JUÍZES 11
“1 Era então Jefté, o gileadita, homem valoroso,
porém filho duma prostituta; Gileade era o pai dele.
2 Também a mulher de Gileade lhe deu filhos; quando
os filhos desta eram já grandes, expulsaram a Jefté, e lhe disseram: Não
herdarás na casa de nosso pai, porque és filho de outra mulher.
3 Então Jefté fugiu de diante de seus irmãos, e
habitou na terra de Tobe; e homens levianos juntaram-se a Jefté, e saiam com
ele.
4 Passado algum tempo, os amonitas fizeram guerra a
Israel.
5 E, estando eles a guerrear contra Israel, foram
os anciãos de Gileade para trazer Jefté da terra de Tobe,
6 e lhe disseram: Vem, sê o nosso chefe, para que
combatamos contra os amonitas.
7 Jefté, porém, perguntou aos anciãos de Gileade:
Porventura não me odiastes, e não me expulsastes da casa de meu pai? por que,
pois, agora viestes a mim, quando estais em aperto?
8 Responderam-lhe os anciãos de Gileade: É por isso
que tornamos a ti agora, para que venhas conosco, e combatas contra os
amonitas, e nos sejas por chefe sobre todos os habitantes de Gileade.
9 Então Jefté disse aos anciãos de Gileade: Se me
fizerdes voltar para combater contra os amonitas, e o Senhor mos entregar
diante de mim, então serei eu o vosso chefe.
10 Responderam os anciãos de Gileade a Jefté: O
Senhor será testemunha entre nós de que faremos conforme a tua palavra.
11 Assim Jefté foi com os anciãos de Gileade, e o
povo o pôs por cabeça e chefe sobre si; e Jefté falou todas as suas palavras
perante o Senhor em Mizpá.
12 Depois Jefté enviou mensageiros ao rei dos
amonitas, para lhe dizerem: Que há entre mim e ti, que vieste a mim para
guerrear contra a minha terra?
13 Respondeu o rei dos amonitas aos mensageiros de
Jefté: É porque Israel, quando subiu do Egito, tomou a minha terra, desde o
Arnom até o Jaboque e o Jordão; restitui-me, pois, agora essas terras em paz.
14 Jefté, porém, tornou a enviar mensageiros ao rei
dos amonitas,
15 dizendo-lhe: Assim diz Jefté: Israel não tomou a
terra de Moabe, nem a terra dos amonitas;
16 mas quando Israel subiu do Egito, andou pelo
deserto até o Mar Vermelho, e depois chegou a Cades;
17 dali enviou mensageiros ao rei de Edom, a
dizer-lhe: Rogo-te que me deixes passar pela tua terra. Mas o rei de Edom não
lhe deu ouvidos. Então enviou ao rei de Moabe, o qual também não consentiu; e
assim Israel ficou em Cades.
18 Depois andou pelo deserto e rodeou a terra de
Edom e a terra de Moabe, e veio pelo lado oriental da terra de Moabe, e acampou
além do Arnom; porém não entrou no território de Moabe, pois o Arnom era o
limite de Moabe.
19 E Israel enviou mensageiros a Siom, rei dos
amorreus, rei de Hesbom, e disse-lhe: Rogo-te que nos deixes passar pela tua
terra até o meu lugar.
20 Siom, porém, não se fiou de Israel para o deixar
passar pelo seu território; pelo contrário, ajuntando todo o seu povo, acampou
em Jaza e combateu contra Israel.
21 E o Senhor Deus de Israel entregou Siom com todo
o seu povo na mão de Israel, que os feriu e se apoderou de toda a terra dos
amorreus que habitavam naquela região.
22 Apoderou-se de todo o território dos amorreus,
desde o Arnom até o Jaboque, e desde o deserto até o Jordão.
23 Assim o Senhor Deus de Israel desapossou os
amorreus de diante do seu povo de Israel; e possuirias tu esse território?
24 Não possuirias tu o território daquele que
Quemós, teu deus, desapossasse de diante de ti? assim possuiremos nós o
território de todos quantos o Senhor nosso Deus desapossar de diante de nós.
25 Agora, és tu melhor do que Balaque, filho de
Zipor, rei de Moabe? ousou ele jamais contender com Israel, ou lhe mover
guerra?
26 Enquanto Israel habitou trezentos anos em Hesbom
e nas suas vilas, em Aroer e nas suas vilas em todas as cidades que estão ao
longo do Arnom, por que não as recuperaste naquele tempo?
27 Não fui eu que pequei contra ti; és tu, porém,
que usas de injustiça para comigo, fazendo-me guerra. O Senhor, que é juiz,
julgue hoje entre os filhos de Israel e os amonitas.
28 Contudo o rei dos amonitas não deu ouvidos à
mensagem que Jefté lhe enviou.
29 Então o Espírito do Senhor veio sobre Jefté, de
modo que ele passou por Gileade e Manassés, e chegando a Mizpá de Gileade, dali
foi ao encontro dos amonitas.
30 E Jefté fez um voto ao Senhor, dizendo: Se tu me
entregares na mão os amonitas,
31 qualquer que, saindo da porta de minha casa, me
vier ao encontro, quando eu, vitorioso, voltar dos amonitas, esse será do
Senhor; eu o oferecerei em holocausto.
32 Assim Jefté foi ao encontro dos amonitas, a
combater contra eles; e o Senhor lhos entregou na mão.
33 E Jefté os feriu com grande mortandade, desde
Aroer até chegar a Minite, vinte cidades, e até Abel-Queramim. Assim foram
subjugados os amonitas pelos filhos de Israel.
34 Quando Jefté chegou a Mizpá, à sua casa, eis que
a sua filha lhe saiu ao encontro com adufes e com danças; e era ela a filha
única; além dela não tinha outro filho nem filha.
35 Logo que ele a viu, rasgou as suas vestes, e
disse: Ai de mim, filha minha! muito me abateste; és tu a causa da minha
desgraça! pois eu fiz, um voto ao Senhor, e não posso voltar atrás.
36 Ela lhe respondeu: Meu pai, se fizeste um voto
ao Senhor, faze de mim conforme o teu voto, pois o Senhor te vingou dos teus inimigos,
os filhos de Amom.
37 Disse mais a seu pai: Concede-me somente isto:
deixa-me por dois meses para que eu vá, e desça pelos montes, chorando a minha
virgindade com as minhas companheiras.
38 Disse ele: Vai. E deixou-a ir por dois meses;
então ela se foi com as suas companheiras, e chorou a sua virgindade pelos
montes.
39 E sucedeu que, ao fim dos dois meses, tornou ela
para seu pai, o qual cumpriu nela o voto que tinha feito; e ela não tinha
conhecido varão. Daí veio o costume em Israel,
40 de irem as filhas de Israel de ano em ano
lamentar por quatro dias a filha de Jefté, o gileadita.” (Jz 11.1-40).
Este capítulo é iniciado com a afirmação de que
Jefté era um homem valoroso, apesar de ser filho de uma meretriz.
Seu pai o criou na casa de sua esposa, com a qual
tivera outros filhos, e estes expulsaram Jefté, quando já eram grandes, sob o
argumento de que não herdaria juntamente com eles, em razão de ser filho de uma
outra mulher (v.2).
Mas o tempo que Jefté permaneceu em Gileade, antes
de ir residir em Tobe, depois de ter sido expulso por seus irmãos, foi o
bastante para que os príncipes de Israel reconhecessem o seu valor e coragem,
de modo que ao tempo em que os amonitas declararam guerra aos israelitas, e
acamparam em Gileade, conforme vimos no capítulo anterior, Jefté foi chamado de
volta para ser o seu general, na guerra que teriam que empreender contra os
amonitas, e para incentivá-lo a aceitar o convite, determinaram que caso
obtivesse vitória, seria feito governante de toda Gileade.
No verso 9, Jefté revela na pergunta que fez aos
anciãos de Gileade, que ele era um homem de fé, conforme se testifica dele na
galeria dos heróis da fé em Hb 11.32, pois considerou que sua vitória sobre os
amonitas somente poderia ocorrer caso o Senhor os entregasse nas suas mãos.
É dito no verso 11 que Jefté falou todas as suas
palavras perante o Senhor em Mizpá, e ele demonstra não apenas ter o temor de
Deus como um grande conhecimento da Lei de Moisés, pois nos argumentos que
apresentou aos amonitas do direito de posse dos israelitas sobre o território
de Gileade, que estava sendo contestado pelos amonitas, e que segundo eles era
o motivo da guerra que pretendiam fazer contra Israel, ele não estruturou a sua
defesa em termos de mera diplomacia política, mas extraindo e expondo com
exatidão todos os seus argumentos simplesmente da Palavra de Deus.
É realmente uma pena, que hoje, quando a revelação
de Deus em Sua Palavra está completa e fechada há mais de dois mil anos, que
muitos ministros do evangelho usem do púlpito para exporem política,
sociologia, psicologia, filosofia, e toda sorte de argumentos mundanos, em vez
de aplicarem a simples e direta Palavra de Deus.
Muitos se recusam a ministrarem o evangelho ou o
misturam com aquilo que é do mundo e não de Deus, e com isso cometem um pecado
ainda maior, porque misturam veneno ao que é puro, aquilo que é vil ao que é
precioso, e o Senhor não terá por inocente, de modo algum, a todo aquele que
pratica tais coisas, pois como diz o apóstolo Paulo, que caso ele próprio ou
mesmo um anjo do céu, adulterasse o único e verdadeiro evangelho, ele ou o anjo
ficariam sujeitos a serem amaldiçoados por Deus.
Veja que Paulo inclui a si mesmo, e isto aponta
para o fato de que os próprios crentes autênticos, que não estão mais debaixo
da maldição da lei, para efeito de condenação eterna, porque foram resgatados
de tal maldição por Cristo, no entanto, não estão livres de serem visitados com
juízos de Deus, quando deliberadamente adulteram a Sua Palavra, tal como
ocorreu com Himeneu, Fileto e Alexandre, que foram entregues pelo apóstolo
Paulo a Satanás, porque estavam afirmando coisas contrárias à verdadeira
Palavra de Deus.
Estes eram da fé, mas vieram a naufragar na fé,
isto é, a se desviarem da verdade, por terem rejeitado uma boa consciência, que
pode ser forjada somente pela verdade revelada na Bíblia:
“mantendo fé e boa consciência, porquanto alguns,
tendo rejeitado a boa consciência, vieram a naufragar na fé. E dentre esses se
contam Himeneu e Alexandre, os quais entreguei a Satanás, para serem
castigados, a fim de não mais blasfemarem.” (I Tim 1.19,20).
“Procura apresentar-te a Deus, aprovado, como
obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade.
Evita igualmente os falatórios inúteis e profanos, pois os que deles usam
passarão a impiedade ainda maior. Além disso a linguagem deles corrói como
câncer; entre os quais se incluem Himeneu e Fileto. Estes se desviaram da
verdade, asseverando que a ressurreição já se realizou, e estão pervertendo a
fé a alguns.” (II Tim 2.15-18).
Que sejamos então como Jefté, combatendo o bom
combate da fé com os argumentos de Deus, e não com os argumentos do mundo, a
bem de nossa própria saúde espiritual e a dos nossos ouvintes.
E que
tenhamos também o mesmo espírito magnânimo dele, que sendo um homem valoroso,
corajoso, procurou antes evitar derramamento de sangue na guerra contra os
amonitas, pois não havia uma ordem de extermínio em relação a eles, na Palavra
de Deus, como havia em relação às nações de Canaã, porque eram da descendência
de Ló.
E Gideão procurou fazer valer a Palavra de Deus
também neste aspecto, e procurou antes de entrar em luta com eles, conhecer as
razões da declaração de guerra que estavam fazendo, para que, sendo
contornáveis, se evitasse com isso derramamento de sangue de ambas as partes.
No entanto, a alegação imprópria dos amonitas de que os territórios ocupados
por Israel lhes pertenciam, recebeu como resposta as razões do direito divino
que concedeu a Israel a posse daquelas terras, e não tendo os amonitas dado
qualquer atenção à resposta de Jefté, não restou outra alternativa, senão a da
guerra.
No que depender do crente lhe é ordenado que tenha
paz com todos.
Ele deve ser um pacificador. Deve ser um guerreiro
diante de Deus em prol da causa da paz. E se houver guerra, que isto nunca
ocorra por ter o próprio crente lhe dado causa.
Pela sua atitude Jefté demonstrou que apesar de ser
um homem valoroso e corajoso, estava dotado de um espírito nobre e não tinha
nenhum prazer na guerra, e tal deve ser a obra do Espírito Santo em todos os
crentes, para que sejam Jeftés de Deus. E cabe destacar que também nisto, Jefté
estava agindo de acordo com a direção contida na Palavra de Deus, que ensina
que antes de Israel entrar em guerra com alguma nação, deveria antes, oferecer
condições para o estabelecimento da paz (Dt 20.0).
A própria região de Gileade cuja posse pelos
israelitas estava sendo contestada agora pelos amonitas, mais de trezentos anos
depois de Moisés, quando ele a conquistou, fora também objeto deste princípio
estabelecido por Deus, porque a causa da guerra havida com Ogue e Seom, reis de
Basã e de Hesbom, foi exatamente por terem rejeitado a oferta de paz que Moisés
lhes fizera, para que passasse pelos seus territórios rumo a Canaã (Dt 2.26,27).
Jefté estava sendo pois guiado por um senso de
justiça, e não de justiça própria, mas da verdadeira justiça, que é baseada na
Palavra de Deus, e este mesmo senso deveria ser cultivado por todos os crentes,
porque é isto que lhes é ordenado, pois se diz na Bíblia que devem buscar o
reino de Deus e a sua justiça, e que devem ser agora não mais servos do pecado,
mas da justiça.
Dos versos 29 ao 40 nós temos o relato do voto que
Jefté fizera quando foi enviado pelo Espírito Santo a guerrear contra os
amonitas: ele se compromissou com Deus a dar a
primeira pessoa de sua casa que lhe viesse ao encontro depois de ser bem
sucedido na guerra contra os amonitas, como oferta ao Senhor (v. 31), e a
Bíblia no original hebraico registra a palavra olah, que significa sacrifício
queimado.
A alegria de Jefté pela vitória que Deus lhe deu
sobre os amonitas foi seguida por uma grande aflição em razão de seu voto
precipitado, pois a primeira pessoa de sua casa que veio ao seu encontro não
foi nenhum dos seus muitos servos, como ele talvez imaginou que seria
provavelmente o que ocorreria, mas justamente a sua única filha, e além dela,
não tinha nenhum outro filho. E tendo ficado grandemente transtornado e abatido
disse que tinha sido ela a causa da sua desgraça, em razão do voto que fizera.
E a moça, submissa à vontade de Deus e a seu pai o
encoraja a cumprir o voto que fizera, apesar de ter sido ela o objeto do citado
voto.
Quando lemos esta passagem, também nos abatemos e
nos comovemos, seja qual tenha sido o teor real daquele voto, se era para
dedicação total ao Senhor, em vida, sem estar ligado a nenhum outro compromisso
senão ao de servir exclusivamente a Deus no tabernáculo, que pensamos seja o
mais provável, em razão de ter a moça chorado a sua virgindade, já que não
poderia mais contrair matrimônio, em razão do voto que seu pai fizera, ou por
outro lado, se houve de fato uma oferta literal de seu corpo a Deus, sendo
queimado como sacrifício, o que consideramos improvável, principalmente em
razão do grande conhecimento da Lei de Moisés, demonstrado por Jefté, e ele
sabia da proibição expressa de os israelitas oferecerem seus filhos como
sacrifícios a divindades, e não havia na lei nenhum respaldo para a
apresentação de sacrifícios humanos a Deus, e caso ele aceitasse o voto de
Jefté, caso direcionado neste sentido, estaria abrindo um precedente para tal
prática em Israel.
“Não oferecerás a Moloque nenhum dos teus filhos,
fazendo-o passar pelo fogo; nem profanarás o nome de teu Deus. Eu sou o
Senhor.” (Lev 18.21).
“Também dirás aos filhos de Israel: Qualquer dos
filhos de Israel, ou dos estrangeiros peregrinos em Israel, que der de seus
filhos a Moloque, certamente será morto; o povo da terra o apedrejará. Eu porei
o meu rosto contra esse homem, e o extirparei do meio do seu povo; porquanto
deu de seus filhos a Moloque, assim contaminando o meu santuário e profanando o
meu santo nome.” (Lev 20.2,3).
Veja que a oferta de um holocausto humano, ainda
que direcionado a uma divindade falsa, seria considerado por Deus como uma
profanação do tabernáculo e do seu santo nome.
Somente o próprio Deus poderia ordenar um tal
sacrifício, e nós vemos no pedido que ele fizera a Abraão de oferecer a Isaque
como holocausto, que Ele não recuara no pedido, mas apresentou a Abraão um
substituto para Isaque, um cordeiro que estava próximo dele no monte Moriá,
local onde Jesus seria oferecido em sacrifício no futuro.
Assim, o único sacrifício humano aceitável a Deus
seria o do Seu próprio filho, para morrer no lugar dos pecadores, e jamais,
mesmo a título de figura, tipo, ilustração deste sacrifício, poderia ter aceito
um holocausto humano.
Se Jefté chegou a fazê-lo, ele o fizera como um ato
conseqüente da sua precipitação e por sua própria conta, e não porque aquilo
lhe seria exigido da parte de Deus como cumprimento de um voto que o Senhor
define como profanação do Seu santuário e do Seu santo nome.
Em termos grosseiros seria o mesmo que alguém
fizesse um voto dizendo que caso Deus o atendesse em sua petição ele iria se
prostituir. Como Deus que é santo e
justo poderia cobrar e exigir o cumprimento de um tal voto?
Então não podemos conceber de modo algum que ainda
que Jefté tenha determinado oferecer a Deus uma pessoa de sua casa em
holocausto, queimando-a sobre um altar, jamais o Senhor teria participação e
consentimento nisto. Muito pelo contrário, jamais aprovaria um tal ato,
conforme aprendemos em Sua própria Palavra, pois nenhum sacrifício humano pode
satisfazer à Sua justiça, senão o sacrifício de Jesus, que não somente a satisfaz
como também é o único que poderia satisfazê-la, para que os pecadores pudessem
ser reconciliados com Ele.
Fechamos este argumento com a citação de Jer 32.35:
“Também edificaram os altos de Baal, que estão no vale do filho de Hinom, para
fazerem passar seus filhos e suas filhas pelo fogo a Moloque; o que nunca lhes
ordenei, nem me passou pela mente, que fizessem tal abominação, para fazerem
pecar a Judá.”.
Veja que Deus diz que isto nunca foi ordenado por
ele, e nem sequer passou pela Sua mente que fizessem tal abominação, revelando
a Sua completa aversão à prática de se oferecer pessoas em sacrifício.
Temos
portanto o pensamento de que o voto de Jefté teve o mesmo caráter do voto que
Ana fizera em relação ao profeta Samuel, em razão, como afirmamos antes, do
conhecimento que Jefté tinha da lei de Deus e do seu caráter magnânimo, que
como vimos antes não o dispunha a ser tão insensível para com a vida humana,
pois antes de guerrear com os amonitas procurou estabelecer condições de paz,
para evitar derramamento de sangue.
JUÍZES 12
“1 Então os homens de Efraim se congregaram,
passaram para Zafom e disseram a Jefté: Por que passaste a combater contra os
amonitas, e não nos chamaste para irmos contigo? Queimaremos a fogo a tua casa
contigo.
2 Disse-lhes Jefté: Eu e o meu povo tivemos grande
contenda com os amonitas; e quando vos chamei, não me livrastes da sua mão.
3 Vendo eu que não me livráveis, arrisquei a minha
vida e fui de encontro aos amonitas, e o Senhor mos entregou nas mãos; por que,
pois, subistes vós hoje para combater contra mim?
4 Depois ajuntou Jefté todos os homens de Gileade,
e combateu contra Efraim, e os homens de Gileade feriram a Efraim; porque este
lhes dissera: Fugitivos sois de Efraim, vós gileaditas que habitais entre
Efraim e Manassés.
5 E tomaram os gileaditas aos efraimitas os vaus do
Jordão; e quando algum dos fugitivos de Efraim dizia: Deixai-me passar; então
os homens de Gileade lhe perguntavam: És tu efraimita? E dizendo ele: Não;
6 então lhe diziam: Dize, pois, Chibolete; porém
ele dizia: Sibolete, porque não o podia pronunciar bem. Então pegavam dele, e o
degolavam nos vaus do Jordão. Caíram de Efraim naquele tempo quarenta e dois
mil.
7 Jefté julgou a Israel seis anos; e morreu Jefté,
o gileadita, e foi sepultado numa das cidades de Gileade.
8 Depois dele julgou a Israel Ibzã de Belém.
9 Tinha este trinta filhos, e trinta filhas que
casou fora; e trinta filhas trouxe de fora para seus filhos. E julgou a Israel
sete anos.
10 Morreu Ibzã, e foi sepultado em Belém.
11 Depois dele Elom, o zebulonita, julgou a Israel
dez anos.
12 Morreu Elom, o zebulonita, e foi sepultado em
Aijalom, na terra de Zebulom.
13 Depois dele julgou a Israel Abdom, filho de
Hilel, o piratonita.
14 Tinha este quarenta filhos e trinta netos, que
cavalgavam sobre setenta jumentos. E julgou a Israel oito anos.
15 Morreu Abdom, filho de Hilel, o piratonita, e
foi sepultado em Piratom, na terra de Efraim, na região montanhosa dos
amalequitas. (Jz 12.1-15).
Tantas foram as iniqüidades de Efraim, contra a justiça
de Deus, como a que vemos no início deste capitulo, e as narradas nos capítulos
anteriores, e bem como as muitas que são descritas em todo o período da
história de Israel, que Deus pronunciou uma sentença final contra eles, como
lemos em Is 7.8, e em muitas outras passagens da Bíblia, pois de fato, tendo
sido levado em cativeiro pelos assírios, com as demais tribos do Reino do
Norte, diferentemente de Judá que foi levado para o cativeiro babilônico,
perderam a sua nacionalidade pela forma de os assírios agirem contra as nações
dominadas, porque dissolviam as famílias e enviavam as pessoas para diferentes
nações, onde se aculturavam com o passar do tempo, vindo a perder a sua
identidade cultural primitiva.
“Pois a cabeça da Síria é Damasco, e o cabeça de
Damasco é Rezim; e dentro de sessenta e cinco anos Efraim será quebrantado, e
deixará de ser povo.” (Is 7.8).
“E eu vos lançarei da minha presença, como lancei
todos os vossos irmãos, toda a linhagem de Efraim.” (Jer 7.15).
“Quanto a Efraim, ele se mistura com os povos;
Efraim é um bolo que não foi virado.” (Os 7.8).
“Efraim me cercou com mentira, e a casa de Israel
com engano; mas Judá ainda domina com Deus, e com o Santo está fiel.” (Os
11.12)
Gideão era da meia tribo de Manassés de Canaã, e
Jefté da outra meia tribo de Manassés da Transjordânia. E a tribo de Efraim,
sendo irmã consangüínea deles, transformou em maldição, a bênção de Jacó em
relação a eles, que lhes deu a primazia sobre Manassés, dizendo que seria maior
do que ele, apesar de Manassés ser o filho primogênito de José, porque se deixaram dominar pelo orgulho e
pela inveja contra o seu irmão, não admitindo que Manassés fosse também
abençoado e usado por Deus.
Mais uma vez, como haviam feito com Gideão,
chegando ao extremo da ação dos siquemitas que destruíram seus setenta filhos,
eles agora se levantam também contra Jefté com um desgosto irracional,
orgulhoso e invejoso protestando contra ele e o ameaçando de morte e à sua casa
por não lhes ter dado participação no despojo da vitória contra os amonitas.
Eles se recusaram a ajudá-lo e agora mentem dizendo
que não foram chamados por ele para guerrear contra os amonitas.
A profecia de Jacó se cumpriu em Efraim porque eles
viriam a ser a cabeça das dez tribos do Reino do Norte, cuja capital era
Samaria, na tribo de Efraim, mas eles fizeram da sua grandeza uma causa para
virarem as costas para Deus, em quase toda a longa história de Israel,
entregando-se à idolatria ao bezerro que foi introduzida logo pelo primeiro rei
deles, Jeroboão I, e que permaneceu até que fossem levados em cativeiro pela
Assíria.
O orgulho é a causa da ruína de muitos ministros do
evangelho, que sendo fortalecidos e engrandecidos por Deus, deixam-se dominar
pelo orgulho espiritual e começam a estabelecer o seu próprio reino, em vez de
permanecerem humildes diante do Senhor, tributando toda honra e glória a Ele,
pelo sucesso alcançado em seus ministérios.
Assim, eles se fazem como Efraim, encontrando na
sua própria grandeza, e nas bênçãos que receberam de Deus, a causa da sua
ruína, por se deixarem dominar pelo pecado do orgulho e da vaidade.
O resultado da desaprovação do Senhor, pela ação
injusta dos efraimitas contra Jefté foi a de ter dado a este filho de Manasses,
vitória na guerra que empreendeu contra estes seus irmãos.
Mas nem com isso aprenderam a caminhar humildemente
com o Seu Deus, e isto nós podemos ver ao longo de toda a história de Israel.
Deus os amava como a todos os demais israelitas, e
os distinguiu ainda na pessoa do seu patriarca, o filho de José, a quem Deus
abençoou através da profecia de Jacó.
Eles devem ter considerado ser pouca coisa o terem
sido colocados acima de seu irmão Manassés, porque em vez de amá-lo e serem um
com ele, ao contrário, em sua grandeza e força, pretendiam subjugá-lo.
Não é portanto, coisa incomum se ver na Igreja,
ministros cujos ministérios foram confirmados e engrandecidos por Deus,
procurando destruir e perseguir a outros ministros, que não admitem que sejam
também abençoados pelo Senhor em seus ministérios, ainda que menos do que eles,
e para a própria bênção deles e do povo que dirigem.
É a inveja espiritual que produz estas coisas. Em
vez disso eles deveriam lutar como um só corpo, como de fato são, pela fé
evangélica, como é do propósito do Senhor, que orou pela unidade do corpo de
fiéis.
A inveja matará mais do que a espada, e será sempre
sábio nos guardarmos dela por um andar em humildade na presença do Senhor,
sabendo que devemos nos comparar sempre com Ele próprio, para estarmos
conscientes da nossa imensa pequenez, ainda que cresçamos muito, por meio da
Sua graça.
Nunca devemos nos comparar com outras pessoas, pelo
risco de não podermos considerá-las superiores a nós mesmos, por motivo da
graça de Deus, que for concedida a elas, tanto quanto ou menos do que tenha
sido concedida a nós.
A honra a quem é devido honra não é somente àqueles
que estejam constituídos formalmente como autoridade sobre nós, mas a todos
aqueles que servem fielmente ao Senhor, e assim, Jefté deveria ser honrado
pelos efraimitas e não perseguido por eles, porque havia servido fielmente a
Deus, e este serviço fiel havia livrado os próprios efraimitas dos amonitas,
que intentavam também guerrear contra eles.
Eles não deram a Jefté a honra que lhe era devida,
e nisto pecaram grandemente contra o Senhor.
“Recebei-o, pois, no Senhor com todo o gozo, e
tende em honra a homens tais como ele; porque pela obra de Cristo chegou até as
portas da morte, arriscando a sua vida para suprir-me o que faltava do vosso
serviço.” (Fp 2.29,30).
O fato de Deus estar usando a muitos em seu serviço
é motivo para nossa alegria e não tristeza.
O fato de um irmão estar sendo honrado por Ele é
também motivo para nossa alegria, e não para que seja despertada em nós a
inveja.
A carne é fraca, e por isso nos é ordenado que
vigiemos e oremos em todo o tempo para não cairmos em tentação.
A tentação ao orgulho e à inveja é a mais comum
entre nós, e a mais perigosa, porque através dela podemos ser corroídos pela
amargura, pelo ódio, pelo ressentimento, pela indiferença, e assim sermos
arruinados espiritualmente.
Tal era o pecado de Efraim, que Deus permitiu que
pelas mãos dos seus próprios irmãos da tribo de Manassés, fossem mortos
quarenta e dois mil efraimitas (v.6). E tal foi a devastação feita naquela tribo,
que por muito tempo se viram impedidos de fazer qualquer retaliação a toda
aquela matança, que inclusive se estendeu aos que tentavam fugir através do
Jordão, e que eram identificados pelo artifício de se lhes ordenar que
pronunciassem a palavra chibolete, que eles não conseguiam pronunciar com som
de “x”, senão de “s”, e por isso diziam sibolete e sendo identificados como
efraimitas eram mortos pelos gileaditas.
O orgulho de Efraim foi abatido pela justiça de
Deus.
Eles se gloriavam em ser uma grande tribo, e agora
estavam drasticamente reduzidos.
Isto sucede também com os ministros orgulhosos,
porque o Senhor os abaterá das elevadas alturas em que se colocam a si mesmos,
para que retornem à humildade necessária à continuação do recebimento da verdadeira
graça da parte de Deus, porque Ele a concede somente aos humildes, e aos
orgulhosos se coloca em ordem de batalha contra eles, como se pode ver neste
caso específico relatado na Bíblia, para nossa advertência e ensino.
Os efraimitas haviam tentado desprezar os
gileaditas dizendo que eles não passavam de fugitivos de Efraim (v. 4), e eles
acabaram sendo fugitivos na prática, vítimas da própria arrogância de suas
palavras e sentimento de superioridade.
A medida com que medirmos também nos medirá. Isto
foi ensinado pelo próprio Jesus, e é uma lei espiritual que sempre se cumprirá.
Se semearmos ventos colheremos tempestades. Se
semearmos o amor colheremos o bem. Aquilo que o homem semear, isto ele
colherá.
Nos versos 8 a 15 são apresentados os governos
curtos de mais três juízes de Israel, depois de Jefté, o primeiro, Ibzã, de
Belém, da tribo de Judá, que julgou sete anos (v. 8-10), o segundo, Elom, da
tribo de Zebulom, que julgou dez anos (v.11), e o terceiro, Abdom, da tribo de
Efraim, que julgou oito anos (v. 13-15).
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