SALMO 80 – Salmo de Asafe
O teor deste salmo é o
mesmo do anterior, só que aqui não se faz uma referência direta a Judá ou a
Jerusalém, mas a José, a Efraim, ou seja, à porção do Norte de Israel que havia
sido levada em cativeiro pelos assírios. Mas o clamor é o mesmo do salmo
anterior, tanto em relação aos israelitas quanto aos seus inimigos.
“Dá ouvidos, ó pastor de Israel, tu que conduzes a José como um
rebanho; tu que estás entronizado acima dos querubins, mostra o teu esplendor.
Perante Efraim, Benjamim e Manassés, desperta o teu poder e vem salvar-nos.
Restaura-nos, ó Deus; faze resplandecer o teu rosto, e seremos salvos. Ó
SENHOR, Deus dos Exércitos, até quando estarás indignado contra a oração do teu
povo? Dás-lhe a comer pão de lágrimas e a beber copioso pranto. Constituis-nos
em contendas para os nossos vizinhos, e os nossos inimigos zombam de nós a
valer. Restaura-nos, ó Deus dos
Exércitos; faze resplandecer o teu rosto, e seremos salvos. Trouxeste uma
videira do Egito, expulsaste as nações e a plantaste. Dispuseste-lhe o terreno,
ela deitou profundas raízes e encheu a terra.
Com a sombra dela os montes se cobriram, e, com os seus sarmentos, os
cedros de Deus. Estendeu ela a sua
ramagem até ao mar e os seus rebentos, até ao rio. Por que lhe derribaste as
cercas, de sorte que a vindimam todos os que passam pelo caminho? O javali da
selva a devasta, e nela se repastam os animais que pululam no campo. Ó Deus dos
Exércitos, volta-te, nós te rogamos, olha do céu, e vê, e visita esta vinha;
protege o que a tua mão direita plantou, o sarmento que para ti fortaleceste.
Está queimada, está decepada. Pereçam os nossos inimigos pela repreensão do teu
rosto. Seja a tua mão sobre o povo da tua destra, sobre o filho do homem que
fortaleceste para ti. E assim não nos apartaremos de ti; vivifica-nos, e
invocaremos o teu nome. Restaura-nos, ó SENHOR, Deus dos Exércitos, faze resplandecer
o teu rosto, e seremos salvos.”
SALMO 87 – Salmo dos filhos de Coré
Este salmo exalta a
excelência de Jerusalém sobre todas as demais cidades de Israel, e de todas as
nações, porque Deus a escolheu para estabelecê-la para sempre, para ser a fonte
da Sua revelação, pela qual são gerados filhos para Ele em todas as nações.
“Fundada por ele sobre os montes santos, o SENHOR ama as portas de
Sião mais do que as habitações todas de Jacó. Gloriosas coisas se têm dito de
ti, ó cidade de Deus! Dentre os que me conhecem, farei menção de Raabe e da
Babilônia; eis aí Filístia e Tiro com Etiópia; lá, nasceram. E com respeito a
Sião se dirá: Este e aquele nasceram nela; e o próprio Altíssimo a
estabelecerá. O SENHOR, ao registrar os povos, dirá: Este nasceu lá. Todos os
cantores, saltando de júbilo, entoarão: Todas as minhas fontes são em ti.”
SALMO 88 – Salmo dos filhos de Core
Neste salmo, o
salmista chora na presença do Senhor pela condição de abatimento extremo da sua
alma. Ele sofre pela ausência da comunhão com o Senhor, e pelo sentir da
repreensão da Sua ira. Ele sofre porque em vez de se achar em tal condição como
se estivesse morto, o seu desejo era o de louvar e exaltar o nome do Senhor.
Por isso orou para que os ouvidos do Senhor atendessem ao Seu clamor e que a
sua oração chegasse à Sua presença. O salmista encontrava-se solitário, porque
até mesmo do consolo da presença dos seus amigos Ele havia sido privado, e
considerava que isto havia sido feito pelo próprio Deus. Assim, orava para que
fosse libertado de tais sentimentos e para que sua alma voltasse a achar paz e
descanso no Senhor.
“Ó SENHOR, Deus da minha salvação, dia e noite clamo diante de ti.
Chegue à tua presença a minha oração, inclina os ouvidos ao meu clamor. Pois a
minha alma está farta de males, e a minha vida já se abeira da morte. Sou contado com os que baixam à cova; sou
como um homem sem força, atirado entre
os mortos; como os feridos de morte que jazem na sepultura, dos quais já não te
lembras; são desamparados de tuas mãos. Puseste-me na mais profunda cova, nos
lugares tenebrosos, nos abismos. Sobre
mim pesa a tua ira; tu me abates com todas as tuas ondas. Apartaste de mim os
meus conhecidos e me fizeste objeto de abominação para com eles; estou preso e
não vejo como sair. Os meus olhos
desfalecem de aflição; dia após dia, venho clamando a ti, SENHOR, e te levanto
as minhas mãos. Mostrarás tu prodígios
aos mortos ou os finados se levantarão para te louvar? Será referida a tua bondade na sepultura? A
tua fidelidade, nos abismos? Acaso, nas
trevas se manifestam as tuas maravilhas? E a tua justiça, na terra do
esquecimento? Mas eu, SENHOR, clamo a ti por socorro, e antemanhã já se
antecipa diante de ti a minha oração.
Por que rejeitas, SENHOR, a minha alma e ocultas de mim o rosto? Ando
aflito e prestes a expirar desde moço; sob o peso dos teus terrores, estou
desorientado. Por sobre mim passaram as tuas iras, os teus terrores deram cabo
de mim. Eles me rodeiam como água, de contínuo; a um tempo me circundam. Para longe de mim afastaste amigo e
companheiro; os meus conhecidos são trevas.”
SALMO 89 – Salmo de Etã
“Cantarei para sempre as tuas misericórdias, ó SENHOR; os meus
lábios proclamarão a todas as gerações a tua fidelidade. Pois disse eu: a benignidade está fundada
para sempre; a tua fidelidade, tu a confirmarás nos céus, dizendo: Fiz aliança com o meu escolhido e jurei a
Davi, meu servo: Para sempre
estabelecerei a tua posteridade e firmarei o teu trono de geração em geração.
Celebram os céus as tuas maravilhas, ó SENHOR, e, na assembleia dos santos, a
tua fidelidade. Pois quem nos céus é
comparável ao SENHOR? Entre os seres celestiais, quem é semelhante ao
SENHOR? Deus é sobremodo tremendo na
assembleia dos santos e temível sobre todos os que o rodeiam. Ó SENHOR, Deus dos Exércitos, quem é poderoso
como tu és, SENHOR, com a tua fidelidade ao redor de ti?! Dominas a fúria do mar; quando as suas ondas
se levantam, tu as amainas. Calcaste a
Raabe, como um ferido de morte; com o teu poderoso braço dispersaste os teus
inimigos. Teus são os céus, tua, a terra;
o mundo e a sua plenitude, tu os fundaste.
O Norte e o Sul, tu os criaste; o Tabor e o Hermom exultam em teu
nome. O teu braço é armado de poder,
forte é a tua mão, e elevada, a tua destra.
Justiça e direito são o fundamento do teu trono; graça e verdade te
precedem. Bem-aventurado o povo que
conhece os vivas de júbilo, que anda, ó SENHOR, na luz da tua presença. Em teu nome, de contínuo se alegra e na tua
justiça se exalta, porquanto tu és a
glória de sua força; no teu favor avulta o nosso poder. Pois ao SENHOR pertence o nosso escudo, e ao
Santo de Israel, o nosso rei. Outrora, falaste em visão aos teus santos e
disseste: A um herói concedi o poder de socorrer; do meio do povo, exaltei um
escolhido. Encontrei Davi, meu servo; com o meu santo óleo o ungi. A minha mão será firme com ele, o meu braço o
fortalecerá. O inimigo jamais o
surpreenderá, nem o há de afligir o filho da perversidade. Esmagarei diante dele os seus adversários e
ferirei os que o odeiam. A minha
fidelidade e a minha bondade o hão de acompanhar, e em meu nome crescerá o seu
poder. Porei a sua mão sobre o mar e a sua direita, sobre os rios. Ele me invocará, dizendo: Tu és meu pai, meu
Deus e a rocha da minha salvação.
Fa-lo-ei, por isso, meu primogênito, o mais elevado entre os reis da
terra. Conservar-lhe-ei para sempre a minha graça e, firme com ele, a minha
aliança. Farei durar para sempre a sua
descendência; e, o seu trono, como os dias do céu. Se os seus filhos
desprezarem a minha lei e não andarem nos meus juízos, se violarem os meus preceitos e não guardarem
os meus mandamentos, então, punirei com vara as suas transgressões e com
açoites, a sua iniquidade. Mas jamais
retirarei dele a minha bondade, nem desmentirei a minha fidelidade. Não
violarei a minha aliança, nem modificarei o que os meus lábios proferiram. Uma vez jurei por minha santidade (e serei eu
falso a Davi?): A sua posteridade durará
para sempre, e o seu trono, como o sol perante mim. Ele será estabelecido para
sempre como a lua e fiel como a testemunha no espaço. Tu, porém, o repudiaste e
o rejeitaste; e te indignaste com o teu ungido.
Aborreceste a aliança com o teu servo; profanaste-lhe a coroa,
arrojando-a para a terra. Arrasaste os seus muros todos; reduziste a ruínas as
suas fortificações. Despojam-no todos os
que passam pelo caminho; e os vizinhos o escarnecem. Exaltaste a destra dos seus adversários e
deste regozijo a todos os seus inimigos.
Também viraste o fio da sua espada e não o sustentaste na batalha. Fizeste cessar o seu esplendor e deitaste por
terra o seu trono. Abreviaste os dias da
sua mocidade e o cobriste de ignomínia. Até quando, SENHOR? Esconder-te-ás para
sempre? Arderá a tua ira como fogo? Lembra-te de como é breve a minha
existência! Pois criarias em vão todos os filhos dos homens! Que homem há, que
viva e não veja a morte? Ou que livre a sua alma das garras do sepulcro? Que é
feito, Senhor, das tuas benignidades de outrora, juradas a Davi por tua
fidelidade? Lembra-te, Senhor, do opróbrio dos teus servos e de como trago no
peito a injúria de muitos povos, com que, SENHOR, os teus inimigos têm vilipendiado,
sim, vilipendiado os passos do teu ungido.
Bendito seja o SENHOR para sempre! Amém e amém!”
O salmista proclama a
benignidade do Senhor para com a casa de Davi, conforme a promessa que lhe
fizera, ao mesmo tempo que lamenta as presentes condições do seu tabernáculo
(casa) que se encontrava caído. Ele ora para que o Senhor restaurasse a casa de
Davi, no entanto, isto seria feito somente a partir da manifestação de Jesus
Cristo em carne, que é Aquele que carrega a promessa de restaurar tal
tabernáculo caído (Amós 9.11).
“Naquele dia,
levantarei o tabernáculo caído de Davi, repararei as suas brechas; e,
levantando-o das suas ruínas, restaura-lo-ei como fora nos dias da
antiguidade;” (Am 9.11).
Esta profecia fala em
levantar, reparar e restaurar.
A profecia de Amós
concentrou-se mais em Israel, mas também falou das assolações que viriam sobre
Judá, e sabemos que estas ocorreram com o cativeiro babilônico.
Então, temos aqui uma
promessa para dias distantes, quando não somente Judá seria de novo restaurada
em sua terra nos dias de Zorobabel, mas quando estariam para sempre seguros com
o Messias, que é aquele que restaura a casa caída de Davi, porque é desta casa
segundo a carne, e é nEle que se cumprem as boas e fiéis promessas feitas a
Davi e á sua casa.
A profecia se refere
ao Israel de Deus unido a nosso Senhor porque a promessa afirma que quando
Israel habitasse nas cidades assoladas que seriam reedificadas, plantariam
vinhas e beberiam o seu vinho, e fariam pomares e lhes comeriam o fruto, e
depois de plantados na sua terra, que lhes foi dada pelo Senhor, jamais seriam
arrancados dela.
Quando eles retornaram
de Babilônia sob Zorobabel, tornaram a ser arrancados da terra pelos romanos em
70 d. C. e para lá retornaram somente no século XX, mas ainda há muitos judeus
dispersos pelo mundo, e Jerusalém ainda sofrerá uma nova assolação sob o
Anticristo, quando os judeus serão perseguidos e dispersos, mas por ocasião da
volta do Senhor, Ele estabelecerá o Seu reino para sempre e dará cumprimento à
profecia antiga de que faria de Israel uma nação e reino sacerdotal.
A profecia aponta
portanto para a volta de Jesus.
Deste modo, apesar de
o Senhor ter profetizado em quase todo o livro de Amós, e no princípio deste
último capítulo, que efetuaria grande destruição em Israel, no entanto, deixou
registrado que isto não significava que deixaria de ser fiel à promessa que
havia feito aos patriarcas de que Israel estaria perpetuamente diante dEle.
Todavia, Ele revelou
quais serão estes que habitarão para sempre no tabernáculo de Davi que Ele
mesmo restauraria, a saber, aqueles que fossem lavados de seus pecados, porque
conforme o Senhor afirmou no verso 10, todos os pecadores do seu povo morreriam
à espada, a saber, aqueles que estavam confiados que o juízo do Senhor nunca os
alcançaria, e por isso permaneceriam deliberadamente na prática do pecado.
Isto serve de grande
alerta para muitas pessoas que se encontram agregadas à Igreja de Cristo, mas
que não fazem parte do tabernáculo (casa) de Davi, porque nunca foram
purificados dos seus pecados pelo sangue de Jesus.
Seguem confiantes que
pelo simples fato de se dizerem pertencentes a Cristo, que nenhum juízo lhes
sobrevirá da parte de Deus, apesar de viverem na prática deliberada do pecado.
Quanto às fiéis
promessas feitas da Davi e à sua casa, citadas neste salmo, estas constam de II
Samuel 7, cujo comentário transcrevemos
a seguir:
II
SAMUEL 7
“1 Ora,
estando o rei Davi em sua casa e tendo-lhe dado o Senhor descanso de todos os
seus inimigos em redor,
2 disse
ele ao profeta Natã: Eis que eu moro numa casa de cedro, enquanto que a arca de
Deus dentro de uma tenda.
3
Respondeu Natã ao rei: Vai e faze tudo quanto está no teu coração, porque o
Senhor é contigo.
4 Mas
naquela mesma noite a palavra do Senhor veio a Natã, dizendo:
5 Vai,
e dize a meu servo Davi: Assim diz o Senhor: Edificar-me-ás tu uma casa para eu
nela habitar?
6
Porque em casa nenhuma habitei, desde o dia em que fiz subir do Egito os filhos
de Israel até o dia de hoje, mas tenho andado em tenda e em tabernáculo.
7 E em
todo lugar em que tenho andado com todos os filhos de Israel, falei porventura,
alguma palavra a qualquer das suas tribos a que mandei apascentar o meu povo de
Israel, dizendo: por que não me edificais uma casa de cedro?
8 Agora,
pois, assim dirás ao meu servo Davi: Assim diz o Senhor dos exércitos: Eu te
tomei da malhada, de detrás das ovelhas, para que fosses príncipe sobre o meu
povo, sobre Israel;
9 e fui
contigo, por onde quer que foste, e destruí a todos os teus inimigos diante de
ti; e te farei um grande nome, como o nome dos grandes que há na terra.
10
Também designarei lugar para o meu povo, para Israel, e o plantarei ali, para
que ele habite no seu lugar, e não mais seja perturbado, e nunca mais os filhos
da iniquidade o aflijam, como dantes,
11 e
como desde o dia em que ordenei que houvesse juízes sobre o meu povo Israel. A
ti, porém, darei descanso de todos os teus inimigos. Também o Senhor te declara
que ele te fará casa.
12
Quando teus dias forem completos, e vieres a dormir com teus pais, então farei
levantar depois de ti um dentre a tua descendência, que sair das tuas
entranhas, e estabelecerei o seu reino.
13 Este
edificará uma casa ao meu nome, e eu estabelecerei para sempre o trono do seu
reino.
14 Eu
lhe serei pai, e ele me será filho. E, se vier a transgredir, castigá-lo-ei com
vara de homens, e com açoites de filhos de homens;
15 mas
não retirarei dele a minha benignidade como a retirei de Saul, a quem tirei de
diante de ti.
16 A
tua casa, porém, e o teu reino serão firmados para sempre diante de ti; teu
trono será estabelecido para sempre.
17
Conforme todas estas palavras, e conforme toda esta visão, assim falou Natã a
Davi.
18
Então entrou o rei Davi, e sentou-se perante o Senhor, e disse: Quem sou eu,
Senhor Jeová, e que é a minha casa, para me teres trazido até aqui?
19 E
isso ainda foi pouco aos teus olhos, Senhor Jeová, senão que também falaste da
casa do teu servo para tempos distantes; e me tens mostrado gerações futuras, ó
Senhor Jeová?
20 Que
mais te poderá dizer Davi. pois tu conheces bem o teu servo, ó Senhor Jeová.
21 Por
causa da tua palavra, e segundo o teu coração, fizeste toda esta grandeza,
revelando-a ao teu servo.
22
Portanto és grandioso, ó Senhor Jeová, porque ninguém há semelhante a ti, e não
há Deus senão tu só, segundo tudo o que temos ouvido com os nossos ouvidos.
23 Que
outra nação na terra é semelhante a teu povo Israel, a quem tu, ó Deus, foste
resgatar para te ser povo, para te fazeres um nome, e para fazeres a seu favor
estas grandes e terríveis coisas para a tua terra, diante do teu povo, que tu
resgataste para ti do Egito, desterrando nações e seus deuses?
24
Assim estabeleceste o teu povo Israel por teu povo para sempre, e tu, Senhor,
te fizeste o seu Deus.
25
Agora, pois, ó Senhor Jeová, confirma para sempre a palavra que falaste acerca
do teu servo e acerca da sua casa, e faze como tens falado,
26 para
que seja engrandecido o teu nome para sempre, e se diga: O Senhor dos exércitos
é Deus sobre Israel; e a casa do teu servo será estabelecida diante de ti.
27 Pois
tu, Senhor dos exércitos, Deus de Israel, fizeste uma revelação ao teu servo,
dizendo: Edificar-te-ei uma casa. Por isso o teu servo se animou a fazer-te
esta oração.
28
Agora, pois, Senhor Jeová, tu és Deus, e as tuas palavras são verdade, e tens
prometido a teu servo este bem.
29 Sê,
pois, agora servido de abençoar a casa do teu servo, para que subsista para
sempre diante de ti; pois tu, ó Senhor Jeová, o disseste; e com a tua bênção a
casa do teu servo será, abençoada para sempre.” (II Sm 7.1-29).
Depois
de longas e sucessivas guerras com as nações inimigas de Israel, e estando
subjugados os povos inimigos dos israelitas, principalmente os filisteus, Davi
estava enfim desfrutando em sua vida de um período da paz que ele tanto amava
(Sl 120.7).
Em sua
meditação sobre a pessoa de Deus ele se sentiu constrangido por estar residindo
no palácio suntuoso que Hirão, rei de Tiro, construiu para ele, enquanto a arca
ainda permanecia na tenda que ele havia preparado para ela em Jerusalém.
Davi
estava descansado de seus inimigos em sua casa, mas não achou descanso em sua
alma porque lhe pesava esta preocupação em edificar um templo para o Senhor, e
ele compartilha o peso de sua preocupação com o
profeta Natã, e este o encorajou a fazer tudo quanto estava no seu
coração, porque o Senhor era com ele (v. 2,3).
Porém
na noite daquele mesmo dia, Deus se manifestou a Natã dizendo-lhe que Davi não
lhe edificaria nenhum templo (I Crôn 17.4), apesar de reconhecer que havia
feito bem em ter-se preocupado em honrar o seu Deus ao pensar em construir um
templo para Ele (I Rs 8.18).
Natã
havia portanto, incentivado Davi a construir o templo, lhe falando como um
amigo, mas não da parte de Deus.
E
estava enganado neste particular quanto à vontade do Senhor para Davi, que teve
que ser-lhe revelada por Deus, pois Davi havia sido separado para estender e
consolidar as fronteiras de Israel, mas não para gastar a maior parte do tempo do seu reinado na construção de um
templo, que já estava assentado nos desígnios de Deus como sendo algo para ser
levado a efeito por seu filho Salomão, e é por isso que ele foi citado na mesma
palavra que o Senhor havia dado a Nata, para ser dita a Davi.
Além
disso, Deus não havia dado nenhuma autorização ou fizera qualquer pedido, desde
a saída de Israel do Egito, até então, para que fosse construído um templo, e
não cabia portanto a Davi ou a qualquer outro, tomar uma iniciativa em relação
a algo que o Senhor não havia ordenado.
Se Davi
não estava confortado em saber que a arca permanecia habitando em tendas, Deus
não estava nem um pouco desconfortável, porque qual é a habitação, por mais
suntuosa que seja, que os homens possam edificar para o Senhor, que possa ser
digna e estar à altura da Sua Majestade? Se o próprio céu é obra das mãos dEle,
tudo o que o homem possa edificar neste mundo com ouro, prata, pedras e
madeiras preciosas e nobres, será mais do que nada para Aquele que não habita
em moradas fabricadas por homens, pois nem o céu dos céus pode contê-lo (II
Crôn 2.6).
Mas
Deus mandou dizer a Davi que o templo que ele intentava erigir seria edificado
pelo seu filho (v. 13), e esta profecia se aplica tanto a Salomão, quanto a
Cristo, que é o descendente de Davi que está edificando a Igreja, para ser
templo para a habitação de Deus no Espírito.
Deus
não pode habitar naquilo que o homem edifica, mas criou o próprio homem para
ser lugar da Sua habitação.
E é
dito que aquele que edificaria o templo seria filho de Deus (isto se aplica a
Salomão e a Jesus), e a parte da profecia que afirma que se ele viesse a
transgredir, seria castigado por Ele, mas não retiraria dele a Sua misericórdia
como fizera com Saul (v. 14,15) se aplica óbvia e exclusivamente a Salomão.
Isto
fala da segurança da promessa feita de que o trono de Davi seria firmado, ainda
que Salomão, seu filho, viesse a falhar, bem como os seus descendentes, porque
o cetro permaneceria na casa de Davi, e seria firmado para sempre em Cristo,
que é da sua casa.
A casa
de Saul foi rejeitada por Deus e não foi confirmada.
Mas a
Davi, o Senhor estava prometendo que a sua casa permaneceria no trono para
sempre (v. 16).
Aqui
está pois referido o caráter da aliança da graça que é feita para aqueles que
participarão do reino de Cristo pela fé nEle.
Esta
promessa de que serão firmados no reino, ainda que venham a transgredir, é
garantida pelo próprio Deus conforme revelou a Davi através do profeta Natã.
Esta é
uma aliança para sempre que o Senhor jamais revogará, porque prometeu não
remover a Sua misericórdia daqueles que fazem parte da casa de Davi.
Não da
casa terrena, pois esta promessa não alcançou Absalão e a outros que eram da
sua casa, mas a casa espiritual, daqueles que tivessem a mesma fé dele e que
fossem eleitos por Deus para a salvação.
Isto
não é maravilhoso?
E temos
isto confirmado nas palavras dos profetas, dos apóstolos, e do próprio Cristo,
como por exemplo em Is 55.3; Jer 33.21,22; Ez 34.23,24; Zac 12.7,8; At 13.34;
15.16; Apo 3.7.
Com a
ida de Israel para o cativeiro, o tabernáculo (a casa) de Davi ficou caída
(Amós 9.11), porque foi interrompida a sucessão de reis em Judá, da sua
descendência, mas quando Cristo estiver reinando, o tabernáculo de Davi estará
plenamente restaurado, e a promessa que Deus lhe fez estará vigorando para
sempre em toda a sua plenitude.
Diante
da grandiosidade da promessa que Deus lhe fizera quanto à casa que edificaria
para ele, Davi se retirou da presença de Natã e foi adorar e agradecer ao
Senhor diante da tenda onde se encontrava a arca (v. 18 a 29).
É
importante destacar que Deus disse que edificaria tal casa a Davi para o bem de
seu povo Israel (v. 8 a 11), e é com o mesmo propósito que Cristo foi exaltado
com um nome que é sobre todo o nome, a saber, para dar descanso para o Seu
povo.
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