quinta-feira, 10 de outubro de 2013

JUÍZES - cap 1 e 3

NOTA: Os demais capítulos de Juízes não constantes nesta postagem de OUT 2013, encontram-se na de DEZ 2012, sendo que o capítulo 2 encontra-se em JUL 2013.


JUÍZES 1

“1 Depois da morte de Josué os filhos de Israel consultaram ao Senhor, dizendo: Quem dentre nós subirá primeiro aos cananeus, para pelejar contra eles?
2 Respondeu o Senhor: Judá subirá; eis que entreguei a terra na sua mão.
3 Então disse Judá a Simeão, seu irmão: sobe comigo à sorte que me coube, e pelejemos contra os cananeus, e eu também subirei contigo à tua sorte. E Simeão foi com ele.
4 Subiu, pois, Judá; e o Senhor lhes entregou nas mãos os cananeus e os perizeus; e bateram deles em Bezeque dez mil homens.
5 Acharam em Bezeque a Adoni-Bezeque, e pelejaram contra ele; e bateram os cananeus e os perizeus.
6 Mas Adoni-Bezeque fugiu; porém eles o perseguiram e, prendendo-o, cortaram-lhe os dedos polegares das mãos e dos pés.
7 Então disse Adoni-Bezeque: Setenta reis, com os dedos polegares das mãos e dos pés cortados, apanhavam as migalhas debaixo da minha mesa; assim como eu fiz, assim Deus me pagou. E o trouxeram a Jerusalém, e ali morreu.
8 Ora, os filhos de Judá pelejaram contra Jerusalém e, tomando-a, passaram-na ao fio da espada e puseram fogo à cidade.
9 Depois os filhos de Judá desceram a pelejar contra os cananeus que habitavam na região montanhosa, e no Negebe, e na baixada.
10 Então partiu Judá contra os cananeus que habitavam em Hebrom, cujo nome era outrora Quiriate-Arba; e bateu Sesai, Aimã e Talmai.
11 Dali partiu contra os moradores de Debir, que se chamava outrora Quiriate-Sefer.
12 Disse então Calebe: A quem atacar Quiriate-Sefer e a tomar, darei a minha filha Acsa por mulher.
13 E tomou-a Otniel, filho de Quenaz, o irmão de Calebe; mais novo do que ele; e Calebe lhe deu sua filha Acsa por mulher.
14 Estando ela em caminho para a casa de Otniel, persuadiu-o que pedisse um campo ao pai dela. E quando ela saltou do jumento, Calebe lhe perguntou: Que é que tens?
15 Ela lhe respondeu: Dá-me um presente; porquanto me deste uma terra no Negebe, dá-me também fontes d'água. Deu-lhe, pois, Calebe as fontes superiores e as fontes inferiores.
16 Também os filhos do queneu, sogro de Moisés, subiram da cidade das palmeiras com os filhos de Judá ao deserto de Judá, que está ao sul de Arade; e foram habitar com o povo.
17 E Judá foi com Simeão, seu irmão, e derrotaram os cananeus que habitavam em Zefate, e a destruíram totalmente. E chamou-se o nome desta cidade Horma.
18 Judá tomou também a Gaza, a Asquelom e a Ecrom, com os seus respectivos territórios.
19 Assim estava o Senhor com Judá, o qual se apoderou da região montanhosa; mas não pôde desapossar os habitantes do vale, porquanto tinham carros de ferro.
20 E como Moisés dissera, deram Hebrom a Calebe, que dali expulsou os três filhos de Anaque.
21 Mas os filhos de Benjamim não expulsaram aos jebuseus que habitavam em Jerusalém; pelo que estes ficaram habitando com os filhos de Benjamim em Jerusalém até o dia de hoje.
22 Também os da casa de José subiram contra Betel; e o Senhor estava com eles.
23 E a casa de José fez espiar a Betel (e fora outrora o nome desta cidade Luz);
24 e, vendo os espias a um homem que saía da cidade, disseram-lhe: Mostra-nos a entrada da cidade, e usaremos de bondade para contigo.
25 Mostrou-lhes, pois, a entrada da cidade, a qual eles feriram ao fio da espada; porém deixaram livre aquele homem e toda a sua família.
26 Então o homem se foi para a terra dos heteus, edificou uma cidade, e pôs-lhe o nome de Luz; este é o seu nome até o dia de hoje.
27 Manassés não expulsou os habitantes de Bete-Seã, nem os de Taanaque, nem os de Dor, nem  os de Ibleã, nem os de Megido, todas com suas respectivas vilas; pelo que os cananeus lograram permanecer na mesma terra.
28 Mas quando Israel se tornou forte, sujeitou os cananeus a trabalhos forçados, porém não os expulsou de todo.
29 Também Efraim não expulsou os cananeus que habitavam em Gezer; mas os cananeus ficaram habitando no meio dele, em Gezer.
30 Também Zebulom não expulsou os habitantes de Quitrom, nem os de Naalol; porém os cananeus ficaram habitando no meio dele, e foram sujeitos a trabalhos forçados.
31 Também Aser não expulsou os habitantes de Aco, nem de Sidom, nem de Alabe, nem de Aczibe, nem de Helba, nem de Afeca, nem de Reobe;
32 porém os aseritas ficaram habitando no meio dos cananeus, os habitantes da terra, porquanto não os expulsaram.
33 Também Naftali não expulsou os habitantes de Bete-Semes, nem os de Bete-Anate; mas, habitou no meio dos cananeus, os habitantes da terra; todavia os habitantes de Bete-Semes e os de Bete-Anate foram sujeitos a trabalhos forçados.
34 Os amorreus impeliram os filhos de Dã até a região montanhosa; pois não lhes permitiram descer ao vale.
35 Os amorreus quiseram também habitar no monte Heres, em Aijalom e em Saalabim; contudo prevaleceu a mão da casa de José, de modo que eles ficaram sujeitos a trabalhos forçados.
36 E foi o termo dos amorreus desde a subida de Acrabim, desde Sela, e dali para cima.” (Jz 1.1-36).

Lido fora de seu contexto, o início deste capitulo pode dar a entender que o autor sagrado poderia estar sugerindo que a conquista de Canaã somente começou efetivamente depois da morte de Josué, mas não é exatamente isto que ele está afirmando, pois o que está em foco é o avanço das conquistas, que deveriam prosseguir conforme o mandado de Deus, e que haviam sido iniciadas nos dias de Josué.
Muitos territórios, que haviam sido previamente distribuídos pelas tribos, por sortes, enquanto Josué ainda vivia, deveriam ser conquistados quando as tribos se instalassem nas áreas, que lhes foram respectivamente designadas, conforme vimos em nosso estudo no livro de Josué.
Entretanto, por temor dos inimigos e por terem se acomodado ao que havia sido conquistado inicialmente, as novas gerações não haviam avançado no trabalho de conquistar a terra, e isto está claramente revelado logo no início da escrita deste livro de Juízes.
Depois da morte de Josué os israelitas consultaram ao Senhor para saber qual das tribos deveria empreender a primeira ação de combate, para avançar na conquista do território de Canaã, para animar as demais a combaterem também nos respectivos territórios.
Enquanto Josué vivia, as batalhas contra os cananeus eram realizadas pela ação conjunta de todas as tribos, mas agora, cada uma, respectivamente, com a eventual ajuda das tribos que lhes estavam associadas, deveria lutar para conquistar os territórios que lhes foram designados previamente por sortes, como foi o caso de Simeão, que lutou ao lado de Judá, porque teria herança no território que havia sido designado para esta tribo.
Enquanto estavam lutando juntos,  realizaram a conquista de muita terra e de muitas cidades, conforme descrito no livro de Josué, mas agora, tendo cada qual que lutar para estender suas respectivas fronteiras, nós vemos que não houve fé suficiente neles para crerem no Senhor, de modo a terem a Sua forte mão trabalhando em seu favor.
E disto nos dá conta todo o relato do livro de Juízes, que revela a incredulidade e idolatria de sucessivas gerações de Israel, confirmando que tinha de fato a sua razão de ser o cuidado de Deus em ter determinado que  não se permitissem conviver com os cananeus, para não se contaminarem com as suas práticas idolátricas.
Este esfriamento para com Deus ocorreu à medida que o tempo passava, pois nós não vemos isto logo no início, porque ainda havia muito daquela fé, que as tribos demonstravam enquanto vivia Josué, nesta designação inicial feita pelo Senhor para que a tribo de Judá subisse primeiro à batalha, prometendo-lhes que teriam sucesso no empreendimento, e Deus jamais teria feito tal promessa, se não vislumbrasse qualquer fé e santidade neles.
Judá era o primeiro em dignidade, e então deveria ser o primeiro no cumprimento do dever.
O fardo da honra deve ir junto com o fardo do trabalho.
Deus prometeu ajudar a tribo de Judá, mas  não lhe daria sucesso a menos que se aplicassem vigorosamente ao serviço que deveriam realizar.
De igual modo, nenhum ministério florescerá pela ajuda das mãos do Senhor, sem que haja a mesma disposição de empenho nos ministros.
 O exército de Judá realizou diversas conquistas, mas não tiveram fé suficientemente forte para empreender guerra contra os cananeus, que habitavam no vale, porque tinham carros de ferro (v 19), tendo se apossado somente da região montanhosa.
Mesmo para aqueles que têm fé em Deus há desafios à fé, que exigirão uma fé grande para que possam ser enfrentados, e daí a necessidade de se aumentar a fé no Senhor, por uma aplicação mais diligente nos deveres e uso dos meios da graça (oração, meditação na Palavra, consagração, santificação) para que a nossa fé seja aumentada pelo Senhor, de modo que possamos realizar maiores obras para a Sua glória através de uma fé robustecida. 
A fé de Judá foi suficiente para realizar por exemplo o grande empreendimento de derrota dos cananeus e perizeus em  Bezeque, onde dez mil homens foram batidos pelas forças de Judá coligadas com as de Simeão.
Eles submeteram também ao rei de Bezeque, denominado Adoni-Bezeque, que significa Senhor de Bezeque. E antes de ser morto, cortaram os seus dedos polegares das mãos e dos pés, e o próprio Adoni-Bezeque reconheceu que estava sendo castigado por Deus, porque ele havia cortado também os dedos polegares das mãos e pés de setenta reis que se alimentavam das migalhas da sua mesa.
Ele fizera aquilo para que não pudessem mais lutar empunhando espadas, e nem também terem facilidade de fugir, pela dificuldade de correr sem os polegares dos pés.      
Naquela dispensação da morte e condenação, onde imperava a lei do olho por olho, para que aprendêssemos o temor devido aos juízos de Deus contra o pecado, nós podemos entender que aquele juízo era de fato procedente do Senhor como paga pelas suas más obras, demonstrando que realmente, com a medida com que tivermos medido, nós também seremos medidos, quer seja para o bem, quer seja para o mal.
Isto decorre de que enquanto houver pecado no mundo, ao lado da bondade, amor e misericórdia de Deus, também correrá paralelamente a isto os seus necessários juízos, de modo que os homens sejam desencorajados da prática do mal, pelo temor que lhes venha a suceder o mesmo  mal, que fizerem ao seu próximo, ainda que neste período da dispensação da graça, desde que Jesus morreu  para o perdão dos pecadores, estes juízos têm sido muito abrandados, por conta da longanimidade de Deus.    
Nós vimos em nosso estudo do livro de Josué (cap 10), que um rei também chamado Adoni-Bezeque levantou uma coligação de reis para lutar contra os israelitas.
Certamente, se tratava de um outro rei de Jerusalém, que foi batido nos dias de Josué.
Tudo indica que este nome Adoni-Bezeque, era um título dos reis daquelas terras, tal como nós temos o título de faraó para os reis do Egito, e o de Abimeleque, para os reis dos filisteus.
A conquista dos dias de Josué foi realizada mediante ação conjugada de todas as tribos de Israel, mas neste capítulo, nós temos apenas Judá e Simeão em ação.
Trata-se portanto de uma ocasião diferente da narrada no livro de Josué.
A passagem relativa a Calebe e à conquista de Quiriate-Sefer por seu sobrinho Otiniel, a quem deu por esposa sua filha Acsa, está amplamente comentada em Josué 15.16-19.
  No verso 18 é citado que Judá tomou também a Gaza, a Asquelom e a Ecrom, três das cidades confederadas dos filisteus com os seus respectivos territórios, mas não tendo expulsado os seus habitantes conforme mandado do Senhor, os filisteus viriam a se fortalecer mais tarde, e tomaram de volta as suas possessões e passaram a ser um grande espinho na carne de Israel, até aos dias do rei Davi, e foram eles que oprimiram a Israel nos dias de Sansão. 
Os versos 21 a 36 narram a mistura dos israelitas com os cananeus que permaneceram em seus territórios, porque não os expulsaram segundo o mandado de Deus.
Os jebuseus permaneceram na posse de Jerusalém porque a tribo de Benjamim não os expulsou (v 21). 
A tribo de Efraim conquistou Betel porque o Senhor era com eles (v. 22), mas não expulsaram os cananeus de Gezer, que ficaram habitando no meio deles (v. 29).
E todas as demais tribos, também não expulsaram os cananeus de seus territórios, de modo que conviviam com eles, e isto se lhes tornou laço, conforme havia sido predito desde os dias de Moisés.
Os carros de ferro dos cananeus, que habitavam o vale, e que tanto amedrontaram os israelitas são ainda os mesmos carros de ferro do diabo, que impedem a Igreja de avançar conquistando almas para Cristo em todo o mundo, e especialmente nos países onde predomina o islamismo.
São na verdade carros de ferro que não podem ser dominados sem uma ação direta e poderosa de Deus, e para isto é necessário fé, jejum e oração, por parte da Igreja, para que assim como Ele destruiu tais carros nos dias de Débora e Sísera, como veremos nos capítulos quarto e quinto deste livro, Ele possa abrir à evangelização tais portas, que se encontram ainda hermeticamente fechadas, impedindo uma livre pregação do evangelho.
Todavia, estes carros de ferro não se limitam apenas aos países de tradição muçulmana, como também se referem aos grandes bolsões de resistência satânica, no mundo ocidental, quer através de um forte secularismo e desinteresse pelas coisas celestiais, como também ao grande e crescente aumento da iniqüidade em todas as suas formas de expressão, e isto faz com que a Igreja fique imobilizada, porque são carros de ferro que não podem ser destruídos sem uma ação direta e poderosa de Deus, e por isso necessitamos urgentemente de um novo e grande avivamento do Espírito Santo, para que tais resistências possam ser rompidas.
Todavia, sem oração incessante e sem retidão de vida, não haverá nenhum avivamento.
Deus tem feito à Igreja a mesma promessa que fez a Josué de pelejar pelo Seu povo, desde que este se mantenha fiel à Sua vontade.
"Porém a região montanhosa será tua. Ainda que é bosque, cortá-los-á, e até às suas extremidades será todo teu; porque expulsarás os cananeus, ainda que possuem carros de ferro e são fortes" (Josué 17.18).



JUÍZES 3

“1 Estas são as nações que o Senhor deixou ficar para, por meio delas, provar a Israel, a todos os que não haviam experimentado nenhuma das guerras de Canaã;
2 tão-somente para que as gerações dos filhos de Israel delas aprendessem a guerra, pelo menos os que dantes não tinham aprendido.
3 Estas nações eram: cinco chefes dos filisteus, todos os cananeus, os sidônios, e os heveus que habitavam no monte Líbano, desde o monte Baal-Hermom até a entrada de Hamate.
4 Estes, pois, deixou ficar, a fim de por eles provar os filhos de Israel, para saber se dariam ouvidos aos mandamentos do Senhor, que ele tinha ordenado a seus pais por intermédio de Moisés.
5 Habitando, pois, os filhos de Israel entre os cananeus, os heteus, os amorreus, os perizeus, os heveus e os jebuseus.
6 tomaram por mulheres as filhas deles, e deram as suas filhas aos filhos dos mesmos, e serviram aos seus deuses.
7 Assim os filhos de Israel fizeram o que era mau aos olhos do Senhor, esquecendo-se do Senhor seu Deus e servindo aos baalins e às aserotes.
8 Pelo que a ira do Senhor se acendeu contra Israel, e ele os vendeu na mão de Cusã-Risataim, rei da Mesopotâmia; e os filhos de Israel serviram a Cusã-Risataim oito anos.
9 Mas quando os filhos de Israel clamaram ao Senhor, o Senhor suscitou-lhes um libertador, que os livrou: Otniel, filho de Quenaz, o irmão mais moço de Calebe.
10 Veio sobre ele o Espírito do Senhor, e ele julgou a Israel; saiu à peleja, e o Senhor lhe entregou Cusã-Risataim, rei da Mesopotâmia, contra o qual prevaleceu a sua mão:
11 Então a terra teve sossego por quarenta anos; e Otniel, filho de Quenaz, morreu.
12 Os filhos de Israel tornaram a fazer o que era mau aos olhos do Senhor; então o Senhor fortaleceu a Eglom, rei de Moabe, contra Israel, por terem feito o que era mau aos seus olhos.
13 Eglom, unindo a si os amonitas e os amalequitas, foi e feriu a Israel, tomando a cidade das palmeiras.
14 E os filhos de Israel serviram a Eglom, rei de Moabe, dezoito anos.
15 Mas quando os filhos de Israel clamaram ao Senhor, o Senhor suscitou-lhes um libertador, Eúde, filho de Gêra, benjamita, homem canhoto. E, por seu intermédio, os filhos de Israel enviaram tributo a Eglom, rei de Moabe.
16 E Eúde fez para si uma espada de dois gumes, de um côvado de comprimento, e cingiu-a à coxa direita, por baixo das vestes.
17 E levou aquele tributo a Eglom, rei de Moabe. Ora, Eglom era muito gordo:
18 Quando Eúde acabou de entregar o tributo, despediu a gente que o trouxera.
19 Ele mesmo, porém, voltou das imagens de escultura que estavam ao pé de Gilgal, e disse: Tenho uma palavra para dizer-te em segredo, ó rei. Disse o rei: Silêncio! E todos os que lhe assistiam saíram da sua presença.
20 Eúde aproximou-se do rei, que estava sentado a sós no seu quarto de verão, e lhe disse: Tenho uma palavra da parte de Deus para dizer-te. Ao que o rei se levantou da sua cadeira.
21 Então Eúde, estendendo a mão esquerda, tirou a espada de sobre a coxa direita, e lha cravou no ventre.
22 O cabo também entrou após a lâmina, e a gordura encerrou a lâmina, pois ele não tirou a espada do ventre:
23 Então Eúde, saindo ao pórtico, cerrou as portas do quarto e as trancou.
24 Tendo ele saído vieram os servos do rei; e olharam, e eis que as portas do quarto estavam trancadas. Disseram: Sem dúvida ele está aliviando o ventre na privada do seu quarto.
25 Assim esperaram até ficarem alarmados, mas ainda não abria as portas do quarto. Então, tomando a chave, abriram-nas, e eis seu senhor estendido morto por terra.
26 Eúde escapou enquanto eles se demoravam e, tendo passado pelas imagens de escultura, chegou a Seirá.
27 E assim que chegou, tocou a trombeta na região montanhosa de Efraim; e os filhos de Israel, com ele à frente, desceram das montanhas.
28 E disse-lhes: Segui-me, porque o Senhor vos entregou nas mãos os vossos inimigos, os moabitas. E desceram após ele, tomaram os vaus do Jordão contra os moabitas, e não deixaram passar a nenhum deles.
29 E naquela ocasião mataram dos moabitas cerca de dez mil homens, todos robustos e valentes; e não escapou nenhum.
30 Assim foi subjugado Moabe naquele dia debaixo da mão de Israel; e a terra teve sossego por oitenta anos.
31 Depois dele levantou-se Sangar, filho de Anate, que matou seiscentos homens dos filisteus com uma aguilhada de bois; ele também libertou a Israel.” (Jz 3.1-31).

Os primeiros sete versículos deste capítulo descrevem as nações que foram deixadas em Canaã, para que as gerações, que não haviam conhecido as batalhas empreendidas nos dias de Josué, pudessem ser provadas em sua fidelidade ao Senhor, por não se misturarem  e por empreenderem as guerras ordenadas por Deus contra eles.
E dentre estas nações que permaneceram em Canaã são citadas as cinco cidades confederadas dos filisteus, a saber: Asdode, Gaza, Ascalom, Ecron e Gate.
Três destas cidades haviam sido conquistadas parcialmente, como se vê em Jz 1.18, mas ao que tudo indica, os filisteus, com a ajuda das outras duas cidades recuperaram a sua posse, vindo a dar muito trabalho a Israel, sem serem submetidos, senão apenas nos dias do rei Davi.  
Além dos filisteus permaneceram também na posse de seus territórios os cananeus, sidônios e heveus, que habitavam ao norte e junto ao Mar Mediterrâneo (v. 3).
Aqueles que os israelitas não expulsaram dos territórios que haviam conquistado, permitindo-se habitar com eles, trouxe como resultado o que se descreve nos versos 5 a 7: “5 Habitando, pois, os filhos de Israel entre os cananeus, os heteus, os amorreus, os perizeus, os heveus e os jebuseus. 6 tomaram por mulheres as filhas deles, e deram as suas filhas aos filhos dos mesmos, e serviram aos seus deuses. 7 Assim os filhos de Israel fizeram o que era mau aos olhos do Senhor, esquecendo-se do Senhor seu Deus e servindo aos baalins e às aserotes.”.
Isto demonstra que não foi sem razão que o Senhor insistiu tão veementemente com eles, desde os dias de Moisés, mandando que se registrasse em Sua Palavra que não deixassem de conquistar toda Canaã, exterminando todos os seus habitantes, de modo a se prevenirem do que acabou ocorrendo: o se misturarem com eles e perderem a identidade de povo santo separado para o Senhor. 
Israel foi preparado por Deus para ser uma nação guerreira. Eles combateriam as guerras de Deus contra as nações ímpias de modo a revelar ao mundo que há somente um Deus Todo-Poderoso, único e verdadeiro, e este é o Deus de Israel, que demanda santidade de todas as pessoas do mundo, porque quando Israel vivia santamente prevalecia sobre todos os seus inimigos, e quando se entregava à idolatria era sujeitado por eles, demonstrando com isto qual é o caráter santo do Deus que eles serviam.
De igual modo a Igreja está destinada a ser um povo guerreira que combata o bom combate da fé.
E as vitórias sobre as forças do inimigo serão alcançadas quando se vive em santidade, e em caso contrário, tal como ocorria com Israel, ficará sujeita a ser entregue ao inimigo, para destruição da carne, quando andar contrariamente com o Senhor, de modo que se revele também ao mundo o caráter santo do Deus que servimos, para que as pessoas sejam incentivadas a abandonarem o pecado e se arrependerem, para viverem de modo santo para Deus, porque esta é a única maneira de ser verdadeiramente abençoado por Ele, e de ser próspero em todas as coisas, particularmente naquelas que se referem a ter sucesso e vitória garantida na batalha contra a carne, o diabo e o mundo.
Como bons soldados de Cristo, os crentes devem estar preparados a suportarem dificuldades neste mundo (II Tim 2.3), e para isto deverão se equipar com toda a armadura de Deus, com suas armas de defesa e de ataque, relacionadas por Paulo no sexto capítulo de Efésios.
Quão rapidamente Israel deixou o caminho do Senhor para se envolver com os falsos deuses das nações, com as quais haviam se misturado.
E com que facilidade também se abandona a prática do único e verdadeiro evangelho, e da sã doutrina, quando não nos apegamos com grande firmeza ao que está revelado na Bíblia e não nos aplicamos em meditar na Palavra para conhecer ao Senhor e ao Seu caráter, conforme Ele mesmo o revelou a nós na Bíblia.
A repreensão de Paulo aos Gálatas é aplicável a muitos crentes, em toda a história da Igreja: “Estou admirado de que tão depressa estejais desertando daquele que vos chamou na graça de Cristo, para outro evangelho, o qual não é outro; senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo.” (Gál 1.6,7). E daí a exortação do apóstolo em Heb 2.1: “Por isso convém atentarmos mais diligentemente para as coisas que ouvimos, para que em tempo algum nos desviemos delas.”.
Não é porque existem várias heresias no mundo, que seremos justificados em nossa possível falta de fidelidade à vontade e verdade de Deus, já reveladas de uma vez para sempre na Bíblia, porque como vemos no testemunho que a Bíblia dá, é o próprio Deus que permite que haja heresias no meio dos crentes para que aqueles que são sinceros e fiéis sejam manifestados (I Cor 11.19), tal como o Senhor permitiu que aquelas nações permanecessem entre os israelitas, para provar por meio delas a fidelidade deles.
As mulheres israelitas se casaram com os povos idólatras de Canaã, e passaram a adorar os seus deuses (v. 6, 7), provocando a ira de Deus que os vendeu para castigá-los, por causa dos seus pecados, ao rei da Mesopotâmia, Cusã-Risataim, tendo ficado debaixo da sua sujeição por oito anos (v. 8).
Mas quando os israelitas clamaram ao Senhor por livramento, Ele levantou a Otniel, o sobrinho de Calebe ao qual dera sua filha em casamento, para libertar Israel (v. 9).
Ele foi capacitado pelo Espírito Santo (v. 10) para a obra que deveria realizar, bem como para ser juiz sobre os israelitas.
Portanto, do mesmo modo que foi permitido por Deus que o rei da Mesopotâmia oprimisse os israelitas, também procedeu dEle que fossem libertados em razão do seu clamor e arrependimento, tendo Otniel prevalecido sobre o rei da Mesopotâmia porque este foi entregue por Deus a Otniel, para que pudesse vencê-lo (v. 10).
E por quarenta anos, Israel teve paz e não foi oprimido por nenhum outro inimigo, debaixo da boa liderança de Otniel, que tinha uma fé igual à de seu tio Calebe (v. 11). 
Por oito anos os israelitas continuaram em sua idolatria e se acomodaram à opressão de Cusã-Risataim, mas vendo eles que não podiam prevalecer sobre ele enquanto viviam em seu pecado adorando outros deuses, e certamente, dando ouvidos agora àqueles que permaneciam fiéis a Deus entre eles, lembrando-lhes do pacto que haviam feito com o Senhor através da mediação de Moisés, se deixaram convencer da causa da sua ruína e apelaram à misericórdia do Senhor para que lhes perdoasse o pecado e os libertasse dos seus opressores.
É digno de destaque o fato de que Otniel esperou a chamada de Deus para entrar em cena e começar a operar, liderando os israelitas nas ações de guerra contra o rei da Mesopotâmia.
De igual modo, ainda que muito pese e entristeça ao nosso coração fiel, o estado em que se encontra a Igreja de Cristo, tão misturada ao mundo, nada poderemos fazer em nossa fidelidade, se não formos levantados por Deus, mediante capacitação do Espírito, para tirar a Igreja da sua apostasia e trazê-la de volta a um caminhar santo e obediente na presença de Deus.
Se o próprio povo não clamar, nenhum Lutero será levantado.
Nenhuma reforma se verá.
O Senhor espera que o Seu povo se arrependa para que possa manifestar de novo a plenitude do Seu favor e graça, não apenas nos livrando das opressões do inferno, como também concedendo que tenhamos vitórias sobre os nossos inimigos espirituais.    
Quando Otniel foi levantado por Deus, ele primeiro julgou Israel, e reprovou os israelitas chamando-os a responder pelos seus pecados, e foi somente depois de ter efetuado uma reforma, que ele saiu para a guerra.
Esta é a seqüência correta que deve seguir  toda Igreja, que deseja prosperar sendo usada por Deus: Primeiro resolver o problema do pecado por um abandono das coisas que provocam a ira do Senhor, porque o grande inimigo que deve ser vencido em primeiro lugar é o próprio pecado, e uma vez tendo sido feito isto, os inimigos do exterior serão vencidos por Deus por maior que seja o seu número e poder.
Não é sem motivo que, por tantas vezes no Novo Testamento, os crentes sejam exortados ao dever da vigilância. Vigiar e orar em todo o tempo para que não caiam em tentação e não sejam vencidos pelo mal. Porque a natureza terrena é dada a se desviar de Deus e a vigilância e a oração a manterão debaixo do jugo de Jesus, de modo que não tenha liberdade para nos conduzir à prática do pecado.
Foi exatamente por falta de vigilância, depois da morte de Otniel, que os israelitas voltaram a fazer o que era mau aos olhos do Senhor (v. 12), motivo porque o próprio Deus fortaleceu a Eglom, rei dos moabitas, para que pudesse prevalecer contra Israel, para serem castigados pelo retorno deles à prática do pecado.
Tendo o rei de Moabe se coligado aos amonitas e amalequitas derrotou Israel e o reduziu à servidão por dezoito anos (v 13,14).  
Foi somente depois de terem ficado debaixo do jugo de Moabe por dezoito anos, que os israelitas clamaram a Deus por livramento, reconhecendo os seus maus caminhos e necessidade de retornarem à prática da Sua Palavra. 
Nossas aflições não têm por propósito nos endurecer ainda mais no nosso orgulho e pecado, mas justamente o contrário disto: conduzir-nos à humildade e ao arrependimento.
Contudo, se o arrependimento não ocorrer, a justa destruição da carne pelo diabo, para que o espírito seja salvo, será algo que sempre se verá na vida de crentes que insistem em permanecer na prática deliberada do pecado, em nada se importando com o compromisso que têm com Deus, em razão da aliança que fizeram com Ele por meio do sangue de Jesus.
Então, como a própria Bíblia revela e a experiência prática confirma, Deus sempre castiga os pecados das pessoas do seu próprio povo neste mundo, uma vez que os crentes estão livres da condenação eterna, por causa da justificação que alcançaram por meio da fé em Cristo.
Mais uma vez o clamor dos israelitas fez com que Deus levantasse um libertador na pessoa de Eúde, que era da tribo de Benjamim (v 15).
É interessante o fato de o registro bíblico indicar que ele era canhoto, como que a ensinar que quando Deus levanta alguém para ser usado por Ele, esta pessoa não precisa estar revestida de todas as habilidades necessárias, porque Deus mesmo se encarregará de provê-las, conforme operação do Espírito Santo.
Deus usa as coisas desprezíveis e as que não são para que se reconheça que toda a glória deve ser tributada tão somente a Ele, pelo reconhecimento de que não nós, mas o Seu poder é quem realiza todas as coisas. 
  E citado no texto que havia imagens de escultura em Gilgal (v. 19, 26), e sabemos que este foi o local onde Josué levantou pedras em testemunho da abertura do rio Jordão, quando eles entraram em Canaã, e foi também em Gilgal em que renovaram a aliança com Deus, pela circuncisão de todos os israelitas e celebração da páscoa, e foi também em Gilgal que o Senhor retirou de sobre eles o opróbrio, tendo este local sido escolhido como acampamento de Israel, enquanto realizava as campanhas de conquista da terra.
Tudo isto deve ter servido para aumentar ainda mais a indignação de Eúde contra a dominação de Israel, por um povo idólatra, e certamente isto pesou para que se decidisse em tirar a vida de Eglon, rei de Moabe, e conduzir os israelitas em Efraim a lutarem contra os moabitas, tendo sido mortos cerca de dez mil deles pelos israelitas (v. 29).
É dito que estes homens eram robustos e valentes, para que ficasse registrado que não foi propriamente pelo próprio poder dos israelitas que conseguiram tal façanha, mas pelo braço forte do Senhor que era agora com eles.
O resultado foi o de que Moabe deixou de ser opressor, e foi subjugado por Israel (v. 30).
Assim também ocorre com os crentes, quando se arrependem de seus pecados e se consertam com Deus.
Eles também deixam de ser oprimidos pelos espíritos malignos, e ganham autoridade da parte do Senhor sobre eles.        
O ato de Eúde, em nome de Deus, e para Deus, era plenamente justificável na dispensação da lei, em que Deus usava o Seu povo para se vingar dos Seus inimigos e deles, e para manifestar ao mundo a Sua justiça.
Todavia, agora, na dispensação da graça, nenhum fim justificará jamais o emprego de meios semelhantes pela Igreja.
Nenhuma ordem é determinada na Nova Aliança, aos crentes, neste sentido. Cristo mandou Pedro embainhar a espada, num ensino a todos nós de que não devemos fazê-lo, ainda que se trate do inimigo mais vil.

Este capítulo de Juízes é fechado com a breve citação a Sangar, no verso 31, onde se afirma que matou seiscentos homens dos filisteus, com uma aguilhada de bois, e que tal como Otniel e Eúde, também libertou Israel. (Obs: Aguilhada é o mesmo que aguilhão, e consiste numa vara comprida com um ferrão na ponta para se tanger com ela os bois).  

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