JUÍZES 17
“1 Havia um homem da região montanhosa de Efraim,
cujo nome era Mica.
2 Disse este a sua mãe: As mil e cem moedas de
prata que te foram tiradas, por cuja causa lançaste maldições, e acerca das
quais também me falaste, eis que esse dinheiro está comigo, eu o tomei. Então
disse sua mãe: Bendito do Senhor seja meu filho!
3 E ele restituiu as mil e cem moedas de prata a
sua mãe; porém ela disse: Da minha mão dedico solenemente este dinheiro ao
Senhor a favor de meu filho, para fazer uma imagem esculpida e uma de fundição;
de sorte que agora to tornarei a dar.
4 Quando ele restituiu o dinheiro a sua mãe, ela
tomou duzentas moedas de prata, e as deu ao ourives, o qual fez delas uma
imagem esculpida e uma de fundição, as quais ficaram em casa de Mica.
5 Ora, tinha este homem, Mica, uma casa de deuses;
e fez um éfode e terafins, e consagrou um de seus filhos, que lhe serviu de
sacerdote.
6 Naquelas dias não havia rei em Israel; cada qual
fazia o que parecia bem aos seus olhos.
7 E havia um mancebo de Belém de Judá, da família
de Judá, que era levita, e peregrinava ali.
8 Este homem partiu da cidade de Belém de Judá para
peregrinar onde quer que achasse conveniente. Seguindo ele o seu caminho,
chegou à região montanhosa de Efraim, à casa de Mica,
9 o qual lhe perguntou: Donde vens? E ele lhe
respondeu: Sou levita de Belém de Judá, e vou peregrinar onde achar
conveniente.
10 Então lhe disse Mica: Fica comigo, e sê-me por
pai e sacerdote; e cada ano te darei dez moedas de prata, o vestuário e o
sustento. E o levita entrou.
11 Consentiu, pois, o levita em ficar com aquele
homem, e lhe foi como um de seus filhos.
12 E Mica consagrou o levita, e o mancebo lhe
serviu de sacerdote, e ficou em sua casa.
13 Então disse Mica: Agora sei que o Senhor me fará
bem, porquanto tenho um levita por sacerdote.” (Jz 17.1-13).
Tudo o que se relata neste e nos demais capítulos
deste livro pertence a um período muito anterior aos dias de Sansão,
remontando, o que se descreve no vigésimo capítulo, aos dias de Finéias, filho
de Eleazar e neto de Arão (20.28).
E certamente, foi registrado no final do livro para
não interromper a história dos juízes, para revelar que apesar dos muitos
problemas havidos em seus dias, a nação caminhava melhor com Deus, do que antes
disso, como poderemos verificar nos relatos que se seguem.
A história que é narrada neste capítulo não é uma
história solta e isolada, porque por ela é informado como a idolatria entrou em
Israel, através de um homem chamado Mica, e depois se espalhou por toda a tribo
de Dã (18.3).
Nós vemos neste primeiro capítulo, que a idolatria
começou como conseqüência de um furto e de uma maldição, evidenciando-se o
caráter que geralmente costuma acompanhar aqueles que a praticam, tão diferente
da sinceridade, honestidade, santidade, e bênçãos que costumam acompanhar
aqueles que verdadeiramente servem e temem a Deus.
Mica havia furtado as mil e cem moedas de prata que
sua mãe havia juntado, mas por temor das maldições que ela havia proferido
contra o ladrão, lhe revelou que o seu dinheiro estava em sua posse e o
restituiu a ela.
Considerando que o que havia movido seu filho foram
os seus deuses, em cujo nomes havia proferido tais maldições, reservou duzentas
moedas de prata para fazer com elas
imagens de escultura para ficarem na posse de seu filho. Já que ele não ficaria
com o dinheiro, ficaria pelo menos com a mesma “bênção” dos deuses, que haviam
“abençoado” sua mãe.
Apesar de ela ter dito que o dinheiro seria
consagrado solenemente ao Senhor, no original hebraico, Jeová, transgredindo o
mandamento que diz “não farás para ti
imagem de escultura” (Êx 20.4), ela estava na verdade cultuando a outros
deuses, tal como fizeram os filhos de Israel, quando saíram do Egito, fabricando
o bezerro de ouro, e dizendo que era os deuses que lhes haviam retirado do
cativeiro.
Quando dizemos que servimos a Jesus e fazemos
aquilo que Ele nos tem proibido na sua Palavra, revelamos com isso, que não o
conhecemos de fato, e fazemos parte do rol daqueles que dizem Senhor, Senhor, e
que de modo algum entrarão no reino dos céus.
Tal era o caso da mãe de Mica.
Ela tentou anular as maldições que havia proferido,
e que recaíram sem que o soubesse sobre o próprio filho, posto ser ele o
ladrão, com uma maldição ainda maior, que se transformaria na causa da perdição
não apenas de seu filho, como de toda uma tribo de Israel, a de Dã.
A cobiça e a mentira acompanharam também a ação da
mãe de Mica, porque tendo dito a ele que usaria todo o dinheiro (mil e cem
moedas) para fazer as imagens de escultura como forma de dedicação do dinheiro
a Deus, sob o possível argumento de retirar a maldição que havia proferido, no
entanto usou apenas menos do que um quinto do total (duzentas moedas), agindo
tal como Ananias e Safira.
Como o ídolo é um mestre de mentiras e engano,
porque por detrás do seu culto sempre encontraremos o pai da mentira que é o
diabo, a mãe de Mica enganava-se a si mesma, ao dizer que estava dedicando o
dinheiro a Jeová, com o fabrico daqueles ídolos, porque se o tivesse feito de
fato, não teria agido com cobiça e mentindo, pois como pode Deus aceitar algo
que seja feito com base na cobiça e na mentira, e ainda por cima, tratando-se
de uma transgressão direta de um dos mandamentos tão claramente ordenado por
Ele de que o Seu povo não faça para si imagem de escultura para lhes prestar
culto de adoração, ainda que em Seu nome, porque na verdade não aceitará jamais
tal tipo de adoração, uma vez que não é dirigida a Ele na verdade, que é
espírito invisível, santo e justo, e é zeloso quanto a não permitir que aqueles
que Lhe pertencem dividam o amor, culto e adoração que lhe são exclusivamente
devidos a qualquer outro ser ou pessoa que exista em cima nos céus, ou em baixo
na terra, ou mesmo nas águas debaixo da terra.
Desta forma, querendo fugir da maldição, eles
estavam entrando nela porque ao que adora falsos deuses e usa imagem de
escultura em sua adoração, se coloca debaixo do juízo proferido pelo Senhor
contra os idólatras afirmando que visita até mesmo esta iniqüidade dos pais nos
seus próprios filhos, até à terceira e quarta geração daqueles que O aborrecem
(Êx 20.3-5), por provocarem a Sua ira, ao não darem a honra de culto e
adoração, que são devidos exclusivamente a Ele.
O temor do cumprimento da maldição da parte de
Mica, foi tão grande e talvez não menor do que a devoção que ele passou a
prestar àqueles ídolos fabricados, no intuito de que a maldição fosse
transformada em bênção, que colocou os ídolos que sua mãe mandara fazer na casa
de deuses que ele tinha, e acrescentou a todo aquele aparato idolátrico uma
estola sacerdotal e terafins, tendo ainda nomeado a um de seus filhos para
atuar como sacerdote do culto, que era prestado àqueles falsos deuses (v.
5).
Mica tinha construído uma casa de deuses porque era
fruto da sua própria imaginação, sabendo ou não que eram de inspiração
demoníaca.
Ele julgava certamente que a forma de culto que
havia inventado era muito melhor do que a do tabernáculo, que estava em Siló.
É bem provável que tenha feito isto depois dos dias
de Finéias, neto de Arão, que era o sumo sacerdote, porque este Finéias estava
cheio do zelo do Senhor e teria certamente castigado a idolatria de Mica, tal
como fizera ainda nos dias de Moisés ao príncipe de Simeão e à sua mulher
midianita, no caso da praga de Baal-Peor relatado no livro de Números
(25.1-18).
Pois, estando o tabernáculo em Siló, uma das
cidades de Efraim, este Mica teve a ousadia de construir uma casa de deuses na
própria região de Efraim, onde residia.
Certamente o zelo de Finéias teria vindo sobre ele
tal como fizera quando as tribos da Transjordânia erigiram um altar como
memorial ao Senhor, quando partiram para suas terras depois de terem batalhado
com as demais tribos em Canaã.
Naquela ocasião foi também Finéias que liderou a
confederação das tribos para guerrearem contra as tribos da Transjordânia,
julgando que tinham erigido aquele altar com o propósito de introduzirem uma
nova forma de adoração, diferente da que deveria ser prestada exclusivamente no
tabernáculo.
A idolatria começou no próprio território onde se
encontrava o tabernáculo, denotando que o caráter dos dirigentes de Israel,
nesta ocasião não estava provido do mesmo zelo que se encontrou em Moisés,
Josué, Eleazar e Finéias.
Quando a liderança faz concessões ao erro dentro da
própria casa de Deus, por uma alegada tolerância, pensando que estará fazendo
com isso um grande bem, na verdade estará abrindo as portas para que o diabo
entre e opere seus enganos, destruições e morte, com toda a liberdade.
E o sexto verso faz a afirmação com a qual o livro
é fechado: “Naquelas dias não havia rei em Israel; cada qual fazia o que
parecia bem aos seus olhos.”.
Isto indica a necessidade que havia de que
libertadores fossem levantados por Deus para governarem a nação, quer no
período dos Juízes, como vimos estudando até aqui, quer no período dos reis de
Israel, mas tanto num quanto noutro período, nós vemos que o governo e o
libertador do qual o povo de Deus necessita para poder vencer efetivamente o
pecado, é o Senhor Jesus, do qual todos os demais libertadores terrenos eram
apenas um pálido tipo.
Porque Ele estabelece o Seu governo em santidade
nos nossos corações, e nos habilita, pela graça da Sua presença em nós, em
andar de modo agradável a Deus, tendo a sua lei inscrita nas nossas mentes e
corações.
Não é portanto sem motivo, que são tantas as
figuras e profecias relativas a Ele no Velho Testamento, quer nos sacrifícios
de animais e em todo o simbolismo de purificação, consagração e santificação,
que havia naqueles sacrifícios, no que se refere à obra de redenção,
justificação, regeneração, santificação e glorificação que estão nEle e com as
quais somos beneficiados na nossa associação com Ele.
Bendito pois seja para todo o sempre o nosso Amado
Salvador e Senhor, que nos tem apartado das nossas iniqüidades para sempre,
dando cumprimento cabal às profecias que apontavam para Ele e para a obra que
realizaria em nosso favor.
Nós vemos quantas iniqüidades Israel cometeu, mesmo
sendo o povo de Deus, e tendo recebido dEle a Lei, os testemunhos, promessas e
profetas.
Quantas abominações eles praticaram como as que
estamos estudando no livro de Juízes e que se agravaram com o decorrer do
tempo.
Tudo isto apontava para a necessidade de que o
Libertador viesse a Sião e apartasse Jacó das suas iniqüidades, trazendo perdão
e reconciliação para todos aqueles que se encontravam afastados de Deus, e
impossibilitados de fazerem por si mesmos a Sua santa vontade.
Jesus trouxe com Ele a graça do evangelho e a
conversão do coração com e para a habitação do Espírito Santo, que nos faz
perseverar nos caminhos de Deus.
A Ele pois toda honra, glória e louvor.
Falemos então do dever de todos os homens de
guardarem a Lei de Deus, mas excluamos todo o mérito dos homens pelo fazê-lo,
porque não poderiam fazer isto de modo algum, sem o Senhor que os santifica.
Falemos do esforço e de todo o trabalho que se deve
fazer por amor ao Senhor, mas reconheçamos como Paulo, que tudo o que fizermos
terá sido possibilitado somente pela graça de Jesus que nos for concedida.
Tal como os Juízes necessitavam que o Espírito
Santo viesse sobre eles e os capacitasse a realizarem a obra que realizaram,
conforme temos aprendido em todo o nosso estudo deste livro.
“Virá de Sião o Libertador, ele apartará de Jacó as
impiedades.” (Rm 11.26).
“E agora diz
o Senhor, que me formou desde o ventre para ser o seu servo, para tornar a
trazer-lhe Jacó, e para reunir Israel a ele (pois aos olhos do Senhor sou
glorificado, e o meu Deus se fez a minha força). Sim, diz ele: Pouco é que
sejas o meu servo, para restaurares as tribos de Jacó, e tornares a trazer os
preservados de Israel; também te porei para luz das nações, para seres a minha
salvação até a extremidade da terra.” (Is 49.5,6).
Os versos 7 a 13 deste capítulo de Juízes narram
como foi que um levita de Belém de Judá veio a ser colocado por Mica como
sacerdote e dirigente espiritual em sua casa, não para oficiar segundo a lei de
Deus, mas para aperfeiçoar a falsa adoração que ele havia iniciado.
Este levita andava errante em peregrinação, e
segundo o seu próprio falar procurava peregrinar onde achasse conveniente, isto
é, pelo seu próprio gosto e vontade, e não por estar seguindo a direção de
Deus, e como ocorreu com ele, sucede com todos os ministros de Deus que não
oram e não têm comunhão com Ele para terem direção vinda dEle a quem, onde e
como ministrarem.
O que anda de acordo com o seu próprio conselho e
vontade acabará caindo no laço do diabo, tal como sucedeu a este levita que
acabou indo dar na casa de Mica.
Caso estivesse sendo dirigido pelo Senhor, jamais
teria ido ter com ele, e muito menos se sujeitaria a ele, por dinheiro, para
fazer a sua vontade servindo a falsos deuses.
E disfarçado em ministro da justiça, a serviço do
diabo, que se disfarça em anjo de luz, tal foi o incremento e operações
demoníacas que atuaram sob aquele levita, que a fama das coisas que ocorriam em
resposta a petições, e bem provavelmente até mesmo sinais e maravilhas, correu
por todo Israel, e particularmente na tribo de Dã, conforme veremos no capítulo
seguinte.
E Mica considerou que quem lhe trouxera aquele
levita foi a providência divina.
Para ele foi o próprio Jeová que o enviara, e assim
julgou que seria deveras abençoado com o ministério daquele levita em sua casa.
Nós devemos julgar todas as coisas mediante os
critérios da Palavra de Deus, e pela revelação da verdade que nela se encontra,
e não pelos nossos sentimentos, tal como fizera Mica, porque se nos desviamos
da Palavra de Deus, até mesmo a nossa oração será uma abominação, conforme se
encontra no livro de Provérbios, porque não será feita de acordo com a vontade
e verdade reveladas de Deus, mas segundo o nosso próprio coração.
Como Deus poderia estar enviando alguém para
ministrar o erro? Qual é a comunhão que há entre Deus e Belial?
Mica era um ladrão que havia roubado sua própria
mãe, e um homem ambicioso, que fazia da religião ocasião de lucro.
O que almejava na verdade era ganhar honra e
dinheiro daqueles que o procurassem, em
busca de respostas para os seus problemas.
Isto não tem mudado desde então, porque as pessoas
sabem que buscar respostas no Deus verdadeiro demandará a conversão das suas
vidas, e por isso rejeitam a verdade, à busca de ilusões em falsas divindades e
junto aos demônios que não exigirão delas qualquer transformação de vida,
podendo seguir livremente fazendo aquilo que é da própria vontade, permanecendo
escravizadas aos pecados que gostam de praticar.
JUÍZES 18
“1 Naqueles dias não havia rei em Israel; a tribo
dos danitas buscava para si herança em que habitar; porque até então não lhe
havia caído a sua herança entre as tribos de Israel.
2 E de Zorá e Estaol os filhos de Dã enviaram cinco
homens da sua tribo, escolhidos dentre todo o povo, homens valorosos, para
espiar e reconhecer a terra; e lhes disseram: Ide, reconhecei a terra. E
chegaram eles à região montanhosa de Efraim, à casa de Mica, e passaram ali a
noite.
3 Pois, estando eles perto da casa de Mica,
reconheceram a voz do mancebo levita; e, dirigindo-se para lá, lhe perguntaram:
Quem te trouxe para cá? que estás fazendo aqui? e que é isto que tens aqui?
4 E ele lhes respondeu: Assim e assim me tem feito
Mica; ele me assalariou, e eu lhe sirvo de sacerdote.
5 Então lhe disseram: Consulta a Deus, para que
saibamos se será próspero o caminho que seguimos.
6 Ao que lhes disse o sacerdote: Ide em paz;
perante o Senhor está o caminho que seguis.
7 Então foram-se aqueles cinco homens, e chegando a
Laís, viram o povo que havia nela, como vivia em segurança, conforme o costume
dos sidônios, quieto e desprecavido; não havia naquela terra falta de coisa
alguma; era um povo rico e, estando longe dos sidônios, não tinha relações com
ninguém.
8 Então voltaram a seus irmãos, em Zorá e Estaol,
os quais lhes perguntaram: Que dizeis vós?
9 Eles responderam: Levantai-vos, e subamos contra
eles; porque examinamos a terra, e eis que é muito boa. E vós estareis aqui
tranqüilos? Não sejais preguiçosos em entrardes para tomar posse desta terra.
10 Quando lá chegardes, achareis um povo
desprecavido, e a terra é muito espaçosa; pois Deus vos entregou na mão um
lugar em que não há falta de coisa alguma que há na terra.
11 Então seiscentos homens da tribo dos danitas
partiram de Zorá e Estaol, munidos de armas de guerra.
12 E, tendo subido, acamparam-se em
Quiriate-Jearim, em Judá; pelo que esse lugar ficou sendo chamado Maané-Dã, até
o dia de hoje; eis que está ao ocidente de Quiriate-Jearim.
13 Dali passaram à região montanhosa de Efraim, e
chegaram à casa de Mica.
14 Então os cinco homens que tinham ido espiar a
terra de Laís disseram a seus irmãos: Sabeis vós que naquelas casas há um
éfode, e terafins, e uma imagem esculpida e uma de fundição? Considerai, pois,
agora o que haveis de fazer.
15 Então se dirigiram para lá, e chegaram à casa do
mancebo, o levita, à casa de Mica, e o saudaram.
16 E os seiscentos homens dos danitas, munidos de
suas armas de guerra, ficaram à entrada da porta.
17 Mas subindo os cinco homens que haviam espiado a
terra, entraram ali e tomaram a imagem esculpida, o éfode, os terafins e a
imagem de fundição, ficando o sacerdote em pé à entrada da porta, com os
seiscentos homens armados.
18 Quando eles entraram na casa de Mica, e tomaram
a imagem esculpida, o éfode, os terafins e a imagem de fundição, perguntou-lhes
o sacerdote: Que estais fazendo?
19 E eles lhe responderam: Cala-te, põe a mão sobre
a boca, e vem conosco, e sê-nos por pai e sacerdote. Que te é melhor? ser
sacerdote da casa dum só homem, ou duma tribo e duma geração em Israel?
20 Então alegrou-se o coração do sacerdote, o qual
tomou o éfode, os terafins e a imagem esculpida, e entrou no meio do povo.
21 E, virando-se, partiram, tendo posto diante de
si os pequeninos, o gado e a bagagem.
22 Estando eles já longe da casa de Mica, os homens
que estavam nas casas vizinhas à dele se reuniram, e alcançaram os filhos de
Dã.
23 E clamaram após os filhos de Dã, os quais,
virando-se, perguntaram a Mica: Que é que tens, visto que vens com tanta gente?
24 Então ele respondeu: Os meus deuses que eu fiz,
vós me tomastes, juntamente com o sacerdote, e partistes; e agora, que mais me
fica? Como, pois, me dizeis: Que é que tens?
25 Mas os filhos de Dã lhe disseram: Não faças
ouvir a tua voz entre nós, para que porventura homens violentos não se lancem
sobre vós, e tu percas a tua vida, e a vida dos da tua casa.
26 Assim seguiram o seu caminho os filhos de Dã; e
Mica, vendo que eram mais fortes do que ele, virou-se e voltou para sua casa.
27 Eles, pois, levaram os objetos que Mica havia
feito, e o sacerdote que estava com ele e, chegando a Laís, a um povo quieto e
desprecavido, passaram-no ao fio da espada, e puseram fogo à cidade.
28 E ninguém houve que o livrasse, porquanto estava
longe de Sidom, e não tinha relações com ninguém; a cidade estava no vale que
está junto a Bete-Reobe. Depois, reedificando-a, habitaram nela,
29 e chamaram-lhe Dã, segundo o nome de Dã, seu
pai, que nascera a Israel; era, porém, dantes o nome desta cidade Laís.
30 Depois os filhos de Dã levantaram para si aquela
imagem esculpida; e Jônatas, filho de Gérsom, o filho de Manassés, ele e seus
filhos foram sacerdotes da tribo dos danitas, até o dia do cativeiro da terra.
31 Assim, pois, estabeleceram para si a imagem
esculpida que Mica fizera, por todo o tempo em que a casa de Deus esteve em
Siló.” (Jz 18.1-31).
Quando a tribo de Dã estava procurando estender os
seus domínios, depois da morte de Josué, pela conquista dos territórios que
haviam sido designados por sortes, e não sendo ainda Israel uma unidade
federativa, com um governo central sobre todas as tribos, pois Deus havia
concedido a eles serem uma teocracia, na qual cada tribo teria a liberdade de
ter os seus próprios príncipes, juízes e chefes, tanto eles, quanto as demais
tribos de Israel não souberam fazer bom uso desta liberdade, e já não estando
mais debaixo de uma direção geral como nos dias de Moisés e Josué, eles agiram
como bem parecia aos seus próprios olhos como se lê em Jz 17.6 e como se
confirma no versículo introdutório desta capitulo décimo oitavo, onde se
enfatiza que não havia reis em Israel nos dias em que se deu esta narrativa,
como que para justificar o porque de todas estas ações voltadas para a
idolatria puderam ter lugar sem que nenhuma confrontação fosse levantada por
parte das demais tribos.
Num mundo onde há o pecado, desde a queda de Adão,
e no qual existirá até que Jesus restaure todas as coisas, muita liberdade não
é bom, porque o pecado sempre conduzirá ao abuso dela.
Não se pode confiar na natureza terrena porque o
coração humano é excessivamente corrupto por causa do pecado, e é necessário o
freio das leis e do governo para que pelo temor da punição, a iniqüidade não se
espalhe em níveis tais, que impossibilite qualquer tipo de convivência social
pacífica.
Somente a graça de Jesus pode renovar as mentes
corrompidas dos homens e converter o seu coração a Deus, mas o poder do
magistrado pode conter as suas práticas ruins e pode prender as suas mãos, de
modo que a impiedade do mau não seja tão prejudicial como seria na falta da
ação do magistrado.
Embora a espada da justiça não possa cortar a raiz
de amargura, pode cortar as suas conseqüências e impedir seu crescimento e
alastramento.
Veja quão perto da ruína estão todos os lugares em
que não há nenhum magistrado ou em que havendo, prevarique no exercício devido
da sua função, como ministro de Deus que traz a espada para o castigo dos
malfeitores! Feliz é o povo que tem um bom governo e leis justas e juízes
imparciais.
Mesmo na Igreja de Cristo, onde se desfruta da
liberdade que o Espírito Santo concede, e se tem a liberdade da escravidão do
pecado, por meio da redenção que há em Cristo Jesus, faz-se necessário o
governo de pastores, presbíteros, mestres e diáconos, porque apesar de o
espírito estar pronto, a carne é fraca, e o rebanho de Deus precisa portanto,
ser conduzido debaixo de um cajado que lhe aponte o caminho a seguir, e para
exercer a disciplina determinada por Cristo, para ser aplicada à Sua Igreja.
Visões românticas relativas à liberdade total que
se deve dar a cada crente, sob o argumento de que todos são sacerdotes reais,
tem causado muitas dores àqueles que procuram viver a vida cristã por meio
destes princípios idealistas contrários à Palavra de Deus, porque no final das
contas, terão que sofrer as conseqüências do inevitável mau uso da liberdade
total concedida, pelo equívoco cometido de pensarem que já estamos vivendo no
céu onde não há pecado, e tudo é uma perfeição absoluta.
O homem é livre, mas Deus tem determinado para todo
homem o jugo de Jesus, que apesar de suave, configura a obrigação e compromisso
que temos para com Ele, traduzidos nos muitos deveres que devemos cumprir, pela
própria determinação da Sua vontade divina.
A primeira coisa que a natureza pecaminosa terrena
do homem procura fazer ao argumentar a sua liberdade é lançar fora todo jugo, e
com estes joga fora também o próprio jugo de Jesus.
Este é o motivo de se ver tantos crentes
desobedientes à Palavra de Deus, especialmente nestes últimos dias, no qual
quase tudo é permitido e justificável.
Entretanto Deus não muda, nem a Sua Palavra e vontade.
Foi exatamente o que se viu em toda a história de
Israel narrada na Bíblia.
Quando faltava uma liderança temente a Deus, ou
quando havia uma liderança permissiva, o resultado disso era a apostasia dos caminhos do Senhor.
Não é portanto, surpreendente, o fato de vermos a
tribo de Dã procurando estabelecer uma nova forma de culto em seu território,
assalariando o levita que servia de sacerdote à casa de deuses de Mica, e por
terem também levado para Dã todo o aparato idolátrico que lá existia.
Deus odeia o roubo, e o diabo adora roubar,
matar e destruir. E os danitas roubaram os ídolos da casa de Mica porque além
de transgredirem o oitavo mandamento que diz “não furtarás” também
transgredirem o primeiro e o segundo mandamentos que proíbem ter outros deuses
diante do Senhor e cultuar imagens de escultura.
E o levita que servia de sacerdote na casa de Mica
não era melhor do que eles, pois o que se pode esperar daqueles que naufragaram
na fé pela falta de uma boa consciência?
Mica confiou neste levita apóstata, e ele o traiu,
pois assentiu rapidamente em deixar a sua casa e seguir os danitas pela sua
cobiça e desejo de ter a sua fama e poder aumentados, deixando de servir na
casa de um só homem, para servir a toda uma tribo.
Mica ainda vai protestar com eles quanto ao seu
direito ao que lhe haviam roubado. Mas estando em menor número do que os
danitas, e tendo sido ameaçado de morte por eles, bem como os da sua casa,
desistiu de tentar reaver os seus pertences.
Na verdade, o único direito de Mica, do levita, dos
adoradores da sua cidade e de todos aqueles seiscentos danitas era a morte
prevista na lei para os idólatras.
Mas como não havia um governo central em Israel
para fazer valer o cumprimento da Lei de Moisés, eles agiam segundo melhor parecia
aos seus próprios olhos, por saberem que não haveria quem os punisse.
Assim, este relato justifica a prática de toda ação
legal em Israel, isto é, conforme a lei, ainda que possa parecer em muitos
casos, que possa ter havido extrema crueldade, na verdade, especialmente
naqueles dias, tal se fazia necessário, porque, como já dissemos antes, o mal
teria se alastrado de tal forma que a própria Palavra de Deus teria sido banida
da terra, e toda a humanidade teria se corrompido, e os justos seriam mais perseguidos
e destruídos, do que já o foram, nas mãos dos ímpios.
Infelizmente, em razão da longanimidade de Deus,
que sempre é abusada pelos ímpios e por aqueles que não O temem, estes podem
pensar que estão prosperando, tal como os danitas, em razão de terem
conquistado a cidade de Lais, a par de toda a idolatria deles e de terem pedido
ao levita que agia como sacerdote de Mica para consultar aqueles deuses para
saberem se seriam bem sucedidos contra aquela cidade, e ele lhes disse que sim,
tal como sucedera de fato.
Foi aquilo uma bênção de Deus? Deus estava com
eles? Certamente que não. E tem sido assim ao longo da história da humanidade.
Muitos confundem a sua prosperidade e coisas que
têm conquistado sob a alegação de as terem recebido por uma revelação ou bênção
direta de Deus, quando na verdade, o que conquistaram e o meio pelo qual foi
conquistado sejam na verdade uma abominação a Ele.
Assim, não é incomum que muitos justifiquem a sua
impiedade pela prosperidade deles, tal como foi o caso dos danitas, pois
pensavam erroneamente, que apesar de estarem vivendo impiamente, Deus estava
com eles, já que desfrutavam de boa saúde e de prosperidade material e
financeira, e isto era para eles um sinal da aprovação e bênção de Deus sobre
suas vidas, como tem sido para muitas pessoas, ao longo da história da
humanidade, sem que o seja necessariamente.
Aqueles danitas depois de terem conquistado Laís,
mudaram seu nome para Dã, porque esta cidade era o extremo norte de Israel,
muito distante do lote que coubera á tribo de Dã, e lhe deram este nome como
memorial à tribo à qual pertenciam, e tal era o endurecimento de coração deles
que tributaram a honra da conquista aos ídolos que haviam trazido da casa de
Mica e instituíram um culto formal a eles que durou por todo o tempo que o
tabernáculo permaneceu em Siló.
E é dito no verso 30 que “Jônatas, filho de Gérsom,
o filho de Manassés, ele e seus filhos foram sacerdotes da tribo dos danitas,
até o dia do cativeiro da terra.”.
Este Manassés não é o filho de José do qual
descenderam todos os manassitas. Seus filhos foram Jair e Maquir, sendo que os
descendentes de Maquir herdaram na Transjordânia, e os de Jair em Canaã.
Além do mais, esta narrativa de Juízes está
separada no tempo, do filho de José, Manassés, por mais de quatrocentos anos.
Algumas versões, registram o nome de Moisés, no
lugar do de Manassés, que aparece neste capítulo no original hebraico, julgando
que houve uma incorreção do escriba ao escrever este versículo, primeiro porque
Moisés teve um filho chamado Gérsom, e porque no hebraico a grafia do nome de
Manassés é muito parecida à do nome de Moisés. Entretanto não há nenhum
registro bíblico de que o filho de Moisés, Gérsom, tenha tido um filho chamado
Jônatas.
Nós encontramos em I Crôn 26.24 o nome de Sebuel
como sendo filho de Gérsom, filho de Moisés, e não Jônatas.
Nós chegamos portanto à conclusão de que estamos
diante de um homônimo do Manassés, filho de José, e também de um outro homônimo
quanto a Gérsom, filho de Moisés, tratando-se de outras pessoas que viveram
numa outra época, e que possivelmente eram da tribo de Dã, e não da tribo de
Levi, à qual pertencia Moisés e seus descendentes, e também não pertenciam à
tribo de Manassés que levava o nome do seu patriarca.
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