portanto, a grande
promessa da Nova Aliança feita a Abraão e aos profetas (Gál 3.14; Ez 11.19,20;
36.25-27; 37.14; 39.29; Is 4.2-4).
Os israelitas entristeciam
constantemente o Espírito Santo (Is 63.10,11), que atuava entre eles.
O Antigo Pacto, que era
constantemente violado nas sucessivas gerações de Israel, demonstrou que de
fato havia a necessidade de um Parácleto que estivesse não apenas conosco, mas
habitando em nós, de modo a nos transformar e ajudar a viver o que nos é
exigido por Deus (Ez 36.27; 37.14; Ag 2.5; Jo 14.17).
Por isso Ele foi enviado, conforme
Deus havia prometido em Sua Palavra, especialmente através do ministério dos
profetas, para habitar em todos os crentes do Novo Pacto (Is 44.3; Joel 2.28,
29; Ez 39.29).
E o Espírito Santo habitando nos
crentes na Nova Aliança é um Consolador muito amoroso. Ele não consola somente
por palavras mas principalmente por ações, pois age com poder e graça
transformando a nossa tristeza e dor em alegria e exultação.
Ele conhece perfeitamente a nossa
estrutura e age por um grande amor por nós, e por isso a sua consolação é
sempre eficaz, pois não são as meras palavras de um profissional, de um
conselheiro humano, mas o próprio Deus habitando e operando em nós.
Esta consolação do Espírito é um conforto que sempre está
disponível. Os confortos do Espírito Santo não dependem de saúde, força,
riqueza, posição, ou amizade; o Espírito Santo nos conforta pela verdade, e a
verdade não muda.
Esta consolação não significa necessariamente que sempre nos
deixará alegres, mas que será o nosso amparo nos chamados períodos noturnas da
nossa alma, em que somos abatidos pela correção da potente mão do Senhor, nos
disciplinando, transformando e conduzindo ao arrependimento e ao crescimento
espiritual.
Ele nos conforta por Jesus, e ele é o "sim e amém";
então, nossos confortos podem ser plenos, quer quando estivermos desfrutando de
plena saúde, quer quando doentes, quer quando em prosperidade financeira, quer
quando a bolsa estiver vazia.
Entretanto, sem o jugo de Jesus não é
possível experimentar a consolação do Espírito Santo, que dá descanso à alma,
como se lê em M 11.28-30, e onde a conclusão do verso 30 aponta para a verdade
de que sem o jugo e o fardo de Cristo, não se pode achar descanso para as nossas
almas.
Além disso, no verso 29, Cristo
destaca o dever da atitude da mansidão e
da humildade, para o mesmo propósito.
É assim que os que estão cansados e
oprimidos são aliviados (v. 28).
Assim como o jugo colocado sobre um
animal, que trabalha em arar a terra, o mantém preso à tarefa que deve
realizar, de igual modo, é a presença desta impulsão sobre a vontade e o nosso
espírito em desejar servir a Cristo e a fazer a Sua vontade, acima de qualquer
outro interesse, que nos habilita a fazer de fato a obra de Deus.
Caso falte o jugo, a tarefa de
agradar a Deus não será cumprida.
Em Mateus 11.30
Jesus ordena à Igreja que tome o seu jugo e fardo, e estas palavras são plenas
de significado quanto ao mesmo dever que foi imposto aos israelitas de
guardarem os mandamentos de Deus.
A palavra “jugo”,
no grego, é dzugós, que significa lei de obrigação, servidão, ou par de
balanças que eram colocadas sobre os animais de carga.
Nós encontramos
esta mesma palavra grega em textos como Mt 11.29, At 15.10; II Cor 6.14, Gál
5.1, I Tim 6.1 e Apo 6.5.
A palavra “fardo”, no grego, é
fortíon, que significa tarefa, trabalho, dever, missão. Nós encontramos esta
palavra grega também em Mt 23.4, Lc 11.46 e Gál 6.5.
O nosso trabalho e dever (fortíon)
para com Deus somente poderão ser cumpridos se mantivermos o jugo (dzugós) de
Jesus sobre nós, e este jugo consiste naquilo que pesa sobre nós e que nos
mantém dentro dos limites de nossa obrigação e dever.
Há um dever
imposto à Igreja de pregar o evangelho, fazer discípulos e ensinar-lhes a
guardarem tudo o que Jesus ordenou (Mt 28,19,20).
Este é o jugo. Mas muitos não querem o jugo de
Jesus, que consiste em guardar Seus mandamentos, e procuram sacudi-lo do
pescoço, para imporem à Igreja o seu próprio jugo, segundo o seu modo de pensar
e de agir, contra as coisas que nos foram ordenadas pelo Senhor.
Isto se aplica especialmente às
formas de culto e de adoração, e ao nosso procedimento pessoal.
O caminho estreito da salvação é o
trilho no qual devemos caminhar, restringidos pelo jugo de Jesus, às coisas que
são por Ele ordenadas e aprovadas.
Assim, nós podemos então entender
porque havia tanta idolatria entre os israelitas e tantas dificuldades em
viverem de modo agradável a Deus.
Aquele pacto que Deus fizera com eles
por meio de Moisés não era ainda o pacto do Espírito, que seria feito somente
depois da morte e ressurreição de Jesus com os israelitas de fé e todas as
pessoas de fé das demais nações da terra.
Mas o Antigo Pacto, em muitos sentidos,
segundo o propósito estabelecido por Deus, nos ajuda nesta nova dispensação a
entender muitas coisas relacionadas à vontade de Deus, por meio de tudo o que
Ele nos revelou na antiga dispensação.
Especialmente, sobre o nosso dever de
guardarmos os Seus mandamentos com toda a diligência e seriedade, para que
sejamos verdadeiramente prósperos em todos os sentidos que se possa considerar
em relação à vontade de Deus.
Depois de os israelitas terem
celebrado a páscoa, e comerem do fruto da terra naquele mesmo ano, o maná
cessou de cair (v.12).
Enquanto eles precisaram do maná, a
sabedoria e a bondade de Deus os proveu deste alimento sobrenatural, mas uma
vez tendo cessado a necessidade porque poderiam agora produzir seus próprios
alimentos nos territórios conquistados, a provisão do maná também cessou.
Isto nos ensina a não esperar
socorros extraordinários quando o que necessitamos pode ser obtido de modo
ordinário.
No final deste capítulo nós temos o
relato maravilhoso, que nos dá conta que Josué estava no seu posto de general
de Israel, quando o Senhor se fez conhecido a ele como o Generalíssimo de seu
povo.
O Senhor lhe apareceu como um varão
de guerra, com uma espada desembainhada, e como Josué não discerniu de pronto a
pessoa divina, que estava diante dele, perguntou de modo corajoso se ele havia
vindo como amigo ou inimigo, pois que Josué em sua coragem e fé estaria
disposto também a desembainhar a sua espada para travar um combate com ele, mas
quando seus olhos foram abertos, e seus ouvidos espirituais entenderam quem era
aquele que estava diante dele, especialmente quando o ouviu proferir que era o
capitão do exército de Jeová, Josué lhe prestou honras e reverência devidas
somente a Deus, prostrando seu rosto em terra e o adorou.
E quando humildemente se dispôs a
obedecer suas ordens, perguntando o que o seu Senhor tinha a dizer ao seu
servo, foi-lhe ordenado que tirasse as sandálias dos pés porque o lugar em que
estava era santo, e Josué assim fez (v. 13-15).
É muito importante saber que esta
aparição do Senhor como guerreiro e Generalíssimo tanto do exército celestial
quando do de Israel teve por propósito encorajar e dar a Josué instruções
específicas quanto ao que deveria ser feito para a conquista da cidade de
Jericó, como veremos no capítulo seguinte a este.
A palavra para príncipe, no verso 14,
no hebraico, é sar, que significa o comandante em chefe, o capitão, o general,
sendo que nas versões inglesas é traduzida por capitão, e assim temos “capitão
do exército do Senhor”, em vez de “príncipe do exército do Senhor”.
Sendo que a palavra traduzida por
Senhor é vertida do hebraico YHWH, que significa Jeová, e que geralmente é
traduzida por Senhor, porque os israelitas ao lerem a Bíblia não pronunciam o
nome sagrado de Deus, e em seu lugar dizem Adonai, que no hebraico, significa
Senhor. Assim, teríamos então: “capitão
do exército de Jeová”.
É bem provável que o autor de Hebreus
tenha retirado daqui a referência a Jesus como sendo o “capitão da salvação do
seu povo” (Hb 2.10), que é também traduzido por “autor da salvação do seu
povo”.
Pois toda vez que Jesus se levanta
com a espada afiada da sua língua, que é a Sua Palavra, Ele o faz para salvar
os filhos de Deus, assim como aparecera a Josué para revistar as tropas de
Israel, animá-los e conduzi-los à vitória contra os seus inimigos.
Jesus não é somente o autor de todo o
sistema da nossa salvação (fé), como também o consumador dele (Hb 12.2), pois
ele mantém o que iniciou e também o conclui.
Ele não é um Salvador distante, mas
sempre presente, e é por isso que deixou o Espírito Santo em Seu lugar para
conduzir o Seu povo, quando subiu em glória aos céus, depois da Sua morte e
ressurreição.
É nesta condição de príncipe e
governante, de todo o povo de Deus, espalhado na face da terra, que a profecia
de Is 55.4,5 se dirige a Jesus: “Eis que eu o dei como testemunha aos povos,
como príncipe e governador dos povos. Eis que chamarás a uma nação que não
conheces, e uma nação que nunca te conheceu a ti correrá, por amor do Senhor
teu Deus, e do Santo de Israel; porque ele te glorificou.”.
O Salmo 72.10,11 se refere a Jesus
como o Rei dos reis da terra: “Inclinem-se diante dele os seus adversários, e
os seus inimigos lambam o pó. Paguem-lhe tributo os reis de Társis e das ilhas;
os reis de Sabá e de Seba ofereçam-lhe dons. Todos os reis se prostrem perante
ele; todas as nações o sirvam.”.
E Apo 19.16 o afirma expressamente:
“No manto, sobre a sua coxa tem escrito o nome: Rei dos reis e Senhor dos
senhores.”.
Assim Josué reconheceu que estava
debaixo do comando do Senhor, que lhe aparecera daquela forma, e tirando as
sandálias de seus pés, o adorou.
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