Provérbios 13
Silvio Dutra
Mar/2016
A474
Alves, Silvio Dutra
Provérbios 13./ Silvio
Dutra Alves. – Rio de Janeiro,
2016.
58p.; 14,8x21cm
1. Teologia. 2. Salomão. 3.
Estudo Bíblico.
I. Título.
CDD
230.223
|
Provérbios 13
1 O filho sábio ouve a instrução do pai; mas o escarnecedor não escuta a
repreensão.
Deus poderia
ter criado todos os homens a um só tempo, em forma adulta e com suas faculdades
amadurecidas para receberem instrução diretamente de sua parte, tal como fizera
com relação a Adão, mas para vários propósitos, e sabendo que haveria
necessidade de redenção daqueles que viessem a cair no pecado, fez com que
todos fôssemos associados a um cabeça, a um ancestral comum – Adão – para que
pudesse também associar os redimidos a uma única cabeça – Cristo.
O modo da
criação e reprodução do homem implicou a necessidade de instrução dos filhos
pelos pais, uma vez que todos chegam ao mundo como recém-nascidos, carentes dos
cuidados e instruções de seus pais, para que possam se tornar adultos saudáveis
e conhecedores da vontade de Deus.
Quando
meditamos nestas verdades podemos contemplar quão grande é a responsabilidade
que foi atribuída por Deus aos pais, pois apesar de lhes prometer a concessão
da Sua ajuda e graça para a missão que têm de educar os filhos em seus
caminhos, todavia tem lhes dado a incumbência de serem os agentes e
instrumentos imediatos da referida formação.
Não é
exagerado afirmar, à luz de tudo isto, que é um insensato, todo filho que não
obedece aos seus pais e não ouve a boa instrução que lhes dão, para que venham
a ser homens e mulheres de Deus.
O provérbio
classifica esses filhos que não ouvem a instrução de seus pais, como sendo
escarnecedores. E isso é mais do que uma simples rejeição do ensino
transmitido; a razão principal apontada é o fato de haver um espirito de
escárnio, de zombaria em relação à instrução, nem tanto pela rejeição da
autoridade dos pais, mas por se considerar o conteúdo da instrução divina como
algo ridículo, desprezível, anacrônico, chegando a causar em vários casos, até
mesmo vergonha, de somente se pensar em agir de acordo com os seus mandamentos.
Não há
sabedoria em assim proceder, porque aqueles que rejeitam andar nos caminhos de
Deus permanecem, não somente debaixo da maldição da lei, como da ameaça de
condenação futura eterna, e em não raros casos, muitos são punidos até mesmo
pelas autoridades deste mundo, ou por um viver contradizente em suas relações,
pelo tipo de comportamento que assumiram e que é exatamente o oposto daquilo
que Deus nos apresenta em Sua Palavra para um viver alegre, harmonioso e em paz.
2 Do fruto da boca o homem come o bem; mas o apetite dos prevaricadores
alimenta-se da violência.
Prevaricador é todo aquele que
deixa de cumprir, ou retarda, e cumpre indevidamente aquilo que é da sua
responsabilidade e competência.
Aqui é dito que estes se
alimentam da violência, porque é dela que têm apetite.
Violência não propriamente no seu
sentido de ato agressivo contra outrem, mas no de violar preceitos e
ordenanças.
Pessoas prevaricadoras não
respeitam leis e regulamentos, sejam eles públicos ou privados.
A noção de responsabilidade é
algo que não permeia sua consciência, e por isso agem de modo indevido e
irresponsável.
3 O que guarda a sua boca preserva a sua vida; mas o que muito abre os
seus lábios traz sobre si a ruína.
Um guarda nos
lábios é um guarda para preservar a alma. Quantos
relacionamentos não são abalados ou destruídos por causa de um mau uso da
língua, sobretudo pelo hábito de tudo julgar e condenar?
Aquele que é cauteloso, pensa duas vezes antes de falar, uma
vez que, se ele tiver pensado mal, colocará a mão sobre a boca para não
abri-la.
Por este
pequeno exercício, que vindo a se transformar num hábito, a alma será livrada
de muitos problemas e males.
Não são poucos
os que são arruinados por causa de uma língua desgovernada. Principalmente, quando o abrir da boca se refere à exposição da doutrina
da Palavra de Deus, deve ser evitado a todo o custo, o chamado dito precipitado
dos lábios, para que por ele não venhamos a proclamar uma heresia ou falsidade,
como sendo uma verdade.
Por isso, a
empolgação e o entusiasmo exagerado não são bons conselheiros, quando o assunto
em pauta é o da pregação e ensino da Bíblia, pois somos traídos facilmente por
nossas emoções, fazendo asseverações que podem estar mais condizentes com
nossas emoções, do que com a verdade absoluta da Palavra de Deus.
4 O preguiçoso deseja, e coisa nenhuma alcança; mas o desejo do
diligente será satisfeito.
São muitos os
provérbios que comparam o preguiçoso ao diligente, e este é mais um deles.
Aqui a
referência é à conclusão de projetos, expressados pela palavra desejo. De fato,
aquele que não é diligente faz muitos projetos ao mesmo tempo, e nunca chega a
concluir qualquer deles, caso se aplique realmente à realização de algum, pois
sua preguiça não permite que coloque em ação aquilo que planejou fazer.
Isto é um
princípio que se aplica a todas as áreas de nossas vidas, seja estudantil,
profissional, familiar ou religiosa.
Ser um mero
sonhador, e nunca um executor eficaz é realmente é um verdadeiro desperdício do
dom da vida que recebemos da parte de Deus, para ser desenvolvido de modo
operoso e criativo.
Anda em voga na
Igreja de nossos dias a doutrina de estabelecer projetos e ter sonhos. Mas, se
estes projetos e sonhos não forem segundo a vontade de Deus, e não nos
empenhamos com o auxílio da Sua graça para sua realização, eles podem ser
comparados a votos de tolos que não são cumpridos, dos quais Ele não se agrada.
Melhor nestes
casos, seria nem sonhar ou projetar, para não sermos achados em falta.
Neste assunto
deve ser considerado também, que o homem sábio não se dedica à realização de
vários projetos de uma só vez, porque não somente há o risco de não
completá-los como o de serem realizados de modo errado e negligente.
O sábio começa
um projeto e o termina, antes que comece a se dedicar à execução de um outro.
Por isso é dito, que o preguiçoso muito deseja e nada tem, provavelmente por
esta razão apresentada, de querer fazer muitas coisas ao mesmo tempo, e não ter
a sabedoria nem a disposição para
realizá-las.
Em
contraposição a isto é dito que o desejo (no singular) do diligente será
satisfeito, ou seja, ele será cumprido, por ter fixado seu alvo num determinado
objetivo e ter trabalhado para sua perfeita execução.
5 O justo odeia a palavra mentirosa, mas o ímpio se faz odioso e se
cobre de vergonha.
Quando a graça
de Jesus está reinando em nosso coração,
o pecado é algo que se nos torna repugnante.
O caráter do justo, que é
temente a Deus, faz com que odeie mentir; pois há um princípio enraizado em seu
coração, de amor à verdade e à justiça.
Onde o pecado
reina o homem se faz repugnante, notadamente aos olhos de Deus, e, caso tivesse
sua consciência despertada para conhecer a sua real condição, ele iria detestar
e ter vergonha de si mesmo.
Aquele que
encobre o seu pecado, ao mal chama bem, e ao bem chama mal, está mentindo antes
de tudo, para si mesmo, pois pensando que não haverá qualquer juízo para o seu
proceder, engana-se quanto à verdade de que um dia, Deus julgará até mesmo cada
palavra ociosa que tiver sido pronunciada pelos nossos lábios.
6 A justiça guarda ao que é reto no seu caminho; mas a perversidade
transtorna o pecador.
Deus tem
prometido guiar o justo em seu caminho. Assim, aquele que tem a justiça de
Cristo por cobertura vivendo para servir
à justiça, e não mais ao pecado pode ter a firme confiança de que será guardado
por Deus em todos os seus caminhos.
Isto é parte
da recompensa dos justos, pois ainda aqui neste mundo, são instruídos pelo
Espírito Santo quanto ao modo de proceder em todas as situações; além disso,
são também instruídos quanto ao que convém ao seu próprio comportamento moral.
O justo, por
tal instrução, pode ter um caminho seguro e retilíneo, sabendo discernir até
mesmo as circunstâncias que lhe parecem desfavoráveis, e que, no entanto,
estarão contribuindo para o seu aperfeiçoamento, por estarem debaixo do
controle total de Deus.
Ao que Deus
justifica, ele regenera, e ao que regenera santifica e guia.
Como pode
então o pecador não justificado, regenerado e santificado, que vive na prática
da perversidade, contar com tais operações da graça de Deus?
Há uma porta
estreita que conduz a um caminho estreito, que são adentrados por meio do
arrependimento e da conversão a Cristo.
Enquanto isto
não ocorrer, Deus não pode guardar o ímpio, porque ele não está neste caminho,
senão no amplo que conduz à perdição.
O justo pode
vir até mesmo a cair enquanto estiver no caminho estreito, mas Deus o levantará
porque está no caminho correto, que é Cristo; o único que pode realizar todas
as operações que guardam e aperfeiçoam o nosso espírito.
7 Há quem se faça rico, não tendo coisa alguma; e quem se faça pobre,
tendo grande riqueza.
O homem que
não é rico para com Deus, como aquele que construiu muitos celeiros para si, na
parábola que Jesus contou, e se perdeu eternamente porque era rico para com os
homens, mas não para com Deus, por não possuir a Sua graça que nos enriquece,
bem ilustra este provérbio que afirma que há quem se faça pobre, tendo grande
riqueza.
A graça é a riqueza da alma; e somente aqueles que a possuem são verdadeiramente ricos para com Deus,
ainda que nada possuam dos bens deste mundo, pois é a estes que se destina a
promessa de serem herdeiros com Cristo por toda a eternidade.
8 O resgate da vida do homem são as suas riquezas; mas o pobre não tem
meio de se resgatar.
O céu nivelará
e recompensará todas as diferenças e desvantagens que há neste mundo, entre
aqueles que têm um viver folgado pelas riquezas que possuem, e aqueles que
vivem em baixas condições de vida por serem pobres.
Por isso Jesus
disse, que não deveríamos sequer temer aqueles que podem até mesmo tirar a vida
do nosso corpo, pois nada podem fazer contra a nossa alma, quando ela está
firmemente segura em suas mãos.
É notório que
os ricos podem transgredir a justiça em vários aspectos, e saírem ilesos quanto
a qualquer punição que esteja prescrita na lei, por conta não somente de sua
influência, como também por terem dinheiro suficiente para contratar os
melhores advogados, que conhecem todos os meandros da lei que pode mantê-los em
liberdade, de modo permanente ou provisório, pela interposição de vários
recursos nas diversas instâncias judiciais.
Desde que o
mundo é mundo, que isto é visto como uma prática muito comum entre os grandes e
poderosos.
Mas, o pobre,
não possuindo meios para se defender, ainda que proceda justamente, pode ser
arrastado aos tribunais e ser facilmente condenado, e terá por justiça somente
aquela que procede de Deus, o justo juiz, que cuidará dele enquanto sofrer
injustamente no período de prisão, assim como fizera com José no Egito, e
muitos outros na história da Igreja. E, caso venham a sofrer a pena extrema,
como o apóstolo Tiago sob o rei Herodes,
lhes está reservada e garantida uma entrada gloriosa no céu, pelo martírio que
sofreram por causa do seu amor ao evangelho. Estes entram na vida eterna.
Mas, aqueles
que confiaram nas riquezas para serem livrados das penas relativas aos males
que praticaram, não contarão com o mesmo destino, pois lhes está reservado uma
condenação eterna, num lugar de horror e vergonha também eternos.
9 A luz dos justos alegra; porém a lâmpada dos ímpios se apagará.
A luz dos justos alegra, isto é, aumenta, e os torna felizes. Mesmo sua
prosperidade exterior é a sua
alegria, e muito mais os dons, graças, e confortos com os quais sua alma é iluminada.
Jesus é a sua
luz e brilhará cada vez mais intensamente neles, à medida que também aumentarem
sua consagração a ele e à sua palavra.
A luz é o que
nos permite enxergar, e no caso das coisas espirituais, não é a luz natural que
nos permite isto, senão a luz que recebemos do Espírito Santo, para compreender
todos os mistérios relativos ao reino de Deus. No conhecimento destes mistérios
chegamos à compreensão do relativo à razão da própria vida, o que nos dá grande
segurança e alegria, pois podemos discernir todas as coisas.
Esta é uma
luz que jamais de apagará – ao contrário, como a luz da aurora, ela aumentará
mais e mais até que seja dia perfeito.
Agora, dos
ímpios é dito que a lâmpada deles se apagará, ou seja, todo o conhecimento que
tiverem adquirido por meio do mero intelecto natural virá a ser desfeito, e
será para nenhum proveito naquele dia, em que Deus julgar todos os homens,
selando seu destino eterno.
Este
conhecimento natural, não será de qualquer serventia, até mesmo no céu, onde
tudo o que há é de uma dimensão totalmente diferente daquela em que vivemos.
Lá não
haverá necessidade de medicina, porque não há enfermos. Não há necessidade de
engenharia, porque as mansões celestiais e toda a infraestrutura celestial já
foram criadas e estabelecidas pelo próprio Deus. Não há necessidade de
delegados, advogados e juízes, porque já não haverá mais qualquer delito ou
crime. Enfim, todo o conhecimento natural que pode ser muito útil para nós
neste mundo, será totalmente lançado às regiões do esquecimento na vida do
porvir.
Se tudo isto
pode ser dito em relação à vida do céu, o que poderia ser dito então, quanto
àquela que existirá no inferno, que sequer convém ser chamada de vida, senão de
morte?
A luz dos
justos, ainda que possa ser eclipsada, como a do sol, todavia continuará pelos
séculos dos séculos sem fim, e eles podem ter muita alegria ao verem que
conforme a promessa, suas próprias vidas resplandecerão com um brilho ainda
maior do que o das estrelas.
10 Da soberba só provém a contenda; mas com os que se aconselham se acha
a sabedoria.
Quando homens
vaidosos se encontram para discutir e decidir sobre algum assunto importante, o
que é comum de ocorrer é que em vez de opiniões que se somem, haja competição e
uma luta ardente para fazer prevalecer, respectivamente, seus próprios pontos
de vista.
Não agrada ao
ímpio, renunciar em prol de uma opinião melhor do que a sua, e se ver vencido
em algo, que não deveria ser considerado como uma disputa ou combate, e no
entanto, costumeiramente é assim considerado por ele, de modo que da sua
soberba, como afirma o provérbio, sempre provém a contenda e não a conciliação.
Isto é muito comum de ser visto em ambientes de trabalho, que não raro dependem
da ação de um gerente que arbitre a reunião, e decida com autoridade para
confirmar o parecer que realmente deve ser considerado.
Mas, entre
aqueles que são sábios segundo Deus, e tratados pelas virtudes de Cristo em
amor, mansidão, submissão, paciência, longanimidade, bondade, fraternidade,
unidade, e especialmente em humildade, o que se verá é que cada um considere os
demais superiores a si mesmos, e deem honra a quem é devida a honra, pelo seu
melhor preparo, experiência e conhecimento do assunto tratado, de maneira que
ninguém, senão apenas nosso Senhor Jesus Cristo seja exaltado e glorificado por
tudo o que for decidido.
Isto será
visto, quanto maior for a consagração real daqueles que se reunirem, e não
simplesmente pelo fato de carregarem o nome de cristãos.
11 A riqueza adquirida às pressas diminuirá; mas quem a ajunta pouco a
pouco terá aumento.
O que é
verdadeiro no mundo natural, também se aplica ao mundo espiritual. A graça não
é recebida de uma vez e em toda a sua plenitude, na conversão.
Além de ser
designada uma medida de fé e graça para cada cristão, conforme a soberania de
Deus, também há um acréscimo gradual de graça sobre graça, até o completamento
da medida que nos tiver sido designada.
Somente a
Jesus Cristo, a graça não foi concedida por medida, em seu ministério terreno.
Precisamos
aprender a depender de Deus e a obedecê-lo em todas as circunstâncias, e para
tanto necessitaremos de graus maiores de graça, quanto maiores sejam as
provações e encargos a que sejamos submetidos.
O que é rico
da graça, é porque a obteve por graus ao longo do curso de sua vida, e não por
tê-la recebido em todo o grau de riqueza referido, num determinado ponto de sua
vida cristã.
A graça é como
o pão de cada dia que devemos receber da parte de Deus, para alimentar nosso
espírito. É como o maná que devia ser recolhido diariamente por Israel, durante
sua peregrinação no deserto.
Outro ponto a
ser considerado, é que esta graça é concedida para ser aplicada, a fim de ser
gasta no serviço de Deus para o benefício de dEle, de modo que o ser
enriquecidos pela graça exige que façamos isto, porque ao que dá, será dado em
medida abundante, sacudida e recalcada por Deus.
12 A esperança adiada entristece o coração; mas o desejo cumprido é
árvore de vida.
Adiado não é
aquilo que é demorado, mas aquilo que não se cumpre no tempo prometido ou
esperado.
Toda a
esperança que temos depositado em Cristo quanto às promessas que nos tem feito,
são seguras e fiéis em relação ao seu cumprimento, pois Fiel é o que prometeu.
Não temos,
portanto razão para ficarmos entristecidos pela aparente demora de cumprimento
de qualquer promessa que Deus nos tenha feito diretamente, ou por meio da Sua
Palavra, pois todas serão cumpridas no tempo próprio por Ele designado.
Abraão teve
que esperar para ver o cumprimento da promessa, de que teria um filho com Sara.
Isaque esperou quarenta anos, orando por Rebeca, que era estéril, para que se
cumprisse a promessa da formação da nação de Israel, a partir de um dos seus
descendentes (Jacó). Os exemplos de espera se multiplicam na Bíblia e na
história da Igreja, mas nenhuma promessa tem caído por terra, pois colocaria o
nome de Deus em descrédito.
A promessa do
arrebatamento da Igreja é uma das mais demoradas para que a vejamos cumprida, mas
como todas as demais, também se cumprirá no tempo determinado pela soberania de
Deus.
Pela nossa
perseverança em continuar crendo e orando, apesar da aparente demora de Deus em
nos atender, demonstramos o quanto valorizamos a promessa, e o quanto cremos na
fidelidade de Deus em cumprir o que nos prometeu, e assim, ainda que possa
haver alguma tristeza por uma eventual pressa de nossa parte, teremos grande
alegria quando nosso desejo for atendido.
É dito no
provérbio, que isto é árvore de vida, porque nossas esperanças sendo cumpridas
em Cristo aumentam a nossa fé e a plena confiança em sua fidelidade, o que é
revigorante e renovador de tal forma, que damos grande valor ao fato de
vivermos para Deus, e à nossa própria vida, pois é por este dom maravilhoso que
podemos contemplar todos os Seus atos poderosos e amorosos em nosso favor, e de
todos aqueles que o amam, sendo cumpridos fielmente.
Se nossas
esperanças, no entanto dizem respeito somente aos assuntos comuns desta vida,
para o atendimento de nossos desejos caprichosos em sua natureza, é bem certo
que teremos muitas frustrações e com elas tristezas, porque nossa esperança não
deve ser firmada neste tipo de fundamento tão incerto e inseguro.
Por isso faz
bem todo aquele que submete seus projetos e expectativas à vontade de Deus,
desejando somente aquilo que é aprovado por Ele, ou que tenha a testificação do
Espírito Santo.
13 O que despreza a palavra traz sobre si a destruição; mas o que teme o
mandamento será galardoado.
Todo aquele
que despreza a palavra de Deus, não tem nenhuma
relação com ela, não a venera, nem permite ser governado por ela, certamente
será destruído, porque
despreza o único meio de curar
uma doença destrutiva e mortal
que é o pecado, que sujeita a todos debaixo da ira, da maldição e da condenação
divina, caso não seja daí resgatado por meio da fé em Jesus Cristo.
Aqueles que
preferem as regras da política carnal do
que os preceitos divinos, e as seduções do mundo e da carne, antes das
promessas e confortos de Deus, desprezam a sua palavra, dando preferência a
essas coisas que estão em concorrência com ela, e são a causa da sua própria destruição.
Agora, aquele
que teme o mandamento e o pratica, não somente é livrado da destruição como
também é galardoado por Deus, pois Ele é recompensador de todos quantos lhe
obedecem.
Deus
acrescenta bênçãos à nossa obediência, não somente para nos encorajar e incentivar
ao cumprimento da Sua vontade, como para demonstrar que estamos de fato,
trilhando pelo caminho que conduz à vida eterna, pois é somente nele que
podemos achar as bênçãos espirituais.
14 O ensino do sábio é uma fonte de vida para desviar dos laços da
morte.
A Bíblia diz
que são dignos de toda honra e duplos honorários, todos aqueles que se afadigam
no aprendizado e ensino do Evangelho.
Uma das razões
para isto é declarada neste provérbio, porque os que são sábios em relação às
coisas de Deus são como uma fonte de vida, que não somente livram muitos dos
laços da morte com os quais se encontram amarrados, como também lhes dá acesso
à vida eterna que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.
É importante
frisar que o provérbio fala de ensino do sábio, ou seja, da instrução racional
e adequada dos princípios revelados na Palavra de Deus àqueles que deles
necessitam.
Poderia ser
dito aqui, a pregação, o êxtase, a oração, e muitas outras coisas, mas o ensino
é destacado porque está de acordo com a ordem de Jesus, de que seus seguidores
fizessem discípulos em todas as nações ensinando-lhes a guardar tudo quanto ele
havia ordenado.
Vemos,
portanto, que este ensino não é meramente instrutivo, mas formativo. Ele deve
incluir a exortação, a repreensão, a ordenação, a prática e tudo o mais que
conduza à expressão de uma verdadeira obediência prática aos mandamentos de
Cristo, por parte daqueles que estão sendo ensinados. Pois, do mesmo modo que
uma fonte de águas cristalinas não terá qualquer proveito para nós, por uma
simples contemplação; de igual modo, as coisas ensinadas são para ser
experimentadas, sendo aplicadas às nossas vidas, para que se cumpra o propósito
divino em nos transmitir a vida de Cristo, para que vivamos por ela.
15 O bom senso alcança favor; mas o caminho dos prevaricadores é áspero:
Este provérbio
revela claramente, que onde não há um viver obediente a Deus, não há qualquer
graça para ser recebida da sua parte.
A sua graça e
o seu favor são concedidos somente àqueles que procuram viver de modo sensato,
segundo os preceitos do evangelho.
Os que
prevaricam, ou seja, os que não cumprem e respeitam seus mandamentos, não
possuem em seu caminho o óleo da graça, senão a aspereza e aridez do deserto
pelo qual caminham todos os que vivem em desobediência a Deus.
O caminho dos
pecadores é áspero e desconfortável, e, por esta razão desagradável para si mesmos, porque é também inaceitável para os outros.
Este caminho
não pode ser agradável e bom, porque o caminho do pecado é o da escravidão e
perdição. Aquele que não é livre, por não ter sido libertado por Jesus Cristo,
que é o único que pode nos livrar desta condição, não pode estar consciente, e justamente
satisfeito com as coisas que sucedem em sua vida.
Isto, sem
levar em conta os ataques de demônios que sofrem no caminho da servidão, sobre
os quais não têm qualquer poder em si mesmos para serem livrados, como aqueles
que são livrados pelo poder de Jesus Cristo.
16 Em tudo o homem prudente procede com conhecimento; mas o tolo espraia
a sua insensatez.
Felizes são
aqueles que são confirmados na fé, de modo a aprenderem não somente a
prudência, como também tudo o mais que se refere ao fruto do Espírito Santo
(domínio próprio, paciência, paz, longanimidade, bondade, etc).
Estando
confirmado em toda boa palavra e obra, por habitar nele ricamente a Palavra de
Cristo, e o pleno conhecimento de todos os preceitos de Deus, ele norteará sua
conduta por estes princípios e será prudência para ele, especialmente quando
estiver na presença dos ímpios.
A prudência
vem de um estado de vigilância e cautela em todo o proceder, avaliando calma e
adequadamente, o resultado possível de cada palavra proferida ou decisão
tomada.
Além disso,
pode contar com a instrução do Espírito Santo guiando sua mente e coração, para
que no que depender dele, possa viver em paz com todos os homens.
Aqui se
aplica, a recomendação de nosso Senhor Jesus Cristo a seus discípulos, a terem
a simplicidade da pomba misturada à prudência da serpente, uma vez que vivem
num mundo em que são atacados por lobos vorazes.
A pomba não
retruca os ataques sofridos, e a serpente se desvia de possíveis confrontos com
aqueles que lhe possam fazer mal. Tão importante é esta recomendação do Senhor,
especialmente em nossos dias, que julgamos conveniente acrescentar a este
comentário o relativo ao texto de Mateus 10.16-42:
“16 Eis que vos envio como ovelhas ao
meio de lobos; portanto, sede prudentes como as serpentes e simples como as
pombas.
17 Acautelai-vos dos homens; porque
eles vos entregarão aos sinédrios, e vos açoitarão nas suas sinagogas;
18 e por minha causa sereis levados à
presença dos governadores e dos reis, para lhes servir de testemunho, a eles e
aos gentios.
19 Mas, quando vos entregarem, não
cuideis de como, ou o que haveis de falar; porque naquela hora vos será dado o
que haveis de dizer.
20 Porque não sois vós que falais, mas
o Espírito de vosso Pai é que fala em vós.
21 Um irmão entregará à morte a seu
irmão, e um pai a seu filho; e filhos se levantarão contra os pais e os
matarão.
22 E sereis odiados de todos por causa
do meu nome, mas aquele que perseverar até o fim, esse será salvo.
23 Quando, porém, vos perseguirem numa
cidade, fugi para outra; porque em verdade vos digo que não acabareis de
percorrer as cidades de Israel antes que venha o Filho do homem.
24 Não é o discípulo mais do que o seu
mestre, nem o servo mais do que o seu senhor.
25 Basta ao discípulo ser como seu
mestre, e ao servo como seu senhor. Se chamaram Belzebu ao dono da casa, quanto
mais aos seus domésticos?
26 Portanto, não os temais; porque nada
há encoberto que não haja de ser descoberto, nem oculto que não haja de ser
conhecido.
27 O que vos digo às escuras, dizei-o
às claras; e o que escutais ao ouvido, dos eirados pregai-o.
28 E não temais os que matam o corpo, e
não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno
tanto a alma como o corpo.
29 Não se vendem dois passarinhos por
um asse? e nenhum deles cairá em terra sem a vontade de vosso Pai.
30 E até mesmo os cabelos da vossa
cabeça estão todos contados.
31 Não temais, pois; mais valeis vós do
que muitos passarinhos.
32 Portanto, todo aquele que me
confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai, que
está nos céus.
33 Mas qualquer que me negar diante dos
homens, também eu o negarei diante de meu Pai, que está nos céus.
34 Não penseis que vim trazer paz à
terra; não vim trazer paz, mas espada.
35 Porque eu vim pôr em dissensão o
homem contra seu pai, a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra;
36 e assim os inimigos do homem serão
os da sua própria casa.
37 Quem ama o pai ou a mãe mais do que
a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é
digno de mim.
38 E quem não toma a sua cruz, e não
segue após mim, não é digno de mim.
39 Quem achar a sua vida perdê-la-á, e
quem perder a sua vida por amor de mim acha-la-á.
40 Quem vos recebe, a mim me recebe; e
quem me recebe a mim, recebe aquele que me enviou.
41 Quem recebe um profeta na qualidade
de profeta, receberá a recompensa de profeta; e quem recebe um justo na
qualidade de justo, receberá a recompensa de justo.
42 E aquele que der até mesmo um copo
de água fresca a um destes pequeninos, na qualidade de discípulo, em verdade
vos digo que de modo algum perderá a sua recompensa.” (Mateus 10.16-42)
Depois das instruções para a missão
temporária que havia dado aos doze, quando lhes enviou a pregar somente em
Israel, durante Seu ministério terreno, nosso Senhor passou a relacionar os
sofrimentos dos Seus ministros na realização do trabalho, em todos os períodos
da história da Igreja, a começar pelas perseguições que sofreriam da parte dos
próprios judeus, logo após o derramar do Espírito no dia de Pentecostes, que
culminariam com as grandes aflições que os ministros de Cristo terão que
suportar próximo da Sua segunda vinda.
Para suportarem tais perseguições e
aflições, os discípulos de Cristo devem aprender a renunciar à sua própria
vida, amando-O acima de tudo e de todos, sabedores que até mesmo no meio de
seus familiares segundo a carne sofrerão resistências, por causa do seu amor a
Cristo e à justiça do evangelho, conforme nosso Senhor nos advertiu nesta
passagem.
Isto é necessário
para que se possa perseverar na fé e na doutrina de
Cristo.
Há grande recompensa para todos os que
forem fiéis a Deus, e contribuírem para o avanço do reino de Cristo na terra,
de modo que até mesmo um copo de água fresca dado a alguém empenhado na obra do
Senhor, terá a sua recompensa.
Está determinado por Deus,
que a obra do evangelho avance em meio a perseguições e tribulações.
E, por serem semelhantes ao Seu Senhor, os cristãos serão
odiados por muitos não
cristãos, estando encarregados de pregar o evangelho como
ovelhas no meio de lobos, motivo pelo qual não devem ser ingênuos, mas
prudentes, enquanto mantêm a simplicidade que é devida a Cristo.
A prudência da serpente foi recomendada,
porque quando diante de um agressor em potencial, ela não passa a atacá-lo, mas
se retira prudentemente.
De igual modo, os cristãos devem evitar
confrontos desnecessários com os que se opõem à pregação do evangelho.
A vontade do Senhor é a de que Seus
servos não devem se expor desnecessariamente, a dificuldades que sofrem normalmente
neste mundo, e por isso lhes recomendou a prudência das serpentes e a
inofensividade das pombas com vistas à preservação deles.
A inofensividade das pombas é
recomendada ao lado da prudência das serpentes, porque quando estas últimas são
atacadas, também revidam ao ataque, mas os cristãos, tal como as pombas não
devem revidar os ataques que lhes são desferidos.
Estevão, o primeiro mártir do
Cristianismo foi conduzido ao sinédrio, para ser julgado e condenado à morte
por apedrejamento, pelos seus próprios compatriotas, de maneira que com isto,
começou a se dar cumprimento à profecia do Senhor do verso 17, de que os
discípulos seriam conduzidos aos sinédrios, que era a corte judaica para o
julgamento de questões religiosas relativas aos judeus.
De igual modo, a profecia de que seriam
açoitados nas sinagogas, foi experimentada não apenas por Paulo, como também
por outros, conforme testemunho que encontramos na Bíblia e na história da Igreja.
Paulo se refere em II Cor 11.24, quanto
a ter recebido o total de 195 chibatadas dos judeus, provavelmente em suas
sinagogas, em cinco ocasiões diferentes, por causa do evangelho.
O próprio chefe da sinagoga de Corinto,
chamado Sóstenes foi açoitado pelos judeus por ter-se convertido a Cristo (At
18.17).
Paulo foi perseguido intensamente pelos
judeus, aos quais pregou em suas sinagogas espalhadas pelo mundo antigo, e foi
conduzido à presença de governadores e reis, pelo desígnio prévio do Senhor para
lhes servir de testemunho, tanto a eles quanto aos gentios (v. 18).
Todavia, em meio a todas as
perseguições que sofreram, e ainda têm sofrido, os ministros e demais servos do
Senhor têm sido capacitados pelo Espírito Santo, não necessariamente para livrá-los,
mas para darem um testemunho corajoso relativo a Cristo, tal como havia feito
Estevão no passado.
Para muitos, a chamada para dar
testemunho do evangelho significará colocar em risco até mesmo a segurança
relativa à própria vida. Todavia, o Senhor nos ordena que não temamos aqueles
que podem somente tirar a vida do corpo, e nada mais podem fazer além disso.
Somente Deus deve ser temido quanto ao nosso destino eterno, porque é Ele que
tem o poder de lançar não somente o corpo, como também o espírito no inferno.
O cristão está a serviço de Deus e Ele
o manterá em vida neste mundo, até que cumpra o ministério que lhe tem
designado para ser cumprido.
Se até dos pássaros que são seres dos
quais Deus cuida apenas providencialmente, não como Pai, de quanto mais não
cuidará dos cristãos que são Seus filhos (v. 29).
Nenhum pássaro morrerá, se não for
permitido por Deus, mas nenhum de seus filhos será morto por seus perseguidores,
se não houver uma permissão e um propósito específico de Deus nisto. De modo
que, nosso Senhor expressou o cuidado de Deus em relação a Seus filhos com as
seguintes palavras:
“30 E até mesmo os cabelos da vossa
cabeça estão todos contados.
31 Não temais, pois; mais valeis vós do
que muitos passarinhos.”
Diante de tal cuidado, a missão de todo
cristão é confessar Cristo diante dos homens. Devem ser conhecidos na condição
de Seus servos e proclamarem o evangelho às claras, de cima dos eirados.
São estes que confessam Cristo como
Senhor e Salvador deles, que são os que Ele também confessa como sendo Seus
diante do Pai, nos céus.
Por conseguinte, todos os que não
conhecem ao Senhor, e que não O confessam diante dos homens, não podem contar
com tal confissão de Cristo em relação a eles, na presença do Pai.
Tal confissão
de Cristo não se trata simplesmente de abrir a boca e pregar o
evangelho a outros, mas antes, e sobretudo ter o testemunho de uma vida
transformada e que seja obediente à Sua vontade, conforme se infere das Suas
seguintes palavras:
“38 E quem não toma a sua cruz, e não
segue após mim, não é digno de mim.
39 Quem achar a sua vida perdê-la-á, e
quem perder a sua vida por amor de mim achá-la-á.”
Quanto não se pode dizer acerca do significado
de se tomar a cruz, negar-se a si mesmo e seguir o Senhor.
17 O mensageiro perverso faz cair no mal; mas o embaixador fiel traz
saúde.
Temos aqui, as
consequências danosas de se trair
a confiança. O embaixador perverso, que, sendo
enviado como mensageiro da autoridade de seu país, que o destacou para tratar
de qualquer assunto em seu nome, mas em vez de agir fielmente às suas ordens, e
seguindo a perversidade dos intentos de seu coração por iniciativa própria, ou
em conluio com outras autoridades locais, na busca de seus interesses egoístas
e maus, trazem o mal para toda uma população.
Isto foi
testemunhado muitas vezes na história das nações, e ainda se repete no mundo,
quando cônsules agem de um modo, que trai as funções das quais estão
encarregados.
Nada é mais
odioso para os próprios homens e para Deus, do que aqueles que traem a
confiança depositada neles. Quantos males teriam sido evitados no mundo, caso
houvesse lealdade e fidelidade por parte daqueles que não honraram o seu cargo
de embaixadores.
Agora, se o
crente é embaixador de Cristo neste mundo, quanto mal ele pode produzir, caso
não transmita fielmente a mensagem do evangelho da qual está encarregado pelo
Seu Senhor, de transmitir a todos?
Se ele não tem
o cuidado de preservar a mensagem em sua inteireza e estudá-la, para fazer uma
fiel exposição aos seus ouvintes, certamente Deus exigirá que preste contas a
Ele da sua má mordomia. Por isso se diz no provérbio, que o mensageiro fiel
traz saúde em vez do mal.
É a sua
fidelidade à mensagem que tem que transmitir, e ao Senhor que o encarregou, que
é o motivo deste bem consequente que advém em entregá-la.
18 Pobreza e afronta virão ao que rejeita a correção; mas o que guarda a
repreensão será honrado.
Não podemos esquecer,
que Deus havia dado sabedoria a Salomão como a nenhum outro homem na face da
terra, conforme lhe fizera a promessa de atender ao seu pedido, de lhe dar um
coração sábio e justo para conduzir o povo de Israel. Como Israel era governado
pelas leis de Deus, especialmente as reveladas no Pentateuco, é notório que
Salomão era instruído em toda a Lei de Moisés, e muito do que temos escrito em
seus provérbios é uma aplicação da citada Lei, como este que temos agora diante
de nós.
Ao falar em rejeição
de correção, e aceitação de repreensão, ele reporta especialmente ao conteúdo
do texto de Levítico 19.16-18, que apresenta em conjunto mandamentos relativos
ao amor ao próximo como a si mesmo, não espalhando notícias para ferir sua
honra e para semear discórdias (v. 16a); não agir para tirar-lhe a vida (v.
16b); os danos recebidos em vez de serem motivo para se abrigar ódio no coração
contra quem o praticou, deveriam ensejar somente a repreensão de quem o
praticou (v. 17), de modo que um erro não conduzisse a outro erro pior, porque
o ódio abrigado no coração contra alguém é visto por Deus, como o próprio crime
de homicídio (Mt 5.21,22).
“16 Não andarás como
mexeriqueiro entre o teu povo; nem conspirarás contra o sangue do teu próximo.
Eu sou o Senhor.
17 Não odiarás a teu
irmão no teu coração; não deixarás de repreender o teu próximo, e não levarás
sobre ti pecado por causa dele.
18 Não te vingarás
nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a
ti mesmo. Eu sou o Senhor.” (Lev 19.16-18)
Veja como o Senhor
associa a repreensão à demonstração de um ato prático de amor ao próximo, e
como sendo um dever para todos aqueles que virem que seus irmãos estão
trilhando por caminhos que não são os de Deus, pois, especialmente no período
do Velho Testamento, havia duros juízos que deveriam ser aplicados sobre
aqueles que andassem desordenadamente, como sendo uma forma de ilustrar para
nós, a quem os últimos dias têm chegado, que Deus não terá por inocente e
julgará a todos os que viveram na iniquidade.
Então, a repreensão
além de ser uma demonstração de um gesto de amor, é um meio de cura para o que
anda errado. Deus honrará aquele que aceitar a repreensão e emendar seu modo de
caminhar, especialmente quando isto se refere à conversão a Cristo, quando será
honrado da forma mais elevada possível, que é a de ser tornado filho de Deus.
19 O desejo que se cumpre deleita a alma; mas apartar-se do mal é
abominação para os tolos.
Quando Agostinho filosofava a
respeito do que consistiria de fato, a felicidade do homem, com sua mãe Mônica
e outros filósofos, eles concluíram que assim como o corpo é mais saudável,
quando se alimenta corretamente das coisas materiais que lhe são necessárias, a
alma se alimenta do conhecimento e da sabedoria, e chegaram à conclusão de que,
quanto maior fosse este conhecimento e esta sabedoria, mais a alma estaria
feliz e satisfeita.
Alguém entre eles lembrou que,
entretanto deveria ser levado em conta a qualidade desta sabedoria e deste
conhecimento, porque se fossem para o mal, não poderiam fazer de fato, qualquer
bem à alma, e lhe trazer uma real felicidade.
Somente no capítulo final do
livro, Agostinho apresentou a conclusão de que Deus é a medida perfeita e plena
que pode satisfazer a alma, que será tanto mais feliz quanto mais se aproximar
da medida cujo padrão é o próprio Deus.
Assim, apesar de ser verdadeiro o
que o provérbio afirma, que a alma se deleita quando aquilo que deseja se
cumpre, pois até mesmo o insensato fica satisfeito quando obtêm aquilo que
pensa que lhe fará feliz, no entanto,
realmente só contribuirá para o seu mal e perdição.
Por isso o provérbio acrescenta,
que para os tolos o ato de se afastar do mal é uma abominação, pois não têm
qualquer desejo neste sentido, uma vez que se encontram escravizados a seus
vícios e pecados, os quais, quando consumados lhes dão prazer carnal.
Bem faremos então, em não sermos
guiados por nossos sentimentos, vontades e emoções, senão pelos preceitos da
Palavra de Deus, ainda que contrariem frontalmente os nossos desejos, pois
nisto há a verdadeira felicidade, já que a rejeição do mal e a renúncia aos
desejos pecaminosos do nosso ego, nos conduzirá a experimentar uma doce
comunhão com Deus, a qual é o verdadeiro e permanente deleite da alma.
A alma muito deseja, mas deve ser
trazida em sujeição pelo Espírito Santo, e pelo nosso próprio espírito em
comunhão com Deus.
20 Quem anda com os sábios será sábio; mas o companheiro dos tolos sofre
aflição.
Há dois
ditados que parece terem sido extraídos deste provérbio:
1 – Anda com
os bons e serás um deles, e,
2 – Quem com
porcos se mistura farelo come.
O sábio não
está livre de sofrer aflições, pois são o legado deixado por Cristo para os
justos, em razão de terem que carregar diariamente a sua cruz. Estas aflições
estão determinadas para o seu aperfeiçoamento, sobretudo em paciência e aumento
da confiança na fidelidade de Deus. Todavia, como diz o apóstolo Pedro, são
aflições por amor a Cristo e ao evangelho que trazem um peso de glória embutido
nelas, e não as aflições que
experimentarão aqueles que andarem na companhia dos tolos, porque sofrerão como
malfeitores pelas coisas más e tolas que virão também a praticar, por andarem
na companhia deles.
A palavra de
Deus condena a acepção de pessoas quanto à transmissão do evangelho, mas impõe
o afastamento da comunhão de todo aquele que dizendo-se servo de Cristo ande
desordenadamente, pois dificilmente o mau se deixará influenciar pelo bom, pois
praticar o mal é algo que é inerente à nossa natureza terrena, mas o bem é
mantido por esforço e devoção a Deus, e deste podemos ser desviados facilmente
quando permitimos ser influenciados pelo exemplo e comportamento daqueles que
não andam em conformidade com os mandamentos de Deus.
21 O mal persegue os pecadores; mas os justos são galardoados com o bem.
A Bíblia nos
ensina que o pecado nos assedia muito de perto, pois está ligado à nossa
natureza terrena.
Fazem bem,
portanto, todos os que têm crucificado a carne com suas paixões, mortificando o
pecado diariamente, porque este é um mal do qual nunca estaremos perfeitamente
livrados, enquanto estivermos neste mundo.
Aqueles que
vivem na prática deliberada do pecado, são continuamente perseguidos pelo mal
que lhes sobrevém como frutos de suas próprias ações, ou como juízos de Deus.
Porém, os que andam na justiça de Cristo e do evangelho são recompensados pelo
bem, quer pelo fruto direto de suas ações, quer pelas bênçãos que Deus tem
prometido conceder àqueles que procederem retamente.
22 O homem de bem deixa uma herança aos filhos de seus filhos; a riqueza
do pecador, porém, é reservada para o justo.
Não há maior e
melhor herança que o homem de bem pode deixar para seus descendentes, do que um
bom nome, e não somente o nome de alguém que foi honesto em todo o seu
proceder, mas sobretudo por ter sido conhecido como um verdadeiro santo de
Deus.
Boa parte
desta herança consiste na boa instrução evangélica, que transmitiu com todo o
fervor a seus filhos, pois Deus honrará o seu testemunho, movendo o coração
deles para imitá-lo nesta parte.
Suas orações, devoções,
seu amor e retidão, e seu bom exemplo serão uma herança que não pode ser
destruída pelo ladrão, ou pela traça e a ferrugem.
Tudo o que o
ímpio tem juntado como riqueza em relação aos bens terrenos, não ficará na sua
posse nem da sua descendência, pois serão desarraigados da terra quando Jesus estabelecer
seu reino de justiça no milênio, de modo que tudo o que edificaram será herdado
por aqueles que reinarão juntamente com Cristo.
23 Abundância de mantimento há, na lavoura do pobre; mas se perde por
falta de juízo.
Alguém já
disse com muita propriedade, que o difícil não é obter, mas manter.
Deus tem sido
abundantemente pródigo, em fornecer todos os meios necessários para que os
homens abundem em toda a sorte de bens, quer materiais, quer espirituais.
Agora, a negligência,
a falta de juízo, a ociosidade e falta de operosidade serão as principais
causas do desperdício de tudo o que se tiver obtido, quer material, ou
espiritualmente falando.
É pelo
trabalho continuo e diligência em cumprir tudo o que é necessário à manutenção
e crescimento dos nossos dons e fazenda, que eles são preservados. A má
administração de recursos é a causa da ruína em muitos lares, e nem tanto a pequenez do salário que se ganha.
Muitos são os
que gastam mais do que lhes permitem as suas posses, e ficam nas mãos de
agiotas e agentes financeiros que complicam ainda mais a sua condição
financeira. Deus odeia o desperdício, e ama ver que somos econômicos e
criteriosos em tudo o que fazemos. Jesus nos deixou este exemplo, quando mandou
recolher as sobras dos pães e peixes com os quais havia alimentado mais de
cinco mil pessoas, e ao que tudo indica foi esta sobra a refeição que coube aos
seus apóstolos, depois de terem feito a distribuição ao povo.
24 Aquele que poupa a vara aborrece a seu filho; mas quem o ama, a seu
tempo o castiga.
Tem sido objeto de grande disputa
e contradição, especialmente pela psicologia moderna, as palavras “vara” e
“castigo” contidas neste provérbio.
Em face da incorreta aplicação do
provérbio, não pelo seu conhecimento, mas pela iracunda disposição de certos
pais, leis têm sido inclusive, promulgadas com o fito de coibir e punir os
excessos praticados por eles nas injúrias físicas e emocionais cometidas contra
seus filhos, a pretexto de lhes estarem corrigindo, quando na verdade estão
despejando sobre eles a sua fúria.
Evidentemente, não é a isto que o
sábio se refere neste provérbio, pois toda disciplina dos pais em relação a
seus filhos é ordenada por Deus, que seja feita por amor a eles, com toda a
longanimidade (ser tardio em se irar) e segundo a sã doutrina das Escrituras.
O que se prescreve então, não é
um espancamento pelo simples empunhar de uma vara ameaçadora e produtora de
ferimentos na alma e no corpo, mas a repreensão da falta praticada, a instrução
do modo correto como se deve proceder, e nos casos extremos de não aceitação da
instrução por uma rebeldia latente, requer-se daqueles que foram investidos
como autoridades sobre seus filhos, por Deus, a adoção de medidas mais
rigorosas que lhes faça temer a repetição do ato praticado, sem que
necessariamente se produza qualquer tipo de dano físico ou emocional.
Lembremos que à vara
(instrumento) da correção que o
provérbio se refere, deve estar nas mãos de pais amorosos, e não de servos ou
de estranhos.
Deus ama as crianças e afirma que
o reino dos céus lhes pertence. Jesus as abençoava e a nenhuma fustigou com
varas. Somos chamados a seguir seu exemplo; e como poderíamos agir de modo
contrário, mesmo em face da rebelião de nossos filhos?
A admoestação aplicada com amor
produzirá melhores resultados do que uma surra física. Esta correção é uma verdadeira prova de amor, pois tem por fim o bem
daqueles que são a ela submetidos.
Alguém disse
com muita propriedade que corrigia sempre seus filhos, para que eles não
necessitassem ser corrigidos ou castigados pela mão impiedosa do mundo.
Quanto ao
castigo do provérbio, bem como o uso da mesma palavra na epístola aos Hebreus,
que Deus castiga seus filhos a quem ama, deve ser entendido, não como um ato
humilhante e vingativo aplicado sobre o faltoso, mas o exercício de uma
disciplina rigorosa que use todos os meios adequados graves, quando os suaves
não surtirem o efeito desejado.
A omissão em
corrigir e deixar os filhos entregues a si mesmos na prática de seus males, é a
maior prova de falta de verdadeiro amor por eles, porque aquele que ama sempre
corrige.
25 O justo come e fica satisfeito; mas o apetite dos ímpios nunca se
satisfaz.
É dito que
quanto mais se tem, mais se quer. Isto é verdadeiro quanto aos nossos desejos
carnais, pois a alma carnal não possui limites que possam satisfazê-la.
Assim, a
cobiça dos ímpios por ser carnal, nunca cessará de desejar mais e mais, e isto
explica porque tantos corruptos se entregam a esta prática, acumulando riquezas
que parecem não ter fim, e nunca estão satisfeitos com aquilo que já alcançaram
por meios fraudulentos, e com isso, se expõem a serem apanhados pela justiça.
Eles simplesmente
não conseguem enxergar que, aquilo que possuem já é mais do que suficiente,
porém sempre acham que não têm ainda o bastante.
Isto pode ser
achado em outros níveis de corrupção de almas que cobiçam, ainda que em desejos
lícitos, mas que estão aprisionadas a eles como a cadeias das quais não podem
se livrar.
A alma somente
achará seu lugar de descanso e satisfação em Cristo; pois mesmo quando for
desprovida de tudo, ainda terá nele a sua verdadeira riqueza e satisfação.
O homem foi
criado para ter sua alma satisfeita somente na comunhão com seu Criador, de
forma que nada pode alimentá-la; nem bens materiais, fama, poder, e tudo o que
o ímpio almeja, pois sendo imaterial só pode ser alimentada e ficar satisfeita
com as coisas que são espirituais, as quais são eternas e permanentes em sua
própria natureza.
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