SALMO 44 – Salmo dos filhos de Core
O salmista trouxe à memória os grandes feitos de Deus para o livramento
do Seu povo, e para lhe dar vitória sobre as nações inimigas, porque ele queria
se fortalecer para pedir auxílio ao Senhor para que livrasse o Seu povo das
atuais condições de opressão que eles estavam sofrendo por parte do inimigo.
Isto serve de exemplo para a Igreja que enquanto debaixo de suas angústias
presentes, deve trazer em recordação os grandes feitos de Deus do passado, para
que possa ter esperança de que os terá também no presente. O jugo pesado da
opressão não pode pesar por muito tempo naqueles que temem verdadeiramente ao
Senhor, e Ele mesmo os livrará a Seu tempo de todas as suas angústias. Ele o
fará conforme as orações que Lhe forem dirigidas por Seu povo, pedindo-Lhe
livramento, para que reconheçam que é pela força do Seu próprio braço que eles
são livrados e amparados, de modo que o Seu grande nome seja glorificado por
eles. Assim, este salmo nos ensina, que não devemos ocupar nossa mente e
coração somente com os grandes feitos que o Senhor tem operado nos nossos
próprios dias, mas também com aqueles que Ele operou no passado, porque os
fizera para o nosso conhecimento, de modo que não apenas o glorifiquemos, como
também a nossa fé nEle possa ser aumentada.
“Ouvimos, ó Deus, com os próprios
ouvidos; nossos pais nos têm contado o que outrora fizeste, em seus dias. Como por tuas próprias mãos desapossaste as
nações e os estabeleceste; oprimiste os povos e aos pais deste largueza. Pois
não foi por sua espada que possuíram a terra, nem foi o seu braço que lhes deu
vitória, e sim a tua destra, e o teu braço, e o fulgor do teu rosto, porque te
agradaste deles. Tu és o meu rei, ó Deus; ordena a vitória de Jacó. Com o teu
auxílio, vencemos os nossos inimigos; em teu nome, calcamos aos pés os que se
levantam contra nós. Não confio no meu
arco, e não é a minha espada que me salva.
Pois tu nos salvaste dos nossos inimigos e cobriste de vergonha os que
nos odeiam. Em Deus, nos temos gloriado continuamente e para sempre louvaremos
o teu nome. Agora, porém, tu nos
lançaste fora, e nos expuseste à vergonha, e já não sais com os nossos exércitos.
Tu nos fazes bater em retirada à vista dos nossos inimigos, e os que nos odeiam
nos tomam por seu despojo.
Entregaste-nos como ovelhas para o corte e nos espalhaste entre as
nações. Vendes por um nada o teu povo e nada lucras com o seu preço. Tu nos
fazes opróbrio dos nossos vizinhos, escárnio e zombaria aos que nos rodeiam.
Pões-nos por ditado entre as nações, alvo de meneios de cabeça entre os povos.
A minha ignomínia está sempre diante de mim; cobre-se de vergonha o meu rosto, ante os gritos do que afronta e blasfema, à
vista do inimigo e do vingador. Tudo isso nos sobreveio; entretanto, não nos
esquecemos de ti, nem fomos infiéis à tua aliança. Não tornou atrás o nosso coração, nem se
desviaram os nossos passos dos teus caminhos,
para nos esmagares onde vivem os chacais e nos envolveres com as sombras
da morte. Se tivéssemos esquecido o nome do nosso Deus ou tivéssemos estendido
as mãos a deus estranho, porventura, não o teria atinado Deus, ele, que conhece
os segredos dos corações? Mas, por amor de ti, somos entregues à morte
continuamente, somos considerados como ovelhas para o matadouro. Desperta! Por que dormes, Senhor? Desperta!
Não nos rejeites para sempre! Por que escondes a face e te esqueces da nossa
miséria e da nossa opressão? Pois a nossa alma está abatida até ao pó, e o
nosso corpo, como que pegado no chão. Levanta-te para socorrer-nos e
resgata-nos por amor da tua benignidade.”
SALMO 48 – Salmo dos filhos de Core
SALMO 49 – Salmo dos filhos de Core
Estaremos comentando estes salmos em conjunto.
Quão duro e corrompido é o coração carnal para que possa entender qual é
a verdadeira natureza da glória. O homem se aplica a fazer coisas grandiosas,
espetaculares, para se orgulhar delas e fazer com que seu coração seja
inteiramente dominado pela glória destas coisas terrenas que ele fabrica pela
sua própria imaginação, engenhosidade e habilidades. Contudo, há uma glória ao
redor dele, criada pelo próprio Deus, numa grandiosidade que não pode ser
igualada, quer na sua variedade e formas, quer na sua própria essência. Veja as
estrelas do céu. O próprio firmamento. As árvores, suas flores e frutos. Os
animais que enchem tanto a terra, quanto os mares e os céus. Os minerais em sua
grande variedade e preciosidade. Tão grandes e numerosas são as obras de Deus
que não podem ser mensuradas. No entanto, não é comum que o homem se glorie
nelas, porque afinal, não são obras de suas próprias mãos. Então, endurecido
para a beleza da criação, volta-se para se gloriar em coisas efêmeras criadas
pelas suas próprias mãos. Isto é uma forma de idolatria. Da pior das
idolatrias, porque está centrada no culto de si mesmo, de sua própria
inteligência, capacidade e poder. Para estes de nada lhes serve o grande alerta
de Deus pronunciado pelo profeta em Sua Palavra: “23 Assim diz o Senhor: Não se
glorie o sábio na sua sabedoria, nem se glorie o forte na sua força; não se
glorie o rico nas suas riquezas; 24 mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em
entender, e em me conhecer, que eu sou o Senhor, que faço benevolência, juízo e
justiça na terra; porque destas coisas me agrado, diz o Senhor.” (Jer 9.23,24).
Na verdade o homem, em sua presente condição de estar sujeito ao pecado, não
tem nada do que se gloriar em si mesmo, senão do que se envergonhar e se humilhar
diante do Senhor para que seja purificado dos seus pecados, e assim, sendo
preservado, e mantendo o seu coração na humildade, possa fazer uma justa
avaliação da verdadeira glória, que se encontra somente no próprio Senhor. Como
diz o salmista nestes salmos, que Ele é grande e mui digno de ser louvado na
sua cidade, no seu monte belo e sobranceiro que é a alegria de toda a terra, o
monte Sião, situado na cidade do grande Rei, a saber, Jerusalém. É somente
naquilo que se refere a Deus e que pertence ao Seu culto, que devemos nos
gloriar, assim como os israelitas se gloriavam no templo do Senhor, não
propriamente pelas edificações propriamente ditas, mas por ser o lugar dedicado
ao Seu serviço e adoração. Gloriar-se na construção de templos de pedra é algo
que o Senhor não aprova, porque isto é idolatria. Devemos nos gloriar somente
nEle. É bom lembrarmos o que Jesus disse aos discípulos, quando maravilhados
lhe falavam acerca da beleza do templo de Jerusalém: “1 Ora, Jesus, tendo saído
do templo, ia-se retirando, quando se aproximaram dele os seus discípulos, para
lhe mostrarem os edifícios do templo. 2 Mas ele lhes disse: Não vedes tudo
isto? Em verdade vos digo que não se deixará aqui pedra sobre pedra que não
seja derribada.” (Mt 24.1,2). Deus não está interessado na beleza exterior das
coisas que fazemos, nem mesmo no que diz respeito ao nosso corpo e vestimentas,
senão no interior do nosso coração, nas Suas virtudes que o estejam adornando.
É neste tipo de beleza que Ele se gloria e acha a verdadeira glória, e não na
das coisas que são passageiras, como por exemplo a da própria flor, que tem a
sua glória, mas não devemos nos gloriar nelas porque delas é dito que: “Porque:
Toda a carne é como a erva, e toda a sua glória como a flor da erva. Secou-se a
erva, e caiu a sua flor;” (I Pe 1.24). Falando de flores, os homens costumam
usá-las como adorno em seus festejos carnais, nos quais gastam grandes somas de
dinheiro, para se gloriarem não propriamente no que fizeram, mas uns sobre os outros, na superação que não tem
limite de se desejar mostrar que se é mais do que os outros, naquilo que
realizam. Quanta pobreza e miséria há neste modo de pensar, porque as mesmas
flores que adornam seus festejos carnais, são também usadas para adornarem suas
sepulturas. No entanto, não podem lembrar disso, porque o seu coração não está
ligado continuamente na simplicidade que é devida a Cristo, e assim, não
conseguem se amoldar às coisas simples, senão às que eles consideram grandes, e
que aos olhos de Deus não passam de abominação, por causa do desejo de glória
que há em seus corações pervertidos pela soberba. A glória efêmera das torres,
dos palácios, das naus terrenas, passará pelo tempo ou pelo juízo de destruição
que virá da parte do Senhor sobre toda a terra. Deveríamos ser então sensatos e
não colocarmos o nosso coração nas coisas que são da terra, senão nas que são
do céu. Aqueles que desejam se tornar poderosos na terra, haverão de ser
abatidos pelo Senhor, e aos mansos fará com que herdem a terra para sempre.
Salmo 48
“Grande é o SENHOR e mui digno de ser
louvado, na cidade do nosso Deus.
Seu santo monte, belo e sobranceiro, é a
alegria de toda a terra; o monte Sião, para os lados do Norte, a cidade do
grande Rei.
Nos palácios dela, Deus se faz conhecer
como alto refúgio.
Por isso, eis que os reis se coligaram e
juntos sumiram-se; bastou-lhes vê-lo, e
se espantaram, tomaram-se de assombro e fugiram apressados.
O terror ali os venceu, e sentiram dores
como de parturiente.
Com vento oriental destruíste as naus de
Társis.
Como temos ouvido dizer, assim o vimos
na cidade do SENHOR dos Exércitos, na cidade do nosso Deus.
Deus a estabelece para sempre.
Pensamos, ó Deus, na tua misericórdia no
meio do teu templo.
Como o teu nome, ó Deus, assim o teu
louvor se estende até aos confins da terra; a tua destra está cheia de
justiça.
Alegre-se o monte Sião, exultem as
filhas de Judá, por causa dos teus juízos.
Percorrei a Sião, rodeai-a toda,
contai-lhe as torres; notai bem os seus
baluartes, observai os seus palácios, para narrardes às gerações vindouras que este é Deus, o nosso Deus para todo o
sempre; ele será nosso guia até à morte.”
Salmo 49
“Povos todos, escutai isto; dai ouvidos,
moradores todos da terra, tanto plebeus
como os de fina estirpe, todos juntamente, ricos e pobres. Os meus lábios falarão sabedoria, e o meu
coração terá pensamentos judiciosos.
Inclinarei os ouvidos a uma parábola, decifrarei o meu enigma ao som da
harpa. Por que hei de eu temer nos dias
da tribulação, quando me salteia a iniquidade dos que me perseguem, dos que confiam nos seus bens e na sua muita
riqueza se gloriam? Ao irmão, verdadeiramente, ninguém o pode remir, nem pagar
por ele a Deus o seu resgate (Pois a redenção da alma deles é caríssima, e
cessará a tentativa para sempre.), para
que continue a viver perpetuamente e não veja a cova; porquanto vê-se morrerem os sábios e
perecerem tanto o estulto como o inepto, os quais deixam a outros as suas
riquezas. O seu pensamento íntimo é que
as suas casas serão perpétuas e, as suas moradas, para todas as gerações;
chegam a dar seu próprio nome às suas terras. Todavia, o homem não permanece em
sua ostentação; é, antes, como os animais, que perecem. Tal proceder é
estultícia deles; assim mesmo os seus seguidores aplaudem o que eles dizem.
Como ovelhas são postos na sepultura; a morte é o seu pastor; eles descem
diretamente para a cova, onde a sua formosura se consome; a sepultura é o lugar
em que habitam. Mas Deus remirá a minha
alma do poder da morte, pois ele me tomará para si. Não temas, quando alguém se
enriquecer, quando avultar a glória de sua casa; pois, em morrendo, nada levará consigo, a sua
glória não o acompanhará. Ainda que
durante a vida ele se tenha lisonjeado, e ainda que o louvem quando faz o bem a
si mesmo, irá ter com a geração de seus
pais, os quais já não verão a luz. O homem, revestido de honrarias, mas sem
entendimento, é, antes, como os animais, que perecem.”
SALMO 50 – Salmo de Asafe
É de fato admirável, que sem a iluminação do Espírito Santo, o homem não
pode entender esta carta escrita por Deus para a humanidade que é a Bíblia.
São tão claras e diretas as advertências que o Senhor faz contra aqueles
que colocam sua confiança em ritos e cerimônias religiosas, em vez de uma verdadeira
vida piedosa, de um coração transformado e santificado; e todavia muitos não se
dão por avisados e continuam pensando que estão agradando a Deus por meramente
se submeterem a ritos e cerimoniais religiosos.
O Senhor é juiz de todas estas coisas e dará a cada um conforme as Suas
obras, quando julgar o mundo por meio do padrão da vida de Jesus Cristo.
Não era portanto nos animais que eram oferecidos por Israel no Velho
Testamento, que eles deveriam fazer o fim mesmo do ato de culto deles a Deus,
porque todos os animais pertencem a Ele, e não necessita comer a carne deles e
nem beber o seu sangue. Então, o sacrifício no qual eles deveriam concentrar a
atenção deles era nas ações de graças e nos votos que tinham para com o
Altíssimo, especialmente os relativos ao cumprimento dos Seus mandamentos.
Somente agindo assim, invocariam ao Senhor no dia da angústia, e seriam
livrados por Ele, e em consequência O glorificariam, como é do Seu propósito em
relação ao Seu povo. Mas não deviam contar com isto, enquanto colocassem a
confiança deles meramente nos sacrifícios de animais que Lhe ofereciam, e nos
demais cultos externos exigidos pela Lei cerimonial, quando os mesmos não eram
acompanhados por uma verdadeira piedade de coração. Quanto aos ímpios então,
nem sequer lhes daria qualquer atenção quando repetiam os Seus preceitos e
afirmavam de boca que estavam aliançados ao Senhor, porque aborreciam a
disciplina e rejeitavam as Suas palavras. Eles se compraziam no roubo, e no
adultério, eram maldizentes e difamadores, e como poderiam esperar contar com o
favor de Deus enquanto permaneciam escravizados a estes pecados e a outros?
Então somente àqueles que oferecem sacrifício de ações de graças, pelo
reconhecimento de tudo o que o Senhor tem feito, e que preparam o seu caminho
para andarem somente nas veredas da justiça, o Senhor daria que vissem a Sua
salvação.
“Fala o Poderoso, o SENHOR Deus, e chama
a terra desde o Nascente até ao Poente.
Desde Sião, excelência de formosura, resplandece Deus. Vem o nosso Deus
e não guarda silêncio; perante ele arde um fogo devorador, ao seu redor
esbraveja grande tormenta. Intima os céus lá em cima e a terra, para julgar o
seu povo. Congregai os meus santos, os que comigo fizeram aliança por meio de
sacrifícios. Os céus anunciam a sua
justiça, porque é o próprio Deus que julga. Escuta, povo meu, e eu falarei; ó
Israel, e eu testemunharei contra ti. Eu sou Deus, o teu Deus. Não te repreendo
pelos teus sacrifícios, nem pelos teus holocaustos continuamente perante mim. De tua casa não aceitarei novilhos, nem
bodes, dos teus apriscos. Pois são meus todos os animais do bosque e as
alimárias aos milhares sobre as montanhas. Conheço todas as aves dos montes, e
são meus todos os animais que pululam no campo.
Se eu tivesse fome, não to diria, pois o mundo é meu e quanto nele se
contém. Acaso, como eu carne de touros?
Ou bebo sangue de cabritos? Oferece a Deus sacrifício de ações de graças e
cumpre os teus votos para com o Altíssimo;
invoca-me no dia da angústia; eu te livrarei, e tu me glorificarás. Mas ao ímpio diz Deus: De que te serve
repetires os meus preceitos e teres nos lábios a minha aliança, uma vez que aborreces a disciplina e rejeitas
as minhas palavras? Se vês um ladrão, tu te comprazes nele e aos adúlteros te
associas. Soltas a boca para o mal, e a tua língua trama enganos. Sentas-te
para falar contra teu irmão e difamas o filho de tua mãe. Tens feito estas
coisas, e eu me calei; pensavas que eu era teu igual; mas eu te arguirei e
porei tudo à tua vista. Considerai, pois, nisto, vós que vos esqueceis de Deus,
para que não vos despedace, sem haver quem vos livre. O que me oferece sacrifício de ações de
graças, esse me glorificará; e ao que prepara o seu caminho, dar-lhe-ei que
veja a salvação de Deus.”
SALMO 52 – Salmo de Davi, quando Doegue,
edomita, fez saber a Saul que Davi havia entrado na casa do sacerdote Aimeleque
“Por que te glorias na maldade, ó homem
poderoso? Pois a bondade de Deus dura para sempre. A tua língua urde planos de
destruição; é qual navalha afiada, ó praticadora de enganos! Amas o mal antes que o bem; preferes mentir a
falar retamente. Amas todas as palavras
devoradoras, ó língua fraudulenta!
Também Deus te destruirá para sempre; há de arrebatar-te e arrancar-te
da tua tenda e te extirpará da terra dos viventes. Os justos hão de ver tudo isso, temerão e se
rirão dele, dizendo: Eis o homem que não
fazia de Deus a sua fortaleza; antes, confiava na abundância dos seus próprios
bens e na sua perversidade se fortalecia.
Quanto a mim, porém, sou como a oliveira verdejante, na Casa de Deus;
confio na misericórdia de Deus para todo o sempre. Dar-te-ei graças para sempre, porque assim o
fizeste; na presença dos teus fiéis, esperarei no teu nome, porque é bom.”
Nós encontramos o contexto deste salmo em I Samuel 22, cujo texto e
comentário estamos apresentando adiante:
I SAMUEL 22
“1 Depois Davi, retirando-se desse lugar, escapou
para a caverna de Adulão. Quando os seus irmãos e toda a casa de seu pai
souberam disso, desceram ali para ter com ele.
2 Ajuntaram-se a ele todos os que se achavam em
aperto, todos os endividados, e todos os amargurados de espírito; e ele se fez
chefe deles; havia com ele cerca de quatrocentos homens.
3 Dali passou Davi para Mizpe de Moabe; e disse ao
rei de Moabe: Deixa, peço-te, que meu pai e minha mãe fiquem convosco, até que
eu saiba o que Deus há de fazer de mim.
4 E os deixou com o rei de Moabe; e ficaram com ele
por todo o tempo que Davi esteve neste lugar seguro.
5 Disse o profeta Gade a Davi: Não fiques neste
lugar seguro; sai, e entra na terra de Judá. Então Davi saiu, e foi para o
bosque de Herete.
6 Ora, ouviu Saul que já havia notícias de Davi e
dos homens que estavam com ele. Estava Saul em Gibeá, sentado debaixo da
tamargueira, sobre o alto, e tinha na mão a sua lança, e todos os seus servos
estavam com ele.
7 Então disse Saul a seus servos que estavam com
ele: Ouvi, agora, benjamitas! Acaso o filho de Jessé vos dará a todos vós
terras e vinhas, e far-vos-á a todos chefes de milhares e chefes de centenas,
8 para que todos vós tenhais conspirado contra mim,
e não haja ninguém que me avise de ter meu filho, feito aliança com o filho de
Jessé, e não haja ninguém dentre vós que se doa de mim, e me participe o ter
meu filho sublevado meu servo contra mim, para me armar ciladas, como se vê
neste dia?
9 Então respondeu Doegue, o edomita, que também
estava com os servos de Saul, e disse: Vi o filho de Jessé chegar a Nobe, a
Aimeleque, filho de Aitube;
10 o qual consultou por ele ao Senhor, e lhe deu
mantimento, e lhe deu também a espada de Golias, o filisteu.
11 Então o rei mandou chamar a Aimeleque, o
sacerdote, filho de Aitube, e a toda a casa de seu pai, isto é, aos sacerdotes
que estavam em Nobe; e todos eles vieram ao rei.
12 E disse Saul: Ouve, filho de Aitube! E ele lhe
disse: Eis-me aqui, senhor meu.
13 Então lhe perguntou Saul: Por que conspirastes
contra mim, tu e o filho de Jessé, pois lhe deste pão e espada, e consultaste
por ele a Deus, para que ele se levantasse contra mim a armar-me ciladas, como
se vê neste dia?
14 Ao que respondeu Aimeleque ao rei dizendo: Quem
há, entre todos os teus servos, tão fiel como Davi, o genro do rei, chefe da
tua guarda, e honrado na tua casa?
15 Porventura é de hoje que comecei a consultar por
ele a Deus? Longe de mim tal coisa! Não impute o rei coisa nenhuma a mim seu
servo, nem a toda a casa de meu pai, pois o teu servo não soube nada de tudo
isso, nem muito nem pouco.
16 O rei, porém, disse: Hás de morrer, Aimeleque, tu
e toda a casa de teu pai.
17 E disse o rei aos da sua guarda que estavam com
ele: Virai-vos, e matai os sacerdotes do Senhor, porque também a mão deles está
com Davi, e porque sabiam que ele fugia e não mo fizeram saber. Mas os servos
do rei não quiseram estender as suas mãos para arremeter contra os sacerdotes
do Senhor.
18 Então disse o rei a Doegue: Vira-te e arremete
contra os sacerdotes. Virou-se, então, Doegue, o edomita, e arremeteu contra os
sacerdotes, e matou naquele dia oitenta e cinco homens que vestiam éfode de
linho.
19 Também a Nobe, cidade desses sacerdotes, passou a
fio de espada; homens e mulheres, meninos e criancinhas de peito, e até os
bois, jumentos e ovelhas passou a fio de espada.
20 Todavia um dos filhos de Aimeleque, filho de
Aitube, que se chamava Abiatar, escapou e fugiu para Davi.
21 E Abiatar anunciou a Davi que Saul tinha matado
os sacerdotes do Senhor.
22 Então Davi disse a Abiatar: Bem sabia eu naquele
dia que, estando ali Doegue, o edomita, não deixaria de o denunciar a Saul. Eu
sou a causa da morte de todos os da casa de teu pai.
23 Fica comigo, não temas; porque quem procura a
minha morte também procura a tua; comigo estarás em segurança.” (I Sm 22.1-23)
Davi havia se refugiado na caverna de Adulão, quando
deixou a cidade de Nobe.
Este capítulo de I Samuel começa com Davi na citada
caverna e que seus pais e irmãos vieram ter com ele naquele lugar (v. 1) e que
se juntaram a ele todos os que estavam em aperto, todos os endividados e
amargurados de espírito, cerca de quatrocentos homens, que deveriam também
estar sob algum tipo de ameaça de Saul, assim como também o estava agora a
família de Davi (v. 2).
E deste modo, ele começa o seu governo sobre os
homens de Israel pelos injustiçados, desamparados, marginalizados.
Nisto ele é tipo de Jesus, que governa sobre os
pecadores e especialmente sobre os que choram, sobre os perseguidos, sobre os
que têm fome e sede de justiça.
Um rei segundo o coração de Deus não se isolará no
conforto do seu palácio, de onde passará apenas a dar ordens tirânicas e
autoritariamente, mas será alguém que estará junto do Seu povo, sofrendo e
lutando juntamente com ele as batalhas contra o reino espiritual da maldade.
Era exatamente isto que Davi estava aprendendo das
circunstâncias que estava vivendo.
Ele teria que se humilhar para prover segurança para
os seus pais, e por isso teve que pedir a um rei de uma terra estrangeira, o
rei de Moabe, que cuidasse deles até que soubesse o que Deus viria a fazer da
sua vida (v. 3, 4).
Nós vemos que o profeta Gade o acompanhava na
ocasião do seu período de fuga (v. 5), o qual, provavelmente, por uma revelação
divina aconselhou Davi a deixar a segurança da terra de Moabe e que voltasse
para a tribo de Judá, na qual ficava a sua cidade de Belém (v. 5). E atendendo
às suas palavras, Davi se dirigiu para lá e foi se refugiar no bosque de
Herete.
Saul estava acusando Davi injustamente de estar
conspirando contra a sua vida e acusou o seu próprio filho Jônatas quanto a ter
feito uma aliança com Davi neste sentido.
Aos seus próprios olhos, a sua causa era justa,
porque, afinal ele era o rei e havia sido ungido a mando de Deus para ser rei
sobre todo Israel.
Como poderia o filho de Jessé se levantar contra ele
daquela maneira? No entanto Davi sempre lhe fora leal, e aquela acusação não
era procedente de modo nenhum.
Tal era a lealdade de Davi a Saul que o sacerdote
Aimeleque testemunhou em favor dela na presença de Saul, com o risco de sua
própria vida, e ele foi inteiramente verdadeiro quando lhe disse que nada sabia
sobre o assunto de que Davi esta fugindo do rei, porque como vimos antes, Davi
lhe havia mentindo que estava em missão secreta naquela região a mando de Saul.
Mas a verdade de Aimeleque soou aos ouvidos de Saul
como uma mentira, em razão do grande ódio que ele vinha alimentando contra Davi
e considerou que todos os sacerdotes de Nobe estavam aliados a Davi na sua
alegada conspiração contra ele.
Com isso, viria a cometer uma grande injustiça e
transgressão, pois não somente ordenou a morte de todos os sacerdotes, e não
somente matou oitenta e cinco deles, pelas mãos de Doegue, o edomita, tendo
escapado apenas um, chamado Abiatar, filho de Aimeleque, que fugira e foi ter
com Davi, como também matou à espada homens, mulheres, meninos e até mesmo
crianças de peito, bois, jumentos e ovelhas daquela cidade.
O rei que deveria cuidar da segurança do povo do
Senhor estava fazendo com grande injustiça, exatamente o oposto do que exigia o
seu cargo.
Isto não ficaria sem a devida resposta da parte de
Deus, pois os que matam de tal modo injusto, pela espada também serão mortos,
como viria a ocorrer mais tarde com Saul, em razão do juízo que o Senhor
determinara sobre ele.
Doegue não somente denunciou a Saul que Davi
estivera em Nobe com os sacerdotes (v. 9), quando Saul se encontrava em sua
cidade de Gibeá, na tribo de Benjamim, como também se encarregou de matar os
oitenta e cinco sacerdotes que compareceram à presença de Saul em Gibeá quando
os seus soldados israelitas se negaram a fazê-lo por temerem ao Senhor.
O temor que faltava ao rei foi achado nos seus
servos.
Isto mostra que a sede de sangue de Saul não teria
mais limites por causa do seu ódio a Davi, tanto que ele não se satisfez
simplesmente em matar os sacerdotes, como também ordenou que suas tropas se
dirigissem a Nobe, para fazer aquela grande assolação à cidade sacerdotal, a
que já nós referimos anteriormente.
Os israelitas não somente se negaram a informar a
Saul o paradeiro de Davi, como se negaram a matar os sacerdotes do Senhor.
Entretanto, um edomita fez a ambos porque aqueles que não conhecem o
temor de Deus não têm as suas consciências perturbadas pelas injustiças que
possam cometer, porque a falta do conhecimento do Senhor produz tal
cauterização da consciência e dureza de coração.
Estes sacerdotes foram mortos por causa do pecado
dos seus pais, porque todos eles eram da casa de Eli, sobre os quais Deus havia
pronunciado um juízo, dizendo que todos os da sua casa viriam a ser mortos pela
espada, e que não chegariam a envelhecer (I Sm 2.31-33; 3.11-13).
Assim, nós temos uma grande injustiça e impiedade de
Saul ao fazer o que ele fez, mas Deus continuou justo ao permitir que tal
acontecesse por causa deste juízo que havia sido pronunciado contra a grande
impiedade que a casa de Eli praticou contra o ofício sacerdotal.
As consequências do pecado deles estava ainda
alcançando os seus descendentes e familiares pertencentes à casa de Eleazar, de
modo que todo Israel poderia entender o grande temor e reverência que devia ser
prestado ao ofício sagrado do tabernáculo.
Quando Doegue
denunciou Davi a Saul, ele escreveu as palavras do Salmo 52, que revelam a sua
inteira confiança na justiça de Deus para livrá-lo e para trazer juízos sobre
os ímpios que intentavam contra a sua vida.
Nós vemos que a providência divina inspirou tais
palavras de Davi, sem que ele citasse o nome de Doegue, que foi quem inspirou
na verdade a escrita deste Salmo, mas a verdade que ele contém é uma verdade
universal e não apenas uma verdade relativa a uma só pessoa ímpia, no caso a de
Doegue.
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