O livro de Lamentações foi composto em acróstico, ou
seja, os versículos são iniciados com as letras do alfabeto hebraico, por
ordem, por isso temos 22 versículos nos capítulos 1, 2, 4 e 5, e 66 no terceiro
capítulo, porque neste, há três séries repetidas do alfabeto.
O livro foi escrito por Jeremias expressando as
dores e tristeza que sentiu ao ver Judá depois de ter sido destruída em seu
próprios dias, pelos babilônios, destruição esta que ele profetizara, e por
causa da qual foi acusado injustamente por seus compatriotas de subversivo, que
havia se aliado aos babilônios contra os israelitas.
Esta composição poética revela qual eram os seus
reais sentimentos em relação ao seu povo, e que profetizara da parte de Deus
contra Judá, e não por ter-se aliado aos interesses de Babilônia.
Lamentações 1
“1 Como está sentada solitária a cidade que era tão
populosa! tornou-se como viúva a que era grande entre as nações! A que era
princesa entre as províncias tornou-se avassalada!
2 Chora amargamente de noite, e as lágrimas lhe
correm pelas faces; não tem quem a console entre todos os seus amantes; todos
os seus amigos se houveram aleivosamente com ela; tornaram-se seus inimigos.
3 Judá foi para o cativeiro para sofrer aflição e
dura servidão; ela habita entre as nações, não acha descanso; todos os seus
perseguidores a alcançaram nas suas angústias.
4 Os caminhos de Sião pranteiam, porque não há quem
venha à assembléia solene; todas as suas portas estão desoladas; os seus
sacerdotes suspiram; as suas virgens estão tristes, e ela mesma sofre
amargamente.
5 Os seus adversários a dominam, os seus inimigos
prosperam; porque o Senhor a afligiu por causa da multidão das suas
transgressões; os seus filhinhos marcharam para o cativeiro adiante do
adversário.
6 E da filha de Sião já se foi todo o seu esplendor;
os seus príncipes ficaram sendo como cervos que não acham pasto e caminham sem
força adiante do perseguidor.
7 Lembra-se Jerusalém, nos dias da sua aflição e dos
seus exílios, de todas as suas preciosas coisas, que tivera desde os tempos
antigos; quando caía o seu povo na mão do adversário, e não havia quem a
socorresse, os adversários a viram, e zombaram da sua ruína.
8 Jerusalém gravemente pecou, por isso se fez
imunda; todos os que a honravam a desprezam, porque lhe viram a nudez; ela
também suspira e se volta para trás.
9 A sua imundícia estava nas suas fraldas; não se
lembrava do seu fim; por isso foi espantosamente abatida; não há quem a console;
vê, Senhor, a minha aflição; pois o inimigo se tem engrandecido.
10 Estendeu o adversário a sua mão a todas as coisas
preciosas dela; pois ela viu entrar no seu santuário as nações, acerca das
quais ordenaste que não entrassem na tua congregação.
11 Todo o seu povo anda gemendo, buscando o pão;
deram as suas coisas mais preciosas a troco de mantimento para refazerem as
suas forças. Vê, Senhor, e contempla, pois me tornei desprezível.
12 Não vos comove isto a todos vós que passais pelo
caminho? Atendei e vede se há dor igual a minha dor, que veio sobre mim, com
que o Senhor me afligiu, no dia do furor da sua ira.
13 Desde o alto enviou fogo que entra nos meus
ossos, o qual se assenhoreou deles; estendeu uma rede aos meus pés, fez-me
voltar para trás, tornou-me desolada e desfalecida o dia todo.
14 O jugo das minhas transgressões foi atado; pela
sua mão elas foram entretecidas e postas sobre o meu pescoço; ele abateu a
minha força; entregou-me o Senhor nas mãos daqueles a quem eu não posso
resistir.
15 O Senhor desprezou todos os meus valentes no meio
de mim; convocou contra mim uma assembléia para esmagar os meus mancebos; o
Senhor pisou como num lagar a virgem filha de Judá.
16 Por estas coisas vou chorando; os meus olhos, os
meus olhos se desfazem em águas; porque está longe de mim um consolador que
pudesse renovar o meu ânimo; os meus filhos estão desolados, porque prevaleceu
o inimigo.
17 Estende Sião as suas mãos, não há quem a console;
ordenou o Senhor acerca de Jacó que fossem inimigos os que estão em redor dele;
Jerusalém se tornou entre eles uma coisa imunda.
18 Justo é o Senhor, pois me rebelei contra os seus
mandamentos; ouvi, rogo-vos, todos os povos, e vede a minha dor; para o
cativeiro foram-se as minhas virgens e os meus mancebos.
19 Chamei os meus amantes, mas eles me enganaram; os
meus sacerdotes e os meus anciãos expiraram na cidade, enquanto buscavam para
si mantimento, para refazerem as suas forças.
20 Olha, Senhor, porque estou angustiada; turbadas
estão as minhas entranhas; o meu coração está transtornado dentro de mim;
porque gravemente me rebelei. Na rua me desfilha a espada, em casa é como a
morte.
21 Ouviram como estou gemendo; mas não há quem me
console; todos os meus inimigos souberam do meu mal; alegram-se de que tu o
determinaste; mas, em trazendo tu o dia que anunciaste, eles se tornarão
semelhantes a mim.
22 Venha toda a sua maldade para a tua presença, e
faze-lhes como me fizeste a mim por causa de todas as minhas transgressões;
pois muitos são os meus gemidos, e desfalecido está o meu coração.”
Jeremias sabia que o tempo de exílio de Judá não
seria pequeno, porque o Senhor lhe revelou que seria de 70 anos a duração do
cativeiro em Babilônia (Jer 25.11,12; 29.10)
Ele não viveria portanto, para ver a restauração do
seu povo, prometida por Deus, depois de cumpridos os 70 anos de cativeiro.
Então expressa o choro amargo de Jerusalém por se
encontrar desolada, e por ter ido para o cativeiro para sofrer aflição e dura
servidão.
Até mesmo as ruas de Jerusalém choravam porque já
não havia quem caminhasse por elas para se dirigir ao culto no templo, porque
as portas da cidade estavam desoladas e os sacerdotes impedidos de oficiarem
porque o templo havia sido destruído.
Por causa da multidão das transgressões do Seu povo,
o Senhor lhes afligiu, e fez com que seus inimigos prosperassem contra eles
levando-lhes para o cativeiro.
Todo o esplendor de Jerusalém havia acabado, e seus
príncipes já não se achavam em honra em seus tronos, mas caminhavam sem forças
adiante do perseguidor que os conduzia para Babilônia.
No entanto, não foi sem causa que Jerusalém havia
caído em sua aflição, porque desde tempos antigos pecou gravemente e de honrada
que era, passou a ser desprezada, porque se viu nela a sua nudez e imundícia
(v. 7 a 9).
O profeta clama em angústia ao Senhor como se fosse
a própria cidade de Jerusalém que estivesse clamando, porque ele estava
expressando a dor que havia se apoderado dos habitantes de Judá.
Judá não atendeu ao chamado ao arrependimento que o
Senhor lhe fizera através dos profetas, inclusive do próprio Jeremias, então
lhe sobreveio repentina aflição da parte do Senhor, no dia do furor da sua ira,
porque se recusaram a se arrepender dos seus pecados.
Isto não é diferente, mesmo com muitos na Igreja,
que insistem em andar deliberadamente no pecado, sem dar a devida atenção às
muitas chamadas do Senhor ao arrependimento. Nas cartas dirigidas às Igrejas
citadas no segundo e no terceiro capítulo do livro de Apocalipse, nós vemos de
modo muito claro como o Senhor ameaça inclusive com a remoção do castiçal, das
Igrejas que se recusassem a se arrepender.
E quando há este despejar da ira do Senhor,
conduzindo as almas de crentes a cativeiros não de condenação eterna, mas de
disciplina e de correção, é realmente de comover o nosso coração, tal como
Jeremias o expressou em relação ao gemido dos moradores de Judá e Jerusalém (v.
12).
O juízo de Deus sobre o Seu povo de Judá, nos dias
de Jeremias, foi tal como fogo que entra nos ossos, e rede que prende os pés, e
que impede o avançar na caminhada, e que traz desolação e desfalecimento todos
os dias (v. 13).
Que nestas horas de profundezas da alma, por causa
da prática de pecados deliberados, que todo crente, soubesse avaliar
devidamente estes sintomas para buscar no Senhor lugar de arrependimento, para
ser curado.
O que sucedeu a Jerusalém foi para advertência da
Igreja de Cristo, para que não andemos nos mesmos pecados em que eles andaram,
de forma a não cairmos debaixo da vara da correção do Senhor, que geralmente,
será achada nas mãos do próprio Inimigo das nossas almas, porque aqueles que
resistem à vontade do Senhor, dão lugar ao diabo, o qual afligirá as suas
almas, até que retornem ao abrigo de Deus.
E o Senhor será achado justo ao vindicar a Sua
justiça e santidade, visitando os nossos pecados, e permitindo que sejamos
afligidos, não para pagar a conta dos nossos pecados, porque esta dívida já foi
paga por Cristo, para o Seu povo, mas para que sejamos desviados dos nossos
maus caminhos, pelo temor do mal, que nos sobrevenha ou que possa ainda
sobrevir.
Os povos inimigos de Israel alegravam-se com o mal
que havia vindo sobre os judeus, mas estavam esquecidos que o Senhor também
visitaria no tempo apropriado, com os Seus juízos, os pecados deles.
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