SALMO 54 – Salmo de Davi quando os
zifeus o delataram a Saul
“Ó Deus, salva-me, pelo teu nome, e
faze-me justiça, pelo teu poder. Escuta,
ó Deus, a minha oração, dá ouvidos às palavras da minha boca. Pois contra mim se levantam os insolentes, e
os violentos procuram tirar-me a vida; não têm Deus diante de si. Eis que Deus é o meu ajudador, o SENHOR é
quem me sustenta a vida. Ele retribuirá
o mal aos meus opressores; por tua fidelidade dá cabo deles. Oferecer-te-ei voluntariamente sacrifícios;
louvarei o teu nome, ó SENHOR, porque é bom.
Pois me livrou de todas as tribulações; e os meus olhos se enchem com a
ruína dos meus inimigos.”
Nós temos o registro de duas delações realizadas pelos zifeus, a saber,
em I Samuel 23.19-29, e em I Samuel 26.1:
“19 Então subiram os zifeus a Saul, a Gibeá, dizendo: Não se escondeu
Davi entre nós, nos lugares fortes em Hores, no outeiro de Haquilá, que está à
mão direita de Jesimom?
20 Agora, pois, ó rei, desce apressadamente, conforme todo o desejo da
tua alma; a nós nos cumpre entregá-lo nas mãos do rei.
21 Então disse Saul: Benditos sejais vós do Senhor, porque vos compadecestes
de mim:
22 Ide, pois, informai-vos ainda melhor; sabei e notai o lugar que ele
frequenta, e quem o tenha visto ali; porque me foi dito que é muito astuto.
23 Pelo que atentai bem, e informai-vos acerca de todos os esconderijos
em que ele se oculta; e então voltai para mim com notícias exatas, e eu irei
convosco. E há de ser que, se estiver naquela terra, eu o buscarei entre todos
os milhares de Judá.
24 Eles, pois, se levantaram e foram a Zife adiante de Saul; Davi, porém,
e os seus homens estavam no deserto de Maom, na campina ao sul de Jesimom.
25 E Saul e os seus homens foram em busca dele. Sendo isso anunciado a
Davi, desceu ele à penha que está no deserto de Maom. Ouvindo-o Saul, foi ao
deserto de Maom, a perseguir Davi.
26 Saul ia de uma banda do monte, e Davi e os seus homens da outra banda.
E Davi se apressava para escapar, por medo de Saul, porquanto Saul e os seus
homens iam cercando a Davi e aos seus homens, para os prender.
27 Nisso veio um mensageiro a Saul, dizendo: Apressa-te, e vem, porque os
filisteus acabam de invadir a terra.
28 Pelo que Saul voltou de perseguir a Davi, e se foi ao encontro dos
filisteus. Por esta razão aquele lugar se chamou Selá-Hamalecote.
29 Depois disto, Davi subiu e ficou nos lugares fortes de En-Gedi.” (I Sm
23.19-29)
Quando Davi se encontrava numa região do deserto de
Zife, chamada Horesa, Jônatas veio ao seu encontro para fazer uma aliança com
ele perante o Senhor, pois Jônatas viera com o propósito de fortalecer a
confiança de Davi em Deus (v. 16) e lhe disse da sua convicção de que não
deveria temer a mão de seu pai, Saul, porque sabia que Davi viria a reinar
sobre Israel, e que ele havia renunciado à coroa em favor de Davi diante de seu
próprio pai.
E Jônatas esperava ser o segundo homem em importância
no reino, e não sabia que o Senhor tinha outros planos para ele, pois viria
também a morrer numa batalha contra os filisteus juntamente com seu pai, de
modo que Davi não ficaria vinculado à casa de Saul quando assumisse o reino, e
isto certamente seria feito não porque Jônatas não reunisse qualidades morais e
espirituais para estar ao seu lado, mas pela confusão política e a dificuldade
que seria a de o povo aceitar que Jônatas, que seria o sucessor legal ao trono,
ficar sob as ordens de Davi.
Então o próprio Deus estava se encarregando de
acomodar as coisas de tal forma, que não houvesse divisões sérias e profundas
que se prolongariam durante todo o reinado de Davi.
Nós veremos que a par de todas estas providências
não foi com pouca resistência, que Davi assumiu o reino de Israel, tanto
que teve que reinar em princípio,
somente sobre Judá, em Hebrom, por sete anos, até que fosse reconhecido por
todo o povo de Israel como rei de toda a nação.
Movidos pelo
mesmo sentimento dos cidadãos de Queila, os habitantes do deserto de Zife, os
zifeus, também denunciaram a presença de Davi entre eles a Saul, mas quando
este empreendeu perseguição a Davi e aos seus seiscentos homens, estes já
haviam se deslocado para o deserto de Maom, e ainda embriagado com o sangue dos
sacerdotes de Nobe e com uma sede ainda maior de sangue Saul insistiu na
perseguição e foi também para o deserto de Maom, e enquanto ele e seus homens
percorriam um lado do monte em que Davi se encontrava, este com seus homens se
deslocavam no lado oposto do monte, de modo que um encontro entre eles seria
inevitável, e mais uma vez nós vemos a providência de Deus operando, pois
certamente o Senhor incitara os filisteus a atacarem Israel, e isto fez com que
Saul tivesse que suspender e adiar a perseguição a Davi, motivo porque aquele
lugar foi chamado de Selá-Hamalecote, que é uma palavra hebraica composta que
significa Pedra de Escape (v. 28).
Tendo recebido tal livramento da parte do Senhor
Davi não tentou a Deus permanecendo ali,
e se dirigiu para uma região mais segura chamada En-Gedi (v. 29).
Enquanto Davi estava sendo duramente espiado pelos
zifeus para ser denunciado a Saul em todo aquele grande deserto de Judá, ele
escreveu as palavras deste Salmo 54 e as do Salmo 63, nos quais vemos que a sua
confiança permanecia inabalável em Deus, enquanto homens perversos e
interesseiros se levantavam contra ele.
Ele afirma a sua inteira confiança na justiça de
Deus para recompensar o justo e castigar os perversos.
Vejamos agora o texto de I Samuel 26.1-11:
“1 Ora, vieram os zifeus a Saul, a Gibeá, dizendo: Não está Davi se
escondendo no outeiro de Haquilá, defronte de Jesimom?
2 Então Saul se levantou, e desceu ao deserto de Zife, levando consigo
três mil homens escolhidos de Israel, para buscar a Davi no deserto de Zife.
3 E acampou-se Saul no outeiro de Haquilá, defronte de Jesimom, junto ao
caminho; porém Davi ficou no deserto, e percebendo que Saul vinha após ele ao
deserto,
4 enviou espias, e certificou-se de que Saul tinha chegado.
5 Então Davi levantou-se e foi ao lugar onde Saul se tinha acampado; viu
Davi o lugar onde se deitavam Saul e Abner, filho de Ner, chefe do seu
exército. E Saul estava deitado dentro do acampamento, e o povo estava acampado
ao redor dele.
6 Então Davi, dirigindo-se a Aimeleque, o heteu, e a Abisai, filho de
Zeruia, irmão de Joabe, perguntou: Quem descerá comigo a Saul, ao arraial?
Respondeu Abisai: Eu descerei contigo.
7 Foram, pois, Davi e Abisai de noite ao povo; e eis que Saul estava
deitado, dormindo dentro do acampamento, e a sua lança estava pregada na terra
à sua cabeceira; e Abner e o povo estavam deitados ao redor dele.
8 Então disse Abisai a Davi: Deus te entregou hoje nas mãos o teu
inimigo; deixa-me, pois, agora encravá-lo na terra, com a lança, de um só
golpe; não o ferirei segunda vez.
9 Mas Davi respondeu a Abisai: Não o mates; pois quem pode estender a mão
contra o ungido do Senhor, e ficar inocente?
10 Disse mais Davi: Como vive o Senhor, ou o Senhor o ferirá, ou chegará
o seu dia e morrerá, ou descerá para a batalha e perecerá;
11 o Senhor, porém, me guarde de que eu estenda a mão contra o ungido do
Senhor. Agora, pois, toma a lança que está à sua cabeceira, e a bilha d'água, e
vamo-nos.” (I Sm 26.1-11)
Quando Saul foi poupado por Davi na caverna, na
ocasião que lhe cortou a orla da sua veste, prometeu-lhe que não mais o
perseguiria, mas nós o encontramos aqui de novo em perseguição a ele, pois foi
incitado pelos zifeus a fazê-lo, uma vez que estes vieram lhe denunciar o local
em que Davi se encontrava.
E caindo à noite um profundo sono que vinha da parte
do Senhor, sobre Saul e seus homens, Davi desceu ao local onde estavam
acampados e pegou a lança e a bilha d'água de Saul, que estava à sua cabeceira
e os carregou consigo (v. 12).
Mas antes, Abisai, irmão de Joabe, que o acompanhava
pediu-lhe que o deixasse encravar a lança em Saul de um só golpe, porque
aquilo, segundo ele, só poderia ser obra de Deus, entregando Saul nas mãos de
Davi.
Mas este sabiamente o dissuadiu a não se deixar
levar pelas aparências e circunstâncias, mas pela verdade da Palavra, pois a
nenhum israelita era dado por Deus agir contra aqueles que Ele havia
constituído como autoridade sobre eles e ficar sem culpa.
Então Davi concluiu também sabiamente que o modo de
Saul morrer não seria pelas suas mãos ou a de quaisquer dos homens que haviam
se juntado a ele, mas isto seria feito por uma obra direta da parte de Deus,
como foi o caso de Nabal, ou então Saul morreria de morte natural, ou ainda em
campo de batalha contra os inimigos de Israel.
Ele viria a morrer desta última forma citada, e a
grande lição que aprendemos com Davi, em resumo, neste aspecto particular, é
que o modo de morrer de qualquer pessoa permanece debaixo da exclusiva
autoridade de Deus, e não é dado ao homem, que não esteja investido de
autoridade para tal, e amparado pela lei, decidir sobre quem deve ou não
morrer, ou o modo pelo qual deve morrer.
O profundo sono que o Senhor trouxe sobre os homens
do acampamento onde se encontrava Saul, não foi para lhe facilitar as coisas
para matá-lo, mas para livrar o próprio Davi de ser surpreendido por eles, e
também para colocá-lo à prova quanto ao fato de se obedeceria à Sua vontade ou
se agiria seguindo qualquer impulso vingativo de sua própria natureza.
São muitas as situações em que os verdadeiros servos
de Deus são colocados à prova, para que se veja se amarão os seus inimigos ou
se procurarão se vingar deles quando têm oportunidade para fazê-lo.
Bem irá àquele que não se vingar, porque este não é
um mandamento exclusivo da Nova Aliança, pois nós o vemos também no Antigo
Testamento:
“Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos
do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor.” (Lev
19.18).
“Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai
lugar à ira de Deus, porque está escrito: Minha é a vingança, eu retribuirei,
diz o Senhor.” (Rm 12.19).
Temos portanto esta ordem de não nos vingarmos, da
parte do Senhor, e como poderíamos agradá-lO, não dando o devido acatamento à
Sua Palavra.
Davi decidiu então não seguir a palavra do homem
(Abisai) e nem seguir qualquer instinto vingativo em sua própria natureza, mas
obedecer à Palavra de Deus.
E é esta a fórmula da verdadeira prosperidade.
Em face da benignidade de Davi demonstrada a ele, o
próprio Saul como que profetizou acerca dele: “Bendito sejas tu, meu filho
Davi, pois grandes coisas farás e também certamente prevalecerás.” (v. 25).
Nós podemos inferir das palavras do verso 19 que
Saul saiu em perseguição a Davi desta vez mais pela incitação dos zifeus e dos
homens que estavam com ele, do que pela sua própria iniciativa, e por isso Davi
impôs um anátema sobre aqueles que estavam incitando Saul a persegui-lo.
O reino das trevas sempre agirá deste modo, pois
quando Satanás perde um instrumento de perseguição ele tentará reavivá-la em
outros.
Por isso o cristão deve saber que a sua luta não é
contra carne e sangue, para que não pense que ao se apaziguar com alguns de
seus inimigos, que a intensidade da perseguição será abrandada, pois isto não se
encontra na esfera de iniciativa dos homens, mas do diabo e dos demônios, que
se levantam contra os servos de Deus, ainda que os poderes das trevas estejam
também debaixo da autoridade do Senhor, não lhes sendo permitido atuar contra
os santos senão naquilo que lhes for permitido por Deus.
É provável que o Salmo 54 tenha sido escrito por
Davi nesta ocasião pois ele reconheceu na perseguição dos zifeus uma tentativa
do diabo em afastá-lo dos termos de Israel, da presença do Senhor, para que
indo buscar refúgio em terras estrangeiras viesse a ter que adorar por força
das circunstâncias os falsos deuses que eles adoravam, de modo que não fosse
acusado de ingratidão da sua acolhida, pela recusa de prestar homenagens aos
seus deuses.
É sob esta perspectiva que nós podemos entender o
significado das palavras que ele proferiu no verso 19: “Se é o Senhor quem te
incita contra mim, receba ele uma oferta; se, porém, são os filhos dos homens,
malditos sejam perante o Senhor, pois eles me expulsaram hoje para que eu não
tenha parte na herança do Senhor, dizendo: Vai, serve a outros deuses.”.
Como não era certamente o Senhor quem estava
incitando aquela perseguição, então esta somente poderia estar sendo movida
pelos seus inimigos.
SALMO 57 – Salmo de Davi quando fugia de
Saul na caverna
“Tem misericórdia de mim, ó Deus, tem
misericórdia, pois em ti a minha alma se refugia; à sombra das tuas asas me
abrigo, até que passem as calamidades. Clamarei ao Deus Altíssimo, ao Deus que por
mim tudo executa. Ele dos céus me envia
o seu auxílio e me livra; cobre de vergonha os que me ferem. Envia a sua
misericórdia e a sua fidelidade. Acha-se
a minha alma entre leões, ávidos de devorar os filhos dos homens; lanças e
flechas são os seus dentes, espada afiada, a sua língua. Sê exaltado, ó Deus, acima dos céus; e em
toda a terra esplenda a tua glória.
Armaram rede aos meus passos, a minha alma está abatida; abriram cova
diante de mim, mas eles mesmos caíram nela.
Firme está o meu coração, ó Deus, o meu coração está firme; cantarei e
entoarei louvores. Desperta, ó minha
alma! Despertai, lira e harpa! Quero acordar a alva. Render-te-ei graças entre os povos;
cantar-te-ei louvores entre as nações. Pois
a tua misericórdia se eleva até aos céus, e a tua fidelidade, até às
nuvens. Sê exaltado, ó Deus, acima dos
céus; e em toda a terra esplenda a tua glória.”
Nós usaremos como comentário deste salmo o sermão que Spurgeon escreveu
sobre o mesmo, e que estamos apresentando a seguir em forma adaptada:
Quando Davi fez a oração
deste Salmo ele estava fugindo de Saul, que o procurava com o exército de
Israel para tirar-lhe a vida. Ele estava na caverna de Adulão, onde se juntaram
a ele seus pais, seus irmãos e todos os homens que se achavam em aperto, e os
endividados e todos os amargurados de espírito – cerca de quatrocentos
homens (I Sm 22.1,2).
“Porque assim diz o Alto, o Sublime, que habita a
eternidade, o qual tem o nome de Santo: Habito no alto e santo lugar, mas
habito também com o contrito e o abatido de espírito, para vivificar o espírito
dos abatidos, e vivificar o coração dos contritos.” (Is 57;15). O Senhor habita
no terceiro céu, mas habita também nos corações dos contritos e abatidos de
espírito na terra, que se humilham perante Ele e o buscam. Isto não renova a
tua esperança em meio aos teus sofrimentos e problemas? O Altíssimo vem ao teu
encontro para te dar livramento. Davi
começa muitos Salmos com lágrimas mas os termina com louvor e alegria,
isto porque Deus nos visita no meio da nossa tribulação, no meio do nosso
clamor angustiado, e nos livra dando-nos um cântico de vitória e de alegria.
Davi orou quando estava na
caverna.
Deus ouvirá a oração que for
feita na terra, no mar e até no fundo do
mar. Ele não é somente Deus das montanhas, mas também dos vales. O trono de
graça do Senhor sempre está acessível aos que o buscam com um coração sincero e
contrito.
As melhores orações são feitas
nas cavernas da aflição porque vêm do profundo do nosso coração. Se alguém esta
noite encontra-se em posição em que sua alma esteja angustiada, e sentindo
nuvens a cercar o seu coração, este é um momento especial para comunhão e
intercessão que prevaleça, para provar a fidelidade de Deus à sua promessa de
estar junto do abatido e contrito de coração.
O Salmo 142 começa com Davi
dizendo que pediria misericórdia a Deus com sua voz.
Podemos cometer dois grandes erros na aflição. O
primeiro está na acomodação ao mal. Na nossa descrença pensando que Deus não
está interessado em fortalecer o nosso coração e alegrar a nossa alma. Com
isto, não clamamos por socorro como fez Davi. Não oramos. Não confiamos. Não cremos.
O segundo grande erro é o de subestimar a dor. E
tocarmos a vida com o coração atribulado julgando que somos mais fortes do que
qualquer problema. Davi não tinha vergonha de assumir e reconhecer que há
situações que o nosso inimigo, seja ele qual for, e venha na forma que for, é
mais forte do que nós. E não temos outra alternativa senão a de recorrer ao
auxílio do Altíssimo, do Todo Poderoso. Há um mistério nisto, que Paulo bem
conheceu: quando somos fracos então somos fortes. A graça do Senhor se revela
poderosa na nossa fraqueza. O ato de prosseguir tentando parecer ser mais
fortes do que as forças que nos oprimem e deprimem, pode fazer com que nós,
nesta nossa auto-confiança venhamos a ficar amargurados, endurecidos,
obstinados e frios. O poder não é nosso e nem das forças que nos assolam, mas é
exclusivo de Jesus Cristo. Todo o poder Lhe foi dado nos céus e na terra, Ele
tem autoridade sobre tudo e todos. É seu prazer ajudar-nos quando clamamos por
socorro.
Assim nossa primeira ocupação é a de recorrer a
Deus. Façamos conhecidas de Deus nossas dúvidas e temores. Se tens de sair do
teu estado atual de depressão, corra imediatamente para Deus, como fez Davi.
Ele diz nos dois primeiros versículos do Salmo 142:
1. Ao Senhor ergo a minha voz e clamo, com a minha voz suplico ao
Senhor.
2. Derramo perante ele a minha
queixa, à sua presença exponho a minha tribulação.
Se não tens força para clamar com tua voz, ou não há
um lugar adequado para tal, clama com o coração, grita com a tua alma, fala com
o Senhor em silêncio, mas não deixes de clamar. Contempla somente ao Senhor,
porque somente nele há esperança.
Se tens pecado contra Deus, saiba que Ele está
disposto a perdoar. Ele pode perdoar completamente a maior das ofensas. Lembra que Jesus pagou com sua morte o preço
exigido para o perdão de todos os nossos pecados.
Basta apenas confessar. Davi confessou que estava
com o seu espírito abatido. Mas determinou-se não ocultar nada de Deus. Faça o
mesmo. Ele diz nos versos 2 e 3 do nosso Salmo.
2. Derramo
perante ele a minha queixa, à sua presença exponho a minha tribulação.
3. Quando dentro em mim
me esmorece o espírito, conheces a minha vereda. No caminho em que ando me ocultam armadilha.
Quando estamos na caverna da aflição não são
palavras religiosas que irão nos ajudar. Não são meras palavras que temos que
falar, mas colocar toda nossa angústia diante de Deus. Tal como uma criança devemos
dizer ao Senhor todas as nossas angústias, nossas queixas, nossas misérias,
temores. Se lhe confessarmos tudo, Ele dará ao nosso espírito um grande alívio,
pois tem prometido libertar do cativeiro a alma que lhe clama por socorro na
angústia (Sl 50.15).
Vão é o socorro humano quando estamos na caverna.
Deus pode levantar homens para virem em nosso auxílio, mas devemos reconhecer
que eles não viriam e não agiriam bem em nosso favor se o Senhor não os
dirigisse em tal sentido.
É importante
destacar que quando Davi fez esta oração ele se encontrava num grande refúgio
que era a caverna de Adulão, e estava em
companhia de seus familiares e de quatrocentos homens que haviam feito dele o
seu chefe, mas Davi sabia que não há segurança confiável em nada neste mundo. E
dispôs-se a buscar o único e verdadeiro e seguro refúgio, o Senhor nosso Deus.
É preciso
reconhecer como Davi que somente no Senhor há esperança e interesse em socorrer
a nossa alma. Por isso ele orou assim nos versos 4 e 5:
4. Olha à minha direita e
vê, pois não há quem me reconheça, nenhum lugar de refúgio, ninguém que por mim
se interesse.
5. A ti clamo, Senhor; e
digo: Tu és o meu refúgio, o meu quinhão na terra dos viventes.
As
tribulações aprisionam a nossa alma, colocam-na no cárcere. Ali perdemos a
alegria da salvação, porque a alma é como um pássaro que só canta em liberdade.
Os grilhões da maldade, da perseguição do inimigo que busca aprisionar a nossa
alma, não podem resistir ao poder de Jesus que quebra todas as cadeias que nos
prendem, e nos dá perfeita liberdade. Podemos caminhar livremente em Jesus. E
por isso Davi orou:
6. Atendes ao meu clamor,
pois me vejo muito fraco. Livra-me dos meus perseguidores, porque são mais
fortes do que eu.
7. Tira a minha alma do
cárcere, para que eu te dê graças ao teu nome: os justos me rodearão, quando me
fizeres esse bem.
Quando os homens são livrados da prisão, eles
agradecem e louvam à pessoa que os libertou. Muito mais nós devemos adorar e
louvar a Jesus pela liberdade que Ele nos dá. Devemos glorificar o seu santo
nome porque somente ele é digno de adoração.
Há uma coisa para ser conhecida em relação às
tribulações que sofremos:
Quando Deus quer fazer grande a uma pessoa, ele
primeiro a quebra em pedaços.
Deus queria fazer de Jacó, um príncipe, o que fez o
Senhor? Saiu numa noite e lutou com ele até raiar o dia. E lhe tocou no nervo
da coxa de forma que ficou manco antes de mudar seu nome para Israel, que significa príncipe de Deus. A
luta era para retirar-lhe as próprias forças, e quando estas se esgotaram o
chamou de príncipe.
Agora Davi seria rei sobre todo Israel. Por onde
passava o caminho para o trono de Davi? Pela caverna de Adulão. Deveria ir para
lá, perseguido por Saul, como um pária, um proscrito, porque esse era o caminho
que o levaria a ser o rei que era segundo o coração de Deus.
Vocês não têm reparado em suas próprias vidas, que
cada vez que Deus vai dar-lhes um crescimento, para lhes levar a uma esfera
maior de serviço, ou nível mais elevado na vida espiritual, que primeiro vocês
são derrubados? Por isso a Palavra diz que devemos ter por motivo de toda a
alegria o passar por várias provações. Porque esta é a maneira de Deus
trabalhar conosco. Faz com que tenhamos fome antes de dar-nos de comer. Desnuda-nos antes de vestir-nos. Faz de nós
nada, antes de fazer algo de nós.
Por que devemos passar pela caverna como Davi?
Primeiro porque para sermos uma pessoa de grande utilidade, Deus precisa antes
ensinar-nos a orar. Se chegarmos a ser grandes sem orar, nossa grandeza será
nossa ruína. A caverna nos ensina que dependemos inteiramente de Deus e que vão
é o socorro do homem e nenhuma é a nossa força.
Há situações na vida em que ficamos totalmente
entregues nas mãos de Deus. Dependentes da sua misericórdia e auxílio. Com isso
quer nos ensinar a não confiarmos em nós mesmos, em nossa própria força,
sabedoria, capacidade.
Mais, acima de tudo isso, o Senhor deseja ser
conhecido. Quer que aprendamos que Ele é o nosso melhor amigo. Quer que
aprendamos que somente a Ele pertence todo o poder. Quer que aprendamos que Ele
é totalmente bondoso, misericordioso, amoroso e fiel.
Por isso Davi disse:
5. A ti clamo, Senhor; e
digo: Tu és o meu refúgio, o meu quinhão na terra dos viventes.
Na
aflição da caverna aprendemos a chorar com os que choram. Aprendemos a
valorizar o sofrimento dos nossos irmãos e compartilhamos com eles as suas
lutas, intercedendo por eles e socorrendo-os em suas tribulações.
Sem a caverna não aprenderíamos nenhuma destas
coisas, e por isso somos exortados a sermos gratos a Deus por tudo, e a
entender que todas as coisas cooperam juntamente para o bem dos que amam a
Deus.
Lembremos que quando Deus nos retirar da caverna,
uma vez cessado o perigo, ou por termos recebido forças para enfrentá-lo,
devemos vigiar para não sairmos nos lamentando da experiência que passamos, ao
contrário o Senhor quer que o louvemos pelo Seu poderoso livramento, porque os
que cantam são os que seguem adiante. Fora com todo o pessimismo e nuvens de
tristeza que venham sobre nós, depois que temos sido libertados por Deus. Que
se encontrem somente palavras de louvor e gratidão em nossos lábios, e outros
se juntarão a nós, para receberem da mesma alegria e unção. Davi agia assim e
devemos agir do mesmo modo, orando juntamente com ele:
7. Tira a minha alma do
cárcere, para que eu te dê graças ao teu nome: os justos me rodearão, quando me
fizeres esse bem.
SALMO 65 - Salmo de Davi
Neste salmo Davi declara o perdão de pecados por causa da eleição de Deus.
Estes eleitos virão ao Senhor para terem as suas iniquidades perdoadas por Ele.
São bem-aventurados porque são escolhidos pelo Senhor para se aproximarem dEle,
e para que assistam nos Seus átrios, e ficam satisfeitos com a bondade da casa
do Senhor, o Seu santo templo. Estes eleitos de Deus não se encontram apenas em
Israel, mas eles vêm do Oriente e do Ocidente, de todos os confins da terra,
porque eles veem os sinais do Senhor, e Ele os faz exultar de júbilo. Deus
abençoa o Seu povo tornando-o fértil e frutífero, com as chuvas do Espírito, assim
como Ele faz com a própria terra regando-a com chuvas e fertilizando-a
copiosamente, de modo, que os rebanhos nos campos, e os vales vestidos de
espigas, parecem exultar de alegria e cantar diante de Deus e dos homens. Tal é
a vida destes eleitos de Deus que também crescem, vicejam e frutificam pelo Seu
próprio poder que lhes concede tal graça.
“A ti, ó Deus, confiança e louvor em
Sião! E a ti se pagará o voto. Ó tu que
escutas a oração, a ti virão todos os homens,
por causa de suas iniquidades. Se prevalecem as nossas transgressões, tu
no-las perdoas. Bem-aventurado aquele a quem escolhes e aproximas de ti, para
que assista nos teus átrios; ficaremos satisfeitos com a bondade de tua casa -
o teu santo templo. Com tremendos feitos nos respondes em tua justiça, ó Deus,
Salvador nosso, esperança de todos os confins da terra e dos mares
longínquos; que por tua força consolidas
os montes, cingido de poder; que aplacas
o rugir dos mares, o ruído das suas ondas e o tumulto das gentes. Os que
habitam nos confins da terra temem os teus sinais; os que vêm do Oriente e do
Ocidente, tu os fazes exultar de júbilo. Tu visitas a terra e a regas; tu a
enriqueces copiosamente; os ribeiros de Deus são abundantes de água; preparas o
cereal, porque para isso a dispões,
regando-lhe os sulcos, aplanando-lhe as leivas. Tu a amoleces com
chuviscos e lhe abençoas a produção. Coroas o ano da tua bondade; as tuas
pegadas destilam fartura, destilam sobre
as pastagens do deserto, e de júbilo se revestem os outeiros. Os campos
cobrem-se de rebanhos, e os vales vestem-se de espigas; exultam de alegria e
cantam.”
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