JOSUÉ 1
“1 Depois da morte de Moisés, servo
do Senhor, falou o Senhor a Josué, filho de Num, servidor de Moisés, dizendo:
2 Moisés, meu servo, é morto;
levanta-te pois agora, passa este Jordão, tu e todo este povo, para a terra que
eu dou aos filhos de Israel.
3 Todo lugar que pisar a planta do
vosso pé, vo-lo dei, como eu disse a Moisés.
4 Desde o deserto e este Líbano, até
o grande rio, o rio Eufrates, toda a terra dos heteus, e até o grande mar para
o poente do sol, será o vosso termo.
5 Ninguém te poderá resistir todos os
dias da tua vida. Como fui com Moisés, assim serei contigo; não te deixarei,
nem te desampararei.
6 Esforça-te, e tem bom ânimo, porque
tu farás a este povo herdar a terra que jurei a seus pais lhes daria.
7 Tão-somente esforça-te e tem mui
bom ânimo, cuidando de fazer conforme toda a lei que meu servo Moisés te
ordenou; não te desvies dela, nem para a direita nem para a esquerda, a fim de
que sejas bem sucedido por onde quer que andares.
8 Não se aparte da tua boca o livro
desta lei, antes medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer
conforme tudo quanto nele está escrito; porque então farás prosperar o teu
caminho, e serás bem sucedido.
9 Não to mandei eu? Esforça-te, e tem
bom ânimo; não te atemorizes, nem te espantes; porque o Senhor teu Deus está
contigo, por onde quer que andares.
10 Então Josué deu esta ordem aos
oficiais do povo:
11 Passai pelo meio do arraial, e
ordenai ao povo, dizendo: Provede-vos de mantimentos, porque dentro de três
dias haveis de atravessar este Jordão, a fim de que entreis para tomar posse da
terra que o Senhor vosso Deus vos dá para a possuirdes.
12 E disse Josué aos rubenitas, aos
gaditas, e à meia tribo de Manassés:
13 Lembrai-vos da palavra que vos
mandou Moisés, servo do Senhor, dizendo: O Senhor vosso Deus vos dá descanso, e
vos dá esta terra.
14 Vossas mulheres, vossos pequeninos
e vosso gado fiquem na terra que Moisés vos deu desta banda do Jordão; porém
vós, todos os homens valorosos, passareis armados adiante de vossos irmãos e os
ajudareis;
15 até que o Senhor tenha dado
descanso: a vossos irmãos, assim como vo-lo deu a vós, e eles também tenham
possuído a terra que o Senhor vosso Deus lhes dá; então tornareis para a terra
da vossa herança, e a possuireis, terra que Moisés, servo do Senhor, vos deu
além do Jordão, para o nascente do sol.
16 Então responderam a Josué,
dizendo: Tudo quanto nos ordenaste faremos, e aonde quer que nos enviares
iremos.
17 Como em tudo ouvimos a Moisés, assim
te ouviremos a ti; tão-somente seja o Senhor teu Deus contigo, como foi com
Moisés.
18 Quem quer que se rebelar contra as
tuas ordens, e não ouvir as tuas palavras em tudo quanto lhe mandares, será
morto. Tão-somente esforça-te, e tem bom ânimo.” (Js 1.1-18).
Caso lêssemos a Bíblia a partir do
livro de Josué, desconsiderando tudo o que está escrito nos cinco livros que o
precedem, poderíamos pensar que todas as
ações que se desenrolarão com os israelitas sob Josué, e a maneira como ele foi extraordinariamente capacitado
por Deus para a tarefa que realizou, se deram exclusivamente em razão das
promessas feitas a ele e também pelo motivo da sua determinação em obter
bênçãos de Deus, para si, e para todo o povo de Israel.
Não podemos esquecer que Abraão,
Moisés e Josué, dentre outros, foram os personagens escolhidos pelo Senhor,
para levar a cabo o plano de redenção da humanidade, que Ele estabeleceu antes
mesmo da criação de todas as coisas, e que passaria antes pela formação de uma
nação (Israel), através da qual Ele se revelaria ao mundo.
Eles não eram portanto, homens
tentando fazer prevalecer a própria vontade e ministérios diante de Deus.
Não estavam agindo por conta própria
e de acordo com os seus próprios planos.
Eles estavam debaixo do cumprimento
de uma diretriz que o Senhor traçou nos Seus conselhos eternos.
Os israelitas deveriam conquistar e
tomar posse de Canaã com Josué, porque isto fora determinado pelo Senhor, e
revelado e prometido a Abraão, cerca de seiscentos anos antes dos dias de Josué.
Assim, este livro não começa com a
história da vida de Josué (há muitas passagens que se referem a ele no
Pentateuco), mas com o seu governo, dando seguimento ao cumprimento do desígnio
de Deus, que havia começado desde os patriarcas.
Por isso se destaca logo no primeiro
versículo do livro, que Moisés era servo do Senhor, e que Josué era servidor de
Moisés; indicando que Josué deveria dar seqüência ao que Deus havia começado
com Moisés, e indica-se também que tudo o que Moisés havia feito, foi realizado
pelo mandado e pela vontade de Deus.
Embora as palavras usadas neste
primeiro versículo, para indicarem a condição de serviço de Moisés a Deus, e de
Josué a Moisés, serem de raízes diferentes no hebraico (ebed, servo, para
Moisés, em relação a Deus, e sharath, servidor, para Josué, em relação a
Moisés) ambas indicam a condição de estar a serviço de alguém.
De igual modo, os verdadeiros ministros do
evangelho, que têm sido chamados por Ele para o ministério, não estão fazendo
uma obra que é propriamente deles, mas estão cumprindo algo que Deus havia
determinado fazer antes dos tempos eternos.
Eles foram chamados para cumprirem o
ministério que o Senhor designou para cada um deles, antes mesmo que lhes
tivesse formado no ventre, tal como se deu com Jeremias, com Paulo, João
Batista, e todos os que são chamados para serem os guias do rebanho do Senhor,
em sua caminhada rumo à Canaã celestial.
Um ministro autêntico deve ter sido portanto,
chamado a partir do céu. Ninguém que tenha sido feito líder pela mera vontade
dos homens, estará fazendo de fato o que se pode chamar de a obra de Deus,
porque os que a conduzem devem ter sido chamados obrigatoriamente, do alto, e
cumprirem fielmente as ordens do grande General ao qual estão servindo.
“Ora, ninguém toma para si esta
honra, senão quando é chamado por Deus, como o foi Arão.” (Hb 5.4).
“E ele deu uns como apóstolos, e
outros como profetas, e outros como evangelistas, e outros como pastores e
mestres,” (Ef 4.11).
“Cuidai pois de vós mesmos e de todo
o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para
apascentardes a Igreja de Deus, que ele adquiriu com seu próprio sangue.” (At
20.28).
A propósito, cabe destacar que em
razão da natureza terrena, sujeita ao pecado, e especialmente ao do orgulho,
tem-se perdido de vista o verdadeiro significado da chamada ao ministério, que
não é para dominar, senão para servir.
E o próprio Senhor Jesus Cristo deu o
exemplo máximo de serviço a Deus e aos homens, tendo tomado a forma de um
servo. E Ele se colocou também debaixo da Lei de Moisés e a cumpriu como um
servo completamente obediente a Deus.
Foi por conhecer perfeitamente esta
realidade relativa ao Senhor e à Sua Igreja, que o apóstolo Pedro disse o
seguinte aos presbíteros da Igreja: “Aos anciãos, pois, que há entre vós, rogo
eu, que sou ancião com eles e testemunha dos sofrimentos de Cristo, e
participante da glória que se há de revelar: Apascentai o rebanho de Deus, que
está entre vós, não por força, mas espontaneamente segundo a vontade de Deus;
nem por torpe ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores sobre os que
vos foram confiados, mas servindo de exemplo ao rebanho.” (I Pe 5.1-3).
Assim, quando Deus falou com Josué
para lhe dar instruções e palavras de encorajamento, para cumprir a missão de
ser sucessor de Moisés, da qual havia sido encarregado antes mesmo da sua
morte, Ele chamou Moisés de “meu servo” (v. 2), indicando assim a Josué que Ele
também estaria a Seu serviço, tanto quanto estivera Moisés.
Haveria uma tarefa grandiosa a ser
cumprida, e Josué deveria se cuidar, e guardar-se principalmente do espírito de
exaltação, permanecendo todo o tempo em humildade diante do Senhor, para poder
conhecer e cumprir a Sua vontade.
E esta é uma tentação à qual estão
sujeitos todos os que estão investidos de posição de autoridade, seja em seus
próprios lares como cabeças de família, seja na Igreja, como oficiais e
obreiros; pois não podemos esquecer o exemplo que nos foi deixado por Jesus e
pelos apóstolos, e tudo quanto o Senhor nos tem ordenado em Sua Palavra, acerca
deste assunto.
“Jesus, pois, chamou-os para junto de
si e lhes disse: Sabeis que os governadores dos gentios os dominam, e os seus
grandes exercem autoridade sobre eles. Não será assim entre vós; antes,
qualquer que entre vós quiser tornar-se grande, será esse o que vos sirva; e
qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, será vosso servo; assim como o
Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua
vida em resgate de muitos.” (Mt 20.25-28).
Este ensino de Jesus foi ensejado
pelo pedido equivocado da mãe de Tiago e de João, que desejava que seus filhos
ocupassem uma posição de mando e de destaque em relação aos demais apóstolos.
O Senhor ensinou que há uma posição
de autoridade em Seu corpo que é determinada previamente por Deus Pai, mas que
esta posição não é de dominação, mas de serviço em amor e humildade àqueles
sobre os quais Deus nos tenha constituído como ministros.
A propósito, a palavra para
ministério, no original grego, na maior parte de suas ocorrências, vem de
diakonia, que significa serviço (At 1.17; Rm 11.13; II Cor 6.3 etc). Assim, até
mesmo o ministério de governo da Igreja, é um ministério de liderança com o
caráter de serviço debaixo do governo de Deus, a quem todos os ministros terão
que prestar contas da sua fidelidade.
“Obedecei a vossos guias, sendo-lhes
submissos; porque velam por vossas almas como quem há de prestar contas delas;
para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil.”
(Hb 13.17).
Josué foi dado por Deus como guia do
povo de Israel, no lugar de Moisés, e os israelitas deveriam obedecê-lo em
tudo, porque lhes estaria servindo, para fazerem não a sua própria vontade
pessoal, mas a de Deus, a quem ele estava servindo, e a quem ele prestaria contas
de todos os seus atos.
E é exatamente a colocação destas
verdades da parte do Senhor a Josué, que nós encontramos neste primeiro
capítulo até o nono versículo.
No final do livro de Deuteronômio nós
vimos que o povo se encontrava acampado nas campinas de Moabe, na
Transjordânia, e que Moisés morreu no monte Nebo, que ficava situado naquela
região.
E agora, talvez logo depois do luto
de trinta dias que os israelitas guardaram pela sua morte, é ordenado pelo
Senhor a Josué que atravessasse o rio Jordão (v. 2), e esta ordem, em si mesma,
era um desafio à fé de Josué, porque não havia como atravessar o Jordão, pelo
menos não naquela época, conforme se descreve em Js 3.15, quando eles
atravessaram o rio: “e quando os que levavam a arca chegaram ao Jordão, e os
seus pés mergulharam na beira das águas (porque o Jordão transbordava todas as
suas ribanceiras durante todos os dias da sega),”.
Não restava pois a Josué a
alternativa de crer que Deus proveria para eles um modo de atravessar o rio,
assim como havia feito nos dias de Moisés, para atravessarem o Mar Vermelho.
Eles poderiam ter passado para o
outro lado do Jordão, contornando o Mar Morto ao Sul, mas teriam que empreender
uma grande viagem, e retornando para o local de onde haviam partido.
Todavia, a ordem de Deus indicava que
eles deveriam seguir adiante e vencer, com o Seu auxílio, os obstáculos que
estavam diante deles, de modo que isto serviria para fortalecer a sua fé no
Senhor, especialmente quanto a que estaria com eles nas batalhas que teriam que
empreender em Canaã.
Nos versos 2 e 3 Deus fala a Josué da
terra que deu aos filhos de Israel, e que lhes daria todo lugar que pisasse a
planta dos pés deles.
Deus dá porque é a Ele que pertencem
todas as coisas.
Deus dá bens, saúde, alegria, paz, enfim,
todas as coisas boas, sejam elas materiais ou espirituais.
Ninguém entraria na posse de cousa
alguma se não lhe fosse concedida ou permitida a posse por Deus.
É neste sentido que Ele disse ao
primeiro casal que lhes estava dando o governo sobre todos os seres da terra.
É muito fácil esquecermos que até
mesmo o ar que respiramos nos foi dado por Deus, assim como a capacidade de
respiração, e deveríamos ser-lhes gratos por isto e por tudo o mais.
Os males que deixamos de receber
porque Ele nos concedeu livramento pela Sua bondade e misericórdia, deveria ser
motivo para uma permanente gratidão e adoração.
O homem racionalista excluiu Deus
daquilo que chama de mundo material e natural, na criação, como que se Deus não
se ocupasse em cuidar e governar tudo aquilo que criou.
Muitos destes vêm a se converter
depois, e por isso o Senhor se ri do endurecimento deles, não por forma de
escarnecimento, mas de compaixão por sua cegueira, endurecimento e ignorância,
que perdurariam caso não tivesse misericórdia de se lhes revelar, pelo
Espírito.
Até mesmo sobre os pássaros do céu
Ele mantém permanente vigilância, não permitindo que nenhum deles caia sem a
Sua permissão.
Até mesmo os cabelos das nossas
cabeças estão contados, e Jesus disse isto para revelar o cuidado minucioso que
Deus tem relativamente à sua criação.
A posse de Canaã foi dada aos
israelitas por promessa de Deus aos patriarcas, e assim, Ele mesmo se
empenharia em lhes dar o que havia prometido (v.2 a 6).
É um grande erro tomar as promessas
feitas nestes versículos a Josué como sendo aplicáveis particularmente a ele.
Muito se tem pregado sobre estes
versículos do primeiro capítulo de Josué como exemplo de uma vida particular
bem sucedida.
E as pessoas são encorajadas a serem
como Josué, simplesmente para obterem as mesmas bênçãos que ele recebeu, como
por exemplo: “Todo lugar que pisar a planta do vosso pé, vo-lo dei, como eu
disse a Moisés.” (v.3).
Veja que aqui a promessa seria
cumprida conforme foi dito a Moisés, isto é, a posse da terra de Canaã, nos
limites que foram determinados por Deus, e que estão descritos no verso 4.
Deus não lhes dera o mundo todo.
E não temos portanto, diante de nós,
nenhuma promessa para alguém em particular, ou mesmo grupo de pessoas, que
aleguem que pela fé em Deus, todo o lugar em que pisarem, passa a ser do
domínio delas.
Veja que a promessa do verso 3 é
específica e se referia à ocupação de Canaã pelos israelitas.
Aquilo que Deus tiver designado como
nossa possessão, é nosso de fato, por direito divino, mas veja bem: aquilo que
Deus tiver designado, e não aquilo que nós tivermos simplesmente desejado.
Isto se aplica inclusive a áreas de
abrangência ministerial, pois até mesmo para os Seus ministros, Deus tem
delimitado as áreas de atuação dos respectivos ministérios.
Paulo tinha um pleno conhecimento
desta verdade e faz referência a ela em suas epístolas, como vemos por exemplo
em Rm 15.20: “deste modo esforçando-me por anunciar o evangelho, não onde
Cristo houvera sido nomeado, para não edificar sobre fundamento alheio;”.
E ainda, quando Deus está falando com
Josué, quanto às promessas e
encorajamentos que lhe fizera, nos versos 5 a 9, o que estava em vista não era
primariamente, o sucesso pessoal de Josué na vida, senão o que seria necessário
para que fosse cumprida a Sua vontade em relação ao que havia determinado fazer
em Israel.
Conseqüentemente, ninguém poderia
resistir a Josué todos os dias da sua vida (v. 5a), porque o Senhor confirmaria
a Sua liderança, não somente entre os opositores que se levantassem dentre os
próprios israelitas, como venceria através dele todas as nações inimigas de
Canaã.
Deus prometeu que nunca lhe deixaria
e desampararia, tal como agira em
relação a Moisés (v. 5b). E não podemos olhar para esta promessa fora do seu
contexto de aplicação, porque isto seria uma condição necessária para que Josué
pudesse cumprir a missão gigantesca da qual estava sendo incumbido por Deus.
A parte dele seria portanto,
esforçar-se e ter bom ânimo em meio a todas as grandes dificuldades com que se
depararia, porque o propósito de Deus não poderia ser frustrado de modo algum.
Josué e todo o povo de Israel veriam
a poderosa mão de Deus lutando a seu favor e realizando milagres tremendos para
que pudessem entrar na posse da terra prometida, mas teriam que permanecer
debaixo das ordens do Senhor, especialmente observando e cumprindo os Seus
mandamentos que lhes havia dado através de Moisés (v. 6, 7, 9).
Daí ter sido ordenado a Josué que não
deixasse de ensinar a Lei ao povo, e nem de meditar no livro da Lei dia e
noite, para que tivesse o cuidado diligente de dirigir os israelitas seguindo
estritamente tudo o que era ordenado a Israel na Palavra de Deus dada a Moisés.
Então, não seria apenas Josué que
seria bem sucedido nas suas realizações, mas toda a nação israelita, porque o
sucesso de Josué seria medido pelo sucesso de Israel em cumprir o que foi
ordenado pelo Senhor.
Portanto, a promessa de ser bem
sucedido por onde quer que andasse (v. 7b), porque Deus seria com ele em sua
caminhada (v. 9), era uma promessa, cujo cumprimento estava associado à
obediência da nação aos Seus mandamentos, e ela se dirigia particularmente às
muitas jornadas e campanhas de guerra, que os israelitas teriam em Canaã, até
conquistarem a terra por completo.
Precisamos da presença de Deus, não
somente quando estamos começando o nosso trabalho, mas também quando este está
progredindo, para ter uma ajuda ininterrupta.
Muitos fracassam no ministério porque
buscaram a ajuda de Deus somente para ingressarem nele, e não fizeram como
Paulo, que sempre pedia oração à Igreja, e orava muito, para que nunca ficasse
privado da presença poderosa e abençoadora do Senhor, que faz a Sua obra
através dos Seus ministros.
Se Deus é por nós, quem será contra
nós? Se Ele vai conosco, quem poderá nos resistir? Se a obra que fazemos não é
propriamente nossa, mas dEle, quem poderá impedi-la?
Nos versos 1 a 9, lemos as palavras
que foram ditas por Deus a Josué, e dos versos 10 a 15, as que foram ditas por
Josué aos oficiais de Israel, e especialmente aos rubenitas, gaditas e
manassitas, que haviam ocupado a Transjordânia nos dias de Moisés, e dos versos
16 a 18 as palavras que os israelitas disseram a Josué.
Vejamos então agora o que Josué disse
aos israelitas depois de ter ouvido o Senhor ter lhe falado o que está contido
nos versos 1 a 9.
Josué falou aos oficiais do povo,
isto é, aos seus supervisores, que haviam sido constituídos sobre eles desde os
dias de Moisés.
Deus sempre levantou e continuará
levantando supervisores para a Sua obra, especialmente para o encargo de guiar
o Seu povo (I Tim 3.1).
Portanto não é bíblica a idéia de que
todos são livres na Igreja para fazerem o que seja da sua própria vontade, sem
estarem em submissão a um governo eclesiástico formalmente constituído por
Deus.
Ainda que os oficiais sejam
levantados, como já dissemos, para servirem à Igreja, e pelo reconhecimento da
própria Igreja da Sua chamada por Deus, elegendo-os e empossando-os em seus
cargos, no entanto eles são servos num sentido elevado por causa da chamada
divina.
A excelência e suficiência dos
oficiais não é propriamente deles, porque são vasos de barro, mas é no entanto,
uma excelência e suficiência elevadamente superior à do homem e proveniente da
própria autoridade e poder do homem, porque ela tem a sua origem em Deus.
Pastores são servos da Igreja e não
empregados dos homens.
Eles prestam um serviço em humildade,
mas não para serem humilhados por aqueles aos quais estão servindo.
Vejam isto no exemplo de Jesus. Ele
diz que veio servir e não ser servido, e no entanto lembrou aos apóstolos que
Ele era o Mestre e Senhor deles. Isto não Lhe impediu de lavar os pés deles,
mas jamais tiveram a insensatez de que Ele estava abaixo deles, pelo que lhes
fizera.
Deste modo, os oficiais estavam
sujeitos a Josué (v. 10), assim como o povo estava sujeito aos oficiais e ao
próprio Josué (v. 11).
Por conseguinte, a palavra de Josué
aos oficiais, quanto à ordem que recebera de Deus não foi: “consultai ao povo
se eles desejam fazer o que Deus mandou”, mas, “ordenai ao povo” (v. 11) que se
provessem de mantimentos porque dentro de três dias atravessariam o Jordão, para tomarem posse da
terra que Deus lhes havia dado por herança.
E nesta ocasião, os guerreiros
rubenitas, gaditas e manassitas foram lembrados do seu dever de seguirem com as
demais tribos para lutarem em Canaã, deixando na Transjordânia suas mulheres,
filhos e gado, e até que Canaã fosse totalmente conquistada, não poderiam
retornar para as suas casas (v. 12-15).
A tarefa de conduzir o povo de Deus é
muito mais difícil e delicada do que a de dirigir qualquer empresa terrena,
porque um empresário escolhe por processo seletivo as pessoas com as quais
deseja trabalhar e pode dispensá-las segundo a sua própria conveniência; mas os
ministros de Deus têm que trabalhar com as pessoas que lhes foram dadas por
Deus, e terão que se empenharem muito para mantê-las firmes na fé e em unidade
no meio do povo do Senhor.
E o que poderiam fazer os ministros
quanto ao rebanho que está sob a respectiva supervisão, se não tivessem os
oficiais que são também levantados por Deus para auxiliá-los no cumprimento do
seu ministério?
É preciso ter este reconhecimento, a
saber, do quão valiosos são estes oficiais, para que o rebanho do Senhor possa
ser apascentado de modo adequado.
E a Igreja deve ser ensinada a
honrá-los e a lhes obedecer, para que as promessas e bênçãos de Deus possam ser
derramadas sobre todo o corpo de fiéis.
Assim, por terem aprendido
especialmente pelo exemplo do que sucedera há quarenta anos atrás com os seus
pais, que pela sua incredulidade haviam morrido no deserto e deixaram de entrar
em Canaã, porque o Senhor já não era com eles, esta nova geração de israelitas
sabia muito bem que a bênção de Deus está condicionada à obediência à Sua
vontade e Palavra, e por isso, os oficiais de Israel deram como resposta às
palavras de Josué, o seguinte:
“Então responderam a Josué, dizendo:
Tudo quanto nos ordenaste faremos, e aonde quer que nos enviares iremos. Como
em tudo ouvimos a Moisés, assim te ouviremos a ti; tão-somente seja o Senhor
teu Deus contigo, como foi com Moisés. Quem quer que se rebelar contra as tuas
ordens, e não ouvir as tuas palavras em tudo quanto lhe mandares, será morto.
Tão-somente esforça-te, e tem bom ânimo.” (v. 16 a 18).
Veja que condicionaram a sua obediência
irrestrita a Josué à comunhão de Josué com Deus, ou seja, na medida em que
vissem que a liderança de Josué era em conformidade com a vontade do Senhor,
obedeceriam tudo o que lhes fosse ordenado.
De igual modo a liderança dos
ministros na Igreja de Cristo é confirmada e atendida pelo próprio povo que
dirigem, na medida que é observado que fazem um trabalho segundo a Palavra e
vontade do Senhor.
Jesus é o capitão da nossa salvação e
nós temos que estar unidos a Ele e fazer tudo o que nos tem ordenado em Sua
Palavra, e ir aonde quer que Ele nos envie, pela Sua vontade.
JOSUÉ 2
“1 De Sitim Josué, filho de Num,
enviou secretamente dois homens como espias, dizendo-lhes: Ide reconhecer a
terra, particularmente a Jericó. Foram pois, e entraram na casa duma
prostituta, que se chamava Raabe, e pousaram ali.
2 Então deu-se notícia ao rei de
Jericó, dizendo: Eis que esta noite vieram aqui uns homens dos filhos de
Israel, para espiar a terra.
3 Pelo que o rei de Jericó mandou
dizer a Raabe: Faze sair os homens que vieram a ti e entraram na tua casa,
porque vieram espiar toda a terra.
4 Mas aquela mulher, tomando os dois
homens, os escondeu, e disse: é verdade que os homens vieram a mim, porém eu
não sabia donde eram;
5 e aconteceu que, havendo-se de
fechar a porta, sendo já escuro, aqueles homens saíram. Não sei para onde
foram; ide após eles depressa, porque os alcançareis.
6 Ela, porém, os tinha feito subir ao
eirado, e os tinha escondido entre as canas do linho que pusera em ordem sobre
o eirado.
7 Assim foram esses homens após eles
pelo caminho do Jordão, até os vaus; e, logo que saíram, fechou-se a porta.
8 E, antes que os espias se
deitassem, ela subiu ao eirado a ter com eles,
9 e disse-lhes: Bem sei que o Senhor
vos deu esta terra, e que o pavor de vós caiu sobre nós, e que todos os
moradores da terra se derretem diante de vós.
10 Porque temos ouvido que o Senhor
secou as águas do Mar Vermelho diante de vós, quando saístes do Egito, e também
o que fizestes aos dois reis dos amorreus, Siom e Ogue, que estavam além de
Jordão, os quais destruístes totalmente.
11 Quando ouvimos isso, derreteram-se
os nossos corações, e em ninguém mais há ânimo algum, por causa da vossa
presença; porque o Senhor vosso Deus é Deus em cima no céu e embaixo na terra.
12 Agora pois, peço-vos, jurai-me
pelo Senhor que, como usei de bondade para convosco, vós também usareis de
bondade para com a casa e meu pai; e dai-me um sinal seguro
13 de que conservareis em vida meu
pai e minha mãe, como também meus irmãos e minhas irmãs, com todos os que lhes
pertencem, e de que livrareis da morte as nossas vidas.
14 Então eles lhe responderam: A
nossa vida responderá pela vossa, se não denunciardes este nosso negócio; e,
quando o Senhor nos entregar esta terra, usaremos para contigo de bondade e de
fidelidade.
15 Ela então os fez descer por uma
corda pela janela, porquanto a sua casa estava sobre o muro da cidade, de sorte
que morava sobre o muro;
16 e disse-lhes: Ide-vos ao monte,
para que não vos encontrem os perseguidores, e escondei-vos lá três dias, até
que eles voltem; depois podereis tomar o vosso caminho.
17 Disseram-lhe os homens: Nós
seremos inocentes no tocante a este juramento que nos fizeste jurar.
18 Eis que, quando nós entrarmos na
terra, atarás este cordão de fio de escarlata à janela pela qual nos fizeste
descer; e recolherás em casa contigo teu pai, tua mãe, teus irmãos e toda a
família de teu pai.
19 Qualquer que sair fora das portas
da tua casa, o seu sangue cairá sobre a sua cabeça, e nós seremos inocentes;
mas qualquer que estiver contigo em casa, o seu sangue cairá sobre a nossa
cabeça se nele se puser mão.
20 Se, porém, tu denunciares este
nosso negócio, seremos desobrigados do juramento que nos fizeste jurar.
21 Ao que ela disse: Conforme as
vossas palavras, assim seja. Então os despediu, e eles se foram; e ela atou o
cordão de escarlata à janela.
22 Foram-se, pois, e chegaram ao
monte, onde ficaram três dias, até que voltaram os perseguidores; pois estes os
buscaram por todo o caminho, porém, não os acharam.
23 Então os dois homens, tornando a
descer do monte, passaram o rio, chegaram a Josué, filho de Num, e lhe contaram
tudo quanto lhes acontecera.
24 E disseram a Josué: Certamente o
Senhor nos tem entregue nas mãos toda esta terra, pois todos os moradores se
derretem diante de nós.” (Js 2.1-24).
Neste capítulo nós temos a narrativa
dos espias que foram designados para trazer um relatório a Josué sobre a cidade
de Jericó. É destacado o modo como Josué os enviou; como Raabe os recebeu e
protegeu, e como relatou a eles o pânico que estava sobre os habitantes de
Jericó, por causa de Israel; e o pedido que lhes fez para a sua segurança e de
seus familiares.
Consta também neste capítulo o
retorno seguro dos espias e o relatório que fizeram a Josué das coisas que
viram e ouviram.
A fé nas promessas de Deus não deve
substituir, mas encorajar nossa diligência no uso dos meios apropriados para a sua
realização, assim como Noé se esforçou para construir a arca; como Isaque orou
para que Rebeca engravidasse, e em tantos outros exemplos que encontramos na
Bíblia.
E aqui também nós vemos Josué
enviando os espias a Jericó, certamente por inspiração divina, não propriamente
para estabelecer o plano de guerra contra aquela cidade, pois este, como
veremos adiante, foi-lhe dado pelo próprio Senhor, que lhe apareceu numa
teofania como o capitão do exército de Deus.
Os espias não foram enviados portanto,
para avaliar se valeria ou não a pena atacar a cidade, pois atacá-la já era uma
questão decidida e determinada pelo próprio Deus, que ordenou que atravessassem
o Jordão, para iniciarem a conquista de Canaã.
Os espias não estavam somente a
serviço de Josué e de Israel, mas do
próprio Deus, que tomou providências para guardá-los em sua missão,
enviando-lhes à casa de Raabe, pois sabia que ela os preservaria com o risco da
própria vida, por temê-lO, e saber que aqueles que se convertessem a Deus,
estariam verdadeiramente abrigados do mal e em perfeita segurança.
O envio daqueles espias faria com
que, pela providência divina, Raabe e os seus fossem poupados da destruição
total de Jericó.
O Senhor é benigno e sabe livrar o
justo no dia do juízo. E caso aqueles espias não tivessem ido a Jericó, como se
saberia que havia uma mulher de fé entre todas aquelas pessoas ímpias? Mas Deus
tudo sabe e vê, e não permitirá que o justo seja condenado juntamente com o
ímpio, e esta foi uma das razões dos espias terem sido enviados a Jericó.
Por que os espias foram ter
justamente com uma ex-prostituta em Jericó? Certamente Deus os conduziu para lá
para livrar esta mulher de fé e os seus, da destruição que traria sobre Jericó. Ele sabe livrar o
piedoso da provação, e reservar para o castigo os injustos, do dia do juízo,
como diz Pedro em II Pe 2.9.
Ao fazer a afirmação do verso 9,
dizendo que tinha certeza que Deus havia dado a terra de Canaã aos israelitas,
onde Raabe alcançou esta certeza senão na fé que lhe fora dada pelo Senhor?
E Raabe demonstrou o seu conhecimento
pessoal do Senhor na confissão de fé que encontramos no verso 11: “o Senhor
vosso Deus é Deus em cima no céu e embaixo na terra.”.
E assim, o Espírito Santo, através do
autor de Hebreus deu testemunho da fé salvífica que habitava em Raabe, pelo
fato de ter acolhido e escondido os dois espias de Israel, que vieram ter com
ela, pois com isso demonstrou que sabia e confiava, pela fé, que o Senhor
haveria de cumprir cabalmente a promessa que fizera aos israelitas de lhes dar
a terra de Canaã, e que isto seria feito, a par de todo o poderio militar das
nações que habitavam naquela terra.
Os olhos espirituais de Raabe foram
abertos para que pudesse enxergar a mão poderosa do Senhor, nos milagres que
realizara no Egito, e na destruição dos dois reis amorreus.
Assim, a evidência da sua fé,
conforme se destaca em Hb 11.31, que acolheu em paz os espias, não consistiu no
ato isolado de simplesmente tê-los acolhido, mas em tudo o que se evidenciou da
fé que nela havia, através daquela acolhida.
Nós temos então aqui uma segunda
razão para o envio dos espias a Jericó: a fé de Raabe e o testemunho que ela
dera acerca do temor dos israelitas, que havia sobrevindo aos moradores de
Canaã, em muito os encorajaria às batalhas que teriam que empreender.
As canas de linho que Raabe havia
disposto em ordem no eirado, para que secassem e pudesse trabalhar com elas em
tecelagem, bem evidenciam o caráter de uma mulher virtuosa, como a citada em Pv
31 (v. 13), que havia se convertido da sua prostituição, em face do
conhecimento que tivera dos feitos de Deus, tendo o Senhor tido misericórdia e
se manifestado a ela.
Quando ainda mantinha os espias
escondidos no eirado de sua casa, Raabe teve que usar do expediente de mentir
àqueles que lhe foram enviados pelo rei de Jericó, para não colocar em risco a
sua própria vida, dos de sua casa e dos espias (v. 4,5).
Ela habilmente admitiu que os espias
haviam de fato vindo a ela, pois se o tivesse negado, estaria contradizendo
aqueles que os haviam visto em sua casa e que haviam notificado o fato ao rei
(v.2), e isto ensejaria no mínimo uma confrontação dela com os seus delatores,
que acabaria conduzindo a um avanço na investigação e a uma provável revista
minuciosa da sua casa, que acabaria levando à descoberta dos espias.
Mas ela foi bastante convincente ao
dizer a verdade que eles tinham vindo ter com ela. E assim, também deram
crédito à mentira de que os espias haviam ido embora sem que ela soubesse de
onde eram e para onde haviam ido (v. 4,5).
Como a sua casa ficava em cima do
muro da cidade de Jericó, ela os fez descer por uma corda para o lado de fora
da cidade e lhes orientou que se escondessem no monte por três dias, até que os
seus perseguidores desistissem de procurá-los (v. 15,16, 22, 23).
A fúria com que o rei de Jericó
mandou empreender a caça aos espias israelitas demonstra o quanto eles não
estavam dispostos a se renderem e nem a tratarem de negociações de paz, e por
isso a única conclusão a que os israelitas poderiam chegar foi a citada no
verso 24 de que certamente o Senhor lhes havia dado toda aquela terra nas suas mãos,
e não tinham nada que fazer senão tomar posse do que lhes fora dado por Deus.
Nós vemos nisto uma estratégia de
contra-informação usada em guerras, que foi bem sucedida, da parte de Raabe,
para confundir o inimigo, tal como haviam agido as duas parteiras, que se
negaram a matar os recém-nascidos israelitas do sexo masculino, a mando de
faraó, porque temeram antes a Deus do que os homens, e que também enganaram
faraó com a mentira delas.
E o que se aprende disto? Que a
mentira é aprovada por Deus? Que se deve fazer disso uma regra? De modo nenhum!
Pois estamos diante de duas situações excepcionais em que o uso de informações
que não correspondiam à realidade dos fatos impediu que os inimigos de Deus
triunfassem em seus projetos malignos dirigidos contra o Seu povo.
Não se pode portanto, a partir de
situações excepcionais criar regras gerais contra a verdade revelada de que
convém a todo o crente dizer somente a verdade. Não se deve sequer pensar como
regra em que exista algo como mentira “branca” ou que há fins que justifiquem
meios falsos e enganosos.
Davi se fingiu de louco para escapar
do rei filisteu. Obadias escondeu profetas de Deus das vistas de Jesabel,
estando a serviço dela em sua própria casa.
O relato de Raabe de que todos em Jericó
estavam apavorados por causa do que Deus fizera aos egípcios no Mar Vermelho e
aos dois reis amorreus, Ogue e Seom, em muito animou os israelitas à batalha
(v.24), quando os espias relataram tal informação a Josué.
Deus é quem pode manter a alma em
paz, ou em desassossego e terror (Dt 12.25). Por isso os de Jericó estavam
aterrorizados.
JOSUÉ 3
“1 Levantou-se, pois, Josué de
madrugada e, partindo de Sitim ele e todos os filhos de Israel, vieram ao
Jordão; e pousaram ali, antes de atravessá-lo.
2 E sucedeu, ao fim de três dias, que
os oficiais passaram pelo meio do arraial,
3 e ordenaram ao povo, dizendo:
Quando virdes a arca da pacto do Senhor vosso Deus sendo levada pelos levitas
sacerdotes, partireis vós também do vosso lugar, e a seguireis
4 (haja, contudo, entre vós e ela,
uma distância de dois mil côvados, e não vos chegueis a ela), para que saibais
o caminho pelo qual haveis de ir, porquanto por este caminho nunca dantes
passastes.
5 Disse Josué também ao povo:
Santificai-vos, porque amanhã o Senhor fará maravilhas no meio de vós.
6 E falou Josué aos sacerdotes,
dizendo: Levantai a arca do pacto, e passai adiante do povo. Levantaram, pois,
a arca do pacto, e foram andando adiante do povo.
7 Então disse o Senhor a Josué: Hoje
começarei a engrandecer-te perante os olhos de todo o Israel, para que saibam
que, assim como fui com Moisés, serei contigo.
8 Tu, pois, ordenarás aos sacerdotes
que levam a arca do pacto, dizendo: Quando chegardes à beira das águas de
Jordão, aí parareis.
9 Disse então Josué aos filhos de
Israel: Aproximai-vos, e ouvi as palavras do Senhor vosso Deus.
10 E acrescentou: Nisto conhecereis
que o Deus vivo está no meio de vós, e que certamente expulsará de diante de
vós os cananeus, os heteus, os heveus, os perizeus, os girgaseus, os amorreus e
os jebuseus.
11 Eis que a arca do pacto do Senhor
de toda a terra passará adiante de vós para o meio do Jordão.
12 Tomai, pois, agora doze homens das
tribos de Israel, de cada tribo um homem;
13 porque assim que as plantas dos
pés dos sacerdotes que levam a arca do Senhor, o Senhor de toda a terra,
pousarem nas águas do Jordão, estas serão cortadas, isto é, as águas que vêm de
cima, e, amontoadas, pararão.
14 Quando, pois, o povo partiu das
suas tendas para atravessar o Jordão, levando os sacerdotes a arca do pacto
adiante do povo,
15 e quando os que levavam a arca
chegaram ao Jordão, e os seus pés se mergulharam na beira das águas (porque o
Jordão transbordava todas as suas ribanceiras durante todos os dias da sega),
16 as águas que vinham de cima,
parando, levantaram-se num montão, mui longe, à altura de Adã, cidade que está
junto a Zaretã; e as que desciam ao mar da Arabá, que é o Mar Salgado, foram de
todo cortadas. Então o povo passou bem em frente de Jericó.
17 Os sacerdotes que levavam a arca
do pacto do Senhor pararam firmes em seco no meio do Jordão, e todo o Israel
foi passando a pé enxuto, até que todo o povo acabou de passar o Jordão.” (Js
3.1-17).
Antes de
atravessar o Jordão o povo de Israel estava acampado em Sitim (v. 1), e no
verso 19 do capítulo seguinte (quarto) nós vemos que, depois de atravessarem o
Jordão, os israelitas se acamparam em Gilgal, de onde partiriam para lutar
contra Jericó.
Quando eles saíram de Sitim e
chegaram ao rio Jordão, não lhes foi dito como fariam para atravessar o rio,
contudo nós vemos que depois de o Senhor ter falado com Josué, como vimos no
início do primeiro capítulo, Josué deu ordens para que o povo se preparasse
porque dentro de três dias atravessariam o Jordão (1.11).
Esta caminhada em direção ao Jordão,
para que fosse atravessado no prazo de três dias, seria uma caminhada de fé,
porque conforme se descreve no verso 15, o rio transbordava em todas as suas
ribanceiras naqueles dias.
Esta vida está repleta de Jordões que
devemos atravessar, representados nos problemas que temos que ultrapassar, mas
não devemos ficar desanimados porque Deus nos ordena a ter ânimo nas aflições,
porque Ele mesmo será a nossa ajuda e proverá os meios necessários para que
possamos prosseguir na nossa jornada, rumo à conquista definitiva da Canaã
celestial.
Tão somente devemos nos esforçar tal
como Deus ordenou a Josué, o qual acordava de madrugada (3.1; 6.12; 7.16; 8.10)
para estimular e preparar o povo, para cumprir as ordenanças do Senhor.
Aqueles que têm grandes coisas para
realizar devem acordar cedo.
Não devem amar o sono, e devem imitar
Josué, que dava um bom exemplo para os seus oficiais.
Nesta ocasião específica, em vez de
ir no meio das tribos, conforme se vê no livro de Números, a arca iria à sua frente,
e foi determinado por Deus que houvesse uma distância de cerca de um
quilômetro, entre os sacerdotes que a conduziriam, e o povo.
A arca continha as tábuas com os dez
mandamentos.
As pessoas devem seguir a arca, de
modo que onde estejam as ordenações de Deus nós devemos estar, e segui-las de
forma temente e reverente.
Nós devemos seguir os nossos
ministros, que nos trazem a Palavra, assim como eles seguem a Cristo (Hb 13.7).
Então havia esta figura para a Igreja
no ato de a arca estar sendo conduzida pelos sacerdotes adiante do povo.
Naquela dispensação da Antiga
Aliança, com vista a criar a devida reverência e temor no povo, se determinava
que houvesse tal distância entre o povo e arca, que simbolizava a presença de
Deus, de modo que a familiaridade poderia criar desprezo.
Por isso não poderiam se achegar ao
símbolo da presença divina, naquela dispensação de sombras, condenação e
terror, mas nós temos agora na Nova Aliança, livre acesso por meio de Cristo, e
não precisamos, na condição de povo da Nova Aliança, ter uma tal recomendação
de afastamento, porque jamais abusaríamos da santa presença do Senhor, porque o
Espírito Santo tem sido derramado no coração de todos aqueles que estão
aliançados com Cristo, de modo que o temor de Deus habita nos nossos corações.
A presença do Senhor é digna de toda
consideração, temor, reverência e
respeito, e todos os verdadeiros crentes são instruídos acerca disto pelo
Espírito Santo, que os regenerou, transformando-os em novas criaturas, mas
naquela dispensação antiga, nem todos tinham o verdadeiro conhecimento de Deus,
e então se fazia necessário se tomar providências como esta, para que o povo
não ultrapassasse os limites, que não são permitidos a nenhum crente
ultrapassar.
Assim como nos dias de Moisés, que
foi ordenado ao povo que se santificasse, para receber os dez mandamentos ao pé
do monte Sinai, de igual modo, foi ordenado aos israelitas naquela ocasião, por
Josué, para que se santificassem, porque o Senhor faria maravilhas no meio
deles (v.5).
Veja que preparação temos que fazer
para receber as revelações e comunicações da glória e da graça de Deus, quando
está a ponto de fazer maravilhas no meio de nós.
Temos que nos separar de todos os
demais cuidados e nos dedicar a honrá-lo, e nos purificarmos de toda imundície
da carne e do espírito.
Deus declarou a Josué que começaria a
engrandecê-lo perante os israelitas, para que
o respeitassem e soubessem que assim como Ele havia sido com Moisés
também seria com Josué (v.7).
É Deus quem engrandece a quem quer, e
quando quer, e sempre para um propósito necessário e proveitoso, assim como
fizera com Josué, depois da morte de Moisés, fazendo com que as águas do Jordão
fossem cortadas, para que o povo passasse a pé enxuto.
Isto demonstra o quão impróprio foi o
pedido a mãe de Tiago e João, havia feito a Jesus.
Deus havia prometido a Josué que
seria com ele (1.5), e isso o confortou, mas agora todo o Israel veria que o
Senhor estava honrando Josué, e confirmando a sua liderança sobre todo o povo,
para que os israelitas honrassem a Josué por virem que Deus era com ele.
De igual modo, os ministros piedosos
devem ser altamente honrados e estimados, porque, quanto mais nós vemos que
Deus é com eles, mais nós devemos honrá-los, porque com isto estaremos honrando
o próprio Deus, que foi quem colocou tal honra neles.
É a presença do Senhor entre o Seu
povo que faz toda a diferença, e quem de fato o dirige.
A Josué foi dito que seguiriam por um
caminho pelo qual nunca haviam passado dantes (v.4).
Isto é uma grande verdade para todos
os crentes neste mundo, porque devem esperar e estar preparados para passarem
por eventos incomuns, passar por situações que nunca haviam experimentado
dantes, mas ainda que andemos pelo vale da sombra da morte, desde que tenhamos
a garantia da presença do Senhor conosco, não precisamos temer mal algum,
porque nos dará a força necessária de um modo também que nunca tivemos antes,
para fazer aquilo que for necessário.
Sendo uma nação teocrática, na Antiga
Aliança, os sacerdotes estavam debaixo da autoridade dos governantes de Israel,
sendo estes Moisés, Josué, e depois deste os juízes, e posteriormente os reis.
Mas era vedado a
tais governantes realizarem as funções exclusivas dos sacerdotes, conforme
prescritas na lei, mas deveriam cumprir
as ordenações de Deus determinadas àqueles que tivessem sob o seu cuidado o
governo de toda a nação.
E aqui nós vemos
Josué ordenando aos sacerdotes que levassem a arca até à beira do Jordão,
conforme mandado que havia recebido do Senhor (v.8).
Assim que os pés
dos sacerdotes tocaram na margem do rio, o fluxo parou imediatamente, como que
se uma represa invisível tivesse sido levantada impedindo as águas de
prosseguirem o seu curso.
E elas se
amontoaram ao norte do rio até que os israelitas passassem, enquanto os
sacerdotes permaneciam no meio do leito do rio com a arca, até que todos
tivessem passado.
Este evento
serviria para aumentar ainda mais o pavor dos habitantes de Jericó (5.1; 6.1),
de modo que eles sitiaram a si mesmos naquela cidade fortificada, pensando que
estariam bem protegidos pelos seus muros gigantescos.
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