“1 Filho meu, se aceitares as minhas palavras, e entesourares
contigo os meus mandamentos,
2 para fazeres atento à sabedoria o teu ouvido, e para inclinares
o teu coração ao entendimento;
3 sim, se clamares por discernimento, e por entendimento alçares a
tua voz;
4 se o buscares como a prata e o procurares como a tesouros
escondidos;
5 então entenderás o temor do Senhor, e acharás o conhecimento de
Deus.
6 Porque o Senhor dá a sabedoria; da sua boca procedem o
conhecimento e o entendimento;
7 ele reserva a verdadeira sabedoria para os retos; e escudo para
os que caminham em integridade,
8 guardando-lhes as veredas da justiça, e preservando o caminho
dos seus santos.
9 Então entenderás a retidão, a justiça, a equidade, e todas as
boas veredas.
10 Pois a sabedoria entrará no teu coração, e o conhecimento será
aprazível à tua alma;
11 o bom siso te protegerá, e o discernimento te guardará;
12 para te livrar do mau caminho, e do homem que diz coisas
perversas;
13 dos que deixam as veredas da retidão, para andarem pelos
caminhos das trevas;
14 que se alegram de fazer
o mal, e se deleitam nas perversidades dos maus;
15 dos que são tortuosos nas suas veredas; e iníquos nas suas
carreiras;
16 e para te livrar da mulher estranha, da estrangeira que
lisonjeia com suas palavras;
17 a qual abandona o companheiro da sua mocidade e se esquece do
concerto do seu Deus;
18 pois a sua casa se inclina para a morte, e as suas veredas para
as sombras.
19 Nenhum dos que se dirigirem a ela, tornarão a sair, nem
retomará as veredas da vida.
20 Assim andarás pelo caminho dos bons, e guardarás as veredas dos
justos.
21 Porque os retos habitarão a terra, e os íntegros permanecerão
nela.
22 Mas os ímpios serão exterminados da terra, e dela os aleivosos
serão desarraigados.”
Tão verdadeiras são estas palavras de Salomão neste capítulo, que
se aplicaram à Sua própria vida, no final dos seus dias, porque ao se desviar
da presença do Senhor, veio sobre ele tudo o que ele afirma, porque não somente
se deixou conduzir pelos caminhos dos perversos vindo até mesmo a idolatrar,
como também se deixou enredar por várias mulheres, que corromperam o seu
coração.
Tivesse ele dado atenção, permanentemente ao que escrevera debaixo
da inspiração do Espírito, jamais teria se desviado dos caminhos de Deus.
Por isso o alerta que é dirigido a todos os crentes pelo apóstolo
Paulo, deve receber a devida atenção e todo empenho deles em diligência, para
que nunca venham a cair da presença do Senhor.
“Aquele, pois, que pensa estar em pé, olhe não caia.” (I Cor
10.12)
Não basta conhecer a Palavra da verdade, porque é necessário
praticá-la continuamente, todos os dias da nossa vida. Caso contrário,
cairemos, ainda que não seja para uma queda definitiva e fatal que signifique a
perda da nossa salvação, se somos de fato eleitos de Deus, tal como era
Salomão.
Somente o conhecimento das
coisas relativas ao reino de Deus não será suficiente para nos preservar no dia
mau. É necessário orar e vigiar em todo o tempo. É necessário confiar no
próprio Deus para ser livrado das muitas tentações que há no mundo, e que são
disparadas em grande número por parte dos principados e potestades das trevas,
especialmente contra os crentes fiéis, com vistas a paralisar as suas ações que
trazem prejuízo aos planos do diabo.
A verdadeira sabedoria não
será portanto achada fora de um caminhar em permanente comunhão com Deus,
porque é a pessoa do próprio Cristo a sabedoria que vive e se manifesta em nós,
se permanecemos nEle, por guardarmos a Sua Palavra (I Cor 1.30).
Exige-se portanto este
caminhar na verdade, para que possamos ser tomados da plenitude de Cristo,
depois de ter caminhado em fidelidade em comunhão vital com Ele, todos os dias
da nossa vida, negando-nos a nós mesmos e carregando a nossa cruz, para a
mortificação do nosso ego.
Porque conhecemos, pela revelação
da graça e da verdade que Cristo nos trouxe na presente dispensação (Jo 1.17),
melhor do que o próprio Salomão, qual é o modo de obter a sabedoria, que é o
próprio Cristo: é pela crucificação do nosso ego. Pela perda do nosso viver
pela energia do ego, para que a Sua vida possa se manifestar em nós, conforme
estaremos detalhando adiante.
UMA OUTRA VIDA DENTRO DA VIDA
“e
porque estreita é a porta, e apertado o caminho que conduz à vida, e poucos são
os que a encontram.” (Mt 7.14)
Jesus
mesmo é a porta estreita (Jo 10.7); e o caminho apertado que conduzem a esta
outra vida que é também Ele próprio (Jo 14.6; I Jo 5.20), a qual Ele afirma que
são poucos os que a encontram.
O modo
de se achar esta outra vida é perdendo a que temos, e ainda que ela venha a ser
achada em toda a sua plenitude somente depois da nossa morte física, é possível
achá-la ainda aqui neste mundo, pela morte do nosso ego. Por isso nosso Senhor
disse que:
“Quem
achar a sua vida perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim achá-la-á.”
(Mt 10.39)
A
palavra vida no original grego usada neste texto é psiquê, referindo-se ao
viver pela energia da alma. Então é este viver pela alma que deve morrer, para
que se dê lugar ao viver no e pelo espírito, debaixo do poder do Espírito Santo,
que é quem dá essa nova vida ao nosso espírito.
Quando
Jesus disse que o propósito da Sua vinda a este mundo foi para que tivéssemos
esta vida, e que a tivéssemos em abundância, era a isto a que Ele estava se
referindo, ou seja, à Sua vida que passa a se manifestar dentro da nossa
existência.
Então,
quanto mais alguém morrer para o seu ego, em Jesus Cristo, mais terá desta nova
vida que nos veio do céu. E por isso Jesus disse que Ele é o pão vivo que
desceu do céu e que dá vida a todo aquele que dEle comer (Jo 6.41, 48, 51).
São
poucos os que acham esta nova vida, porque é difícil o modo de obtê-la. Porque
demanda a morte do nosso ego. É fácil para Deus, mas é difícil para o pecador
fazê-lo, porque geralmente se apega à sua própria vida e não quer perdê-la. E
de nós mesmos não podemos perder a nossa vida. É o próprio Deus que providencia
as experiências que nos levarão a renunciar ao nosso eu. E estas operações são
dolorosas para nós, porque naturalmente resistimos a todo tipo de morte.
Entretanto é necessário que a casca da alma do nosso grão de trigo morra, que é
esta vida que temos na carne, para que germine e cresça esta nova vida
espiritual e celestial que recebemos de nosso Senhor Jesus Cristo.
Assim
como é algo maravilhoso ver um grão seco e diminuto se transformando numa bela
planta viçosa, de igual modo é maravilhoso ver o surgimento na conversão; e o
crescimento na santificação; desta planta celestial que foi plantada por Deus,
que é esta nova vida, que nos tornou novas criaturas em Cristo Jesus.
À
medida que o Senhor for matando em nós os nossos desejos irregulares; o nosso
mau temperamento; os nossos melindres e caprichos; a obstinação em fazer a
nossa própria vontade; a incapacidade para fazer renúncias com prazer;
especialmente pelo uso de aflições e tribulações, e ao mesmo tempo em que for
implantando progressivamente mais da humildade, da mansidão, da submissão e da
obediência de Cristo em nós, mais nos tornaremos semelhantes a Ele, e por isso
Paulo orava e se esforçava tanto para ver Cristo sendo formado desta forma nos
crentes.
“Meus
filhinhos, por quem de novo sinto as dores de parto, até que Cristo seja
formado em vós;” (Gál 4.19)
Então
isto não nos virá pelo simples ensino da Palavra de Deus, que é a verdade e o
meio da nossa santificação, porque será exigido que estejamos dispostos a fazer
renúncias e a permitir a Deus que crucifique o nosso ego, para que esta
maravilhosa vida do Seu Filho possa ser implantada progressivamente em nós. Por
isso nos é ordenado que carreguemos a nossa cruz diariamente. A morte pela cruz
era gradual e lenta assim como é a morte do nosso velho homem que já recebeu a
sentença de morte da parte de Deus no momento mesmo que nos convertemos a
Cristo. Porque é necessário se despojar das coisas que se referem ao velho
homem, para poder ser revestido também por Deus das coisas correspondentes a
estas que morreram, e que se referem à nova criatura, como por exemplo: a
fidelidade no lugar da infidelidade; a misericórdia no lugar da indiferença; a
paciência no lugar da ira e assim por diante.
Quanta
alegria há no coração de Deus, de Jesus Cristo, do Espírito Santo, dos
ministros fiéis do evangelho, de esposos, de esposas, de filhos, ao verem seus
amados sendo transformados de glória em glória, pelo poder do Espírito, à
própria imagem do Senhor, porque aqueles que são assim transformados, passam a
ser pessoas misericordiosas, pacientes, afáveis, dóceis, fiéis, confiáveis,
justas, bondosas, e acima de tudo, amantes do Senhor e de nenhum dos prazeres
mundanos.
Quanto
regozijo há no céu e na terra por pessoas que se apresentam assim
verdadeiramente consagradas ao Senhor e à Sua vontade, não por serem religiosas
hipócritas, mas por carregarem em seus seres a poderosa vida do Filho de Deus,
refletindo o brilho da Sua luz e graça, pelo poder do Espírito Santo, no qual
elas andam diariamente.
Bendito
seja o Senhor, em quem podemos ser novas criaturas, livres das amarras de um
ego pecaminoso, para estarmos aliançados a Ele, pelos laços do Seu amor divino,
andando na liberdade do Espírito.
Então
se conhecerá, como Paulo conheceu, o poder da verdadeira alegria celestial e
espiritual que triunfa sobre as aflições e tribulações; da coragem maior do que
a de leões, que enfrenta sem se abalar toda a fúria dos poderes das trevas; do
amor de Cristo, que tudo vence, sofre, crê, espera e suporta; e que nos faz
longânimos, benignos, não invejosos, ou vangloriosos e ensoberbecidos; e que
faz também com que nos portemos convenientemente e nunca buscando os nossos
próprios interesses, senão os do Senhor e de outros; e que nos faz triunfar
sobre as irritações, pelas provocações que venhamos a receber, e que além de
tudo nos leva a nos regozijarmos somente com a justiça de Cristo e com a Sua
verdade.
Então,
vale a pena morrer para a velha vida para que se possa ter mais e mais desta
nova vida que nos está sendo oferecida pela graça, desde o céu.
Busquemos
então esta outra vida dentro desta vida que temos na carne, e a receberemos
conforme nosso Senhor tem prometido que se a buscarmos nós a acharemos, porque
Ele mesmo nô-la revelará e dará, pela Sua graça.
“Já
estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a
vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé no filho de Deus, o qual me amou, e
se entregou a si mesmo por mim.” (Gál 2.20)
É
importante lembrarmos que Adão estava sem pecado no princípio, no jardim do
Éden, no entanto, não havia entrado na posse da vida eterna, representada no
fruto da árvore da vida que se encontrava no meio do jardim (Gên 2.9).
Ele
comeria daquele fruto, porque não lhe havia sido vedado por Deus, tal como o
fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque era do propósito do
Senhor que ele viesse a comer do fruto da árvore da vida, no momento
apropriado, porque seria necessário, que Adão, ainda que estivesse sem pecado,
que o comesse somente depois de aprender e a se dispor a renunciar à sua
própria vontade, ou seja, ao seu ego.
Seria
necessário que Adão morresse para a sua própria vida, para poder receber e
viver pela vida de um Outro, a saber nosso Senhor, representado no fruto da
árvore da vida.
Na
verdade, Deus fizera muito mais do que uma simples proibição a Adão, quanto ao
fruto do conhecimento do bem e do mal. Ele colocou à prova a sua obediência e
até que ponto ele renunciaria à sua própria vontade, resistindo inclusive às
tentações para que desobedecesse a Deus, vindas da parte do diabo, e até mesmo
de sua própria mulher, para que mostrasse fé na Palavra do Senhor, de uma
maneira prática, que pudesse ser comprovada por sua obediência, tal como Abraão
viria a demonstrar no futuro.
Para
nos ensinar a lição que dependemos de nos alimentar de Cristo para ter vida
eterna, conforme estava representado em figura no fruto da árvore da vida no
jardim do Éden, o Senhor fez com que dependamos de nos alimentar do fruto da
terra para sustentar a nossa vida natural, para que possamos entender que é
necessário se alimentar de Cristo para se obter e manter continuamente a vida
sobrenatural do céu.
Por
isso foi vedado a Adão pela misericórdia de Deus, que tivesse acesso àquele
fruto depois que ele caiu no pecado, porque viveria debaixo do pecado por toda
a eternidade. Adão teria primeiro que se arrepender do pecado, a odiar e a
deixar o pecado, para poder receber esta maravilhosa vida pura e imaculada do
céu, que é o próprio Senhor Jesus Cristo.
Não se
pode comer então do fruto da vida eterna que é Cristo, sem que se renuncie à
própria vida, e especialmente quando esta vida se encontra debaixo do pecado,
como se encontrou o próprio Adão, e como nos encontramos todos nós, por sermos
seus descendentes, porque ele foi expulso do Éden.
Todos
ficamos portanto, naturalmente destituídos da vida eterna, não porque Adão
deixou de comer o fruto da árvore da vida, mas porque passamos a ser pecadores
tal como ele.
A vida
eterna não é transmitida hereditariamente. Se Adão tivesse comido o fruto da
árvore da vida, ele teria vida eterna, mas esta não seria transmitida aos seus
descendentes, porque cada um, de per si, deve morrer para o seu ego, deve
renunciar a si mesmo, e entregar-se a Cristo, pela fé, para que possa receber a
vida eterna.
Aquele
pois que estiver disposto a perder a sua vida, a qual foi herdada de Adão, vai
achar a sua verdadeira vida, que é a vida eterna que Deus havia planejado, para
que todo homem vivesse por ela. Adão jamais poderia nos transmitir esta vida
celestial, porque não a possuía em sua natureza. Assim, o que nos transmitiu
hereditariamente foi apenas a sua própria vida natural.
Por
isso, aqueles que não renunciam às suas vidas, que não se arrependem de seus
pecados, não podem achar esta vida eterna que é o próprio Jesus Cristo.
Todavia,
todos aqueles que se dispuserem a perdê-la, e que não somente se dispuserem a
isto, como também vierem a perdê-la efetivamente por se entregarem a Cristo,
pela fé, para ser o Senhor deles, estes receberão a nova vida do céu que está
em Cristo, conforme Ele prometeu concedê-la aos que morressem para si mesmos e
que renunciassem a tudo quanto tenham deste mundo.
Sabendo
que tal vida não nos vem como um lago de águas paradas, mas como uma fonte de
águas vivas que saltam para a vida eterna, ou seja, elas se movimentam e
crescem desde o seu nascedouro, até se transformar num grande rio. São as águas
que procedem do próprio Deus, conforme a visão que dera a Ezequiel dessas águas
saindo do Seu templo (Ez 47) e percorrendo toda a terra, e que no início são
águas que dão pelos artelhos, e depois de uma certa medida em crescimento
chegam à altura dos joelhos, e após outra medida em crescimento chegam à altura
da cintura, e finalmente, por mais uma medida, já não se pode mais estar em pé,
sendo necessário nadar em tais águas do Espírito.
É isto
o que se dá com o crente que cresce progressivamente na vida de Cristo que é
este enchimento progressivo do Espírito Santo. À medida que se cresce nEle,
chega-se a um ponto em que se perde a ligação espiritual com as coisas da
terra, porque já não seremos mais dominados por desejos mundanos (representado
pelos pés sobre a terra, enquanto se caminha mais e mais neste rio que vai
crescendo à medida em que andamos nele, até chegar a um ponto que somos
obrigados a nadar, tirando por conseguinte nossos pés da terra). Quando isto
ocorre, podemos dizer juntamente com Paulo que estamos crucificados para o mundo
e o mundo para nós, por causa deste viver inteiramente no Espírito, e no Seu
mover. Bem-aventurados são aqueles que chegam até tal ponto de crescimento
espiritual.
Então
esta vida não é somente recebida na conversão, como também cresce. Assim, nenhum
crente deve pensar que deve apenas recebê-la, porque se espera que ele entenda
a natureza desta vida que recebeu e se esforce em Deus para que ela cresça.
Por
isso se diz que os crentes são plantas da lavoura de Deus, e que somente Deus
pode lhes dar crescimento, significando isto o aumento em graus desta vida
eterna, desde o seu novo nascimento (germinação) até se tornarem uma planta
madura que dê os seus respectivos frutos, e que continuam frutificando para
sempre, sempre renovando as suas folhas. Isto sucede a eles porque têm neles a
vida de Jesus Cristo, que é infinita, eterna e insondável.
“6 Eu
plantei; Apolo regou; mas Deus deu o crescimento.
7 De
modo que, nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o
crescimento.
8 Ora,
uma só coisa é o que planta e o que rega; e cada um receberá o seu galardão
segundo o seu trabalho.
9
Porque nós somos cooperadores de Deus; vós sois lavoura de Deus e edifício de
Deus.” (I Cor 3.6-9)
Nós
estamos destacando a seguir, outros textos bíblicos que se referem a este
assunto, e apresentando um breve comentário onde julgamos oportuno fazê-lo.
“mas
aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede; pelo contrário, a água
que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que jorre para a vida eterna.”
(Jo 4.14)
“Porque
Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo
aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” (Jo 3.16). Veja que
foi para o propósito de recebermos a vida eterna que Jesus no foi dado como
Salvador e Senhor.
“Quem
crê no Filho tem a vida eterna; o que, porém, desobedece ao Filho não verá a
vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus.” (Jo 3.36). Nós vemos que a vida
eterna é recebida somente pela fé em Cristo. E é também pela mesma fé nEle que
ela cresce. Daí ser necessário permanecer nEle para que Ele permaneça em nós,
porque não é a nossa própria vida que cresce, porque como vimos, esta vida nos
vem do alto, é de um Outro (Jesus). É no próprio Cristo crescendo em nós, em
que consiste o crescimento desta vida eterna.
“Trabalhai,
não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a
qual o Filho do homem vos dará; pois neste, Deus, o Pai, imprimiu o seu selo.”
(Jo 6.27). Como já comentamos, a vida eterna necessita do pão espiritual que é
o próprio Cristo para que possa ser mantida em crescimento constante. Isto
significa que Ele é o pão que alimenta o espírito, e do qual temos que nos
alimentar constantemente, se não queremos nos achar raquíticos ou mortos espirituais.
“Quem
come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei
no último dia.” (Jo 6.54). Este texto confirma o que foi dito no texto
anterior, porque não se pode obter a vida eterna, e também não se pode ter o
crescimento de tal vida, sem se alimentar do próprio Cristo, como Ele afirma
diretamente neste texto de Jo 6.54.
“eu
lhes dou a vida eterna, e jamais perecerão; e ninguém as arrebatará da minha
mão.” (Jo 10.28). Ninguém pode produzir a vida eterna por atos de mera
religiosidade, porque ela é concedida somente por Cristo, e pela Sua habitação
naqueles que nEle creem, porque Ele mesmo é esta vida. Veja que a promessa é de
viver para sempre uma vez recebida tal vida. Não é vida para um determinado
período de tempo, mas por toda a eternidade, porque Jesus garante que ninguém
arrebatará as Suas ovelhas da Sua mão, e que elas jamais perecerão.
“25
Declarou-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que
morra, viverá; 26 e todo aquele que vive, e crê em mim, jamais morrerá” (Jo
11.25,26). Aquele que crê em Cristo, ainda que morra fisicamente viverá. E este
que crê, na verdade jamais morrerá espiritualmente, porque ganhou a vida eterna
em Cristo, que é a garantia de que nunca será achado separado desta vida que
lhe foi dada do alto por Deus. Os ímpios somente têm a vida natural,e não tendo
esta vida eterna em si mesmos, ainda que existam, já estão mortos
espiritualmente falando, porque não têm a habitação de Jesus Cristo, que é a
fonte da verdadeira vida que se traduz na implantação das suas características
e poderes divinos nos crentes.
“E a
vida eterna é esta: que te conheçam a ti, como o único Deus verdadeiro, e a
Jesus Cristo, aquele que tu enviaste.” (Jo 17.3). A vida eterna consiste no
conhecimento pessoal e íntimo da pessoa de Deus e de Jesus Cristo, por uma
obtenção e aumento em crescimento progressivo de tal conhecimento. Por isso se
fala em vida plena, em vida abundante, porque é possível se ter menores ou
maiores medidas de tal vida, à proporção da nossa consagração ao Senhor, pela
busca deste crescimento e conhecimento de Jesus (II Pe 3.18).
“Os
gentios, ouvindo isto, alegravam-se e glorificavam a palavra do Senhor; e
creram todos quantos haviam sido destinados para a vida eterna.” (Atos 13.48).
A obtenção da vida eterna é realizado segundo a eleição de Deus. Não é obtida
portanto, simplesmente por se desejá-la, tal como o jovem rico dos dias de
Jesus que a desejava, mas tudo indica que não a alcançou. Não basta querer,
porque Deus tem que usar de misericórdia e nos mover a nos esforçarmos para
entrar no Seu reino, conforme comentamos no início deste artigo, por uma
renúncia a tudo o que somos e que temos, especialmente ao nosso ego, porque
esta vida eterna é ganha, se perdendo a vida relativa à natureza terrena. A
vida que é segundo um viver pela energia da alma. Então é um perder para poder
ganhar, e isto demandará um posicionamento e esforço de nossa parte. Então Deus
nos concederá tal vida inteiramente pela graça, por causa da nossa fé no Seu
Filho, como sendo o autor e o consumador não somente da fé, como desta própria
vida divina que Ele veio nos conceder. E como nos encontramos na condição de
escravos do pecado antes do encontro com Cristo, se exige também arrependimento
e diligência na prática do bem para a obtenção e manutenção em crescimento
desta vida. Por isso o apóstolo Paulo disse o seguinte: “a saber: a vida eterna
aos que, com perseverança em fazer o bem, procuram glória, e honra e
incorrupção;” (Rom 2.7).
“para
que, assim como o pecado veio a reinar na morte, assim também viesse a reinar a
graça pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo nosso Senhor.” (Rom
5.21). A graça prevalece e reina sobre a morte e o pecado, mediante a justiça
de Cristo, que recebemos na justificação, para o propósito de produzir a vida
eterna em nós, quer no que se refere à sua recepção, quer ao que se refere ao
seu crescimento em graus.
“Mas
agora, libertos do pecado, e feitos servos de Deus, tendes o vosso fruto para
santificação, e por fim a vida eterna.” (Rom 6.22). A conversão e a
santificação têm em vista, ou seja têm por objetivo produzir em nós esta
qualidade de vida divina que é chamada na Bíblia de vida eterna.
“Porque
o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em
Cristo Jesus nosso Senhor.” (Rom 6.23). Já comentamos anteriormente que a vida
eterna é um dom gratuito de Deus que recebemos por estarmos em Jesus, ou seja,
é recebida inteiramente pela graça de Deus e não segundo os nossos méritos ou obras.
Exige-se esforço para buscá-la como comentado anteriormente, mas nenhuma obra
específica que façamos a ponto de sermos considerados dignos de recebê-la.
“Porque
quem semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas quem semeia no
Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna.” (Gál 6.8). Este texto comprova
que é necessário semear a própria vida
no solo do Espírito Santo, para que possamos colher como resultado desta
semeadura, esta nova vida, que é a vida eterna, que dará uma bela colheita para
Deus. Se há colheita, é porque houve crescimento desta planta divina que foi
semeada em nós e por nós, no Espírito. Assim, todo o crescimento desta vida,
está relacionado ao trabalho do Espírito Santo em nós, e daí ser tão necessário
não somente viver no Espírito, como também andar nEle, ou seja se mover e atuar
no Espírito em constante movimento, sem jamais parar, porque andar indica a
ação de movimento contínuo de uma posição para outra, e temos visto que no que
se refere à vida eterna, estas mudanças de posição se referem a crescimentos em
graus de vida cada vez maiores, conforme se vê na ilustração da lavoura, com os
crentes sendo as plantas desta lavoura de Deus; do edifício que está sendo
construído em Cristo; e do rio de águas vivas que cresce desde a sua
fonte.
“1 E
mostrou-me o rio da água da vida, claro como cristal, que procedia do trono de
Deus e do Cordeiro.
2 No
meio da sua praça, e de ambos os lados do rio, estava a árvore da vida, que
produz doze frutos, dando seu fruto de mês em mês; e as folhas da árvore são
para a cura das nações.” (Apo 22.1,2)
“1
Depois disso me fez voltar à entrada do templo; e eis que saíam umas águas por
debaixo do limiar do templo, para o oriente; pois a frente do templo dava para
o oriente; e as águas desciam pelo lado meridional do templo ao sul do altar.
2 Então
me levou para fora pelo caminho da porta do norte, e me fez dar uma volta pelo
caminho de fora até a porta exterior, pelo caminho da porta oriental; e eis que
corriam umas águas pelo lado meridional.
3 Saindo
o homem para o oriente, tendo na mão um cordel de medir, mediu mil côvados, e
me fez passar pelas águas, águas que me davam pelos artelhos.
4 De
novo mediu mil, e me fez passar pelas águas, águas que me davam pelos joelhos;
outra vez mediu mil, e me fez passar pelas águas, águas que me davam pelos
lombos.
5 Ainda
mediu mais mil, e era um rio, que eu não podia atravessar; pois as águas tinham
crescido, águas para nelas nadar, um rio pelo qual não se podia passar a vau.
6 E me
perguntou: Viste, filho do homem? Então me levou, e me fez voltar à margem do
rio.
7 Tendo
eu voltado, eis que à margem do rio havia árvores em grande número, de uma e de
outra banda.
8 Então
me disse: Estas águas saem para a região oriental e, descendo pela Arabá,
entrarão no Mar Morto, e ao entrarem nas águas salgadas, estas se tornarão
saudáveis.
9 E por
onde quer que entrar o rio viverá todo ser vivente que vive em enxames, e
haverá muitíssimo peixe; porque lá chegarão estas águas, para que as águas do
mar se tornem doces, e viverá tudo por onde quer que entrar este rio.
10 Os
pescadores estarão junto dele; desde En-Gedi até En-Eglaim, haverá lugar para
estender as redes; o seu peixe será, segundo a sua espécie, como o peixe do Mar
Grande, em multidão excessiva.
11 Mas
os seus charcos e os seus pântanos não sararão; serão deixados para sal.
12 E
junto do rio, à sua margem, de uma e de outra banda, nascerá toda sorte de
árvore que dá fruto para se comer. Não murchará a sua folha, nem faltará o seu
fruto. Nos seus meses produzirá novos frutos, porque as suas águas saem do
santuário. O seu fruto servirá de alimento e a sua folha de remédio.” (Ez
47.1-12)
“Peleja
a boa peleja da fé, apodera-te da vida eterna, para a qual foste chamado, tendo
já feito boa confissão diante de muitas testemunhas.” (I Tim 6.12). Este texto
não está insinuando perda de salvação, mas de crescimento, de desenvolvimento
da salvação. Sequer está insinuando que a salvação é obtida em graus, mas que a
vida eterna é algo do qual devemos nos apoderar, ou seja, nos agarrar, uma vez
tendo sido obtida, para que não percamos os crescimentos em graus desta vida,
por negligência da nossa parte na fé e nos deveres que nos são impostos por
Deus em Sua Palavra, especialmente os relativos à nossa consagração.
“para
que, sendo justificados pela sua graça, fôssemos feitos herdeiros segundo a
esperança da vida eterna.” (Tito 3.7). O que esperamos em Cristo é a vida
eterna, não que não a tenhamos obtido ao crermos nEle, mas que é nisto que deve
consistir o nosso foco e expectativa, porque esperamos com firme convicção o
que nos foi prometido, porque Deus é fiel em cumprir o que prometeu e não pode
mentir, e para tal certeza nos deu o selo do Espírito Santo, depois de termos
sido justificados pela Sua graça, como se afirma neste texto.
“E esta
é a promessa que ele nos fez: a vida eterna.” (I Jo 2.25)
“E o
testemunho é este: Que Deus nos deu a vida eterna, e esta vida está em seu
Filho.” (I Jo 5.11)
“Estas
coisas vos escrevo, a vós que credes no nome do Filho de Deus, para que saibais
que tendes a vida eterna.” (I Jo 5.13)
“Sabemos
também que já veio o Filho de Deus, e nos deu entendimento para conhecermos
aquele que é verdadeiro; e nós estamos naquele que é verdadeiro, isto é, em seu
Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna.” (I Jo 5.20). No
final deste texto se afirma diretamente que é o próprio Jesus a vida eterna.
É
portanto estando cheios desta vida sobrenatural e divina que é o próprio Cristo
vivendo em nós, que podemos de fato fazer face a todas as tentações e vencer o
mundo, de modo que possamos não somente ser aprovados por Deus, como também a
estarmos habilitados a fazer a Sua vontade.
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