quinta-feira, 10 de outubro de 2013

PROVÉRBIOS 4

“1 Ouvi, filhos, a instrução do pai, e estai atentos para conhecerdes o entendimento.
2 Pois eu vos dou boa doutrina; não abandoneis o meu ensino.
3 Quando eu era filho aos pés de meu, pai, tenro e único em estima diante de minha mãe,
4 ele me ensinava, e me dizia: Retenha o teu coração as minhas palavras; guarda os meus mandamentos, e vive.
5 Adquire a sabedoria, adquire o entendimento; não te esqueças nem te desvies das palavras da minha boca.
6 Não a abandones, e ela te guardará; ama-a, e ela te preservará.
7 A sabedoria é a coisa principal; adquire, pois, a sabedoria; sim, com tudo o que possuis adquire o entendimento.
8 Estima-a, e ela te exaltará; se a abraçares, ela te honrará.
9 Ela dará à tua cabeça uma grinalda de graça; e uma coroa de glória te entregará.
10 Ouve, filho meu, e aceita as minhas palavras, para que se multipliquem os anos da tua vida.
11 Eu te ensinei o caminho da sabedoria; guiei-te pelas veredas da retidão.
12 Quando andares, não se embaraçarão os teus passos; e se correres, não tropeçarás.
13 Apega-te à instrução e não a largues; guarda-a, porque ela é a tua vida.
14 Não entres na vereda dos ímpios, nem andes pelo caminho dos maus.
15 Evita-o, não passes por ele; desvia-te dele e passa de largo.
16 Pois não dormem, se não fizerem o mal, e foge deles o sono se não fizerem tropeçar alguém.
17 Porque comem o pão da impiedade, e bebem o vinho da violência.
18 Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito.
19 O caminho dos ímpios é como a escuridão: não sabem eles em que tropeçam.
20 Filho meu, atenta para as minhas palavras; inclina o teu ouvido às minhas instruções.
21 Não se apartem elas de diante dos teus olhos; guarda-as dentro do teu coração.
22 Porque são vida para os que as encontram, e saúde para todo o seu corpo.
23 Guarda com toda a diligência o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida.
24 Desvia de ti a malignidade da boca, e alonga de ti a perversidade dos lábios.
25 Dirijam-se os teus olhos para a frente, e olhem as tuas pálpebras diretamente diante de ti.
26 Pondera a vereda de teus pés, e serão seguros todos os teus caminhos.
27 Não declines nem para a direita nem para a esquerda; retira o teu pé do mal.”

No verso 18 é afirmado que o caminho dos justos é como a luz da aurora que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito; ou seja, haverá um crescimento em graus na sua santificação pelo Espírito, de glória em glória até a plena maturidade em Cristo. E o modo de se obter isto é principalmente pelo que se diz no verso 23: “Guarda com toda a diligência o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida.”. Porque Deus prometeu que na Nova Aliança escreveria a Sua lei nas nossas mentes e corações (Jer 31.31-34). E é com o coração que se crê para a salvação. É dele que procede o mal ou o bem. Boas ou más palavras. É o que sai dele que contamina ou purifica o homem.  Então a nossa união com Cristo é basicamente uma união de coração, do espírito, do homem interior. Então é importante sabermos em que consiste este guardar com toda a diligência o coração, por ser dele que procedem todas as fontes da vida eterna que temos em Cristo. Para tal propósito, recorremos em nosso comentário a um texto adaptado de autoria de John Flavel:

Sobre Guardar o Coração

Por John Flavel (adaptado)

“Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida.”  (Pv 4.23).

O texto é muito claro e mostra que não há nada mais importante para ser guardado por nós do que o nosso próprio coração.
O coração do homem é a pior parte dele antes de ser regenerado, e é a melhor posteriormente; porque é a base de princípios, e a fonte de ações. O olho de Deus está, e o olho do crente deveria estar também fixado principalmente no coração.
A maior dificuldade na conversão, é dar o coração a Deus; e a maior dificuldade depois da conversão, é guardar o coração com Deus. Aqui repousa a força mesma e a tensão da religião; aqui está aquilo que faz o modo da vida ser um modo estreito, e o portão do céu um portão também estreito.
Em nosso texto nós temos uma exortação: “guardar o coração”, e  a razão, o motivo para isto: “porque dele procedem as fontes da vida.”.
Na exortação devemos considerar primeiro o assunto do dever. E depois consideraremos a maneira de executar isto.
1. O assunto do dever: Guarda o teu coração. Coração aqui é uma referência à alma. Em várias passagens bíblicas tem também o significado de memória, entendimento, consciência (Rom 1.21; I João 3.10; Sl 119.11 etc).
Mas no nosso texto devemos considerar o coração como uma referência à alma  ou homem interior.
O que o coração é para o corpo, a alma é para o homem; e o que a saúde é para o coração, a santidade é para a alma. O estado de todo o corpo depende da inteireza e vigor do coração, e o estado eterno do homem e sua saúde espiritual depende da sua alma. Por isso há uma correlação metafórica do coração com a alma. 
Guardar o coração, com entendimento diligente e constante* uso de todos os meios santos para preservar a alma do pecado, e manter sua doce e livre comunhão com Deus.
* Eu digo constante, porque se o coração deve ser guardado, então a diligência no uso dos meios santos (oração, meditação na Palavra etc) deve ser também guardado constantemente.
A ideia no texto para guardar o coração corresponde a uma guarnição sitiada, que é atacada por muitos inimigos, e mesmo correndo o perigo de ser traída por cidadãos traiçoeiros que se encontram em suas próprias fileiras – nisto se incluem nossos próprios pecados e as ações danosas de falsos irmãos em Cristo da própria Igreja.
Guarde o teu coração – parece ser uma ordem para fazermos este trabalho, mas não insinua que devemos fazer isto por nossa própria suficiência.
Não somos capazes de parar o sol em seu curso, ou fazer os rios correrem para trás, e como por nossa própria vontade e poder governaremos os nossos corações?
Sem dúvida este é um trabalho para o poder da graça de Deus porque Jesus diz que sem Ele nada podemos fazer. 
2. A maneira de executar isto é com toda a diligência. O motivo para este dever é muito pesado: “Porque dele procedem as fontes da vida”. Isto é, o coração é a fonte de todas as operações vitais; é a fonte e origem tanto do bem quanto do mal.
Da abundância do coração fala a boca. 
Guardar o coração, necessariamente supõe um trabalho prévio de regeneração que deu ao coração uma inclinação espiritual nova, porque se faltar graça ao coração ninguém poderá guardá-lo corretamente diante de Deus.
Antes da queda no Éden, o homem se encontrava numa condição constante, uniforme de espírito, e sua mente tinha um conhecimento perfeito das exigências de Deus, e todos os seus poderes e desejos encontravam-se numa disposição obediente. 
Mas, depois da queda o homem se tornou uma criatura rebelde, oposto ao seu Criador, e assim ficou totalmente desordenado, e todas suas ações são irregulares. Mas através da regeneração a alma desordenada é preparada para a retidão, em sujeição e obediência à vontade de Deus. A compreensão é iluminada, a vontade rebelde é gradualmente conquistada. Assim a alma que o pecado havia depravado universalmente, é restabelecida pela graça.
Então este dever de guardar o coração nada mais é do que o cuidado constante e diligência de tal homem renovado em preservar a sua alma naquela condição santa para a qual a graça a elevou.
Porque embora a graça tenha, em uma grande medida, restaurado a alma, e dado à mesma uma disposição divina habitual, contudo o pecado frequentemente a descompõe, e a alma é então como um instrumento musical que necessita estar sempre sendo afinado.
Assim, é necessário estar sempre preparando o coração para aquela condição espiritual que possibilita a nossa comunhão com Deus.
Davi comungava com o seu próprio coração para saber se ele estava indo para a frente ou indo para trás. E o coração nunca pode ser guardado até que seu caso seja examinado e entendido.
Esta preparação do coração inclui uma humilhação profunda para os males e desordens do coração.
Inclui também uma súplica séria em oração para que o coração seja purificado e retificado pela graça toda vez que o pecado o tiver sujado e desordenado. Devemos pedir um coração que ame a Deus e odeie o pecado.
Guardar e preparar o coração inclui impor um forte compromisso em nós mesmo para caminharmos mais cuidadosamente com Deus e evitar as ocasiões por meio das quais o coração possa ser induzido a pecar.  
E este forte compromisso deve ser motivado por um santo temor de Deus, especialmente para não entristecer o Espírito Santo, que é o nosso Consolador amoroso e fiel.
E para isto é preciso termos sempre a presença de Deus fixada diante de nós, sabendo que nada escapa da Sua vista, em razão da Sua Onisciência e Onipresença. 
Trabalhar o coração é realmente o trabalho mais difícil e necessário que devemos fazer. Não é fácil adquirir um coração quebrantado para o pecado, derretido com a graça quando bendizemos a Deus por isto, e estar realmente humilhado e envergonhado diante da santidade de Deus, e guardar o coração nesta condição, não somente durante a realização do nosso dever, mas depois dele, trará certamente alguns gemidos e dores de alma. 
Reprimir os atos externos de pecados é louvável, e até mesmo pessoas carnais podem fazer isto, mas matar a raiz do pecado no coração e fixar um governo santo sobre o mesmo, isto não é nada fácil. 
Guardar o coração é um trabalho constante que nunca termina enquanto estivermos neste mundo. 
Este é o negócio mais importante da vida de um crente. Sem isto nos tornamos formalistas em religião, e todos os nossos atos nada significarão para Deus, porque Ele sempre pede primeiro o nosso coração antes de nossas palavras e ações. 
Deus tem declarado desde os céus a Sua ira contra a maldade dos corações, então em guardar o coração está envolvido o Seu agrado e glória.
Deus trouxe o dilúvio nos dias de Noé porque viu que a imaginação dos corações dos homens era continuamente má. E homens com corações que abrigam o mal e que não se dispõem para o bem, para um viver santo, não são de nenhuma serventia para Deus, senão para serem condenados.  
A sinceridade de nossa profissão de fé depende do cuidado que nos exercitamos para guardar nossos corações. E todo homem que é descuidado quanto à condição do seu coração é apenas um hipócrita na sua profissão religiosa. Temos no rei Jeú de Israel um grande exemplo disto. Ele protestou ter grande zelo por Deus, mas não tinha um coração segundo o coração de Deus, tal como Davi.
O coração de Deus, isto é,  a Sua natureza e essência é pura santidade, e assim deve ser também o nosso coração, e de outra forma não podemos afirmar verdadeiramente que estamos servindo ou amando a Deus.
 A hipocrisia de Simão Mago foi revelada rapidamente porque o coração dele não era reto para com Deus.
Quando não guardamos o coração em santidade e louvamos a Deus com nossos lábios Ele nos repreenderá por esta falsidade porque saberá muito bem o quanto os nossos corações estão afastados dEle.
A beleza de nossa conversação surge da condição divina de nossos espíritos. Há um brilho e beleza espiritual na conversação dos santos.
Como pode um coração desordenado produzir uma conversação ordenada? Daí a importância de se guardar o coração. Não é muito difícil de discernir pelas conversações dos cristãos em que estado se encontram os seus corações. Quando o coração está concentrado nas coisas do alto e não nas que são da terra a conversa girará em torno das coisas espirituais, celestiais e divinas. 
E esta vida do céu não será achada através da busca de revelações sobrenaturais, de se desejar ouvir Deus ocasionalmente, mas senão de um esforço diligente em obediência à Palavra, que geralmente será antecedido por muitas humilhações e dores do coração. Porque o método de Deus comumente é primeiro humilhar para depois exaltar.
A Palavra não está no céu mas junto à boca e próximo do coração. Não é preciso ir ao céu para trazer Cristo à terra. Ele habita conosco em nosso coração e é no nosso coração que Ele deve ser buscado com toda a diligência em obediência à Sua vontade. Este é o modo comum e geral de encontrá-lo.
Certa pessoa que se achava à beira do desespero veio a ser encontrada em perfeita paz posteriormente por um amigo e este lhe perguntou como havia achado tal paz, e ela lhe respondeu que não havia sido por nenhuma revelação extraordinária, mas sujeitando sua compreensão à Bíblia e comparando seu coração com a Palavra.      
Realmente, o Espírito assegura a nossa firmeza em Cristo testemunhando nossa adoção; e ele a testemunha de dois modos. Um dos modos é, objetivamente, quer dizer, produzindo aquelas graças em nossas almas que são as condições da promessa; e assim o Espírito, e as Suas graças em nós, são um: o Espírito de Deus que habita em nós é uma marca de nossa adoção. Agora o Espírito pode ser discernido, não na essência dele, mas nas operações dele; e discernir estas, é discernir o Espírito; mas não podemos ter este discernimento sem uma vigilância minuciosa, diligente e sincera do coração.
O outro modo do Espírito é testemunhando efetivamente, quer dizer, irradiando a alma com uma graça que descobre luz, brilhando no Seu próprio trabalho; e isto, em ordem de natureza, segue o trabalho anterior: ele infunde primeiro a graça, e então abre o olho da alma para ver isto. Agora, desde que o coração é o objeto dessa graça infundida, igualmente, por este modo o Espírito testemunha a necessidade que temos de  guardar nossos corações cuidadosamente. Porque,
Um coração negligenciado está tão confuso e em trevas que as poucas graças que se encontram nele não são normalmente discerníveis. Se os crentes mais preciosos e laboriosos acham às vezes difícil discernir o mover do Espírito em seus corações, o que se dirá dos crentes que são negligentes quanto ao dever de guardarem os seus corações quanto a discernirem as suas graças?
Sinceridade! que é a coisa que deve ser buscada, repousa no coração como um pedaço pequeno de ouro no fundo de um rio; e aquele que desejar achá-lo tem que aguardar até que a água fique clara, e então ele verá o ouro brilhando no fundo. E para que o coração possa estar claro e resolvido, quantas dores, vigilância, cuidado e diligência, são requeridos!
Deus normalmente não favorece almas negligentes com os confortos da garantia da certeza da salvação; porque ele não vai confirmar indolência e descuido. Ele dará garantia, mas será do próprio modo dele; a ação confirmatória dEle será unida ao nosso cuidado e diligência. Estão enganados todos aqueles que pensam que esta garantia, ou testificação do Espírito, pode ser obtida sem trabalho.
Ainda que um crente negligente venha a alcançar num dado momento a garantia da certeza da sua salvação e plena aceitação por Deus, que traz paz à alma, dificilmente ele conseguirá reter isto, em razão da sua negligência. Esta bênção não é para indolentes mas para diligentes.
Não admira então não vermos efetivamente envolvidos e interessados na obra de Deus e com o próprio Deus, aqueles que não são diligentes na prática da Palavra de Deus, sendo descuidados nos deveres por Ele ordenados.
Este assunto de guardar o coração é tão delicado e sutil, que um pouco de orgulho, vaidade, inveja ou qualquer outro descuido poderá fazer em pedaços tudo aquilo que foi conseguido com muito esforço num grande tempo. Por isso nunca devemos descuidar do dever de guardar o nosso coração com toda diligência. Ninguém deve se iludir pensando que poderá tirar férias de Deus por um único dia que seja e ser achado no dia seguinte nas mesmas condições espirituais em que se achava antes.
A melhoria de nossas graças depende de guardar os nossos corações. Eu nunca vi a graça prosperar numa alma descuidada. Os hábitos e as raízes da graça devem ser plantados com diligência no coração; e quanto mais profundamente eles estão arraigados, mais a graça florescerá. Em Efésios 3.17, nós lemos sobre  estar arraigados em graça; graça no coração é a raiz de toda palavra de edificação que sai da boca, e de todo trabalho santo feito pelas mãos.
É verdade, que Cristo é a raiz de um crente, Mas Cristo é a raiz original, e a graça é uma raiz originada, plantada, e influenciada por Cristo. Agora, num coração não guardado com cuidado e diligência, estas influências estão paradas e em vez de frutificação, a graça será quebrada por uma multidão de vaidades e todas as obras da carne que devorarão a sua força; e o coração que é a sede destas operações será conformado a estas influências que operam contra a graça divina.
No coração descuidado operarão multidões de pensamentos vãos e tolos que trabalharão continuamente, e lançando também continuamente fora aqueles pensamentos espirituais de Deus que lá se encontravam anteriormente, e pelos quais a alma estava sendo refrigerada.
E o coração descuidado não pode receber e reter a graça que cai continuamente do céu como chuva sobre as almas, e fica como uma terra seca e estéril, incapaz de sustentar uma boa plantação divina, tal como o autor de Hebreus o retrata em Heb 6.4-6.
Um coração descuidado é como uma cisterna rachada que não pode reter as águas vivas do Espírito Santo. Elas se escoarão e não poderão ser desfrutadas e usadas para operar através de nós os bons propósitos de Deus em relação a nós e àqueles aos quais Ele abençoaria por nosso intermédio, caso tivéssemos guardado o nosso coração.
A estabilidade de nossas almas na hora da tentação depende do cuidado que nós temos em guardar nossos corações. O coração descuidado é uma presa fácil para Satanás, que sempre anda em derredor procurando um descuidado a quem possa tragar. Os dardos inflamados de Satanás são disparados principalmente contra o coração, porque se ele ganhar o coração, ele ganhará o homem todo, e torna-se muito fácil a sua conquista quando consegue vencer o coração descuidado.
Então é grande sabedoria observar quais são os primeiros movimentos do coração, quando a mente é submetida à apreciação de um objeto desejável. Porque os movimentos do pecado são mais fracos no princípio e tendem a aumentar pela excitação da mente e da imaginação. Um pouco de cuidado e vigilância logo neste primeiro momento da tentação pode ajudar a prevenir muito dano futuro. E o coração descuidado que não atende a isto é trazido para dentro do poder da tentação, como os sírios foram trazidos por Eliseu para o meio de Samaria, antes que eles soubessem onde se encontravam. 
Como vimos, este trabalho de guardar o coração deve ser um trabalho diário, constante, permanente, mas há épocas que requerem uma vigilância maior sobre o coração, em razão do grande perigo que elas representam para nós:
A primeira época é o tempo de prosperidade. O coração deve ser guardado mais intensamente em períodos de prosperidade, seja de qual natureza for, material, financeira, ou da própria obra de Deus, porque é muito comum ser tentado a se tornar orgulhoso nestas ocasiões, e no caso de prosperidade material há também a tentação de se tornar mundano e carnal. É difícil para qualquer homem manter-se humilde na prosperidade. Até o piedoso rei Ezequias não pôde esconder um temperamento vanglorioso em sua tentação, quando expôs as riquezas de Judá à embaixada de Babilônia, como que se aquela prosperidade fosse fruto da força do seu próprio braço, e não dádivas que haviam sido dadas graciosamente pelo Senhor.
Há várias ajudas para guardar o coração das armadilhas perigosas da prosperidade.
1. Considere as tentações que acompanham uma condição agradável e próspera. Poucos, que vivem ricamente nos prazeres deste mundo sabem que lhes aguarda uma condenação eterna. Jesus pessoalmente alertou sobre o perigo das riquezas e da impossibilidade de se servir a Deus e ao dinheiro.
2. Pode ajudar a nos guardar mais humildes e alertas quanto à  prosperidade, considerar quantos cristãos  se tornaram piores por causa disto. Muitos chegaram a apostatar da fé, conforme dizer de Paulo em I Tim 6. 
3. Consideremos que Deus não avalia nenhum homem por estas coisas. Ele nunca avalia pelo exterior senão pelo coração.
4. O coração pode ser guardado humilde considerando que nenhum bem deste mundo pode alimentar a alma. Coisas matérias não podem satisfazer o que é espiritual e imaterial. Além disso, nada levaremos conosco deste mundo quando formos para a presença de Deus. E o amor ao mundo nos impede de experimentar e viver no amor de Deus.
5. Nossa esperança em Cristo não é para este mundo, mas para a vida eterna e em perfeita glória ainda por vir a se manifestar em nós. Estamos no mundo mas não somos do mundo porque fomos comprados pelo sangue de Jesus para sermos propriedade exclusiva de Deus, e assim é somente para Ele e para a Sua glória que devemos viver. Então tudo o que fizermos no mundo, seja comendo, bebendo, vestindo-se, trabalhando, ou o que for, deve ser feito em Deus e para a Sua glória, e não para satisfazer o nosso ego e nossos objetivos egoístas.
6. Uma verdadeira atração de outros para Cristo através de nossas vidas nunca será motivada pelas riquezas terrenas que eles observarem em nós, mas pela abundância de graças espirituais que existirem em nós.  
Nós vemos na Bíblia e na história da Igreja, que as pessoas que foram mais usadas por Deus não foram aquelas ás quais ele proveu de grandes glórias terrenas e que as poupou de provações. Ao contrário geralmente os que foram mais humilhados, foram os que foram elevados diante dEle em grande autoridade espiritual. E quanto mais eles se rebaixavam perante Deus, mais Ele os elevou diante dos homens. Jacó reconheceu que não era merecedor da menor de todas as misericórdias de Deus, e Ele fez dele o patriarca de Israel.  Davi indagou ao Senhor quem ele era e quem era a casa do seu pai para lhe ter feito a promessa de estabelecer a sua casa e o seu reino para sempre? Assim, quanto mais uma pessoa se rebaixa perante Deus, mais Ele a eleva.
A segunda época na vida de um crente, que requer mais  do que diligência comum para guardar o seu coração, é o tempo da adversidade. Quando a Providência o desaprova, e destrói seus confortos externos, então vigie seu coração; guarde-o com toda a diligência para que não desfaleça debaixo da potente mão de Deus; porque são dificuldades que têm o propósito de aumentar a nossa santidade. 
É muito difícil manter o espírito composto debaixo de grandes aflições. Mas são estas aflições que podem tornar melhores os nossos  corações. Vejamos então o que pode nos ajudar a guardar o coração quando debaixo de aflições:
1. As aflições nos vêm através de deliberação. Elas são ordenadas por esta deliberação de Deus para serem meios de provimento de bem espiritual aos santos. Por isso Jesus recomendou a termos bom ânimo nelas para que possa ser cumprido o propósito do nosso aperfeiçoamento em paciência e aumento de fé, por mantermos a confiança em Deus enquanto passamos por elas. Especialmente por este meio serão purgadas as nossas iniquidades. Elas são servas de Deus para baixar o nosso orgulho e segurança carnal, de maneira a aprendermos a não confiarmos em nós mesmos, ou na nossa capacidade e poder, bem como nos demais homens, senão somente no Deus que ressuscita os mortos. A graça fará o seu trabalho em meio às nossas fraquezas e ela nos bastará.
Assim, se têm sido muitas as nossas aflições, grande deve ser a nossa alegria, conforme diz Tiago, porque Deus está fazendo um grande trabalho em nós, para grandes propósitos. E isto será um sinal de que Ele tem aceito de fato a nossa consagração ao nos contemplar com estes meios poderosos que visam ao nosso aperfeiçoamento espiritual.
Como Davi, no Salmo 130, em vez de nos abatermos nas profundezas em que são colocadas as nossas almas, nós devemos confiar inteiramente em Deus e clamar a Ele por socorro. O cálice amargo do nosso sofrimento é o que produzirá a cura da nossa alma do pecado. É o que retirará de nós toda impureza da carne e do espírito, de maneira que possamos estar santos e inculpáveis diante de Deus. E como rejeitaríamos tão precioso remédio?  Somente por ser grandemente amargo?    
É de grande eficácia impedir que o coração afunde debaixo de aflições, e voltar sua atenção ao Seu Pai celestial e aos Seus mandamentos. Não importa o quanto soframos, saibamos que o que importa afinal é que a vontade de Deus seja feita em nossas vidas, especialmente no que se refere à nossa transformação. 
Nunca chegaremos a apreciá-lo como o Deus de todo amor, misericórdia, paciência, bondade, longanimidade, justiça e paz se estes Seus atributos não forem trabalhados em nossas próprias vidas. E o efeito produzido pelas tribulações e aflições, será a melhor escola em que a nossa natureza orgulhosa poderá aprender estas verdadeiras lições de vida, pela nossa transformação gradual à imagem do próprio Cristo.  
Não é sem dor que o barro sente as mãos do oleiro amassando-o para receber a forma que é necessária para fazê-lo mais parecido com Cristo. E não é com menos dores que ele suporta a fornalha acesa da aflição para que esta imagem de Cristo possa ser estampada e finalmente fixada nele, tal como o vaso de barro tem que ser submetido ao fogo para o seu acabamento final. 
Mas como Deus é o Pai de misericórdias e de todo amor, nós devemos ter sempre presente conosco que Ele compensará nossas aflições com Suas consolações e demonstrações de cuidado e amor. Nós conheceremos mais do Seu amor e cuidado no tempo de aflição do que no tempo de prosperidade. E podemos estar certos de que assim como Ele não nos escolheu no princípio porque éramos elevados de igual modo Ele não nos rejeitará e abandonará no tempo da nossa humilhação.
Se seu filho viesse a perder todos os seus bens e a ficar andrajoso você negaria a reconhecê-lo como filho e se negaria a ajudá-lo a se recompor de suas perdas? Como poderia então Deus que é perfeito Pai nos deixar entregues às nossas próprias misérias, em completa indiferença para conosco? Argumentos que tentam provar o contrário nos momentos extremos de nossas fraquezas procedem do inferno e não do Pai das misericórdias. Devemos portanto guardar os nossos corações de serem afetados por tais pensamentos.
Se pela perda de confortos externos Deus pode conservar nossa alma livre do poder arruinador da tentação e nos conduzir a uma maior experiência de conhecimento íntimo e pessoal dEle, como permitiríamos então que nossos corações sejam afundados por estas aflições? Antes não há motivo para nos gloriarmos nelas? (Tg 1.4; Rom 5.3-5).
O jovem rico se retirou triste pelo temor de perder as suas muitas posses. Mas quem não perderá todas as suas posses terrenas quando for chamado por Deus a sair deste mundo? (I Tim 6.7) Há sabedoria então em estarmos apegados aos bens terrenos que não poderemos desfrutar para sempre? Seria a falta deles um motivo real para a nossa tristeza? É neste fundamento incerto que devemos colocar a razão da nossa esperança? (I Tim 6.17).
Quão dispostos estamos em arruinar uma alma eterna por bens terrenos passageiros? Guardemos então o coração de não atribuir valor eterno ao que passará, porque tudo passará conforme Cristo tem afirmado, mas não a Sua Palavra que nos assegura a vida eterna com Deus. 
E onde achará descanso o nosso coração senão em Deus? Mas como pode um coração descuidado entrar em tão elevado e santo descanso?  As corrupções do pecado que remanescem na nossa carne deve então ser seriamente mortificadas, conforme Deus nos ordena para que tenhamos a vida e paz do Espírito em nossos corações (Rom 8.6; 8.13). Toda impureza de coração é inimizade contra Deus. É um estado ruim da alma que Ele não somente não pode apreciar, como também não pode aprovar, e muito menos aceitar como irrelevante para termos comunhão com Ele.
Deve ser buscado então em primeiro lugar este trabalho de purificação da alma pelo Espírito Santo, para que a santa comunhão com Deus possa vir em seguida. Primeiro ele nos santificará, colocará o nosso coração na condição que é aceitável por Deus, e somente então poderemos subir o monte da adoração para estarmos em Sua presença.
Não é surpreendente que tantas vezes no Velho Testamento Deus ordenasse que primeiro o povo fosse santificado para que pudesse falar com eles ou lhes trazer as bênçãos e unções prometidas.
Muito mais agora, que o nosso Cordeiro que tira o pecado do mundo, se entregou por nós na cruz, há muito maiores razões para sermos purificados pelo Espírito antes de podermos estar efetivamente em comunhão com Deus e a Seu serviço.
Daí a grande importância de se guardar continuamente o coração, quer na adversidade, quer na prosperidade, e nas muitas tentações que há tanto numa quanto noutra condição, que visam nos desviar da presença de Deus por contaminar o nosso coração com amargura, maledicência, orgulho, inveja, ciúme e todas as demais obras da carne.  
E não é demais lembrar que os nossos dias diferentemente dos dias em que John Flavel viveu, são cheios de dificuldades, especialmente de impurezas da carne, que estão presentes no chamado mundo civilizado, através da imoralidade, violência, desrespeito e rebeliões que são exibidas abertamente na televisão, no cinema, em vídeos, CD´s, outdoors e toda forma de veiculação realizada pela mídia.
São verdadeiros ataques poderosos contra a pureza de nossos corações contra os quais temos que não somente vigiar e evitar, como também lutar em firme determinação para que nossos corações possam ser guardados na pureza e santidade que são devidas a Deus.
Se era pecado de adultério olhar uma mulher com intenção impura nos dias de Jesus, em que não havia todo o aparato de sensualidade que é produzido em nossa época pela exibição pública do nu feminino e da pornografia, a que tipo e grau de pecados estamos expostos continuamente em nossos dias? Não admira que sejam chamados na Bíblia de dias difíceis, porque não será por muita vigilância e cuidado que se poderá ter e preservar uma verdadeira e santa comunhão com Deus. 
Este é o grande desafio à santidade nesta época. Não mais as carências materiais do mundo antigo que expunham os corações á tentação da murmuração. Ainda que isto não esteja extinto em nossos dias, no entanto, a maior frente da batalha está sendo travada no guardar o coração incontaminado da impureza e da violência que assolam o mundo moderno.
A ordenança de Paulo para a Igreja de Corinto fugir da prostituição (I Cor 6.18) é muito mais aplicável aos nossos dias do que na época em que ele proferiu tais palavras. 
Certamente era muito mais fácil para Timóteo fugir das paixões da mocidade (II Tim 2.22) do que os nossos jovens fugirem delas em nossos dias, em que são acostumados a pensarem que uma vida impura, imoral e dissoluta é um padrão normal de vida como qualquer outro, sem saberem que a ira de Deus se acende contra tais coisas. 
Mais do que nunca é necessário clamar a Deus como fez Davi:
“Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto.”  (Sl 51.10).
E não há outro caminho para o jovem manter o seu caminho limpo senão aplicar a Palavra de Deus ao seu coração:
“Com que purificará o jovem o seu caminho? Observando-o conforme a tua palavra.”  (Sl 119.9).
É melhor pois estar num deserto com o coração puro tendo ao Senhor por companhia, do que estar no meio de todas as atrações, confortos e alegrias mundanos, pagando o terrível preço de estarmos afastados de Deus, por nos deixarmos vencer por muitas tentações. 
Por isso não devemos rejeitar as aflições que Deus nos envia em Sua misericórdia para nos desarraigar do nosso amor ao mundo. E aquilo que em princípio parece derrota e frustração e motivo de tristeza para nós, pelo desencanto com coisas e pessoas que dantes tanto prezávamos, pela sabedoria que nos virá do alto tudo isto será visto depois como um grande e eterno ganho, porque foram renúncias que nos foram impostas pelas circunstâncias desagradáveis para que pudéssemos ter mais de Deus e da sua doce e santa companhia.
Portanto, em vez de nos deixar abater pelo descontentamento a que ficamos tentados pelos espinhos na carne, devemos aprender a ser gratos a Deus pela graça que receberemos por suportá-los com paciência, conforme nos ordena a Palavra:
“Alegrai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, perseverai na oração;”  (Rom 12.12).     
Guardemos nossos corações nas aflições não permitindo que fiquemos irritados e impacientes com elas, porque o nosso próprio descontentamento produzirá uma grande ferida em nós, que levará depois muito tempo para ser curada. O que devemos fazer é pedir a Deus que nos fortaleça com a Sua graça para que possamos descansar debaixo da Sua potente mão disciplinadora e aperfeiçoadora, sabendo que a dor da correção presente produzirá no futuro um fruto pacífico de justiça.  
A aflição é uma pílula amarga que deve ser tomada sem ser mastigada. A ira, irritação e descontentamento em ter que tomar esta pílula fará com que a mastiguemos e então ela amargará toda a nossa alma.
O descontentamento na aflição nada mais faz do que abrir ainda mais a ferida que Deus fez para poder curar a nossa alma.
Uma terceira época em que a diligência para guardar o coração deve ser maior é no tempo das dificuldades de Sião. Para Sua exclusiva glória, Deus permite que a Sua própria igreja atravesse por períodos de  elevação com grandes visitações do Espírito e com grande aplicação da Sua Palavra, como também por períodos de escassez espiritual. Isto é claramente observado na história da Igreja. Mas o tempo de dificuldades espirituais não é tempo para cruzar os braços e para se descuidar do coração. Ao contrário é tempo para se aumentar ainda mais a vigilância e diligência para evitar o naufrágio do frágil barco da fé que conduz o povo de Deus. A igreja é como o barco no qual Cristo e seus discípulos se encontravam no Mar da Galileia, que sendo batido pelas ondas do mar e pelas tempestades as almas que nele estão encontram-se prontas a naufragar em seus próprios temores.  
E o comum é que a maioria das pessoas se sintam desanimadas debaixo do senso das dificuldades da Igreja. A perda da arca custou a Eli a sua vida. E se vemos a Igreja afundando sentimos que também afundará com ela as nossas próprias vidas. Mas em todas estas calamidades Deus nos chama a voltar a confiar tão somente nEle, e a clamar a Ele por socorro.
Então nos períodos em que a Igreja atravessar por dificuldades resolva esta grande verdade em seu coração, que nenhuma dificuldade que acontece à Igreja não é sem a permissão do Senhor da Igreja, e ele não permite nada que no final das contas não venha a trazer grande bem ao Seu povo, especialmente daqueles que lhes são fiéis.  
Todos se extraviaram nos dias de Noé, mas ele permaneceu fiel a Deus andando com Ele em justiça. O povo de Israel se extraviou quase todo à uma, mas Elias permaneceu firme com o Santo de Israel. Tal seja cada crente fiel da Igreja de Cristo, que não permita vender a Sua fidelidade em confirmação da Palavra da verdade por qualquer desvio de doutrina ou apelo humano para relaxar no dever de guardar o seu coração para o Seu Deus. Tais atitudes trazem muito glória e honra ao nome do Senhor, e Ele expressa o Seu regozijo conforme podemos ver nas palavras que dirige à Igreja de Filadélfia:
“8 Conheço as tuas obras; eis que diante de ti pus uma porta aberta, e ninguém a pode fechar; tendo pouca força, guardaste a minha palavra, e não negaste o meu nome.
9 Eis que eu farei aos da sinagoga de Satanás, aos que se dizem judeus, e não são, mas mentem: eis que eu farei que venham, e adorem prostrados a teus pés, e saibam que eu te amo.
10 Como guardaste a palavra da minha paciência, também eu te guardarei da hora da tentação que há de vir sobre todo o mundo, para tentar os que habitam na terra.”  (Apo 3.8-10).
E este tipo de fidelidade não poderá ser achado nos dias difíceis em que a Igreja estiver atravessando, especialmente como nos nossos em que Deus tem sido abandonado por estarem os crentes buscando prosperidade material, entretenimentos e muitas outras coisas em primeiro lugar, em vez de buscarem o reino de Deus e a Sua justiça.
Muitos pensam erroneamente que é possível ser fiel a Deus sem se guardar cem por cento o coração. E sem ter um coração dividido e conquistado por afetos por muitas coisas dentre as quais Deus é apenas mais um simples item a ser considerado.
Há quem pense que estabelecer prioridades corretamente é dedicar uma terça parte do seu tempo ao trabalho, uma outra terça parte à família, e a terça parte final a Deus.
Isto significa que não há na verdade nenhuma adoração verdadeira e serviço a Deus neste caso, porque Ele não deve ter uma terça parte do nosso tempo, atenção e devoção, mas todo o nosso coração. Cem por cento ou nada.  Em tudo que fizermos Deus deve estar presente, e tudo deve ser feito não como para homens ou para nós mesmos, senão pra Ele. Este é o modo correto de se estabelecer as prioridades conforme nos ensina a Bíblia, pois ela afirma claramente que tudo deve ser feito para a glória de Deus e que Ele deve ser adorado com toda a nossa força, mente, coração e alma. Toda é toda, e não parte, muito menos terça parte. Toda é cem por cento. E é cem por cento porque Ele não aceita um coração que lhe é devotado parcialmente, senão que aceita somente a oferta de todo o nosso coração.  
Tente reservar partes de sua atenção para outras coisas quando adora a Deus, e veja se haverá alguma verdadeira adoração? Porque Deus não nos enche com o espírito de louvor pelo Seu Espírito quando assim procedemos? A resposta é fácil: é porque não lhe devotamos todo o nosso coração e atenção.
As rodas da visão de Ezequiel estavam cheias de olhos por dentro e por fora, e elas revelam a onisciência de Deus que acompanha todos os movimentos e anelos dos nossos corações. Ele conhece perfeitamente a condição dos nossos corações e não aceitará de modo nenhum um coração dividido. Ele aceitará um coração quebrado, quebrantado, mas jamais aceitará um coração dividido que não se entregue inteiramente a Ele. Porque requer confiança total, incondicional. Ele quer que nos entreguemos ao Seu cuidado assim como uma pequena criança faz em relação aos seus pais. 
Deus nunca abandonará a Sua Igreja. Os homens que estão na Igreja é que podem vir a se corromper nela por não guardarem os seus corações. Mas o Senhor conhece os que são Seus e os preservará do mal, dando-lhes que possam se reunir com aqueles que com um coração puro invocam o Seu nome. Bendito seja o Senhor por Seu grande amor e cuidado para com as ovelhas do Seu rebanho!
E se Deus é por nós quem será contra nós?
Uma multidão do exército dos sírios pode vir contra o profeta de Deus, e miríades de demônios podem acompanhar aquele cortejo do mal, mas muitos mais são os anjos e poderes de Deus a favor dos seus servos fiéis do que aqueles que estão ao lado dos que praticam males.
As portas do inferno não poderão prevalecer contra a verdadeira Igreja de Cristo, aonde quer que ela se encontre, e como se encontre. Seja no deserto. Seja em pequeno número e força, mas grande é o poder dela porque Aquele que a dirige e sustenta é o Todo Poderoso Criador dos céus e da terra.     
Se você calcular a felicidade da Igreja por sua facilidade mundana, esplendor e prosperidade, então um tal tempo de aflição parecerá desfavorável, mas se você considera que a sua glória consiste em sua humildade, fé e espiritualidade santa, nenhuma condição traz tantas vantagens para a Igreja do que esta condição aflita. Não foram perseguições e prisões, mas mundanismo e carnalidade que envenenaram a Igreja, nem foi a glória terrena de seus mestres que escreveu a sua história, mas o sangue dos seus mártires. 
O poder da piedade nunca prospera melhor do que na aflição, e este poder da piedade nunca foi menos próspero do que em épocas de grande prosperidade material. Quando nós somos esquecidos, pessoas pobres e aflitas então aprendemos a confiar no nome do Senhor. Realmente é para a vantagem dos santos serem desmamados dos encantos e vaidades terrenas para serem acelerados e urgidos adiante com mais pressa ao céu, com descobertas mais claras dos seus próprios corações e serem ensinados a orar mais fervorosamente, com mais frequência e de modo mais espiritual, olhando mais ardentemente o descanso que aguarda por eles no porvir.
Isto assim sucede porque Deus está mais interessado na vantagem da nossa alma do que na satisfação dos nossos desejos e humores. Nós são sabemos fazer uma justa avaliação das coisas em seu verdadeiro valor, e assim, pelas aflições o Senhor nos ensina a mostrar quão pobres são os atrativos terrenos comparados com as realidades inefáveis do céu, que Ele preparou para desfrutarmos eternamente delas. Este tesouro escondido celestial em Jesus Cristo é tão precioso que Ele não nos fará participantes sequer da visão dele, quanto mais de experimentar suas riquezas se não aprendermos a lhe atribuir o seu verdadeiro valor. É pelo mesmo princípio espiritual que há na pessoa de Deus que Jesus nos proíbe de lançar as pérolas e coisas santas preciosas do evangelho aos cães e aos porcos, porque não podem dar a devida apreciação ao valor inestimável delas.
E Deus é ciumento e zeloso por estas coisas celestiais e espirituais a tal ponto, que as oculta, para não serem desprezadas ou violadas. Quem em sã consciência colocaria uma porcelana de alto valor nas mãos descuidadas de uma criança? Mas as coisas das quais falamos são de valor eterno e incalculável para o próprio Deus, e de quão maior valor não elas então para nós, pobres e miseráveis que somos, e inteiramente dependentes de Deus para que possamos receber qualquer graça espiritual?     
Assim glorie-se nas suas tribulações porque ainda que você não ache nenhum conforto nelas, no entanto elas são a evidência da sua integridade em não negar o nome do Senhor e nem a Sua Palavra, porque é para estes que são reservadas perseguições e tribulações, por causa do amor deles à justiça.
Uma quarta época que exige um aumento de nossa diligência para guardar nossos corações, e no tempo do perigo.  Mas o justo não deve temer os juízos determinados por Deus sobre os ímpios enviando angústias, temores e fraquezas aos corações deles diante dos seus inimigos e dos males que lhes sobrevêm neste mundo. Homens que por causa de uma má consciência tremem até mesmo com o barulho de uma folha caindo ao chão. Mas aqueles cuja consciência é sem culpa podem ser no Senhor corajosos como o leão.
Sabemos que há um temor natural em todos os homens, e que é impossível remover isto completamente, e até mesmo é necessário um temor sadio porque servem de alerta contra o perigo e ajuda-nos a sermos prudentes. Assim, não devemos cultivar uma apatia estóica (atitude de indiferença ao mal e às dores) nem ainda desprezarmos um certo grau de medo preventivo para podermos nos ajustar às dificuldades e enfrentá-las sabiamente.
Mas devemos guardar o coração do medo do futuro que causa ansiedade, do medo sofrer por causa do testemunho da verdade e de qualquer medo que invade o coração em tempos de perigo, que o distrai, debilita e impede de agir conforme a vontade revelada de Deus na Palavra. 
Para impedir estes temores e guardar o coração na paz do Senhor devemos ver todas as criaturas sob o controle da mão de Deus, e que nada nos atingirá sem a Sua permissão divina. 
Um leão tem um poder tremendo mas quem temerá um leão que estiver seguro nas mãos de Deus?
Os temores atormentam muito mais a alma do que os sofrimentos propriamente ditos. Mas devemos deixar a graça vencer nossos temores porque no meio das inundações que tivermos que atravessar Deus abrirá um espaço para que possamos escapar (I Cor 10.13).
Não admira que haja tantos “Não temas” da parte de Deus para nós nas Escrituras, conhecedor que é da nossa facilidade para temer. Por isso interpõe a promessa para que confiemos nEle e não permitamos que nossos corações sejam vencidos por nossos temores. Ele estará conosco e nos dará coragem e paz, ainda que na hora da nossa morte. 
Assim os muitos perigos que teremos que enfrentar neste mundo não são para serem temidos mas para serem vencidos pelo poder de Deus pela nossa confiança total nEle.
Não há nada melhor para ter um coração firme e reto em tempos de perigos do que manter continuamente nossa fidelidade no cumprimento dos nossos deveres que nos mantêm em comunhão continua com o Senhor, porque isto acenderá uma chama de zelo fervoroso que não temerá sequer o martírio caso ele se apresente a nós.
É isto que nos levará a dizer como Paulo que não estamos prontos somente para sermos presos ou sofrer por causa de Cristo, mas até mesmo a morrer por Ele. 
Uma boa consciência não nos levará a ter paz com pensamentos da necessidade de destruição dos nossos inimigos. Os justos são corajosos como o leão, e não necessitam ver afastados os seus perseguidores para que tenham paz.  Estes, ao contrário, por causa da má consciência deles, por seguirem a iniquidade é que são fracos, e necessitam remover os que estão no caminho deles para que possam vencer os seus temores, senão de outro modo, sempre ficarão apavorados pela ideia de serem suplantados por estes que eles temem.
Mas o justo prefere sofrer o mal do que prejudicar alguém. Sua boa consciência é o seu melhor defensor depois do próprio Deus no céu. Ele não distorcerá jamais a verdade para poder suplantar os seus acusadores e poder sentir-se confortável e seguro perante os homens.    
Um coração é tornado firme e seguro quando Ele considera e estima a honra de Deus mais do que a sua própria honra. Quando está disposto a sofrer injúrias e perseguições por amor a Cristo, e a se regozijar nisto, sem tentar defender a sua honra pessoal, mas deixando todo o caso nas mãos justas de Deus.  
Que real dano pode ser causado à honra de uma tal pessoa como esta que anda na integridade do seu coração?
Que terrores podem lhe ser infundados pelos homens ou pelos principados e potestades do mal, se Ele tem colocado em Deus toda a sua confiança? Homens como estes são como Neemias, e do quê e de quem eles fugirão?
O temor de Deus em vez do temor dos homens faz que a ira natural se transforme em zelo espiritual, que a tristeza natural se transforme em alegria santa, e o temor natural em temor santo de Deus.
Jesus mesmo prevaleceu em oração com o Pai no Getsemâni até que recebeu força do alto na sua grande angústia para enfrentar tudo o que deveria enfrentar daquele momento em diante até a sua morte na cruz. De igual modo nós devemos proceder quando estes temores que o diabo e a carne trazem sobre nós em tempos de perigo a serem enfrentados. A oração é a melhor saída para o temor.  
Uma quinta época em que nós devemos ter uma diligência maior para guardar o nosso coração é quando as nossas provisões externas começam a faltar. E orar como fez o profeta Habacuque dizendo que ainda que tudo faltasse ele se alegraria no Deus da sua salvação, não é fácil. Mas é o único meio de guardar o coração da murmuração e do descontentamento nestas horas difíceis em que a nossa subsistência é colocada à prova por Deus.    
Nestas horas devemos lembrar que nossa condição não é singular, porque muitos grandes homens santos já foram provados e aperfeiçoados por Deus por este processo. Jesus e os apóstolos foram especialmente provados nisto, para nos deixar o exemplo de que podemos confiar inteiramente em Deus para a manutenção das nossas necessidades diárias, em provisões para a subsistência das nossas vidas, conforme Ele nos tem prometido que cuidará de todas as nossas reais necessidades.
Quando nos impõe falta de pão Deus não está querendo necessariamente demonstrar qualquer tipo de reprovação ou desgosto em relação a nós. Ele simplesmente quer nos ensinar que é poderoso para preparar uma mesa para nós no deserto e nos manter em vida num mundo perigoso e instável como este em que vivemos.
Não há nenhuma resistência ou má vontade em Deus para nos prover de coisas boas e agradáveis, porque Ele deu o seu próprio Filho por nós para que recebêssemos juntamente com Ele todas as coisas que nos tem reservado como nossa herança. E assim, até mesmo estes períodos de escassez fazem parte da boa provisão espiritual que Ele preparou para nós para o nosso aperfeiçoamento na transformação à imagem do Seu Filho, de maneira que aprendamos a ser-Lhe gratos em todas as circunstâncias, quer agradáveis ou desagradáveis, porque no fim elas trabalharão para o nosso bem.     
Se todos os nossos desejos fossem satisfeitos por Deus, ainda que desejos lícitos, quando menos aprenderíamos a ser mimados e caprichosos, e nos relacionaríamos com Ele numa base falsa vendo-o apenas como provedor das nossas vontades. Mas Ele quer justamente nos ensinar a ficarmos contentes em fazer a vontade dEle e não propriamente a nossa. Ele quer que aprendamos a cumprir os propósitos e objetivos que Ele planejou para cada um de nós, e não propriamente os nossos sonhos e objetivos pessoais. Ele é a vontade governante de todo o universo, inclusive da nossa própria vontade, e quer nos ensinar isto. Daí nos chamar a ser-Lhe gratos em toda e qualquer circunstância tal como havia aprendido o profeta Habacuque, e o apóstolo Paulo depois dele.  
E devemos considerar ainda até que ponto o atendimento de todos os nossos desejos por Deus nos tornariam pessoas mais santas e obedientes à Sua vontade? Por isso ele nos prova nas necessidades para sabermos até que ponto O amamos mais do que tudo o que Ele nos dá. Estaremos com Ele na casa, quando todas as coisas tiverem sido retiradas de nós? Reflitamos sobre isso e respondamos sinceramente para sabermos qual é a verdadeira condição do nosso coração, de maneira que o guardemos de toda forma de murmuração no dia que a escassez vier bater à nossa porta. 
Se o Senhor prometeu acrescentar tudo o que for necessário à subsistência material daquele que está empenhado em buscar efetivamente em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça, porque deveriam então estar ansiosos e solícitos por suas vidas tais crentes fiéis? 
Como não confiaríamos numa tal promessa proferida pela boca do Filho de Deus? 
Aquele que é cuidadoso em alimentar as aves do céu não proveria o necessário para os seus filhos? 
Proteja sua mente com estas verdades divinas quando estiver numa baixa condição neste mundo, e guarde assim o seu coração de cair nas possíveis tentações que costumam acompanhar tal condição. 
A sexta época em que nós devemos ser diligentes para guardar o coração é quando ministramos publicamente usando os dons e graças recebidos de Deus. Nestas ocasiões devemos nos guardar especialmente do orgulho espiritual que nos leva a pensar que somos o que somos e que fazemos o que fazemos por nossa própria capacidade e poder, e isto nos impede de tributar toda honra, glória e louvor que são devidos ao Senhor, a quem pertencem de fato tais graças e dons.
As tentações a que ficamos expostos nestas ocasiões devem ser vencidas por nos humilharmos diante do Senhor e lhe pedir que cancele todos os pensamentos elevados que tentam se apoderar de nós, sabendo nós que a única coisa que merecemos de fato seria o inferno por causa dos nossos pecados, e que é inteiramente pela graça e misericórdia do Senhor que somos poupados, e como poderiam tais pecadores como nós planarem em tão elevadas alturas pensando que ali chegamos por nossos próprios méritos? Que méritos são estes se tudo o que temos foi recebido de Cristo! 
Tenhamos a humildade do apóstolo para pensar e dizer continuamente: “miserável homem que sou”, para sabermos e estarmos sempre conscientes que devemos muitas graças a Deus por Jesus Cristo porque é Ele quem nos livra do corpo desta morte que carregamos, que é o nosso velho homem, herdado de Adão, do qual devemos nos despojar continuamente, inclusive com estes seus pensamentos elevados que o levam a pensar que é independente de Deus e não necessitado da Sua misericórdia e graça.   
É portanto com consciência da nossa total dependência de Deus que devemos começar qualquer trabalho em Seu nome, ou a execução de qualquer dever de devoção pessoal, como por exemplo oração, meditação da Palavra etc. 
E saibamos que estamos diante dAquele que é a verdade, de maneira que a nossa ministração e devoção sejam vazadas completamente pelo sim, sim, não, não, de maneira que guardemos nosso coração de toda tola imaginação ou mentira. Como poderíamos agir de tal forma diante dAquele que sonda perfeitamente mentes e corações e que tudo sabe e vê? Não podemos esquecer disto durante toda a nossa jornada terrena, desde o nosso levantar até o nosso deitar. Devemos ser como Davi que nunca se descuidou quanto a isto.   
O coração deve ser guardado de todo e qualquer sentimento de vingança porque isto anulará todo empenho em deveres de devoção ou de serviço ao Senhor. O desejo de vingança no coração o amarga de tal maneira que ele se torna imprestável para ser apreciado por um Deus que é inteiramente doce, terno, manso e humilde de coração. Qual a comunhão que podem ter pecadores que desejam o mal de outros com o Deus que é todo misericórdia, perdão e amor? Quando Deus julga, e mesmo quando a Sua ira se acende contra o pecado, Ele não deixa de lado por um só segundo nenhum dos Seus demais atributos de amor, bondade, benignidade, longanimidade, misericórdia, e de maneira nenhuma ele pode ter a Sua mente transtornada, tal como nós ficamos quando tomados por sentimentos de vingança. Por isso urge ter o coração sempre guardado destes sentimentos de vingança, que acabam sendo as armas que acabam ferindo e produzindo danos a nós mesmos.
Deixemos toda vingança a ser executada por Deus que é reto Juiz e não pode ser vencido pelo mal tal como nós.
Assim deixe o temor de Deus conter e acalmar seus sentimentos.
Fixe diante de seus olhos os padrões mais elevados de mansidão e perdão para que você possa sentir a força do exemplo deles. Este é o modo de se cortar os argumentos comuns da carne por vingança. Pense que outros suportariam tais afrontas, e certamente coisas muito piores, tanto a história da Igreja, como nos exemplos que temos na Bíblia na  pessoa do próprio Cristo, e também em José no Egito e tantos outros. Assim se você se deixar vencer por seus sentimentos será considerado um insensato e um covarde por não seguir o exemplo mais sábio e santo daqueles que venceram seus sentimentos em Deus. 
Considere o caráter da pessoa que o prejudicou. Ele é um homem bom ou mau? Se ele for um homem bom, haverá uma boa consciência nele que cedo ou tarde o trará a um senso do mal que ele lhe fez. Se ele for um homem bom   Cristo lhe perdoou maiores danos do que ele fez a você; e por que você não deveria perdoar a ele? Cristo não o censurará por quaisquer das injustiças dele, mas francamente as perdoará todas; e você o tomará pela garganta por algum erro insignificante que ele cometeu?
Mas se for um homem mau que lhe prejudicou ou lhe insultou, verdadeiramente você tem mais razão para exercitar piedade que vingança em relação a ele. Ele está dentro de um estado miserável; um escravo do pecado e inimigo da justiça. Se ele continuar impenitente, haverá um dia que está chegando quando ele será castigado na justa medida das ofensas que ele praticou. Você não precisa se vingar porque Deus executará vingança nele.
Se você viesse a superar seu inimigo, executando sua vingança sobre ele, isto seria um motivo para se sentir vencido e perturbado posteriormente em sua consciência, e você se sentiria semelhante não ao Filho de Deus, mas a Satanás, que não veio trazer vida com abundância aos homens como Cristo, senão morte, furto e destruição, do possível bem que eles poderiam ter em Deus por se reconciliarem com ele. Não seja pois um aliado do diabo e um opositor da causa de Cristo que veio salvar e não condenar o mundo. E o modo que Ele faz isto é oferecendo perdão a todos os pecadores, sem uma única exceção, e afirmando que toda transgressão poderá ser-lhes perdoada, exceto a blasfêmia contra o Espírito Santo.
Considere por quem todas as suas dificuldades são ordenadas ou permitidas. Isto será de grande uso para guardar seu coração da vingança.  Nada foge do controle de Deus, e todas as nossas tribulações são reguladas por Ele, para um fim proveitoso. Se Deus tem permitido que soframos algum dano é para que o superemos sujeitando-nos a Ele e confiando nossas almas ao cuidado do fiel Criador para que sejamos consolados e restaurados. Quantas injustiças e perseguições sofreram os cristãos da Igreja primitiva, e como Deus os consolou através do apóstolo Pedro? Acaso ordenando-lhes que se vingassem de seus perseguidores? Os textos de I Pe 2.13-25; 3.8,9, 15, 18; 4.12-19; 5.6-10, dentre outros nos dão a resposta a isto.
Finalmente, quanto a guardar o coração da vingança, lembre que com o juízo que julgamos somos julgados e com a medida com que medimos somos medidos, de maneira que somos lançados a prisões espirituais pelo próprio Deus e sujeitados a opressões do maligno até que sincera e do fundo do coração nos disponhamos a perdoar aqueles que nos ofenderam. Jesus deixou claramente ensinado que somos perdoados por Deus quando também perdoamos os nossos ofensores. É portanto um assunto de caráter vital espiritual este do dever de perdoarmos, e portanto guardemos devida e continuamente o nosso coração de pensamentos e desejos de vingança, que no final prejudicarão tão somente a nós mesmos. 
Outra ocasião em que devemos ser diligentes em guardar o nosso coração é quando ficamos expostos a grandes tentações. O melhor remédio contra isto é nos mantermos humildes tendo pensamentos  humildes de nós mesmos. Devemos nos comparar com Deus e veremos o quão pequenos somos. Por maiores que sejam as provocações que possamos receber, especialmente aquelas que visam nos rebaixar, nada poderão fazer contra nós se nos rebaixarmos ainda mais diante dos nossos olhos numa verdadeira medida por nos compararmos imediatamente com Deus. Veja o caso de Davi com Mical, que o desprezou em seu coração e tentou rebaixá-lo ao ponto de acusá-lo que ele seria desonrado pelas próprias servas dos seus servos. Ele não se indignou por ser rei nem tentou fazer valer a sua autoridade real, mas disse que se humilharia ainda mais diante de Deus, e esta atitude em vez de lhe trazer desonra das suas servas, faria com que fosse ainda mais honrado por elas. Que belo exemplo a ser seguido por nós! 
Satanás é um espírito irado e descontente e deseja a todo custo tornar-nos participantes da sua natureza. Mas somos em Cristo, co-participantes da natureza de Deus e não da natureza do diabo. E que é portanto a natureza que devemos seguir. Pensemos sempre nisto e seremos ajudados a guardar nossos corações nas provocações que recebermos de Satanás e de seus instrumentos.    
Quão maravilhoso e doce é para Deus e para o próprio crente vermos que vencemos nossas más tendências. Que não permitimos ser vencidos pelo mal em quaisquer de suas formas de violência e impurezas. Que mantivemos o nosso coração puro no meio de um mundo sujeito à impureza. Quão precioso isto é para nós e para o nosso Senhor! Guardemos pois o nosso coração!  
Deixemos que Cristo governe e domine mais e mais o nosso mau temperamento de maneira que se ache em nós a mansidão e a humildade que estão no próprio coração de Cristo.
Evite tudo o que for projetado para irritar seus sentimentos! Fuja das fontes de tentação! Desvie-se do caminho do iracundo e do mau, e não se intrometa em dissensões, porque tolo é todo aquele que o faz. Ao contrário investigue a causa da justiça, busque a paz e se empenhe em alcançá-la. Tenha a paz de Cristo em seu próprio coração.   
E para guardar o coração tenha especialmente cuidado com os argumentos da carne e do diabo para que você seja complacente com os seus pecados, isto é, que seja tolerante com a ideia de pecar, sob o argumento de que outros grandes homens de Deus também pecaram, inclusive aqueles cujas vidas estão narradas na Bíblia. Isto é muito sutil e enganoso porque remove toda a diligência que deveria haver em nós, tanto quanto esteve nestes grandes homens de Deus. Mas esta parte final o diabo e a carne não nos informam, a saber, que eles pecaram sim, mas detestavam o pecado, e eram diligentes na sua busca de santidade em Deus. 
Paulo diz miserável homem que sou, mas veja na mesma epístola em que ele afirma tais palavras, a grande diligência que tinha em si mesmo contra o pecado, e exige a mesma diligência de todos os crentes, por ter conhecido perfeitamente qual é a vontade de Deus em relação a isto.
Saber que a vontade de Deus é a nossa contínua e crescente santificação é uma boa maneira de guardar o nosso coração de pensamentos arruinadores desta mesma santificação, por serem poderosos para nos tornar indolentes quanto ao nosso dever de nos esforçarmos para nos apresentarmos sempre santos e inculpáveis diante de Deus. 
Outra época em que devemos ser diligentes para guardar o coração é aquela em que sofremos grandes perseguições por causa do nosso amor à justiça e ao evangelho de Cristo. Devemos guardar o coração nestas ocasiões sabendo que são ocasiões não para perturbação de mente ou para tristeza, senão para grande alegria porque grande será o nosso galardão no céu por causa da nossa fidelidade à Palavra do Senhor, e por estarmos sendo perseguidos exatamente por este motivo.  
 O Senhor nos alertou sobre isto, como um sinal da nossa verdadeira devoção e fidelidade a Ele. Não são portanto tais injustiças que sofremos motivo para regozijo? O próprio Jesus e os apóstolos foram também assim perseguidos por causa do testemunho da verdade que eles mantiveram em face dos seus opositores. E somos chamados a seguir o mesmo exemplo deles. E podemos estar certos de que enfrentaremos também tais oposições e perseguições para que Deus receba muita glória na demonstração do nosso amor e fidelidade a Ele.
Por isso não devemos injuriar aqueles que nos injuriam, tal como Cristo e os apóstolo fizeram no passado.
Não devemos tentar justificar a nossa própria honra e dignidade perante aqueles que nos caluniam, não somente porque não poderão entender nossos argumentos, em face da carnalidade deles, como também por sermos chamados a defender não a nossa honra mas a do Senhor.
O coração deve ser guardado pelo consolo que o Espírito Santo nos dá quando nos armamos do pensamento de suportar sofrimentos por amor a Cristo. E que grandes consolações elas serão! 
 A causa do evangelho e não a nossa é que deve avançar. Muitas almas devem ser salvas para Cristo e não para nós mesmos. E devem ser edificadas no testemunho da verdade quanto ao modo como devem caminhar neste mundo pelo exemplo que acharem em nossas próprias vidas, de perdão, amor, misericórdia, bondade, paz e todas as demais virtudes que estão em Cristo, e que também serão achadas em nós à proporção da nossa submissão a Ele.  
E guardemos também nossos corações por saber que estes sofrimentos não podem ser comparados com a gloria futura a ser revelada em nós, quando recebermos do Senhor o louvor pela nossa fidelidade a Ele e à Sua Palavra. 
Não somos chamados a vencer debates teológicos, mas a vencer o pecado e o diabo. Não somos chamados a impor nossa visão a outros, mas conduzir as pessoas a Cristo e ao Seu evangelho. Não é a nossa importância que está em questão, mas a glória e a honra do Senhor. 
Quanto a nós, convém de fato que diminuamos cada vez mais, e que o nome do Senhor seja cada vez mais elevado e exaltado através da nossa própria humilhação perante Ele. Daí que estas perseguições e injustiças não são contra nós, mas a nosso favor, porque nos ajudam a estarmos sempre pequenos e humildes diante de Deus, a quem de fato pertencem a grandeza, a majestade e o poder.
Somos apenas vasos de barro que contém a excelência do poder de Deus. Não é propriamente nosso este poder, mas sempre será dAquele, diante do qual convém estarmos sempre com nossos joelhos dobrados diante dEle em humilde adoração. 
Afinal todos não estarão diante dEle nAquele dia confessando que Ele é o Senhor para a glória de Deus Pai? Como poderíamos andar então inchados aqui neste mundo seja por causa do nosso conhecimento ou do que for, se tudo o que temos, é porque recebemos dEle!
E finalmente, a última época em que devemos ser mais diligentes em guardar o nosso coração é quando somos visitados por enfermidades. Estas também ajudam a guardar o nosso coração lembrando-nos que nada somos neste corpo. Que estamos de fato num mundo sujeito ao pecado onde tudo enferma e morre. Que nossa vida neste mundo é como um sopro que passa. Que devemos aspirar por aquela vida melhor e por aquele lugar melhor onde não há mais lágrima, nem doença, nem morte, nem dor.
Mas Cristo venceu a morte, e não devemos temer a morte. Cristo carregou sobre Si as nossas enfermidades e no Seu reino futuro não haverá qualquer enfermidade, de maneira que não vivamos a temer nem uma coisa nem outra.
O Senhor nos dará o suporte e a força em graça para estarmos em paz tanto na enfermidade quanto na proximidade da hora da nossa morte. Podemos contar com a Sua companhia especialmente nestas horas. Mas lembre que tudo o que temos falado se refere a crentes fiéis que se determinaram em guardar seus corações para honrarem o Seu Deus. 
As boas promessas de Deus são dirigidas na Bíblia aos que Lhe são fiéis. E é sempre nesta direção que devemos manter os nossos discursos, seja na forma de sermão seja na de ensino, porque este e o modo do próprio Deus. Quando fala aos infiéis é para chamá-los ao arrependimento, ou para repreendê-los e corrigi-los, mas nunca para afirmar que está agradado do modo de vida deles. Faça um exame minucioso da Bíblia e veja se esta não é a mais pura verdade?
As consolações do Espírito são para aqueles que se santificam. Ele primeiro santifica e depois consola. Ele não é consolador de rebeldes e contradizentes que voluntariamente decidem permanecer na prática do pecado. Primeiro o arrependimento, depois a fé. Primeiro a humilhação e depois a exaltação.
Há enfermidades produzidas por causa do pecado, e estes não podem contar com a promessa da paz da companhia de Cristo, a não ser que se arrependam de seus pecados, e assim poderão ser curados tanto da enfermidade, quanto serem perdoados de seus pecados.
Quando a morte vier ele removerá o véu de carne e nos dará acesso imediato à presença de Deus promovendo-nos à vida e para o propósito para a qual fomos criados. Então por que deveríamos temer a morte se estamos firmemente seguros em Cristo e certos da nossa salvação? Daí a importância de guardar continuamente o coração em diligência em santificação porque este é o modo de confirmar a nossa eleição e termos a certeza de que estaremos para sempre com Deus.
À luz de todas as considerações que fizemos nós concluímos que a menos que o povo de Deus gaste mais tempo vigiando e guardando seus corações do que o que habitualmente costumam gastar, não admira que eles nunca gostem de fazer o serviço de Deus ou mesmo a renunciar a seus confortos neste mundo. É triste ver crentes murmurando e se entristecendo por suas presentes condições enquanto eles vivem negligentemente e não se entristecem ou se envergonham por isto. 
Guardar o coração é o grande trabalho de um crente porque a vida cristã não pode ser vivida sem isto. E sem guardar o coração todos os deveres são de nenhum valor à vista de Deus.
Muitos serviços esplêndidos foram executados por homens que Deus rejeitará totalmente, porque eles não deram qualquer atenção à necessidade de guardarem seus corações em Deus. Cristo será uma rocha de ofensa na qual muitos mestres da religião irão colidir e se arruinarão eternamente. Estes mestres nunca derramaram uma só lágrima pela dureza, incredulidade e mundanismo de seus corações. Como poderão entrar no céu pela porta larga e pelo caminho espaçoso em que viveram?  Como pessoas com tais corações poderão suportar a vinda do Senhor e estarem de pé diante dEle? Como poderão afirmar ter amado a Cristo se os seus corações nunca estiveram com Ele?
Lembremos que controvérsias infrutíferas iniciadas por Satanás têm o propósito de nos afastar da piedade prática e a confundir nossas cabeças quanto à verdade que devemos viver e praticar.
E este afastamento da piedade será a realidade da vida por mais ativistas que sejamos em nossas Igrejas, porque a carne sempre prevalecerá sobre nossas atitudes exteriores. Por mais duro que possa parecer a afirmação que vamos fazer, ela é a pura expressão da realidade, a saber, que as manifestações de poder e consoladoras do Espírito não são para serem experimentadas ocasionalmente nas nossas reuniões públicas de adoração (cultos), enquanto se abriga no coração ódios, ressentimentos, mágoas, iras, impurezas, ciúmes, invejas, de maneira que tudo isto seja o fruto de uma aplicação diária e constante em se guardar o coração puro de todas estas obras da carne.
O Espírito Santo quer abençoar com paz, com amor, com alegria, longanimidade, unidade, comunhão, mas como poderá fazê-lo num coração que não busca pela Sua ajuda em oração de gemidos inexprimíveis que superam nossas fraquezas e pecados? Mas como o teremos se não o buscamos com toda a força e sinceridade de nossa alma? Por isso é possível alguém acrescentar o seu amém a verdades ouvidas na pregação, enquanto sente um grande fardo em sua alma, que pode até mesmo estar sendo produzido por espíritos opressores. Qual a razão disto senão a de se estar debaixo da pregação sem se buscar um coração puro no Espírito? Que possamos aprender então a conduzir nossas congregações livres deste grande erro de tentar usar o Espírito como uma espécie de pílula para resolver o problema de nossa dor de cabeça, sem remover a sua verdadeira causa, que é um coração que não é governado pela santidade de Deus.
Pessoas podem experimentar bênçãos ocasionais do Espírito sem ter um estado de paz de alma permanente, que tudo vence, tal qual os crentes da Igreja Primitiva, porque andavam na verdade, andavam no Espírito, e buscavam por isto em todos os momentos de suas vidas, e Deus respondia esta fidelidade com paz na tribulação, alegria na adversidade, força na fraqueza, e autoridade para até mesmo serem duramente martirizados, sem que se visse neles qualquer desespero.
É certo que cuidados mundanos e dificuldades podem aumentar grandemente a negligência de nossos corações. As cabeças e corações das multidões estão cheios de uma multidão de barulhos de negócios mundanos que excluiu da vida deles o amor, o zelo, e o prazer que eles tinham em Deus.
Quão miseravelmente somos propensos a nos emaranharmos neste deserto de ninharias! Os brinquedinhos que Satanás apresenta para nosso entretenimento são considerados por muitos adultos em idade avançada como coisas essenciais à vida, quando na verdade, não passam sequer de superfluidades, pois são apenas objetos que têm o objetivo de distrair e afastar nossa atenção de Deus e dos deveres que Ele nos tem incumbido para a nossa felicidade e daqueles que tem colocado debaixo da nossa influência.
E quando nos tornamos imprestáveis para o uso de Deus, para quem mais poderemos ser verdadeiramente úteis nas coisas relativas ao Seu reino?
Quantas oportunidades preciosas perdemos por causa disso? Quantas advertências do Espírito ignoramos voluntariamente?
Com que frequência chamamos a Deus quando nossos pensamentos mundanos nos impediram de ouvi-lO?
Se perdemos nossa visão dEle por causa de nossos muitos cuidados, como esperaremos triunfar sobre todas as tribulações e ataques do inimigo tendo nossos corações guardados na paz e vencendo pela fé a todas as oposições da carne, do diabo e do mundo?
Se guardar o coração é o grande trabalho de todo crente, quantos veremos então prevalecendo realmente com Deus em oração, tendo prazer em estar na Sua presença e servi-lo mesmo que seja em circunstâncias adversas? Quantos serão como os crentes da Igreja Primitiva que tinham prazer em sofrer por amor a Cristo porque eram fortalecidos por Ele na fidelidade deles?
O real prazer espiritual diante de Deus é algo contínuo e cada vez mais crescente. Não é um fardo. Não é uma obrigação desgastante, senão um grande prazer e alegria. Mas quem é que pode experimentar isto? Somente aquele que tem guardado continuamente o seu coração do mal. E não segundo os seus próprios critérios do que considere mal, mas segundo os critérios de Deus revelados em Sua Palavra.  Estes são bem-aventurados porque os tais são os de coração puro conforme afirmado por Jesus no Sermão do Monte. São estes que veem a Deus, tanto neste mundo quanto no mundo por vir, conforme a promessa de Jesus na mesma bem-aventurança. 
Até quando os crentes deixarão que o ciúme, a inveja e o orgulho, estas três serpentes venenosas, sejam abrigados em seus corações para impedimento da unidade, comunhão do corpo de Cristo, e do progresso do Seu reino na terra? Até quando um justo não poderá se regozijar na fidelidade de um outro justo, para não ofender a consciência fraca e carnal, ciumenta e invejosa de um outro crente que não permite ser santificado pelo Espírito, de modo a ser livrado destes sentimentos que não somente não fazem parte do amor, porque ele não é invejoso, ciumento, orgulhoso e egoísta, como também impedem a manifestação do amor na Igreja, sabendo nós, que ela não pode existir e sobreviver sem isto?
Reconciliemo-nos depressa com nossos irmãos antes de virmos entregar nossas ofertas de louvor e adoração no altar de Deus. De outro modo elas não serão recebidas. Não tentemos fazer fácil a vida cristã, ou então desconsiderar a vontade revelada de Deus. Ele não muda e jamais mudará. A Sua bênção está disponível mas há condição para ser recebida. E temos que nos humilhar, renunciar ao nosso ego para fazer a Sua vontade, aí então, teremos atendido as condições de recebê-las. 
Sem esta disposição prática de aplicar-se a obedecer a Deus em tudo que nos tem ordenado, pouco vale ouvir belos sermões, porque não teremos permitido a Deus a transformação de nossas vidas, e é nisto que ele está vivamente interessado. O grande alvo dEle não é tanto o de nos dar conforto e paz, mas aquela condição de coração puro que traz tal conforto e paz. O fim portanto não é a bênção, mas o coração puro que Deus quer produzir em nós e que Lhe é agradável. As bênçãos são como que uma recompensa pela nossa obediência. O fim é a nossa obediência e não a alegria, poder, unção ou seja o que for, que estivermos sentindo. O galardão será dado a quem for fiel. Mas, o grande alvo de Deus não é o galardão senão a nossa fidelidade, pela qual seremos recompensados com o galardão. Não devemos assim errar o alvo, isto é, buscar o galardão em vez da fidelidade. Na verdade, aqueles que não são interesseiros, e que servem a Deus pelo puro prazer de servi-Lo e amá-lo, estes receberão uma maior recompensa, porque não visaram aos bens do Seu Pai, senão ao próprio Pai.
Veja o caso de Salomão que não tendo pedido nem riquezas, nem a morte de seus inimigos, nem qualquer outra coisa senão sabedoria para governar o povo de Deus, recebeu, por seu amor desinteressado e não egoísta, da parte de Deus, até mesmo o que não Lhe havia pedido.
Deleitemo-nos apenas no Senhor e no puro prazer de fazer a Sua vontade e conheceremos na prática o quanto Ele se deleitará em nós, concedendo liberalmente das Suas graças e dons, e o melhor de tudo, da Sua própria companhia.     
Um coração puro virá a conhecer e a entender os mistérios profundos de Deus. As verdades da Bíblia serão abertas pelo Espírito a um tal coração. O brilho da glória do evangelho estará estampado na face de tal pessoa como uma marca do agrado de Deus em relação a ela. E o real conhecimento progressivo da majestade de Deus tornará tal pessoa cada vez mais humilde perante Ele, e agradecida, e não orgulhosa dos dons e graças que tiver recebido.   
Como Paulo poderemos então dizer:
“9 E disse-me: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo.
10 Por isso sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte.”  (II Cor 12.9,10).
Assim não é simplesmente saber estas coisas que importa e que tem alguma eficácia, senão praticá-las, porque é o seu cuidado e diligência em guardar seu coração que provarão ser uma das melhores evidências da sua sinceridade para com Deus.
Não há nada melhor para distinguir os verdadeiros ministros de Deus dos falsos, do que isto. Não é o saber a doutrina correta nem mesmo ensinar a doutrina correta que é de algum valor para Deus, senão o praticá-la, e isto não será possível de ser feito com um coração impuro, com um coração que não tem sido guardado em santidade verdadeira, produzida pelo Espírito mediante aplicação da Palavra de Deus em nossas vidas.
É muito difícil aprender, reconhecer, aceitar e praticar isto neste últimos dias em que temos vivido, de um cristianismo falso e superficial que anda espalhado por todas as partes do mundo, especialmente em países fortemente influenciados pela cultura moderna norte-americana, como é o caso do Brasil e de muitas outras nações.
O pecado tem sido banalizado a tal ponto, que as coisas que Deus abomina e das quais afirma que despertam a Sua ira em juízo, são aceitas como coisas normais pela maioria dos crentes de nossos dias. E como poderão eles cultivarem um coração puro, e até mesmo se disporem a guardar um coração puro do pecado, quando sequer conseguem identificar mais o que seja pecado neste mundo perverso de trevas? Somente um grande avivamento do Espírito e homens sábios que vivam e praticam a Palavra de Deus para instruírem a outros, poderão mudar o estado em que se encontra a Igreja atualmente.
As pessoas não devem ser desencorajadas a ponto de se sentirem incentivadas a se afastarem de Cristo, mas não é lícito esconder delas que não terão verdadeiro contentamento em Deus enquanto procurá-lo somente para resolverem seus problemas cotidianos. Que elas venham buscar soluções para os seus problemas, mas que não se esconda delas que há um problema que geralmente é a causa de tudo o mais que nos torna insatisfeitos com nossas vidas e com Deus, que é a falta de diligência em guardar o nosso coração limpo de pecados.   
Devemos fazer valer a nossa fé no sangue de Jesus para sermos purificados. Devemos confiar que o Espírito Santo é poderoso para mudar os nossos corações de pedra em corações de carne, e limpá-los de toda impureza. Mas é necessário se dispor a buscar isto em Deus, e a estar disposto a renunciar a práticas pecaminosas e a deixar que o Espírito vença sentimentos pecaminosos em nós tal como inveja, ciúme, cobiça, murmuração etc.
É somente quando nos dispomos a guardar continuamente o nosso coração que a presença de Deus vai se tornando cada vez mais doce e desejável para nós. Em caso contrário nós o acharemos como o nosso opositor, porque o Espírito luta contra a carne, e em nossa resistência ao seu trabalho, não poderemos achar descanso e paz para as nossas almas.  
Sem verdadeira submissão a Deus nunca venceremos a batalha, porque é Ele quem a vence em nós e por nós. E como Ele fará uma tal coisa enquanto resistimos à Sua vontade?
Decida-se a andar com o Senhor na luz da Sua verdade e não pense em voltar atrás. Porque somente os que lançam a mão do arado e continuam caminhando olhando para a frente é que são dignos da Sua presença e trabalho nos seus corações.
Cerque-se do pensamento que ainda que fosse necessário perder a própria vida para manter esta santa comunhão com Deus com um coração puro e sincero, você não recuaria um só milímetro para não negá-lO.
Os que procedem deste modo acham a sua vida que está escondida em Cristo. É nesta disposição de perdê-la por amor a Ele, negando-se a si mesmos, que irão encontrar esta sua verdadeira vida que se encontra escondida com Ele nas alturas.
Há uma nova natureza que nos tornou co-participantes da natureza divina, e que foi implantada em nós na conversão. Convém que ela cresça em todas as suas partes e virtudes, e este crescimento ocorrerá à medida que guardarmos o nosso coração.   
E quanto aos que são chamados a exercerem governo na casa de Deus, que guardem também seus corações de serem elevados para exercerem domínio sobre aqueles que lhes foram confiados por Deus. Que o façam em humilde serviço e por amor ao Senhor do rebanho. Que se guardem da tentação de fazer valer a sua própria autoridade, em vez de serem canais da autoridade do Espírito de Deus que neles opera. Que sejam até mesmo gratos a Deus pelos Joabes e pelos Aitoféis com os quais terão que governar. Ele lhes ajudarão a se manterem humildes diante do Senhor e em constante intercessão para não tentarem se elevarem sobre eles. Que aprendam a trabalhar com eles, e a estarem descansados em Deus, tal como Davi, pela posição de governo em que foram colocados por Ele. O Senhor mesmo prevalecerá sobre os Joabes e Aitoféis e nos guardará de todo o mal, enquanto guardamos o nosso coração em humildade na Sua presença.
Por eles, o Senhor provará os nossos corações para sabermos até que ponto desejamos que Ele seja de fato o governante do nosso povo e de nossas próprias vidas, ou até que ponto desejamos fazer valer a nossa própria autoridade.
Temos muito o que aprender com Moisés, com Davi e muitos outros sobre isto.
Uma obra que é genuinamente de Deus será conduzida e governada por Ele próprio, e nós seremos apenas Seus instrumentos. Enquanto fazemos muitos planos e procuramos prevalecer em muitas frentes que não foram planejados e abertos pelo Senhor, ainda estamos fazendo a nossa obra e não a dEle.
A obra de Deus é dirigida por Ele, e somente por Ele. Josué é general mas deve se submeter ao Príncipe dos exércitos do Senhor. Ao generalíssimo dos Seus exércitos tanto do céu, quanto da terra. E Jericó deve ser subjugada pelos planos de guerra que recebermos de Suas mãos em inteira submissão a Ele, tal como fizera Josué.  
Assim é todo aquele que guarda o seu coração porque será diligente no trabalho de Deus, porque o terá recebido dEle próprio. Não estará fazendo a sua própria obra, mas aquela da qual foi encarregado pelo Senhor a fazer, tal como a que Neemias fez em Judá.
Esta pessoa não será confundida pela falta de pensamentos, e a sua língua não estará presa pela falta de palavras. Deus dará abundantemente ministrações àqueles que andam humildemente na Sua presença, guardando o coração deles incontaminado do mal.
O desejo desta pessoa nunca será pregar a si mesmo, seu próprio conhecimento, suas virtudes, senão somente a Cristo, pois sabe de quantas corrupções o seu coração tem sido livrado e limpo por Ele. Sabe que não há nada para gloriar-se em si mesmo, senão somente em Cristo. E todo o desejo do seu coração é portanto o de exaltá-lo, com a mais profunda gratidão. 
Estes ministros brilham com a luz de Cristo, mas sabem que são estrelas seguras nas Suas mãos. Que estão a serviço dEle e debaixo do Seu domínio. E temem e tremem em falar e agir de modo diferente do que Ele lhes tenha ensinado e revelado.    
Guarde seu coração fielmente e você estará preparado para qualquer situação à qual você for chamado. Você estará contente em Deus em toda e qualquer circunstância.  Seja na prosperidade, seja na adversidade, porque o poder do Senhor e a Sua graça estarão com você e isto lhe será mais do que suficiente para mantê-lo completamente contente na Sua presença, e até mesmo exultante e gloriando-se nas  próprias tribulações, porque verá que em vez de afastá-lo do Senhor elas o trouxeram para mais perto dEle. 
Quem tem experimentado isto já não está mais preocupado com os seus próprios interesses, senão com os de Deus, e conhecerá que este interesse divino é o de ganhar almas e edificá-las na verdade, e assim, este será todo o negócio das vidas daqueles que têm se separado para o Senhor nesta verdadeira santidade.
E finalmente ver-se-á o amor de Deus inundando e regendo estas vidas porque esta flor preciosa e delicada do amor divino não nasce no lodo, mas na água cristalina do Espírito Santo, que for encontrada em corações  que tiverem sido limpos pelo sangue de Jesus, e que se têm guardado de toda forma de impureza.  
Agora, governados por este amor celestial, as orações não serão apenas súplicas por misericórdia, mas também e sobretudo poderosas intercessões junto ao coração de Deus para destruir fortalezas e sofismas e trazer todo pensamento cativo à obediência de Cristo Jesus.

O Espírito Santo sempre receberá boa e alegre acolhida quando estiver sondando estes corações para enchê-los da Sua glória e poder. E eles se regozijarão grandemente com a manifestação da Sua presença.”. 

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