Isaías
26
“1
Naquele dia se entoará este cântico na terra de Judá: uma cidade forte temos, a
que Deus pôs a salvação por muros e antemuros.
2 Abri
as portas, para que entre nela a nação justa, que observa a verdade.
3 Tu
conservarás em paz aquele cuja mente está firme em ti; porque ele confia em ti.
4
Confiai sempre no Senhor; porque o Senhor Deus é uma rocha eterna.
5
porque ele tem derrubado os que habitam no alto, na cidade elevada; abate-a,
abate-a até o chão; e a reduz até o pó.
6
Pisam-na os pés, os pés dos pobres, e os passos dos necessitados.
7 O
caminho do justo é plano; tu, que és reto, nivelas a sua vereda.
8 No
caminho dos teus juízos, Senhor, temos esperado por ti; no teu nome e na tua
memória está o desejo da nossa alma.
9 Minha
alma te deseja de noite; sim, o meu espírito, dentro de mim, diligentemente te
busca; porque, quando os teus juízos estão na terra, os moradores do mundo
aprendem justiça.
10
Ainda que se mostre favor ao ímpio, ele não aprende a justiça; até na terra da
retidão ele pratica a iniquidade, e não atenta para a majestade do Senhor.
11
Senhor, a tua mão está levantada, contudo eles não a vêem; vê-la-ão, porém, e
confundir-se-ão por causa do zelo que tens do teu povo; e o fogo reservado para
os teus adversários os devorará.
12
Senhor, tu hás de estabelecer para nós a paz; pois tu fizeste para nós todas as
nossas obras.
13 Ó
Senhor Deus nosso, outros senhores além de ti têm tido o domínio sobre nós;
mas, por ti só, nos lembramos do teu nome.
14 Os
falecidos não tornarão a viver; os mortos não ressuscitarão; por isso os
visitaste e destruíste, e fizeste perecer toda a sua memória.
15 Tu,
Senhor, aumentaste a nação; aumentaste a nação e te fizeste glorioso; alargaste
todos os confins da terra.
16
Senhor, na angústia te buscaram; quando lhes sobreveio a tua correção,
derramaram-se em oração.
17 Como
a mulher grávida, quando está próxima a sua hora, tem dores de parto e dá
gritos nas suas dores, assim fomos nós diante de ti, ó Senhor!
18
Concebemos nós, e tivemos dores de parto, mas isso foi como se tivéssemos dado
à luz o vento; livramento não trouxemos à terra; nem nasceram moradores do
mundo.
19 Os
teus mortos viverão, os seus corpos ressuscitarão; despertai e exultai, vós que
habitais no pó; porque o teu orvalho é orvalho de luz, e sobre a terra das
sombras fa-lo-ás cair.
20 Vem,
povo meu, entra nas tuas câmaras, e fecha as tuas portas sobre ti; esconde-te
só por um momento, até que passe a indignação.
21 Pois
eis que o Senhor está saindo do seu lugar para castigar os moradores da terra
por causa da sua iniquidade; e a terra descobrirá o seu sangue, e não encobrirá
mais os seus mortos.”
As
profecias deste capítulo como as seguintes, misturam a glória futura do Israel
de Deus juntamente com o Messias, com as boas promessas de livramento para
Judá, depois de ter passado pelo cativeiro babilônico.
Importava
encorajar os judeus, como já comentamos anteriormente, para manterem firme a
esperança messiânica, a saber, a guardarem a vontade de Deus para a
manifestação do Salvador prometido.
No
entanto, sabemos que estas promessas de bênçãos para Judá foram interrompidas
por várias vezes, por juízos divinos, quando a nação voltava a se desviar da
Sua presença, sendo portanto entregue nas mãos de opressores.
É
importante frisar, que mesmo ao retornarem de Babilônia permaneceram debaixo do
governo sucessivo de medos e persas, de gregos e de romanos. Somente por um breve período, nos dias dos
Macabeus, Israel foi uma nação soberana, sem estar debaixo do jugo de qualquer
outra nação.
Então a
aplicação destas profecias de Isaías apontam não para a glória de Judá na
terra, quer na dispensação do Antigo, quer na do Novo Testamento.
Mas à
glória que desfrutariam por meio da mediação e governo do Messias prometido.
É bom
fixarmos e lembrarmos sempre, ao ler todo o livro de Isaías, qual foi o caráter
da sua chamada por Deus, conforme vimos no sexto capitulo, quando foi
profetizado que ele deveria revelar o endurecimento que haveria em Israel até o
final da dispensação da graça.
Então
não seria de se esperar que Deus falasse da glória de um povo que permaneceria
endurecido, apesar de todo o favor e cuidado que tivesse para com eles.
Na
verdade sempre foi pela ação de um remanescente fiel, representado nas pessoas
de Esdras, Neemias, e outros servos piedosos do Senhor, que Judá foi
preservado, e não pela piedade de todo o povo.
Nós
lemos no último versículo da profecia deste capítulo:
“Pois
eis que o Senhor está saindo do seu lugar para castigar os moradores da terra
por causa da sua iniquidade.”
Pode
parecer, pela leitura do restante do capitulo, que esta afirmação está
deslocada e fora de contexto. No entanto, é por ela que podemos entender o
caráter da paz e da glória de Judá, que é prometida no capitulo.
Ela é
resultante da confiança total no Senhor, conforme o povo é conclamado a fazer
em todo o tempo.
Esta
promessa de paz não se destina aos que permanecem na prática deliberada do
pecado, porque deles se diz no verso 10:
“Ainda
que se mostre favor ao ímpio, ele não aprende a justiça; até na terra da
retidão ele pratica a iniquidade, e não atenta para a majestade do Senhor.”
Então o
que se reserva para os ímpios é o que se afirma no verso 11:
“Senhor,
a tua mão está levantada, contudo eles não a vêem; vê-la-ão, porém, e
confundir-se-ão por causa do zelo que tens do teu povo; e o fogo reservado para
os teus adversários os devorará.”
Mas
para os justos é prometido por Deus a paz, porque Ele mesmo fará todas as suas
obras para o Seu povo (v. 12).
Ainda
que outros dominem sobre o povo, que é a herança do Senhor, é somente o Seu
santo nome que eles exaltam (v. 13).
O povo
do Senhor será aumentado na terra pelo próprio Deus e para a Sua exclusiva
glória (v. 14).
Ele
faria a obra do evangelho avançar até aos confins da terra (v. 15), mas para
isto, deveria ser buscado na angústia, que são produzidas pelas Suas correções,
derramando os seus corações perante Ele em oração.
O povo
deve ser santificado e consagrado pelas tribulações, para que aprenda a orar e
a buscar ao Senhor, porque é assim que Ele faz a Sua obra avançar através da
Igreja, que assim se Lhe consagra (v. 16).
E estas
orações devem ser agonizantes, como a mulher que está com as contrações do
parto (v. 17) porque são orações para que sejam geradas novas vidas, pelo
Espírito Santo, vidas não naturais, mas novas criaturas em Cristo Jesus.
Não
basta ter as dores de parto e não orar, porque isto não produzirá vida, senão
vento (v. 18), porque o poder do próprio homem não pode trazer livramento à
terra, dos poderes opressivos do inferno, que mantêm os homens em cadeias,
senão somente o poder do próprio Deus, pelo Espírito, quando o Seu povo ora
incessantemente, sem esmorecer, para que Ele mantenha avivada a Sua obra sobre a
terra.
Mas
para os que oram sem esmorecer, a promessa é de vida para os que se encontram
mortos. A vida abundante de Jesus que livra da morte espiritual e eterna, e que
traz também a promessa da ressurreição dos corpos dos que nEle crêem (v. 19).
Os que habitam
no pó podem exultar porque há esperança de vida para eles, porque o orvalho de
Deus, Jesus Cristo, é orvalho de luz, a luz que dá a vida de Deus aos homens
(v. 19b); mas os que não vêm para a luz por amarem as trevas, o Senhor fa-los-á
cair na terra das sombras em que eles gostam de viver (v. 19c).
Deus
está indignado contra o pecado, e manifestará a Sua ira contra o ímpios, mas o
Seu povo é convocado a entrar nas suas câmaras e fechar as suas portas sobre
si, para se esconder por um só momento,
até que Deus consuma a sua indignação desarraigando o ímpio da terra (v. 20).
Isto fala da necessidade de oração, de paciência, de perseverança, de esperar
quietos no Senhor, enquanto padecemos neste mundo de trevas.
Isaías
27
“1
Naquele dia o Senhor castigará com a sua dura espada, grande e forte, o
leviatã, a serpente fugitiva, e o leviatã, a serpente tortuosa; e matará o
dragão, que está no mar.
2
Naquele dia haverá uma vinha deliciosa; cantai a seu respeito.
3 Eu, o
Senhor, a guardo, e a cada momento a regarei; para que ninguém lhe faça dano,
de noite e de dia a guardarei.
4 Não
há indignação em mim; quem dera que fossem ordenados diante de mim em guerra
sarças e espinheiros! eu marcharia contra eles e juntamente os queimaria.
5 Ou,
então, busquem o meu refúgio, e façais, paz comigo; sim, façam paz comigo.
6 Dias
virão em que Jacó lançará raízes; Israel florescerá e brotará; e eles encherão
de fruto a face do mundo.
7
Porventura feriu-os o Senhor como feriu aos que os feriram? ou matou-os ele
assim como matou aos que por eles foram mortos?
8 Com
medida contendeste com eles, quando os rejeitaste; ele a removeu com o seu
vento forte, no tempo do vento leste.
9 Por
isso se expiará a iniquidade de Jacó; e este será todo o fruto da remoção do
seu pecado: ele fará todas as pedras do altar como pedras de cal feitas em
pedaços, de modo que os aserins e as imagens do sol não poderão ser mais
levantados.
10
porque a cidade fortificada está solitária, uma habitação rejeitada e
abandonada como um deserto; ali pastarão os bezerros, ali também se deitarão e
devorarão os seus ramos.
11
Quando os seus ramos se secam, são quebrados; vêm as mulheres e lhes ateiam
fogo; porque este povo não é povo de entendimento; por isso aquele que o fez
não se compadecerá dele, e aquele que o formou não lhe mostrará nenhum favor.
12
Naquele dia o Senhor padejará o seu trigo desde as correntes do Rio, até o
ribeiro do Egito; e vós, ó filhos de Israel, sereis colhidos um a um.
13 E
naquele dia se tocará uma grande trombeta; e os que andavam perdidos pela terra
da Assíria, e os que foram desterrados para a terra do Egito tornarão a vir; e
adorarão ao Senhor no monte santo em Jerusalém.”
Repetidamente
se diz neste capítulo “Naquele dia” (v. 1, 2, 12, 13) e também se diz no verso
6 que dias virão em que Jacó lançará raízes; Israel florescerá e brotará; e
eles encherão de fruto a face do mundo.”. Esta é uma clara referência aos dias
do evangelho, que se espalharia a partir de Israel por toda a face do mundo,
desde o derramar do Espírito Santo, no dia de Pentecostes.
“Naquele
dia o Senhor castigará com a sua dura espada, grande e forte, o leviatã, a
serpente fugitiva, e o leviatã, a serpente tortuosa; e matará o dragão, que
está no mar (v. 1)”. É uma referência clara ao esmagamento da cabeça da
serpente, Satanás, o diabo, por Jesus.
Diz-se
na profecia que naquele dia haverá uma vinha deliciosa, que será motivo de
louvor por causa dela (v. 2).
A iniquidade
de Jacó seria expiada nestes dias do evangelho (v. 9) e por isso há estas
promessas de bênçãos e prosperidade da Igreja.
Sabemos
que é pelo sangue de Cristo que esta iniquidade é expiada.
E os
judeus, que se encontravam dispersos pelo mundo, desde os cativeiros assírio e
babilônico, poderiam voltar a Jerusalém para adorarem o Senhor, no Seu santo
monte (v. 13).
Não
seria pela própria bondade de Israel, que lhe sobreviriam estas bênçãos
prometidas, porque eram ramos secos, quebrados, prontos para serem queimados,
porque era um povo sem entendimento, que não conhecia ao Senhor, e por isso não
seria da nação de Israel em geral, que o Senhor teria misericórdia, antes, os
padejaria, como o trigo, e colheria um a um daqueles que fossem grão e não
palha em Israel, e seria com estes que Ele faria a Sua obra.
Foi
exatamente isto que Jesus fez, escolhendo os apóstolos e selecionando os
discípulos, provando-os em Sua obediência à Sua vontade e mandamentos, para
fazerem a Sua obra através deles, e não de toda a nação de Israel.
Seria
por esta pequena raiz que o evangelho espalharia suas raízes por todo o mundo.
Isaías
28
“1 Ai
da vaidosa coroa dos bêbedos de Efraim, e da flor murchada do seu glorioso
ornamento, que está sobre a cabeça do fértil vale dos vencidos do vinho.
2 Eis
que o Senhor tem um valente e poderoso; como tempestade de saraiva, tormenta
destruidora, como tempestade de impetuosas águas que transbordam, ele a
derrubará violentamente por terra.
3 A
vaidosa coroa dos bêbedos de Efraim será pisada aos pés;
4 e a
flor murchada do seu glorioso ornamento, que está sobre a cabeça do fértil vale,
será como figo que amadurece antes do verão, que, vendo-o alguém, e mal
tomando-o na mão, o engole.
5
Naquele dia o Senhor dos exércitos será por coroa de glória e diadema de
formosura para o restante de seu povo;
6 e por
espírito de juízo para o que se assenta a julgar, e por fortaleza para os que
fazem recuar a peleja até a porta.
7 Mas
também estes cambaleiam por causa do vinho, e com a bebida forte se
desencaminham; até o sacerdote e o profeta cambaleiam por causa da bebida
forte, estão tontos do vinho, desencaminham-se por causa da bebida forte; erram
na visão, e tropeçam no juízo.
8 Pois
todas as suas mesas estão cheias de vômitos e de sujidade, e não há lugar que
esteja limpo.
9 Ora,
a quem ensinará ele o conhecimento? e a quem fará entender a mensagem? aos
desmamados, e aos arrancados dos seios?
10 Pois
é preceito sobre preceito, preceito sobre preceito; regra sobre regra, regra
sobre regra; um pouco aqui, um pouco ali.
11 Na
verdade por lábios estranhos e por outra língua falará a este povo;
12 ao
qual disse: Este é o descanso, dai descanso ao cansado; e este é o refrigério;
mas não quiseram ouvir.
13
Assim pois a palavra do Senhor lhes será preceito sobre preceito, preceito
sobre preceito; regra sobre regra, regra sobre regra; um pouco aqui, um pouco
ali; para que vão, e caiam para trás, e fiquem quebrantados, enlaçados, e
presos.
14
Ouvi, pois, a palavra do Senhor, homens escarnecedores, que dominais este povo
que está em Jerusalém.
15
Porquanto dizeis: Fizemos pacto com a morte, e com o Seol fizemos aliança;
quando passar o flagelo trasbordante, não chegará a nós; porque fizemos da
mentira o nosso refúgio, e debaixo da falsidade nos escondemos.
16
Portanto assim diz o Senhor Deus: Eis que ponho em Sião como alicerce uma
pedra, uma pedra provada, pedra preciosa de esquina, de firme fundamento;
aquele que crer não se apressará.
17 E
farei o juízo a linha para medir, e a justiça o prumo; e a saraiva varrerá o
refúgio da mentira, e as águas inundarão o esconderijo.
18 E o
vosso pacto com a morte será anulado; e a vossa aliança com o Seol não
subsistirá; e, quando passar o flagelo trasbordante, sereis abatidos por ele.
19
Todas as vezes que passar, vos arrebatará; porque de manhã em manhã passará, de
dia e de noite; e será motivo de terror o só ouvir tal notícia.
20 Pois
a cama é tão curta que nela ninguém se pode estender; e o cobertor tão estreito
que com ele ninguém se pode cobrir.
21
Porque o Senhor se levantará como no monte Perazim, e se irará como no vale de
Gibeão, para realizar a sua obra, a sua estranha obra, e para executar o seu
ato, o seu estranho ato.
22
Agora, pois, não sejais escarnecedores, para que os vossos grilhões não se
façam mais fortes; porque da parte do Senhor Deus dos exércitos ouvi um decreto
de destruição completa e decisiva, sobre toda terra.
23
Inclinai os ouvidos, e ouvi a minha voz; escutai, e ouvi o meu discurso.
24
Porventura lavra continuamente o lavrador, para semear? ou está sempre abrindo
e esterroando a sua terra?
25 Não
é antes assim: quando já tem nivelado a sua superfície, não espalha o endro,
não semeia o cominho, não lança nela o trigo em leiras, ou cevada no lugar
determinado, ou a espelta na margem?
26 Pois
o seu Deus o instrui devidamente e o ensina.
27
Porque o endro não se trilha com instrumento de trilhar, nem sobre o cominho
passa a roda de carro; mas o endro é debulhado com uma vara, e o cominho com um
pau.
28
Acaso é esmiuçado o trigo? não; não se trilha continuamente, nem se esmiúça com
as rodas do seu carro e os seus cavalos; não se esmiúça.
29 Até
isso procede do Senhor dos exércitos, que é maravilhoso em conselho e grande em
obra.”
Quando
esta profecia foi proferida ainda existia o Reino do Norte (Israel) mas a
destruição da Assíria já estava próxima de suas portas.
Havia
um iminente e terrível juízo pairando sobre eles, mas não deram a mínima
atenção aos avisos dos profetas e não atentaram para a Lei do Senhor, antes
aumentaram ainda mais os seus pecados entregando-se a uma vida desregrada e de
luxúria.
Então é
mais uma vez pronunciada neste capítulo a sua ruína.
A graça
do Senhor seria manifestada apenas ao remanescente fiel (v. 5) e não a estes
ímpios que decidiram viver deliberada e para sempre no pecado, apesar de terem
sido insistentemente chamados por séculos, pelo Senhor, ao arrependimento.
Somente o remanescente conheceria e seria
fundamentado na pedra de esquina, eleita e preciosa (Jesus), na qual Deus
edificaria a Sua Igreja.
“Portanto
assim diz o Senhor Deus: Eis que ponho em Sião como alicerce uma pedra, uma
pedra provada, pedra preciosa de esquina, de firme fundamento; aquele que crer
não se apressará.” (v. 16)
Este
fundamento é alcançado pela fé, e se diz que não se apressará o que crer. Não
para crer. Mas para serem aperfeiçoados pelo Senhor. Porque o trabalho de
santificação será efetuado pela graça, pelo poder do Espírito, e com a
paciência e longanimidade de Deus na instrução do Seu povo na verdade.
Mas
quanto aos ímpios de Israel, que não fazem parte deste grupo de eleitos, o que
se diz que será dado a eles será regra sobre regra, preceito sobre preceito.
Eles serão regidos pela força da lei, porque se recusam a servir o Senhor
voluntariamente com um coração sincero, movidos pela Sua graça (v. 10,13).
Seria
assim para eles porque se endureceram à mensagem de graça do evangelho. Não
aceitaram que o pecador é justificado pela graça, mediante a fé, e continuariam
tentando serem justificados pela sua própria justiça, consoante a prática das
obras da lei. Mas isto era uma contradição, porque nem mesmo guardavam as obras
da Lei, porque sempre transgrediram a Lei do Senhor.
Eles
não conheceriam e não receberiam portanto, a vida e o mover do Espírito Santo
em seus corações, para serem regenerados (nascidos de novo) e santificados, e
ficariam assim, excluídos do reino de Deus.
Estes
que não estiverem fundamentados pela fé na Rocha de esquina, que é Cristo,
serão por fim alcançados pelo juízo de Deus, para uma condenação eterna, porque
a ira de Deus permanece sobre eles, uma vez que sem estar ligado a Cristo pela
fé, é impossível que alguém possa ser justificado e perdoado de seus pecados.
Isaías
29
“1 Ah!
Ariel, Ariel, cidade onde Davi acampou! Acrescentai ano a ano; completem as
festas o seu ciclo.
2 Então
porei Ariel em aperto, e haverá pranto e lamentação; e ela será para mim como
Ariel.
3
Acamparei contra ti em redor, e te sitiarei com baluartes, e levantarei
tranqueiras contra ti.
4 Então
serás abatida, falarás de debaixo da terra, e a tua fala desde o pó sairá
fraca; e será a tua voz debaixo da terra, como a dum necromante, e a tua fala
assobiará desde o pó.
5 E a
multidão dos teus inimigos será como o pó miúdo, e a multidão dos terríveis
como a pragana que passa; e isso acontecerá num momento, repentinamente.
6 Da
parte do Senhor dos exércitos será ela visitada com trovões, e com terremotos,
e grande ruído, como tufão, e tempestade, e labareda de fogo consumidor.
7 E
como o sonho e uma visão de noite será a multidão de todas as nações que hão de
pelejar contra Ariel, sim a multidão de todos os que pelejarem contra ela e
contra a sua fortaleza e a puserem em aperto.
8 Será
também como o faminto que sonha que está a comer, mas, acordando, sente-se
vazio; ou como o sedento que sonha que está a beber, mas, acordando,
desfalecido se acha, e ainda com sede; assim será a multidão de todas as nações
que pelejarem contra o monte Sião.
9
Pasmai, e maravilhai-vos; cegai-vos e ficai cegos; bêbedos estão, mas não de
vinho, andam cambaleando, mas não de bebida forte.
10
Porque o Senhor derramou sobre vós um espírito de profundo sono, e fechou os
vossos olhos, os profetas; e vendou as vossas cabeças, os videntes.
11 Pelo
que toda visão vos é como as palavras dum livro selado que se dá ao que sabe
ler, dizendo: Ora lê isto; e ele responde: Não posso, porque está selado.
12 Ou
dá-se o livro ao que não sabe ler, dizendo: Ora lê isto; e ele responde: Não
sei ler.
13 Por
isso o Senhor disse: Pois que este povo se aproxima de mim, e com a sua boca e
com os seus lábios me honra, mas tem afastado para longe de mim o seu coração,
e o seu temor para comigo consiste em mandamentos de homens, aprendidos de cor;
14
portanto eis que continuarei a fazer uma obra maravilhosa com este povo, sim
uma obra maravilhosa e um assombro; e a sabedoria dos seus sábios perecerá, e o
entendimento dos seus entendidos se esconderá.
15 Ai
dos que escondem profundamente o seu propósito do Senhor, e fazem as suas obras
às escuras, e dizem: Quem nos vê? e quem nos conhece?
16 Vós
tudo perverteis! Acaso o oleiro há de ser reputado como barro, de modo que a
obra diga do seu artífice: Ele não me fez; e o vaso formado diga de quem o
formou: Ele não tem entendimento?
17
Porventura dentro ainda de muito pouco tempo não se converterá o Líbano em
campo fértil? e o campo fértil não se reputará por um bosque?
18
Naquele dia os surdos ouvirão as palavras do livro, e dentre a escuridão e
dentre as trevas os olhos dos cegos a verão.
19 E os
mansos terão cada vez mais gozo no Senhor, e os pobres dentre os homens se
alegrarão no santo de Israel.
20
Porque o opressor é reduzido a nada, e não existe mais o escarnecedor, e todos
os que se dão à iniquidade são desarraigados;
21 os
que fazem por culpado o homem numa causa, os que armam laços ao que repreende
na porta, e os que por um nada desviam o justo.
22
Portanto o Senhor, que remiu a Abraão, assim diz acerca da casa de Jacó: Jacó
não será agora envergonhado, nem agora se descorará a sua face.
23 Mas
quando virem seus filhos a obra das minhas mãos no meio deles, santificarão o
meu nome; sim santificarão ao Santo de Jacó, e temerão ao Deus de Israel.
24 E os
errados de espírito virão a ter entendimento, e os murmuradores aprenderão
instrução.”
O livro
de Isaías é todo evangélico, porque não foi escrito para agradar a homens,
senão a Deus.
Tal é o
caráter do evangelho, porque não encobre o pecado do homem, e não deixa de
apontar para o juízo eterno de Deus sobre o pecado, e a necessidade de fé e
arrependimento para o perdão dos pecados e a consequente reconciliação com
Deus.
Não é sem razão que o livro de Isaías seja
muito citado no Novo Testamento, porque, como dissemos, o seu caráter é
totalmente evangélico, porque foi para esta missão de falar do evangelho que
ele foi chamado por Deus.
Então o
enfoque na profecia de Isaías está na obra operada pela graça e pelo poder de
Deus, e não pelo mero esforço pessoal do homem.
A graça
evangélica que seria manifestada está sempre associada à fé e ao
arrependimento, e a um caminhar condigno com a santidade de Deus.
Os
fariseus não podiam entender esta mensagem, porque estavam endurecidos, mas os
apóstolos a entenderam perfeitamente porque a viram encarnada na pessoa de
Cristo.
Então é
por isso que não vemos nenhuma das epistolas escritas pelos apóstolos
desobrigando os crentes de um viver santo e piedoso, sob a alegação de não
estarem mais debaixo da Lei e sim da graça do evangelho; porque sabiam que a
graça é do remanescente fiel, é dos eleitos, é daqueles que amam a vontade de
Deus, é daqueles que detestam o pecado e que amam a santidade.
Foi pra salvar este remanescente fiel que
Cristo se manifestou. Ele morreu por todos os pecadores, mas apenas aqueles que
crêem e se arrependem podem ser beneficiados pela Sua morte e desfrutar das
bênçãos prometidas por Deus para o Seu povo.
Neste
capítulo de Isaías, Jerusalém é chamada pelo codinome de Ariel. E o capitulo é
introduzido pela expressão interjetiva “Ah!” como um suspiro, porque é relativa
à cidade onde Davi acampou, isto é, onde ele estabeleceu a sua casa, porque
Jerusalém era chamada de a cidade de Davi.
Mas
eles não andaram nos caminhos de Davi. Não imitaram a sua devoção e piedade.
Então é
proferido o que o Senhor lhe faria:
“Então
porei Ariel em aperto, e haverá pranto e lamentação; e ela será para mim como
Ariel.” (v. 2).
São
proferidas então as assolações que lhes sobreviriam da parte de Babilônia, que
a sitiaria e a abateria (v.3,4), e eles se sentiriam como mortos que descem ao
pó.
Muitos
inimigos prevaleceriam contra Judá, porque os babilônios viriam coligados a
outros povos contra Judá, como por exemplo os moabitas e amonitas (v. 5).
E como
todos os juízos do Senhor, isto viria repentinamente, como o ladrão, tal como
nos dias de Noé, em Sodoma e Gomorra, e como também será no tempo do fim,
conforme Jesus afirmou.
Não é
afirmado, portanto, na profecia, como também não é no evangelho, que Deus está
esperando bons frutos de árvores más.
Antes é
dito que estas árvores más serão cortadas. Que as pérolas do evangelho não
devem ser lançadas a porcos. Que não se deve pregar a paz a uma sociedade
corrompida, senão que há um juízo aguardando por aqueles que não temem a
Deus.
Deus
deixa entregues a si mesmos aqueles que amam as trevas e não a luz. Aqueles que
amam a mentira e não dão ouvidos à verdade. Ele deixa os que resistem
continuamente à Sua vontade, entregues ao próprio endurecimento deles. Ele não
lhes concede graça para que achem arrependimento. E nem toca a trombeta de
alerta para eles para que despertem do sono de morte em que se encontram, como
vemos afirmado nos versos 10 a 12:
“10
Porque o Senhor derramou sobre vós um espírito de profundo sono, e fechou os
vossos olhos, os profetas; e vendou as vossas cabeças, os videntes.
11 Pelo
que toda visão vos é como as palavras dum livro selado que se dá ao que sabe
ler, dizendo: Ora lê isto; e ele responde: Não posso, porque está selado.
12 Ou
dá-se o livro ao que não sabe ler, dizendo: Ora lê isto; e ele responde: Não
sei ler.”
Eles
eram religiosos só de aparência. Eram falsos piedosos em suas obras externas,
mas não tinham o poder da piedade operando pela graça em seus corações. Então a
devoção deles não era em espírito e em verdade, mas uma adoração falsa. Como se
costuma dizer: da boca para fora, mas não de fato e de verdade. Então se afirma
o que lemos no verso 13:
“13 Por
isso o Senhor disse: Pois que este povo se aproxima de mim, e com a sua boca e
com os seus lábios me honra, mas tem afastado para longe de mim o seu coração,
e o seu temor para comigo consiste em mandamentos de homens, aprendidos de
cor;”.
Com
isso o Senhor prometeu que faria, portanto, uma obra maravilhosa com aquele povo
hipócrita, com aqueles judeus que eram apenas no nome, mas não no coração, não
que consistisse em sinais e maravilhas externos, mas em fazer com que a
sabedoria dos seus sábios perecesse diante da glória sobre-excelente do
evangelho.
O
entendimento dos entendidos a seus próprios olhos nos assuntos da religião
ficaria obscurecido pela grande luz do evangelho, porque pelo Espírito Santo
derramado no coração dos crentes, eles discerniriam que a doutrina dos líderes
de Israel não passava de fumaça e de mandamentos de homens (v. 14).
Deus é
onisciente e tudo sabe e conhece, inclusive as intenções dos corações. Mas os
que não têm o Seu temor não conseguem ver esta verdade, e vivem enganando e
sendo enganados, pensando que o Senhor não leva tal procedimento em
consideração (v. 15). Não sabem que há um “Ai!” proferido contra eles, porque
serão afligidos no dia do juízo.
Eles
não conseguem enxergar que Deus é o oleiro e não o barro. Ao contrário, agem
como se fossem oleiros, pensando que podem manipular o Senhor em suas obras e
ações, e por isso rejeitam o Seu governo e disciplina em suas vidas (v. 16).
Assim,
enquanto os sábios e entendidos, que julgavam enxergar e conhecer completamente
a Deus e a Sua vontade, permaneceriam cegos e endurecidos pelo Senhor, Ele
daria vista espiritual aos que se reconheciam cegos, isto é, ignorantes da Sua
pessoa e vontade, e daria que aqueles que nunca ouviram ou não podiam entender
a Sua Palavra, pudessem ouvi-la e compreendê-la (v. 17, 18).
Deus
não se revelaria portanto aos sábios e entendidos a seus próprios olhos, mas
aos pequeninos, a saber, aos mansos (submissos), aos pobres de espírito, e por
isso se afirma que são estes os que são bem-aventurados porque são aqueles a
quem Deus se dará a conhecer, como também a Sua vontade. Assim estes pequeninos
que se converteriam ao evangelho não se alegrariam e não gloriariam em si
mesmos e no seu conhecimento, mas unicamente no Senhor (v. 19).
Enquanto
isto, os opressores, os arrogantes, seriam reduzidos a nada, e todos os escarnecedores
da verdade e todos os que se dão à iniquidade, serão desarraigados, porque não
serão eles que herdarão a terra, senão somente aqueles que se deixam instruir
por Deus, porque são mansos e pobres de espírito (v. 20).
Estes
que são desarraigados têm alguns dos seus pecados descritos no verso 21:
“21 os
que fazem por culpado o homem numa causa, os que armam laços ao que repreende
na porta, e os que por um nada desviam o justo.”
Os
versos 22 a 24 descrevem de modo muito claro a grande verdade evangélica que
somente quem é espiritual pode discernir as coisas espirituais, e tudo
discernir sem ser por ninguém discernido.
Então
Deus fala pelo profeta nestes versículos que esta mensagem ficará selada para o
entendimento dos israelitas, e assim eles não poderiam ficar envergonhados da
glória vazia da devoção deles, pensando que fosse algo muito elevado, quando na
verdade era uma adoração de lábios de corações afastados do Senhor. Mas isto,
como se diz no verso 23 só poderia ser discernido quando o Senhor fizesse a
obra das Suas mãos no meio de Israel através de Jesus Cristo, então
santificariam o Santo de Jacó e temeriam ao Deus de Israel, porque veriam que o
Seu reino não consiste em palavras, mas em demonstração do Espírito Santo e de
poder, o que seria manifestado pelo evangelho.
E tão
abundante seria o derramar da graça, que os errados de espírito viriam a ter
entendimento, e os murmuradores deixariam a murmuração para aprenderem a
instrução do Senhor (v. 24).
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