Provérbios
10
Silvio Dutra
FEV/2016
A474
Alves, Silvio Dutra
Provérbios 10./ Silvio Dutra Alves. – Rio de
Janeiro,
2016.
57p.; 14,8x21cm
1. Teologia. 2. Salomão. 3.
Estudo Bíblico.
I. Título.
CDD 230.223
|
Introdução
À guisa de
esclarecimento achamos oportuno informar a razão pela qual estaremos nos
dedicando a publicar comentários alusivos a capítulos, em separado, do livro de
Provérbios.
Estamos
vivendo dias em que os padrões de comportamento são os mais diferentes
possíveis, sendo aceitos pela maioria da sociedade, independentemente se estes
se encontram respaldados ou não, em valores e princípios morais.
Há uma
tendência para se cultuar o corpo, à custa da negligência do cuidado com a alma
e o espírito.
O
imediatismo prático de nossa época tem influenciado a própria Igreja, pela
dificuldade cada vez maior de se aplicar padrões de ensino/aprendizagem dos
princípios revelados na Palavra de Deus.
As
manifestações emocionais, os êxtases místicos, apresentações teatrais, entre
outros têm ocupado o lugar que era devido à pregação e ao ensino da Palavra de
Deus, que sempre norteou o comportamento dos crentes no passado.
Não admira,
portanto, que se veja tanto comportamento antibíblico sendo tolerado e até
mesmo justificado, por aqueles que o praticam, apesar de se confessarem servos
de Cristo.
É um grande
engano se pensar em vida consagrada e devotada a Deus pela mera prática
religiosa, quando não é acompanhada pela devida mudança dos velhos hábitos
mundanos de vida.
O alvo do
evangelho é o de transformar a mente e o coração; o que é feito, sobretudo pela
implantação das virtudes de Cristo no crente, pela Palavra de Deus, consoante a
operação poderosa do Espírito Santo.
Por
conseguinte, temos no livro de Provérbios uma grande fonte na qual podemos
aprender qual é o tipo de comportamento que convém aos servos de Jesus Cristo,
para o inteiro agrado de Deus.
Como as
citações de caráter comportamental prático, do livro de Provérbios começam no
seu décimo capítulo, então faremos do mesmo o nosso ponto de partida.
Os provérbios
são geralmente frases curtas, contendo duas frases em contraposição em cada
versículo, sem que haja uma coerência e harmonia obrigatória em cada versículo.
De modo que não precisamos tentar reduzir o conteúdo a algum título comum, pois
cada verdade deve ser apreciada, de preferência, em separado.
Estaremos
apresentando os versículos isoladamente ou em grupos, conforme a conveniência,
e destacaremos os versículos do capítulo em negrito para uma melhor
identificação.
1 Provérbios de
Salomão. Um filho sábio alegra a seu pai; mas um filho insensato é a tristeza
de sua mãe.
Salomão,
falando-nos como a filhos observa aqui, o quanto o conforto dos pais depende do
bom comportamento daqueles sob o seu cuidado, por uma razão:
1. Por que os
pais devem ter o cuidado de dar aos seus filhos uma boa educação, e treiná-los
nos caminhos da religião, que, se obtiver o efeito desejado, eles próprios
terão conforto nisto, e ainda terão o apoio dos pais para que possam cumprir os
encargos conforme é o seu dever.
2. Por que os filhos
devem se comportar com sabedoria e bem, vivendo de acordo com a sua boa
educação, para que possam alegrar o coração de seus pais, e não entristecê-los.
Observe:
(1) Isto contribui
para o conforto dos jovens que são piedosos e discretos, para que façam alguma
coisa no sentido de recompensarem seus pais por todos os cuidados e dores que tiveram
com eles, o que será uma ocasião de prazer nos dias de sua velhice, quando mais
precisam deles. E, é dever dos pais se alegrarem com a sabedoria de seus filhos
e praticarem o bem.
(2.) Isto
aumenta a culpa daqueles que se comportam mal, porque são causa de tristeza
para aqueles que deveriam ser uma alegria, porém são um peso
especial para pobres mães que os suportaram com tristeza.
Este princípio
apresentado pelo sábio é um princípio divino para regular as relações entre
pais e filhos. Aos pais cabe formar o caráter de seus filhos, principalmente
naquelas coisas reveladas por Deus em Sua Palavra, conforme se depreende do
ensino de Deuteronômio 6 e tantas outras passagens bíblicas, que desenvolvem o
mandamento de honrar aos pais, constante do decálogo.
Se os pais têm
o encargo divino de formar, então é uma consequência natural que os filhos
devem obedecê-los e honrá-los, para que possam aprender por meio do seu ensino
e exemplo, o modo pelo qual importa viver para o inteiro agrado de Deus.
Infelizmente,
vivemos numa época em que os pais já não são em sua grande maioria, exemplos do
caráter divino para seus filhos, e na verdade, há casos em que em vez de os
filhos serem um motivo de tristeza para suas mães, estas é que são para eles.
Todavia, o
mandamento de Deus permanece para aqueles que o amam , e dão a devida
consideração à Sua Palavra.
A família
nuclear, constituída por pais e filhos vivendo sob o mesmo teto, especialmente
no período em que os filhos se encontram sob a dependência completa dos pais,
para sua formação física, mental e espiritual, quando possui e conhece o
verdadeiro temor que é devido a Deus e à sua Palavra, notadamente naqueles
aspectos relativos aos Seus mandamentos em relação ao modo de se proceder em
família será uma bênção tanto para si mesma, quanto para outras pessoas e
famílias circunstantes debaixo da sua influência.
Não é coisa
fácil para um homem assumir o papel de cabeça do lar, nos termos determinados
pelo Senhor em Sua Palavra. É necessário consagração e coragem para isto; mas
bem-aventurado será tanto o esposo, quanto a esposa que colocarem por prática o
princípio de liderança/submissão estabelecido por Deus para todos os casais.
Os filhos que
forem educados e admoestados no temor do Senhor, e que aprenderem o verdadeiro
temor de Deus, também aprenderão a temer e a respeitar seus pais, sendo-lhes em
tudo obedientes.
Quando Deus é
honrado desta forma, Ele também honra a família, concedendo-lhe a graça
necessária para viver em harmonia e em paz.
2 Os tesouros da
impiedade de nada aproveitam; mas a justiça livra da morte.
3 O Senhor não deixa
o justo passar fome; mas o desejo dos ímpios ele rechaça.
Estes dois
versos falam com o mesmo propósito, e o último apontado pode ser a razão do
primeiro.
1. Que as
riquezas que os homens obtêm injustamente não lhes farão bem, porque Deus as
destruirá – os tesouros da impiedade
de nada aproveitam.
Os tesouros de
pessoas ímpias obtidos pelo domínio de pessoas fracas, por opressão e fraude,
ainda que seja abundante, e lhes dê sempre um sentimento de segurança, ainda
assim não representam qualquer vantagem, porque quando vier o juízo, o lucro
obtido com tais tesouros jamais poderá compensar o prejuízo eterno que é
sofrido por causa da impiedade (vide Mateus 16.26).
Eles não trazem
qualquer lucro para a alma; como não irão comprar
qualquer verdadeiro conforto ou felicidade. Eles não
conduzirão um homem a qualquer lugar seguro e confortável no momento da morte,
ou no julgamento do grande dia; a razão disso é porque Deus lança fora a substância
dos ímpios (verso 3). O desejo
de uma cobiça pecaminosa foi o que os direcionou à acumulação de riquezas
injustamente, e por isso Deus os rechaça.
Assim, os
que têm acumulado muito à custa da prática
da injustiça se encontram em condições mais perigosas do que os pobres, em
relação ao juízo de Deus, porque a justiça requer que nos lembremos dos pobres
e façamos um uso adequado, equitativo e justo dos bens que adquirimos.
2. O que é
honestamente adquirido se transformará em boa conta, pois Deus vai abençoá-lo.
A justiça livra da morte, isto é, a riqueza
adquirida, e mantida, e usada, de uma maneira correta (justiça significa
tanto a honestidade e como a caridade); ela responde ao
fim da riqueza, que é para nos manter vivos e ser uma defesa para nós. Ela vai livrar daqueles julgamentos que os homens trazem sobre si mesmos,
por sua maldade.
O Senhor não vai deixar a alma do justo
passar fome (verso3), pois tem prometido prover para todo aquele que
nele confia, e assim, a sua fé que o leva a agir conforme a justiça divina, o
livrará da morte espiritual e eterna, bem como da morte física enquanto aqui
viver, porque será assistido pela provisão de Deus.
Será puramente pela
graça de Deus, a qual é a sua vida e sustento, que não é possível que seja
subjugado pela fome. A alma do justo deve
ser mantida viva pela palavra de Deus, e fé em sua promessa.
4 O que trabalha com
mão remissa empobrece; mas a mão do diligente enriquece.
Aqui nos é dito:
1. Que aqueles
que, embora sejam ricos, estão em perigo de se tornarem pobres, caso
afrouxem suas mãos, sendo descuidados e negligentes em seus negócios. Aqueles que lidam com a mão enganosa; que pensam em enriquecer por meio de fraude e engano,
no final virão a empobrecer, não somente por trazerem a maldição de Deus sobre
o que têm, mas por perderem sua reputação com os homens; pois ninguém em são juízo irá negociar com aqueles que agem de maneira desonesta.
2. Que são
aqueles que, apesar de pobres, estão em um caminho justo para se tornarem ricos
- aqueles que são diligentes e honestos, que são cuidadosos com seus negócios
e, os que trabalham com suas próprias mãos com toda diligência, de forma justa
e honrosa são os que são susceptíveis a aumentarem o que têm. Isto também se aplica aos assuntos relativos à nossa
alma, bem como em nossos assuntos seculares, pois a indolência conduz à pobreza
espiritual, mas aqueles que são fervorosos no espírito, servindo ao Senhor, certamente serão ricos em fé e boas obras.
Digno de registro é que o sábio, não está falando de riquezas do modo
como são entendidas pelos que são cobiçosos de poder terreno, de luxúrias e
ostentação. A riqueza aqui referida é aquela que atende a todas as nossas
necessidades reais, conforme a provisão de Deus, pois tem prometido abençoar ao que trabalha e
que nele espera.
5 O que ajunta no
verão é filho prudente; mas o que dorme na sega é filho que envergonha.
Deste provérbio que se refere à atividade rural, pode ser retirado um
princípio universal de sabedoria e prudência.
A formiga trabalha com prudência nos dias quentes de verão, para que
possa ter provisão e abrigo nos dias de inverno.
Nossas vidas têm os seus invernos, e exigem que sejamos prudentes nos
dias em que as condições permitem que trabalhemos, para ter provisões nos dias
difíceis.
Temos assim,
neste provérbio o justo louvor àqueles que aproveitam suas
oportunidades, e têm o cuidado de recolher e aumentar o que têm, tanto para
a alma quanto para o corpo.
Quem faz isso é um filho sábio, o que é a sua honra; que aja com
sabedoria em relação aos seus pais, a quem, se houver ocasião, ele deve
manter.
A justa censura
e culpa daqueles que desprezam estas oportunidades; quem dorme, ama a sua vontade indolente, e negligencia seu
trabalho, não juntando para os dias difíceis é um filho que causa vergonha, pois é um filho
insensato que traz vergonha
para si mesmo quando chega o inverno, e reflete vergonha para todos os seus
amigos.
O que adquire
conhecimento e sabedoria nos dias de sua juventude ajunta no verão, e ele vai ter o conforto do crédito da sua
industriosidade; mas o que é ocioso nos dias de sua juventude terá que suportar
a vergonha de sua indolência, quando for velho.
6 Bênçãos caem sobre
a cabeça do justo; porém a boca dos ímpios esconde a violência.
Temos aqui a
cabeça do justo coroada com as bênçãos, tanto da parte de Deus,
quanto da dos homens. Variedade de bênçãos, abundância
de bênçãos descerá do alto e repousarão visivelmente sobre a cabeça dos homens bons;
bênçãos reais que não serão somente comentadas, mas farão o bem para o qual
foram designadas.
Estas bênçãos devem estar
em sua cabeça como uma coroa para enfeitar e dignificar, e como um capacete para
proteger.
Mas, a boca dos ímpios está cheia de violência. Suas bocas serão
detidas com vergonha por causa da violência que fizeram; e não devem ter uma palavra de justificativa para si mesmos (Jó 5.16). Os
juízos divinos virão sobre eles também de forma violenta, e suas ações devem
cair sobre suas próprias cabeças.
7 A memória do justo
é abençoada; mas o nome dos ímpios apodrecerá.
Tanto o justo quanto
o ímpio, quando seus dias são cumpridos devem morrer. Entre seus corpos na sepultura não há qualquer
diferença visível; todavia, entre suas almas, no mundo dos espíritos há uma
grande diferença, pois tudo o que fizeram sobrevive à morte física.
Dos homens
bons será, e deve ser bem falado quando se forem; e isto é uma das bênçãos que vêm sobre a cabeça do justo. Homens abençoados deixam
atrás de si memórias abençoadas.
Isto é parte da
dignidade dos santos, especialmente daqueles que se destacam na virtude e são
eminentemente úteis; o fato de serem lembrados com respeito quando estão mortos. Seu bom nome, por conta de suas boas obras são como um tipo de unguento especial (Ec 7.1). Os que honram
a Deus também serão honrados (Sl 112.3,6,9). Os anciãos obtêm um bom
testemunho pela sua fé (Heb 11.2); e, estando mortos, ainda falam.
É parte do
dever dos sobreviventes deixar que a memória
do justo seja abençoada.
Temos prazer
em fazer menção honrosa a bons homens que se foram; graças a Deus por
eles, por seus dons e pelas graças que existiam neles, especialmente, para
sermos seus seguidores naquilo que é bom.
Os homens maus
são e devem ser esquecidos, ou citados com desprezo. Quando seus corpos estão em putrefação na sepultura seus nomes também devem apodrecer. Tudo relativo a eles será enterrado no
esquecimento (nada de bom pode ser dito deles, e, portanto, a maior bondade que
pode ser feita a eles é nada dizer sobre eles).
8 O sábio de coração aceita
os mandamentos; mas o insensato de lábios cairá.
Aqui, nós
temos a honra e felicidade dos obedientes.
Eles recepcionarão os
mandamentos, vão considera-los um
como um privilégio, e é realmente uma facilidade para eles estarem
sob o governo divino, que lhes poupa o trabalho de terem que deliberar e
escolher por si mesmos o que é bom; assim terão isto
como um favor que lhes é feito por Deus.
Esta é a sua
sabedoria; pois são sábios de coração, e são tratáveis, o que
fará com que sejam firmados e estabelecidos por Deus, de modo que venham a
prosperar em tudo o que fizerem.
Temos também
citado em paralelo, a vergonha e ruína dos
desobedientes, que não serão governados por Deus, e não suportarão
qualquer jugo, ainda que seja o leve e suave da nossa obediência Jesus. Estes não
tomam conselho na Palavra de Deus, e não permitem serem ensinados.
Eles são insensatos,
pois agem contra si mesmos e seus próprios interesses,
especialmente no que se refere ao bem eterno de suas almas.
A sua
insensatez é percebida no que proferem os seus lábios, pois sua conversão gira
em torno de tolices, de coisas vãs e passageiras, nas quais costumam se
gloriar.
9 Quem anda em
integridade anda seguro; mas o que perverte os seus caminhos será conhecido.
Aqui nos é
dito, e podemos confiar de fato nesta verdade da qual podemos depender, que a integridade dos homens será a sua
segurança, pois aquele que anda retamente na presença de
Deus e dos homens, que é fiel a ambos, anda seguro, porque
estará sob uma proteção divina especial.
Ele segue seu
caminho com uma ousadia humilde, por estar bem armado contra as tentações de
Satanás, os problemas do mundo, e as injúrias dos homens, uma vez que além de
ser-lhe concedida graça suficiente para isto, também tem sido instruído e
dirigido quanto ao modo de proceder em cada situação da vida, adquirindo cada
vez mais experiência da bondade, do amor, do poder e proteção de Deus.
Ele conhece o
fundamento em que se encontra, o guia
que ele segue e o guarda, portanto, prossegue com segurança e paz em sua
jornada.
Um homem de caráter
justo também andará seguro, porque terá a prudência de se opor a tudo aquilo
que possa envolvê-lo em aventuras. Ele possui sabedoria suficiente recebida da
parte de Deus, para se desviar do mal.
Mas a
desonestidade dos homens será a sua vergonha. Aquele que perverte seu caminho, e se desvia em
caminhos tortuosos, que dissimula com Deus e com o homem, virá a ser conhecido pelo que ele é realmente. Numa hora ou outra ele trairá a si mesmo e se
revelará. Deus vai descobri-lo no grande dia do juízo.
10 O que acena com os
olhos causa tristezas; e o insensato de lábios cairá.
Aqui é dito
algo que se aplica principalmente, ao modo de desígnio político, quando alguém
pisca o olho com a intenção de disfarçar seus reais interesses em enganar e
prejudicar alguém, levando-lhe a crer estar atento às suas necessidades, ao
mesmo tempo que acena para aqueles que teriam o encargo de satisfazê-las,
piscando o olho, para que se faça exatamente o contrário, mas sem despertar a
atenção do que será prejudicado, para o seu real interesse em fazer-lhe mal.
Evidentemente, o que aqui se diz é que com um simples gesto pode ser
causada muita tristeza a outros, que de boa fé, colocam sua confiança em
pessoas de mau caráter.
Aquele que pisca o olho para seus cúmplices,
para que venham a produzir o mal, a fim de ser ajudado na execução de seus projetos perversos, não sabem que estarão dando causa a terem
tristezas, eles próprios, pois certamente Deus os julgará e punirá.
Este provérbio
também cita a queda que experimentará aquele que é insensato de lábios, ou
seja, o que revela sua insensatez, pelo modo da sua conversação; o que
demonstra, que não possui qualquer temor ou graça de Deus pelo seu modo de
falar e se expressar, pois a boca fala daquilo que o coração está cheio.
11 A boca do justo é
manancial de vida, porém a boca dos ímpios esconde a violência.
Veja aqui quão
industrioso um bom homem é, ao comunicar a sua bondade, ao fazer o bem com o
uso das palavras de vida e edificação que fluem da sua boca.
A boca do
justo é uma fonte
constante, da qual procede um bom discurso para a edificação dos outros; é como
a corrente que rega o solo e o torna frutífero, e também como um riacho que
sacia a sede do viajante cansado, pois dela não procede propriamente a sua palavra, mas a palavra
abençoadora ensinada e impetrada por Deus, pela sua instrumentalidade.
É um manancial
de vida, cujas águas são sempre limpas e puras, pois por ela não se transmite
uma comunicação que seja enganosa e corruptora.
Mas, a boca do
ímpio, ainda que fale coisas agradáveis e doces, esconde no seu falar a
violência que há no seu coração. Deste seu falar não pode proceder qualquer bem
real para aquele que o ouve, porque Deus não é com a sua boca.
A boca da violência disfarça o mal projetado
com profissões de amizade, que podem ser realizadas na forma mais segura e eficaz,
como Joabe, que beijou Amasa e o matou, como Judas, que beijou e traiu a Jesus.
Ambos não
deixaram de receber a devida paga da parte de Deus, e assim sucederá com todos
aqueles que são guiados pela violência, e não pelo amor e temor de Deus.
Em nossa vida
prática diária são muitas as pessoas que se aproximam de nós, e fazem questão
de nos assegurar que intentam nos fazer o bem, quando na verdade, em seu íntimo
projetam coisas que possam nos prejudicar. Por isso precisamos da prudência da
serpente, além da simplicidade da pomba, para não recebermos muitas feridas da
parte dos lobos disfarçados em ovelhas, que têm o propósito de devorar a nossa
paz e o bem de nossa alma.
12 O ódio excita
contendas; mas o amor cobre todas as transgressões.
Este é um provérbio
muito conhecido, especialmente a sua segunda parte que é muito citada no Novo
Testamento, na qual se diz que o amor cobre multidão de pecados.
O amor cobre
o pecado, não o desculpando e justificando, mas não fazendo do pecado dos
outros uma oportunidade para criar contendas e dissabores.
Podemos
dizer em relação a isto, que o amor passa por alto sobre o pecado alheio na
busca de uma oportunidade de arrependimento e conciliação, pois o amor nunca
visa à ruína do próximo, senão à sua edificação.
Já o ódio,e a malícia são grandes geradores de contendas e
divisões. O coração que não estiver sendo guiado pelo amor e graça de Deus fica
à mercê desses dois traidores do bem-estar de nossa alma, e, que se fazendo
dissimuladamente de defensores de nossa justiça e honra, colocam-nos em
contendas que muitas vezes tornam irreconciliáveis aqueles aos quais sujeita.
Quão
imperioso é que se vigie em todo o tempo, porque não apenas o pecado que habita
em nossa natureza terrena, quando não mortificado, como também o Inimigo do ar
de nossa alma – Satanás, o diabo, sempre procurará ocasião para indispor nossos
corações até mesmo com aqueles aos quais mais amamos, produzindo discórdia e
indisposição pelos mais variados e tolos motivos.
É necessário
recorrer à graça do Senhor e repreender o Inimigo, buscando com toda intensidade,
a paz da qual tanto necessitamos em nossos relacionamentos.
O amor é o
grande pacificador, que em vez de nos tornar irritados com as faltas alheias,
nos faz pacientes e nos capacita a suportá-las por maiores que elas sejam.
O amor, em vez
de anunciar e agravar a ofensa, a oculta e extermina na medida em que é capaz
de ser escondida e extenuada.
13 Nos lábios do
entendido se acha a sabedoria; mas a vara é para as costas do que é falto de
entendimento.
O entendido,
aqui citado, é aquele que conhece a vontade Deus e a pratica. Este é conhecido
pelo que fala; pois a conversação de uma pessoa revela quem ela é de fato.
Como ele
conhece a vontade de Deus e a pratica será achada a sabedoria em tudo o que
falar, o que será uma honra para ele perante os homens bons e perante Deus.
Do bom
tesouro que há no seu coração, ele pode dispor de todas coisas que sejam boas
para a salvação e edificação dos seus ouvintes. O seu bom proceder revelado na
sua forma de falar demonstra que não se encontra de fato, debaixo de qualquer
juízo da parte de Deus, e não será comum vê-lo sendo corrigido pela vara da
aflição, com a qual o Senhor disciplina todos os seus filhos.
Por isso, o
Provérbio afirma que o que for falto de entendimento estará sempre debaixo da
vara de correção divina. Assim, todo aquele que procede voluntariamente de modo
insensato, por trilhar maus caminhos, está preparando varas para si mesmo, e
caso não se volte para Deus, elas deixarão marcas que serão a sua desgraça perpétua.
14 Os sábios
entesouram o conhecimento; porém a boca do insensato é uma destruição iminente.
Evidentemente
que o conhecimento e a sabedoria aqui referidos, não são aqueles que são
segundo o mundo, cujo fundamento se encontra na artimanha dos homens.
O conhecimento
que é entesourado pelos sábios é aquele que conduz à vida eterna – é o
conhecimento de Deus e da sua vontade, pois é posta em paralelo a destruição
iminente do insensato – destruição esta, que somos informados pelas Escrituras,
é aquela que conduz a alma dos homens ao sofrimento eterno no inferno de fogo,
quando lhes falta o verdadeiro conhecimento de Deus e da sua vontade.
Diz-se
iminente, porque a nossa jornada terrena é curta, e logo após à nossa morte
somos submetidos ao juízo que determina, se somos dignos de ir para o céu ou
para o inferno.
Toda a
dignidade que temos é apenas aquela que recebemos da justiça de Cristo, que
possuímos somente por meio da nossa comunhão com ele, de modo que é o
conhecimento da sua pessoa divina que nos justifica, e nos torna capazes de
entesourar em nossa mente e coração todo o conhecimento que recebemos dele, por
revelação.
O Senhor
Jesus disse em seu ministério terreno, conforme palavras que temos registradas
nos evangelhos, que por nossas palavras seremos condenados ou justificados, ou
seja, é por meio do que falamos que damos a conhecer se somos dotados ou não
daquela sabedoria do alto que nos livra da ira vindoura.
15 Os bens do rico
são a sua cidade forte; a ruína dos pobres é a sua pobreza.
Deus tem
prometido prover tudo o que for necessário para aqueles que buscam em primeiro
lugar, o Seu reino e a Sua justiça.
Além da
graça que alimentará o seu espírito, ele tem prometido também fazer provisão
para o seu corpo, conforme podemos ver nas palavras de Jesus no Sermão do
Monte.
Então, a
riqueza aqui referida não é aquela provinda de, e para ostentação, senão o
suprimento necessário para nossa vida, conforme a provisão de Deus, de modo que
se diz que jamais se verá o justo e a sua descendência a mendigar o pão, pois
nunca terá necessidade disto enquanto estiver debaixo da provisão de Deus.
A cidade
forte à qual se refere o Provérbio é a segurança que isto traz à alma do justo,
e daqueles que se encontram debaixo do seu cuidado. Deus é uma cidade forte
para ele, e isto se revela no cuidado que tem até para com as coisas que os
gentios buscam, e somente elas, a saber as materiais.
Por
conseguinte, quando se vê alguém que professando ser um crente em Jesus Cristo,
anda com um prato na mão à busca do favor dos homens, implorando e mendigando
por sua subsistência, é um sinal de ruína e não de bênção da parte de Deus,
pois como já dissemos, tem sido fiel em prover o necessário para todos os seus
filhos que o amam, e o temem.
16 O trabalho do
justo conduz à vida; a renda do ímpio, para o pecado.
17 O que atende à
instrução está na vereda da vida; mas o que rejeita a repreensão anda errado.
Inspirado
pelo Espírito Santo, o sábio nos ensina que o modo de se alcançar e manter a
vida eterna é ser justificado por Deus, viver de modo justo, e provar este modo
justo de vida por um trabalhar honesto e permanente.
Deus é de
vivos e não de mortos, e a vida se comprova pela atividade do trabalho. Os
mortos nada fazem, porque a vida se expressa pelo trabalho.
A ideia de
enriquecer por uma via fácil para nunca mais trabalhar é, portanto, um projeto
de morte e não de vida, pois o homem só é útil para Deus e o seu próximo,
quando trabalha de modo justo, numa atividade justa.
Alguém que
assim trabalhe, não para a própria glória, mas para a exclusiva de Deus está
caminhando pela senda da vida eterna, e tudo tende para esta vida, mas, aquele
que obtém sua renda através da impiedade, tende sempre para a prática do
pecado, e sabemos que o salário do pecado é sempre a morte.
Estas coisas
não são aprendidas por intuição, senão por instrução, pela que recebemos da
parte de Deus por meio da instrução do Espírito Santo, na aplicação da Sua
Palavra à nossa vida.
O atender e
praticar esta instrução é o que nos coloca na trilha da vida eterna. Porém, o
que rejeita esta instrução torna-se digno da repreensão de Deus, e vindo a
rejeitar também esta repreensão, em vez de emendar seu caminho, estará vivendo
de modo errado, cujo fim é a morte espiritual e eterna.
Os que andam de modo errado, não somente não acolhem a instrução de Deus, como
também a recusam deliberada e obstinadamente, quando lhes é oferecida. Eles não vão atendê-las, porque contrariam seus interesses e inclinações carnais e
pecaminosos, e o somente lê-las expõe claramente suas falhas, o que não agrada
ao seu ego orgulhoso.
De modo que
terem de reconhecer que estão errados e Deus está certo, e que convém que se
inclinem e prostrem no pó em arrependimento, é algo por demais penoso para a
sua arrogância e altivez, de modo que não o podem suportar, continuando assim,
a caminhar nas veredas da morte.
18 O que encobre o
ódio tem lábios falsos; e o que espalha a calúnia é um insensato.
Este Provérbio revela claramente, até que ponto pode se expressar a maldade
inerente ao coração humano, do qual se diz na Bíblia que é a coisa que há de
mais corrompida entre todas. Jesus disse, que é do coração humano que procede
todo o mal que há no mundo.
Mesmo de um bom homem, que busca
ser justo e fiel a Deus em todas as coisas, não se pode dizer que possui um
bom coração, pois estaríamos contrariando aquilo que a Bíblia afirma, que é o
contrário disto.
De fato, a natureza terrena do
homem está continuamente inclinada para o mal, e se não fosse pela
intervenção da graça divina, pelo trabalho do Espírito Santo em reprimir o
mal, mesmo nos ímpios, de há muito este mundo já não existiria, porque todos
teriam se destruído mutuamente.
Mesmo quando muitos parecem estar
se interessando em fazer o bem ao próximo, na verdade o que estão fazendo é
dissimulando, escondendo o ódio que existe em seus corações com palavras
aparentemente boas.
Não são poucos os que são enganados
por estes lábios falsos, que escondem o mal que há no interior do coração. Passam
até mesmo, muitas vezes, por benfeitores da humanidade.
Dentre estes, não é raro
encontrar-se aqueles que se dedicam a atividades políticas, pois lhes é
necessário esconder o mal latente que há em todo coração, com uma face de
guardiões da moralidade e dos bons costumes, em prol de fazer o bem aos seus
governados.
Por isso é viver de ilusão, esperar
que se levante na terra um homem de bom coração, cujo propósito nunca seja interesseiro,
que tudo faça em nome da justiça, do amor e da misericórdia para com o seu
próximo, pois, de si mesmo, ninguém é suficiente para isto.
O veneno do coração pode ser
facilmente escondido pela língua, e ser instilado dissimuladamente, de modo
que muitos venham a ser contaminados por ele.
Não raro, para defenderem seus
interesses, que demandam o prejuízo de outrem, os homens costumam caluniar o
bom nome deste, de modo que lhe trazendo descrédito e infâmia recebam no
lugar deles, aquilo que lhes estava destinado como recompensa, ou então pelo
simples interesse de se vingarem por inveja ou qualquer outro motivo.
Todavia, se esquecem que os olhos
do Altíssimo tudo veem, e ele julgará a cada um segundo as suas obras.
Por isso se afirma que, aquele que
calunia é um insensato, pois pensando em estar tirando vantagem para si no
que faz, está na verdade causando sua própria ruína.
|
19 Na multidão de
palavras não falta transgressão; mas o que refreia os seus lábios é prudente.
Como a
natureza terrena pecaminosa nunca será mortificada completamente enquanto
estivermos neste mundo, é bem provável que ela se manifeste, especialmente
quando nos damos ao muito falar.
Um homem que
tem domínio completo sobre o que fala é alguém que possui um espírito e uma
mente poderosos. Todavia não é este o caso geral e comum à humanidade.
Mesmo um
crente terá que vigiar seus lábios, para que não venha a se expressar de modo
imprudente e pecaminoso. Assim, é sábio aquele que pouco fala e não faz da
multidão de palavras o seu negócio, pois sabe que o muito falar é sempre
passível de apresentar alguma transgressão dos preceitos de Deus.
Se no dia do
juízo teremos que prestar contas a Deus, até mesmo de cada palavra ociosa que
tivermos proferido, então é sábio e prudente seguir o
conselho do provérbio em questão.
No dizer do
apóstolo Tiago devemos ser sempre prontos para ouvir, mas tardios para falar, e
certamente, quando disse isto, ele tinha em vista este princípio ao qual todos
estamos sujeitos.
20 A língua do justo
é prata escolhida; o coração dos ímpios é de pouco valor.
21 Os lábios do justo
apascentam a muitos; mas os insensatos, por falta de entendimento, morrem.
A língua do
justo é tida em maior valor do que o coração do ímpio, porque a boca do justo
fala daquilo que procede do seu coração regenerado e renovado pelo Espírito
Santo, o qual é agora de grande valor para Deus e os homens de boa vontade.
O justo,
portanto, que é dado a ser conhecido pelo seu modo de falar é tido na conta de
algo de grande valor, sendo comparado à prata escolhida (purificada).
A razão
deste valor não se encontra na beleza ou eloquência de sua conversação, mas no
efeito que ela produz, apascentando a muitos, ou seja, alimentando-os com as
palavras de vida eterna que aprendeu de Jesus Cristo.
Os que se
estão sob a influência das palavras do justo são bem-aventurados, pois são por
meio dele tornados também entendidos nas coisas de Deus, pois ao conhecerem a
Sua vontade e praticá-la pelo que aprenderam, virão a trilhar pelos caminhos da
vida eterna, onde se encontra a bênção plena de Deus.
Por isso se
diz que os insensatos, ou seja, aqueles que não ouvem as palavras do justo, e
não buscam o conhecimento de Deus permanecem na condição de mortos espirituais
que são, por lhes faltar tal entendimento, pois a justiça que nos justifica,
conforme já proferido no texto de Isaías, nos vem somente pelo conhecimento do
único que é inteiramente justo, a saber, nosso Senhor Jesus Cristo, já que é
somente por conhecê-lo que somos e podemos ser justificados.
22 A bênção do Senhor
é que enriquece; e ele não a faz seguir de dor alguma.
O Senhor
exalta e abate, mas sempre para o bem daqueles que o amam.
Satanás ao
contrário, sempre abate, mesmo quando parece estar exaltando, e tudo aquilo que
ele dá, ele retira de forma dolorosa.
No Senhor,
até mesmo as perdas que temos, incluída aí até mesmo a nossa morte física, é
para a nossa glorificação e proveito.
Quando o
Senhor aflige, com sua correção de Pai amoroso, é para a nossa disciplina e
maior participação da sua própria santidade.
De modo que
a dor referida no Provérbio, que nunca acompanha a bênção que recebemos de
Deus, é aquela que é relativa a um dano e perda real de consequências eternas.
Em todas as
nossas lutas, especialmente aquelas que temos com os principados das trevas,
que despedem setas inflamadas sobre nós e colocam espinhos em nossa carne,
temos aprendido quão forte é o Senhor para nos guardar e livrar, como para
remover toda a confiança em nossa própria capacidade – que a propósito é
nenhuma, no que tange às coisas espirituais – de modo que aprendamos a
recebê-la diretamente de Jesus Cristo, por meio da simples fé nele.
Concluímos
em face de tudo isto, que somente aquele que tem a bênção de Deus é
verdadeiramente rico, e está sendo continuamente enriquecido pela graça, pois
nada do que tiver recebido lhe trará qualquer dor ou perda, senão apenas ganho
eterno.
Esta bênção,
uma vez concedida como um dom da parte de Deus, especialmente a da salvação, é
um dom irrevogável, e nenhum poder deste mundo ou de qualquer outro poderá
tirar isto de nós.
A bênção do
consolo e fortalecimento que recebemos da parte de Deus, sempre nos
acompanharão em nossas aflições neste mundo, de maneira que possamos
suportá-las e superá-las. Estas aflições suportadas com paciência cristã, por
amor ao evangelho e a Cristo, no intuito de fixarmos um bom testemunho diante
de Deus e dos homens confirmam a nossa fé, e nos tornam pessoas mais parecidas
com Cristo.
De modo que se
diz, que o reino dos céus e a posse da terra é daqueles que são humildes de
espírito e mansos de coração.
Rico é aquele
cuja confiança está colocada inteiramente em Deus, por mais difíceis que sejam
as circunstâncias nesta vida.
23 E um divertimento
para o insensato o praticar a iniquidade; mas a conduta sábia é o prazer do
homem entendido.
24 O que o ímpio
teme, isso virá sobre ele; mas aos justos se lhes concederá o seu desejo.
25 Como passa a
tempestade, assim desaparece o ímpio; mas o justo tem fundamentos eternos.
Aqui é dito
mais uma vez, que tudo irá bem para os justos, mas aos ímpios é dito que o
juízo que temem certamente há de vir sobre eles.
O motivo
também é declarado para esta diferença de tratamento recebido da parte de Deus,
porque para o insensato a sua diversão é a prática da iniquidade, ou seja, de
agir contra a lei e os mandamentos de Deus. Iniquidade à qual Jesus se referiu
dizendo, que se multiplicaria nos últimos dias, porque os homens seriam mais
amantes dos prazeres do que da vontade de Deus, e não teriam amor por aqueles
que procuram agir de maneira justa e santa.
O que vive
da prática da impiedade sempre terá, de uma forma ou de outra, o temor de ser
apanhado na prática do mal que realiza.
Mas o justo
vive na firme convicção e expectativa de receber as bênçãos e recompensas de
Deus, ainda que seja injustamente tratado pelos homens.
O justo é
colocado por Deus sobre um fundamento eterno, uma rocha que jamais poderá ser
abalada, que é Jesus Cristo. É nele que sua vida está sendo edificada,
portanto, não tem por que temer qualquer mal.
Mas, como a
tempestade que vem e logo desparece, assim é a vida do ímpio, no dizer de Deus
nesta Escritura, pois de fato vive como uma tempestade para produzir danos
espirituais na terra, porém, assim como o Senhor dissipa a tempestade, também
haverá de dissipá-los sem que se tenha qualquer lembrança futura deles, que
lhes recomende para o bem, pois não há tempestade da qual se possa falar bem,
ou ter uma lembrança agradável.
A prosperidade
material dos ímpios, assim como a tempestade, rapidamente acabará, mas a felicidade do
justo nunca terminará.
Os ímpios produzem
muita agitação, barulho e destruição na terra, assim como a tempestade, mas Deus diz que eles logo
passarão e não voltarão para conturbar o reino de paz e justiça que Ele
estabelecerá com Cristo e os justo, por ocasião da sua volta.
26 Como vinagre
para os dentes, como fumaça para os olhos, assim é o preguiçoso para aqueles
que o mandam.
27 O temor do
Senhor aumenta os dias; mas os anos dos ímpios serão abreviados.
O vinagre embota os dentes, e a
fumaça faz arder os olhos prejudicando
a visão. Este é o efeito produzido naqueles que dão alguma missão para ser
cumprida pelo preguiçoso.
O homem que não é diligente e não
se dispõe a aprender a fazer o que é bom, sempre será um grande estorvo na
vida daqueles que seguem pela senda do bem.
Não existe um aparente contraste
entre o que é dito no verso 26 e no 27, mas podemos ver por detrás das
afirmações, que o temor do Senhor que nos torna diligentes em fazer o bem
acrescenta aos justos, os dias de vida que são abreviados aos ímpios.
Por mais tempo que um ímpio viva
neste mundo será como uma nuvem passageira, comparado com a eternidade de
glória que está prometida por Deus para os justos, que já começam a desfrutar
aqui, por meio da sua fé em Jesus Cristo.
Isto nos remete as palavras do
salmista que foram repetidas pelo apóstolo Pedro:
1Pe 3:10 Pois quem quer amar a vida e ver dias
felizes refreie a língua do mal e evite que os seus lábios falem dolosamente;
1Pe 3:11 aparte-se do mal, pratique o que é bom,
busque a paz e empenhe-se por alcançá-la.
1Pe 3:12 Porque os olhos do Senhor repousam sobre
os justos, e os seus ouvidos estão abertos às suas súplicas, mas o rosto do
Senhor está contra aqueles que praticam males.
O apóstolo confirma as palavras do Salmo 34.12-16,
como sendo a fórmula da vida abençoada por Deus.
Ali se destaca, a necessidade de se refrear a
língua da maledicência e do engano; o ato de se separar do mal e praticar o
bem, e buscar a paz e permanecer nela (v. 10, 11).
O motivo de tal necessidade é apresentado, como
sendo o fato de que os olhos de Deus estão voltados para os justos, e os Seus
ouvidos abertos para atender às suas orações, mas o rosto do Senhor é contra
aqueles que praticam o mal (v. 12).
Para reforçar o argumento para a prática das
coisas que havia ordenado, o apóstolo afirmou que não é comum que alguém se
disponha a fazer o mal a quem é zeloso do bem; revelando com isto que é sendo
zeloso do bem que se evita muitos males (v. 13).
Porém, sabendo que há um sofrimento injusto que
os cristãos padecem da parte de outros, o qual é permitido por Deus para a
provação da sua fé, Pedro diz que os cristãos continuam sendo bem-aventurados
aos olhos de Deus, quando padecem tais sofrimentos por amor da justiça, e não
devem temer as ameaças dos seus inimigos, nem ficarem com suas mentes e
corações turbados por causa deles, mas, permanecerem em santificação com
Cristo em seus corações, sujeitando-se ao Seu Senhorio, de maneira que
continuem dando um bom testemunho do evangelho, com mansidão em seus corações
(v. 14, 15).
Os que sofrem devem ter, no entanto, uma boa
consciência, isto é, devem se assegurar que não estão sofrendo por nenhum mau
procedimento deles, de maneira que não tenham qualquer sustentação as
palavras insidiosas daqueles que falam contra o seu bom procedimento em
Cristo (v. 16).
O apóstolo revela que está na esfera da vontade
soberana de Deus ,que passemos por determinadas aflições, apesar de estarmos
fazendo o bem. Cristo havia passado pelo mesmo tipo de sofrimentos, para
servir de modelo para nós naquilo que sofremos por causa do nosso amor à
justiça (v. 17). Não havia nEle nenhum pecado ou injustiça como há em nós, mas
assim como Ele sofreu até a morte de cruz, para que pudesse quitar a dívida
dos nossos pecados, devemos nos armar do mesmo sentimento, estando dispostos
a sofrer em favor da salvação do nosso próximo (v. 18).
|
28 A esperança dos
justos é alegria; mas a expectação dos ímpios perecerá.
29 O caminho do
Senhor é fortaleza para os retos; mas é destruição para os que praticam a
iniquidade.
30 O justo nunca será
abalado; mas os ímpios não habitarão a terra.
Por maiores
que sejam as expectativas dos ímpios em relação à obtenção de coisas deste
mundo, e de realização pessoal, é dito que perecerá, ou seja, nada poderão
levar com eles na morte, e na verdade, não lhes será de nenhum real proveito
mesmo na vida presente, porque tudo isto está destituído da bênção e glória de
Deus, pois nada do que o ímpio faz é para a exclusiva glória de Deus, mediante
o influência e o poder do Espírito Santo.
Assim como a
vida natural da árvore é extinta quando ela morre, de igual modo a vida natural
do ímpio também cessará um dia, e não terá uma gota sequer daquela vida
espiritual que entra pela eternidade afora.
Força e
estabilidade estão vinculados à retidão, a uma vida justa com Deus. O caminho do Senhor (a providência de Deus, a
maneira com a qual ele caminha conosco) é fortaleza para os retos, pois é isto o que sustenta o seu espírito em
toda e qualquer circunstância, numa boa condição de firmeza. Esta estabilidade que é firme, há de se
manifestar em glória quando o Senhor estabelecer seu reino de justiça, por
ocasião da sua volta, pois é dito que os mansos, ou seja, aqueles que foram tementes,
e obedeceram a vontade de Deus haverão de herdar a posse da terra juntamente
com ele, enquanto os ímpios serão totalmente desarraigados, e não lhes será
dada qualquer herança futura, senão apenas a de um sofrimento eterno.
A herança da
terra não tem a ver apenas com o estado de pureza de nossos corações
santificados pelo sangue de Jesus e pelo poder do Espírito Santo, mas também
com o fato de que somente aqueles que foram disciplinados, de modo a aprenderem
a viver com uma santa ousadia em momentos de perigo, e a serem diligentes na
realização constante do seu dever e trabalho, conforme a vocação recebida do
Senhor, estarão habilitados para os assuntos de administração, de uma terra na
qual tão somente deve habitar a verdade, o amor, a alegria, a paz e a justiça.
Essa alegria do Senhor somente pode ser encontrada no caminho do Senhor, e ela é a nossa força (Neemias 8.10), portanto, o
justo jamais será abalado.
Esta alegria
e paz que eles possuem nunca poderá lhes ser tirada, porque estão estabelecidas
sobre um fundamento que é eterno.
31 A boca do justo produz sabedoria; porém a língua perversa será
desarraigada.
32 Os lábios do justo
sabem o que agrada; porém a boca dos ímpios fala perversidades.
Se há algo
com o que a sociedade atual pouco se importa é com a forma de expressão através
do linguajar. Não estamos nos referindo à exatidão gramatical e ortográfica na
língua falada ou escrita, mas no conteúdo moral e espiritual de nossas
conversações e comunicações.
Já foi
citado anteriormente, que a boca fala daquilo que está cheio o coração.
Como um Deus
santo poderia suportar eternamente, a não ser apenas nesta dispensação da
graça, na qual tem sido inteiramente longânimo, o falar ocioso de um coração
ímpio?
Dá para
imaginar um céu com anjos e santos usando de palavras torpes e ociosas em sua
conversação?
Não importa
que Deus seja santificado aqui na terra, do mesmo modo que é no céu?
De onde
procede então, esta ideia de que o crente pode ser descuidado com seu modo de
falar e se expressar externamente, pois não é exatamente por meio disto que
revela o que há de fato no seu interior?
A língua
maledicente e perversa será desarraigada, ou seja, não será mais vista na
terra, assim como nunca foi vista no céu. Por isso devemos progredir em
santificação, no crescimento na graça e no conhecimento de Jesus, porque é
somente assim que podemos falar aquilo o que é agradável a Deus e aprovado por
ele. Sem isto, podemos ser achados apesar de crentes, vivendo como ímpios, e
participando do mesmo modo de se expressar deles, em cujas conversações não se
pode contemplar aquilo que seja agradável a Deus, senão as perversidades de
seus corações não regenerados pelo Espírito Santo e pela Palavra da verdade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário