SALMO 28 – Salmo de Davi
Sendo rei, e antes
mesmo de ser rei, tendo vivido na corte do pérfido Saul, Davi conhecia muito
bem, não por praticar, mas por ver nas vidas dos cortesãos, o que era a
perversidade, especialmente das dissimulações daqueles que falam de paz ao seu
próximo, enquanto tramam perversidades em seus corações contra ele.
Num mundo de lobos,
temos que pedir ao Senhor, tal como Davi, que ouça as nossas súplicas por
socorro, para que não sejamos arrastados pela maldade dos ímpios. Não devemos
nos vingar a nós mesmos em nenhuma situação, mas devemos dar lugar à ira de
Deus, que prometeu tomar em Suas mãos as nossas causas, e nos vingar, Ele
mesmo, dos nossos inimigos. Ainda que nada lhes sobrevenha diretamente da parte
de Deus neste mundo, a destruição deles é certa, e terão que prestar contas ao
Senhor de todos os seus atos, no dia do Juízo Final. Nenhum cristão que esteja
sofrendo injustamente neste mundo, tem portanto, motivo para concentrar a sua
atenção ou preocupação naqueles que lhe perseguem ou que intentam o mal contra
as suas vidas, como paga do bem que deles recebem, ou por causa do seu bom
testemunho em Cristo, mas devem concentrar seus pensamentos e atenção somente
no Senhor, porque é dEle que virá o seu livramento. Davi chama por isso o
Senhor de sua força e escudo. Força para agir contra o mal, e escudo para nos
proteger das suas maldades.
“A ti clamo, ó SENHOR; rocha minha, não sejas surdo para comigo;
para que não suceda, se te calares acerca de mim, seja eu semelhante aos que
descem à cova. Ouve-me as vozes súplices, quando a ti clamar por socorro,
quando erguer as mãos para o teu santuário.
Não me arrastes com os ímpios, com os que praticam a iniquidade; os
quais falam de paz ao seu próximo, porém no coração têm perversidade. Paga-lhes
segundo as suas obras, segundo a malícia dos seus atos; dá-lhes conforme a obra
de suas mãos, retribui-lhes o que merecem.
E, visto que não atentam para os feitos do SENHOR, nem para o que as
suas mãos fazem, ele os derribará e não os reedificará. Bendito seja o SENHOR, porque me ouviu as
vozes súplices! O SENHOR é a minha força
e o meu escudo; nele o meu coração confia, nele fui socorrido; por isso, o meu
coração exulta, e com o meu cântico o louvarei.
O SENHOR é a força do seu povo, o refúgio salvador do seu ungido. Salva o teu povo e abençoa a tua herança;
apascenta-o e exalta-o para sempre.”
SALMO 29 – Salmo de Davi
Todos os filhos de
Deus têm uma grande dívida para com Ele, a qual deve ser paga com adoração
verdadeira, em santidade, em espírito. Ele deve ser amado com todas as nossas
forças, ou seja, com todo o empenho da nossa mente e espírito, em cumprimento
da Sua vontade. Devemos pagar-lhe o tributo da devida glorificação do Seu nome,
praticando obras de justiça diante de todos os homens, especialmente por lhes
pregar o evangelho, para que o Seu nome seja glorificado, pelas obras poderosas
que Ele realizar na presença deles por nosso intermédio. Para tais boas obras é
necessário ouvir o que o Espírito diz às igrejas. É preciso ouvir a poderosa
voz do Senhor, que está representada em figura nos fenômenos da natureza que
produzem fortes sons como por exemplo os trovões e as ondas do mar. Com a
liberação da Palavra de ordem o Senhor não somente pode destruir, como também
gerar vida. Ele pode purificar como fogo. Ele sobre tudo preside e se nossos
ouvidos espirituais estiverem apurados nós ouviremos a Sua poderosa voz, e
automaticamente diremos: Glória! A teologia
do silêncio permanente como forma de expressar reverência a Deus, não se
sustenta nos corações daqueles que tal como Davi, ouvem a voz do Senhor, porque
não podem conter o mover que o Espírito produz no interior deles, e o
traduzirão em brados de glórias e aleluias a Deus.
“Tributai ao SENHOR, filhos de Deus, tributai ao SENHOR glória e
força. Tributai ao SENHOR a glória devida ao seu nome, adorai o SENHOR na
beleza da santidade. Ouve-se a voz do SENHOR sobre as águas; troveja o Deus da
glória; o SENHOR está sobre as muitas águas.
A voz do SENHOR é poderosa; a voz do SENHOR é cheia de majestade. A voz do SENHOR quebra os cedros; sim, o
SENHOR despedaça os cedros do Líbano.
Ele os faz saltar como um bezerro; o Líbano e o Siriom, como bois
selvagens. A voz do SENHOR despede chamas de fogo. A voz do SENHOR faz tremer o deserto; o
SENHOR faz tremer o deserto de Cades. A voz do SENHOR faz dar cria às corças e
desnuda os bosques; e no seu templo tudo diz: Glória! O SENHOR preside aos
dilúvios; como rei, o SENHOR presidirá para sempre. O SENHOR dá força ao seu povo, o SENHOR
abençoa com paz ao seu povo.”
SALMO 31 – Salmo de Davi
Temos aqui mais uma
das orações modelares de Davi que ele costumava fazer quando se encontrava
debaixo de aflições e de angústias. Faríamos bem em seguir-lhe os passos toda
vez em que nos encontramos nas mesmas condições que ele havia experimentado,
quando por causa do Seu amor pelo Senhor, muitos lhe armavam laços às ocultas,
e nas quais sempre fazia do Senhor a sua fortaleza, e entregava o seu espírito
nas Suas mãos para ser livrado. Ele
sabia perfeitamente que era uma coisa vã recorrer a ídolos para receber
livramento. Ao contrário, os laços aumentariam, porque Deus abomina os que
adoram ídolos. Sua confiança estava colocada inteiramente no Deus invisível
cuja vontade está revelada na Bíblia. Ele somente se alegrava e se regozijava
quando o Senhor lhe manifestava a Sua benignidade livrando-o das mãos dos
inimigos, que angustiavam e afligiam a sua alma, e firmando os seus pés num
lugar espiritual espaçoso, em que já não podia mais estar sendo oprimido em sua
alma. Tal era a fidelidade de Davi caminhando em retidão com o Senhor que o
diabo tinha uma fome de devorar a sua alma justa muito maior do que a fome que
nós temos de pão. Davi e o testemunho de sua vida era um espinho na carne de
Satanás, porque por ele, Deus podia calar o diabo com os seus argumentos até
mesmo para cristãos, que uma vida de santidade plena com Deus é algo
impossível, levando muitos destes portanto, a duvidarem até mesmo da real
existência de Deus. Mas o testemunho de Davi era um cala boca nos argumentos do
diabo, e ele tentaria então tirar a sua vida por todos os modos e meios, ou
então levá-lo a um tal desespero em que já não fosse possível manter o mesmo
testemunho de retidão, santidade, amor e prática da verdade. Todavia ele não
podia levar vantagem sobre Davi, levantando exércitos contra ele,
conspiradores, e toda sorte de perseguidores, porque ele sempre, se voltava
para buscar socorro no Senhor, por maior que fosse a angústia da sua alma, tal
como a que ele expressa neste salmo. A misericórdia do Senhor para com ele era
tão grande, que mesmo quando Davi chegava a desesperar da vida, pensando que
Ele lhe havia abandonado, e que seria destruído por seus inimigos, o Senhor
sempre se manifestava no fim, dando-lhe livramento. De modo que a sua fé nEle,
na Sua bondade e misericórdia, aumentava cada vez mais, pois via como Ele
envergonhava os perversos, e emudecia os lábios mentirosos que falam
insolentemente contra o justo, com arrogância e desdém. Davi aprendeu que Deus
sempre age assim com aqueles que se refugiam nEle. Por isso Davi conclama todos
os que são santos a amarem ao Senhor, porque Ele preserva os fiéis para Si,
para que o amem e o sirvam, mas retribui com largueza o soberbo com os Seus
juízos. Os que amam o Senhor devem portanto buscar estarem fortalecidos com a
Sua graça, e terem o coração revigorado por Ele, para que o sirvam do único
modo pelo qual Ele é digno de ser servido e amado.
“Em ti, SENHOR, me refugio; não seja eu jamais envergonhado;
livra-me por tua justiça. Inclina-me os
ouvidos, livra-me depressa; sê o meu castelo forte, cidadela fortíssima que me
salve. Porque tu és a minha rocha e a
minha fortaleza; por causa do teu nome, tu me conduzirás e me guiarás. Tirar-me-ás do laço que, às ocultas, me
armaram, pois tu és a minha fortaleza. Nas tuas mãos, entrego o meu espírito;
tu me remiste, SENHOR, Deus da verdade. Aborreces os que adoram ídolos vãos;
eu, porém, confio no SENHOR. Eu me alegrarei e regozijarei na tua benignidade,
pois tens visto a minha aflição, conheceste as angústias de minha alma e não me entregaste nas mãos do inimigo;
firmaste os meus pés em lugar espaçoso. Compadece-te de mim, SENHOR, porque me
sinto atribulado; de tristeza os meus olhos se consomem, e a minha alma e o meu
corpo. Gasta-se a minha vida na
tristeza, e os meus anos, em gemidos; debilita-se a minha força, por causa da
minha iniquidade, e os meus ossos se consomem.
Tornei-me opróbrio para todos os meus adversários, espanto para os meus
vizinhos e horror para os meus conhecidos; os que me veem na rua fogem de
mim. Estou esquecido no coração deles,
como morto; sou como vaso quebrado. Pois
tenho ouvido a murmuração de muitos, terror por todos os lados; conspirando contra
mim, tramam tirar-me a vida. Quanto a
mim, confio em ti, SENHOR. Eu disse: tu és o meu Deus. Nas tuas mãos, estão os meus dias; livra-me
das mãos dos meus inimigos e dos meus perseguidores. Faze resplandecer o teu rosto sobre o teu
servo; salva-me por tua misericórdia.
Não seja eu envergonhado, SENHOR, pois te invoquei; envergonhados sejam
os perversos, emudecidos na morte.
Emudeçam os lábios mentirosos, que falam insolentemente contra o justo,
com arrogância e desdém. Como é grande a
tua bondade, que reservaste aos que te temem, da qual usas, perante os filhos
dos homens, para com os que em ti se refugiam!
No recôndito da tua presença, tu os esconderás das tramas dos homens,
num esconderijo os ocultarás da contenda de línguas. Bendito seja o SENHOR, que engrandeceu a sua
misericórdia para comigo, numa cidade sitiada!
Eu disse na minha pressa: estou excluído da tua presença. Não obstante,
ouviste a minha súplice voz, quando clamei por teu socorro. Amai o SENHOR, vós todos os seus santos. O
SENHOR preserva os fiéis, mas retribui com largueza ao soberbo. Sede fortes, e revigore-se o vosso coração,
vós todos que esperais no SENHOR.”
SALMO
32 – Salmo de Davi
Este Salmo revela simultaneamente
a bem-aventurança já alcançada de uma vez para todo o sempre quando se é
justificado pelo Senhor, quando Ele perdoa o nosso pecado para sempre por causa
de Jesus Cristo.
De modo que em vez de nos
atribuir, imputar iniquidade, Ele nos atribui a justiça do próprio Cristo, para
que sejamos justificados, isto é, declarados justos, absolvidos de nossas
culpas perante Ele, para todo o sempre.
Todavia, mesmo
naqueles que alcançam tal bem-aventurança, simplesmente pela fé, assim como era
o caso de Davi, ele cita o seu próprio exemplo, quando deixou de confessar seus
pecados ao Senhor.
Ele usa uma metáfora
forte para poder expressar os sentimentos que o dominavam naquela condição.
Ele diz que era como
que os seus ossos tivessem envelhecido, ou seja, ele perdeu o seu vigor e
força, por causa da tristeza profunda que o pecado produzia todos os dias no
seu coração.
Debaixo dos seus
pecados não confessados, ele sentia a mão de Deus não como mão consoladora, mas
como uma mão corretiva e disciplinadora, que estava sobre ele dia e noite,
tirando-lhe todo o vigor espiritual.
Todavia, ele sabia que
estas tristezas produzidas por Deus são para conduzir ao arrependimento, que
trará de volta a alegria e a paz espirituais que haviam sido perdidas.
Por isso se dispôs a
confessar o seu pecado e não mais ocultar a sua iniquidade de Deus.
Ele o fizera e foi
perdoado pelo Senhor.
Veja que ele está
falando de alguém que já havia sido justificado, de alguém que chamou de homem
piedoso, o qual sempre fará súplicas ao Senhor para encontrá-lo, porque aquele
que O conhece de fato, já não pode mais suportar viver longe da Sua presença, e quem
produz tal afastamento, sempre é o pecado, nas suas mais variadas formas.
São estes que se
arrependem continuamente, e que confessam suas faltas ao Senhor, que são
consolados pelo Espírito, porque Ele não consola quem está no pecado, senão
apenas quem está santificado, porque é Espírito consolador, mas também é
Espírito santificador.
Ele primeiro
santifica, e depois consola.
Os que levam o pecado
a sério, e que procuram se apresentar
diante de Deus aprovados, sempre serão livrados por Ele, mesmo quando
transbordarem as muitas águas da aflição, porque estas não conseguirão afogar o
amor e o fogo do zelo de suas almas.
O Senhor os preservará
nas tribulações e lhes cercará com cânticos de livramento.
Instruirá e ensinará o
caminho pelo qual devem seguir, e lhes dará conselhos estando com Seus olhos
fixados neles.
Contudo o que
permanece rebelde contra o Senhor, em vez de ser instruído com mansidão, será
dominado com a força de freios e cabrestos tal como se faz com o cavalo ou a
mula, que não têm entendimento.
Estes terão que curtir
sofrimentos sem consolações.
Mas os que confiam no
Senhor, serão assistidos pela Sua misericórdia, e se alegrarão nEle, no
espírito, e se regozijarão na sua justiça, porque são retos de coração.
“Bem-aventurado aquele cuja iniquidade é perdoada, cujo pecado é
coberto.
Bem-aventurado o homem a quem o SENHOR não atribui iniquidade e em
cujo espírito não há dolo.
Enquanto calei os meus pecados, envelheceram os meus ossos pelos
meus constantes gemidos todo o dia.
Porque a tua mão pesava dia e noite sobre mim, e o meu vigor se
tornou em sequidão de estio.
Confessei-te o meu pecado e a minha iniquidade não mais ocultei.
Disse: confessarei ao SENHOR as minhas transgressões; e tu
perdoaste a iniquidade do meu pecado.
Sendo assim, todo homem piedoso te fará súplicas em tempo de poder
encontrar-te.
Com efeito, quando transbordarem muitas águas, não o
atingirão.
Tu és o meu esconderijo; tu me preservas da tribulação e me cercas
de alegres cantos de livramento.
Instruir-te-ei e te ensinarei o caminho que deves seguir; e, sob
as minhas vistas, te darei conselho.
Não sejais como o cavalo ou a mula, sem entendimento, os quais com
freios e cabrestos são dominados; de outra sorte não te obedecem.
Muito sofrimento terá de curtir o ímpio, mas o que confia no
SENHOR, a misericórdia o assistirá.
Alegrai-vos no SENHOR e regozijai-vos, ó justos; exultai, vós
todos que sois retos de coração.”
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