Mais de
duzentos anos antes de Ciro conquistar Babilônia nos dias do rei Belsazar, Deus
havia falado através do profeta Isaías (Is 44.28; 45.1) que ele (Ciro),
libertaria os judeus do cativeiro em Babilônia, e faria com que retornassem à
sua terra na Palestina, para reconstruírem o templo, obra esta que Ciro
assumiu, pelo exame das profecias dirigidas a ele, como sendo algo da própria
esfera da sua responsabilidade, conforme a determinação que havia recebido de
Deus.
Em 605 a.C. foi levado o primeiro grupo de
judeus para o cativeiro em Babilônia.
Cumpridos os setenta anos previstos para o
cativeiro (Jer 29.10), prazo este, que havia sido estabelecido por Deus em Sua
soberania, cerca de 537 a.C., Babilônia caiu sob o poder do rei Ciro da Pérsia,
que decretou neste mesmo ano o retorno dos judeus à Palestina.
Nabucodonosor efetuou a primeira leva de
cativos no primeiro ano do seu reinado, que correspondeu ao quarto do rei
Jeoaquim de Judá, e tendo reinado por 45 anos foi sucedido no trono por seu
filho Evil-Merodaque, o qual reinou por 23 anos.
Babilônia caiu sob o poder da Pérsia no
terceiro ano de Belsazar, neto de Nabucodonosor, somando assim os setenta anos
de cativeiro, que haviam sido profetizados por Jeremias.
Este Belsazar é chamado neste capítulo de Daniel, como sendo filho
de Nabucodonosor, no entanto, era um modo comum dos antigos se referirem aos
descendentes de uma determinada pessoa, porque como vimos, ele era na verdade,
neto, e não filho de Nabucodonosor.
Assim,
o Daniel dos capítulos anteriores era jovem, porque neles são narradas suas
participações nos primeiros anos do reinado de Nabucodonosor. Todavia, neste
capitulo ele já era muito avançado em anos, porque já havia passado cerca de
setenta anos desde que fora levado em cativeiro para Babilônia.
Era
chegada a hora da libertação do povo judeu do cativeiro, e também a hora de se
dar a Babilônia o pago por todas as suas más obras, que culminaram com este ato
extremo de sacrilégio praticado, pelo rei Belsazar, do qual não tinham sequer
ousado em pensar perpetrar, os seus
antecessores no trono, Evil-Merodaque e Nabucodonosor.
O
motivo da queda do reino de Babilônia naquela mesma noite do banquete profano,
foram os muitos pecados de Babilônia, mas aquela foi a gota de água que
precipitou a sua completa ruína, porquanto Daniel afirmou na face de Belsazar o
seguinte:
“E
te levantaste contra o Senhor do céu, pois foram trazidos os utensílios da casa
dele perante ti, e tu, e os teus grandes, e as tuas mulheres, e as tuas
concubinas bebestes vinho neles; além disso, deste louvores aos deuses de
prata, de ouro, de bronze, de ferro, de madeira e de pedra, que não veem, não
ouvem, nem sabem; mas a Deus, em cuja mão está a tua vida e todos os teus
caminhos, a ele não glorificaste.” (v. 23)
Aqueles utensílios sagrados do templo de Jerusalém, que haviam
sido trazidos para Babilônia, estavam devidamente guardados reverentemente até
então num santuário em honra ao Deus de Israel, mas para demonstrar desprezo
pelo Deus dos judeus, Belsazar ordenou que aqueles utensílios fossem trazidos
para serem usados no banquete que havia dado aos grandes do reino.
Para que todos os grandes de Babilônia que se encontravam naquele
banquete, soubessem que a ruína que viria ainda naquela noite sobre eles, da parte
de uma coligação entre medos e persas, tendo à frente os reis Dario e Ciro, não
fora uma obra do acaso, mas um juízo de Deus determinado sobre Babilônia, este
foi prenunciado com uma escritura na parede do palácio, que fora vista por
todos que ali se encontravam, sendo feita por dedos da mão de um homem. Nada mais se viu além da mão e a escritura
que ela produzia na parede.
O rei ficou aterrorizado e
prometeu que a qualquer que interpretasse a escritura seria vestido de púrpura, traria
uma cadeia de ouro ao pescoço e seria o terceiro no seu reino.
Como nenhum dos magos e sábios de Babilônia foram capazes de
interpretá-la, a rainha mãe lembrou a Belsazar que havia em Babilônia alguém
que seria capaz de fazê-lo, porque havia interpretado no passado os sonhos de
seu avô Nabucodonosor.
Daniel ao receber do rei a oferta da recompensa prometida,
recusou-a, e fez bem ao fazê-lo porque mal sabia Belsazar que morreria ainda
naquela mesma noite, e que Babilônia passaria a ser uma província da Média e da
Pérsia.
E o fato de Daniel ter dado a interpretação que era contrária ao
rei de Babilônia e que favorecia os medos e os persas, deve ter contribuído
para que caísse em graça aos olhos dos reis da Média e da Pérsia, conforme
ocorreu de fato, vindo a receber de Dario o cargo de sátrapa, sendo um, dos
três presidentes dos 127 sátrapas do reino, como veremos no capítulo seguinte.
Quanto à escritura MENE, MENE, TEQUEL e PARSIM, são palavras relativas a verbos
hebraicos, sendo que MENE significa numerar, calcular, contar. Havia apenas um
verbo escrito na parede que encerrava um sentido profético que somente poderia
ser entendido por revelação divina, e esta foi dada a Daniel, que pôde entender
em espírito que aquele numerado, calculado ou contado, significava que Deus
havia fixado os números de dias do reinado de Babilônia, e que este tempo já
havia sido completado, de modo que já não seria mais um reino sobre a
terra.
TEQUEL, outra palavra hebraica que significa ser pesado. Deus
havia colocado o reino de Babilônia em sua balança de justiça, e esta foi
achada em falta de justiça suficiente que pudesse livrá-la do Seu juízo.
PERES, termo hebraico que
significa dividido, separado. Na parede foi escrito pharsim que é o plural de
Peres, ou seja, separados, divididos. Daniel interpretou a palavra no singular,
fazendo com que o seu peso recaísse sobre Belsazar que era a pessoa principal a
ser submetida àquele juízo, porque o precipitara, dando-lhe causa, com seu ato
profano, de grande desonra e desrespeito ao Deus de Israel. Daniel interpretou
profeticamente que aquele divisão significava que o reino seria tirado de
Belsazar, e dado aos medos e aos persas.
Assim, o reino seria separado, porque seria dividido entre os
reinos da Média e da Pérsia.
“1 O rei Belsazar deu um grande banquete a mil dos seus grandes e
bebeu vinho na presença dos mil.
2 Enquanto Belsazar bebia e apreciava o vinho, mandou trazer os
utensílios de ouro e de prata que Nabucodonosor, seu pai, tirara do templo, que
estava em Jerusalém, para que neles bebessem o rei e os seus grandes, as suas
mulheres e concubinas.
3 Então, trouxeram os utensílios de ouro, que foram tirados do
templo da Casa de Deus que estava em Jerusalém, e beberam neles o rei, os seus
grandes e as suas mulheres e concubinas.
4 Beberam o vinho e deram louvores aos deuses de ouro, de prata,
de bronze, de ferro, de madeira e de pedra.
5 No mesmo instante, apareceram uns dedos de mão de homem e
escreviam, defronte do candeeiro, na caiadura da parede do palácio real; e o
rei via os dedos que estavam escrevendo.
6 Então, se mudou o semblante do rei, e os seus pensamentos o
turbaram; as juntas dos seus lombos se relaxaram, e os seus joelhos batiam um
no outro.
7 O rei ordenou, em voz alta, que se introduzissem os
encantadores, os caldeus e os feiticeiros; falou o rei e disse aos sábios da
Babilônia: Qualquer que ler esta escritura e me declarar a sua interpretação
será vestido de púrpura, trará uma cadeia de ouro ao pescoço e será o terceiro
no meu reino.
8 Então, entraram todos os sábios do rei; mas não puderam ler a
escritura, nem fazer saber ao rei a sua interpretação.
9 Com isto, se perturbou muito o rei Belsazar, e mudou-se-lhe o
semblante; e os seus grandes estavam sobressaltados.
10 A rainha-mãe, por causa do que havia acontecido ao rei e aos
seus grandes, entrou na casa do banquete e disse: Ó rei, vive eternamente! Não
te turbem os teus pensamentos, nem se mude o teu semblante.
11 Há no teu reino um homem que tem o espírito dos deuses santos;
nos dias de teu pai, se achou nele luz, e inteligência, e sabedoria como a
sabedoria dos deuses; teu pai, o rei Nabucodonosor, sim, teu pai, ó rei, o
constituiu chefe dos magos, dos encantadores, dos caldeus e dos feiticeiros,
12 porquanto espírito excelente, conhecimento e inteligência,
interpretação de sonhos, declaração de enigmas e solução de casos difíceis se
acharam neste Daniel, a quem o rei pusera o nome de Beltessazar; chame-se,
pois, a Daniel, e ele dará a interpretação.
13 Então, Daniel foi introduzido à presença do rei. Falou o rei e
disse a Daniel: És tu aquele Daniel, dos cativos de Judá, que o rei, meu pai,
trouxe de Judá?
14 Tenho ouvido dizer a teu respeito que o espírito dos deuses
está em ti, e que em ti se acham luz, inteligência e excelente sabedoria.
15 Acabam de ser introduzidos à minha presença os sábios e os
encantadores, para lerem esta escritura e me fazerem saber a sua interpretação;
mas não puderam dar a interpretação destas palavras.
16 Eu, porém, tenho ouvido dizer de ti que podes dar
interpretações e solucionar casos difíceis; agora, se puderes ler esta
escritura e fazer-me saber a sua interpretação, serás vestido de púrpura, terás
cadeia de ouro ao pescoço e serás o terceiro no meu reino.
17 Então, respondeu Daniel e disse na presença do rei: Os teus
presentes fiquem contigo, e dá os teus prêmios a outrem; todavia, lerei ao rei
a escritura e lhe farei saber a interpretação.
18 Ó rei! Deus, o Altíssimo, deu a Nabucodonosor, teu pai, o reino
e grandeza, glória e majestade.
19 Por causa da grandeza que lhe deu, povos, nações e homens de
todas as línguas tremiam e temiam diante dele; matava a quem queria e a quem
queria deixava com vida; a quem queria exaltava e a quem queria abatia.
20 Quando, porém, o seu coração se elevou, e o seu espírito se
tornou soberbo e arrogante, foi derribado do seu trono real, e passou dele a
sua glória.
21 Foi expulso dentre os filhos dos homens, o seu coração foi
feito semelhante ao dos animais, e a sua morada foi com os jumentos monteses;
deram-lhe a comer erva como aos bois, e do orvalho do céu foi molhado o seu
corpo, até que conheceu que Deus, o Altíssimo, tem domínio sobre o reino dos
homens e a quem quer constitui sobre ele.
22 Tu, Belsazar, que és seu filho, não humilhaste o teu coração,
ainda que sabias tudo isto.
23 E te levantaste contra o Senhor do céu, pois foram trazidos os
utensílios da casa dele perante ti, e tu, e os teus grandes, e as tuas
mulheres, e as tuas concubinas bebestes vinho neles; além disso, deste louvores
aos deuses de prata, de ouro, de bronze, de ferro, de madeira e de pedra, que
não veem, não ouvem, nem sabem; mas a Deus, em cuja mão está a tua vida e todos
os teus caminhos, a ele não glorificaste.
24 Então, da parte dele foi enviada aquela mão que traçou esta
escritura.
25 Esta, pois, é a escritura que se traçou: MENE, MENE, TEQUEL e
PARSIM.
26 Esta é a interpretação daquilo: MENE: Contou Deus o teu reino e
deu cabo dele.
27 TEQUEL: Pesado foste na balança e achado em falta.
28 PERES: Dividido foi o teu reino e dado aos medos e aos persas.
29 Então, mandou Belsazar que vestissem Daniel de púrpura, e lhe
pusessem cadeia de ouro ao pescoço, e proclamassem que passaria a ser o
terceiro no governo do seu reino.
30 Naquela mesma noite, foi morto Belsazar, rei dos caldeus.
31 E Dario, o medo, com cerca de sessenta e dois anos, se apoderou
do reino.”
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